domingo, 31 de maio de 2020

É preciso fazer um desenho?

Hoje era dia de Festa. A Festa da Ilustração - Setúbal abriu sempre às zero horas do primeiro dia de junho. Esta sexta edição abre mais tarde. A razão não tem nada a ver com o COVID19, mas parece que estávamos a adivinhar o atropelo. 

A Festa passou para o mês de Outubro. Haverá Festa, portanto. E rija. André da Loba será o convidado contemporâneo. Osmani Simanca vem de fora. Será o convidado estrangeiro desta edição. Tom — Thomaz de Mello — é o representante dos clássicos. Haverá também uma homenagem a João de Azevedo, que muito recentemente nos deixou. Foi um entusiasmado participante em anteriores edições, com exposições de excepção. Assinalaremos também os cinquenta anos de lançamento do histórico álbum Cantigas do Maio, de José Afonso. Clássico e intemporal. A Ilustração Portuguesa trará a Setúbal o melhor que os melhores ilustradores têm para mostrar. João Francisco Vilhena vai repetir uma ideia que desenvolveu há alguns anos: ilustrar ilustradores em pose para fotografias encenadas conforme idiossincrasias ou vontades próprias.
Os futuros profissionais destas artes também vão estar por aqui, trazendo os trabalhos feitos em tempo escolar. A região e os seus ilustradores vão estar em duas mostras. São dez exposições ao todo, entre Setúbal e Azeitão.
Mas também teremos música. E uma feira de edição independente.
Enfim, nada disto se pode perder. Em breve será apresentada a imagem da Festa 2020. O André da Loba está a tratar disso.
É a Câmara Municipal de Setúbal que organiza e produz, em colaboração com os já habituais parceiros. Será em Outubro. Até já.

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sábado, 30 de maio de 2020

Ponto final

Completam-se hoje as publicações Torpor. 

Veremos o que vai acontecer no futuro. É ler e ver, e olhar de novo. Bem vindos.
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sexta-feira, 29 de maio de 2020

Observatório ideológico

Adquiriu esta agenda já em crescido e escreve lá tudo o que lhe vem à cabeça. Sente coisas. 

Por exemplo: sentiu necessidade de pedir ajuda para continuar a sentir e pressentir. Foi ajudado. Os leitores deram-lhe a mão para que o talento para ver ao longe e sentir coisas não lhe falte. Mas, coitado, ainda acredita no pai natal. Anda a tentar perceber se o Chega! é um partido programaticamente xenófobo. Programaticamente, José Manuel? Mas então estes grupos inscrevem nos programas as práticas sociologicamente reprováveis? Aquela gente não é xenófoba nem racista? É preciso fazer um desenho? Que pouco observador, José Manuel. facebook

quinta-feira, 28 de maio de 2020

O crime compensa

O criminoso fardado cumpriu a sua tarefa até ao fim. Matou. Ao criminoso fardado é exigido por lei que proteja os cidadãos. Mas os criminosos não passam cartão a leis. O ódio dita as regras. 

Parece que nas américas é assim. O criminoso fardado americano foi "despedido" mas recebe o seu sustento. Provavelmente nem vai ser acusado. É a vida. Estas coisas acontecem. Em Portugal nada disto aconteceria. O SEF é mais discreto - mata, mas não exibe. E o fascista ex-cofina — já nem a Cofina o atura — esclareceria: não há aqui pingo de racismo. Mas agora é tudo racismo?
Pois é, racistas somos nós, que ainda não percebemos um pormenor tão simples: mesmo que o senhor que está no chão a queixar-se de dificuldades respiratórias fosse branco loirinho como o labrego da Casa Branca, o criminoso fardado faria exactamente o mesmíssimo serviço. Era, não era?
Criminosos sem lei. Isto é tão revoltante.

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Contra o entorpecimento

Foi há noventa e quatro anos. Em 28 de Maio de 1926 era instalado em Portugal um novo estado que confinou o acesso ao conhecimento, eliminando a liberdade de se pensar diferente da situação, e o fim do acesso livre à cultura. Foi mau. Muito mau. Há quem diga que não foi uma ditadura fascista, mas as semelhanças das políticas de Salazar com as de Mussolini e de Hitler deixam-nos a navegar num mar de dúvidas: se aquilo não era um fascismo, que raio foi o fascismo? Falamos de semântica ou folclore?

Mas, o Estado Novo — ou aquele estado de coisas —, foi vencido em 25 de Abril de 1974. Desde então vive-se em democracia. Hoje, ter opinião e ouvir a opinião do outro é possível e recomendável. O novo confinamento, agora por razões sanitárias e não políticas, fechou as pessoas em casa. E as pessoas, agora com toda a liberdade, desataram a ter opiniões sobre o que estava a acontecer. Foi assim que nasceu a TORPOR. Falamos de uma espécie de dança que desafia o carcereiro. Uma provocação ao entorpecimento. O bloco E desta empreitada é publicado hoje às oito da noite. Pessoalmente, acho que tanta ousadia e esperança não se devem perder. Pensar é preciso. A bem da noção da realidade, o futuro precisa de ser pensado. Aqui está tudo muito bem pensado.
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quarta-feira, 27 de maio de 2020

Não há morte nem princípio

Chamava-se Mariana. Foi minha mãe. Passam hoje três anos sobre a sua morte. As nossas origens nunca se esquecem. E é assim que deve ser. 

Quem teve como preocupação primeira a nossa existência merece ser recordado. Não por demonstração pretensiosa da nossa parte — é claro que não merecemos tanta atenção —, mas por respeito por quem tem essa preocupação primeira. Mesmo que eu fosse ladrão, a minha mãe estaria sempre ali, preocupada com tudo o que me pudesse acontecer. Não dei em ladrão, sempre me preocupei em ser honesto e em apreciar os melhores comportamentos. Em respeitar todos os outros. Todos mesmo, incluindo os animais, que percebem bem quando são respeitados. Os pais têm valores que passam aos filhos. É assim que deve ser. Foi o que aconteceu comigo. Espero não ter desiludido, e, eternamente reconhecido, agradeço-lhes esta possibilidade de estar aqui. Viver é bom. Viver com atitudes e valores ainda é melhor. Obrigado.
Notas: o título deste comentário pertence a Mário Dionísio, claro está. Uma vida é sempre um prolongamento de outra. Continuo a sentir a vida dos meus pais quando me revejo em gestos e vontades. Acontece tanto.
O registo fotográfico foi feito no natal de 1999, em minha casa. O cão era o Bob. A minha mãe gostava muito dele. Sempre tivemos animais lá em casa.

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segunda-feira, 25 de maio de 2020

A coisa aqui está preta

Uma turma aberrante tomou conta da política. Imagens em vídeo de uma reunião do governo reafirmam o nível reles do seu presidente: discurso rasca e odioso é ambiente de trabalho nas reuniões de "alto nível" no Brasil. 

A atitude criminosa de Bolsonaro perante a pandemia já não permite a escolha de ministros da saúde que percebam do assunto. A escolha vai para militares conservadores aparentemente seguidores do líder. Já há por ali mais militares do que no tempo da ditadura militar. As pessoas passaram a ser números apenas. Números de mortos que aumentam todos os dias. Mas o presidente insiste no seu discurso de tasca imunda: todos temos de morrer um dia, porra!
Toda a gente decente condena o homem. A condenação salta do território brasileiro. Há um sentimento de tristeza no ar do mundo. De revolta. E de impotência perante tanta barbaridade verbal e real. A realidade brasileira ultrapassa todas as ficções. Claro que há arrependidos. Muitos dos que o elegeram querem-no agora fora do pedaço. Mas ainda se assiste a apoios cegos à criatura. Grande verdade: ele disse ao que ía. Todos nós percebemos que a tragédia fazia parte do programa, mas esta pandemia desenvolveu o carácter do traste. A tragédia é substancialmente superior ao programado. Há muita gente a morrer. Há muita gente viva que acha que é assim mesmo que deve ser. A coisa está preta.

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domingo, 24 de maio de 2020

Música no confinamento

A TORPOR Também tem música. O Luís Gouveia Monteiro gravou e filmou a Sandra Martins interpretando este tema de José Afonso. Tão bonito. 

Mas há por aqui mais músicas, e desenhos e crónicas para pensar e guardar. E muito ainda está para chegar. Até já.
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Música para aeroportos


A interrupção de actividades e a vontade de combater o vírus ameaçador ditaram normas. Foi preciso ficar longe de contaminações num tempo em que a propagação foi agressiva e impiedosa.

Passado esse período, foi preciso ditar regras para o regresso à normalização. Ora, parece que falta aqui uma pitada de razoabilidade. Uma coisa é não nos esquecermos que a economia dita regras, outra é não nos lembrarmos de mais nada. Parece que foi isso que agora aconteceu. Os aviões podem cruzar os ares carregados de gente, mas as salas de espectáculos só podem funcionar se for garantido que estão às moscas. Está cientificamente provado que quem frequenta as salas é mais sensível aos vírus? E, por outro lado, onde estão os estudos que garantem a reduzida possibilidade de contaminação nos aviões? Porque razão nos temos sempre de agachar perante o lobby mais poderoso? Aqui não conta a defesa da saúde pública? É o fartar vilanagem?
As salas precisam de ter gente em interacção com músicos, actores, bailarinos. Quem frequenta lugares de fruição cultural precisa de um regresso com medidas de protecção que não anulem o espectáculo. Aplausos, precisam-se.
Nada contra as normas que nos protegem, mas a razoabilidade, senhores, porque a esqueceis?

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Maria Velho da Costa

Agora fica a história de uma vida com muitas histórias para contar. A escritora morreu, mas os seus livros transportam tanta e tão intensa vida que será impossível esquecê-la. 

A história de resistência à repressão intelectual e partilha de conhecimento está contada, mas será sempre bom recordar que isto não foi sempre assim. As Novas Cartas Portuguesas, que escreveu com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno foram a pedrada que estilhaçou ideias obscuras.
Muito obrigado, Maria Velho da Costa.

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sábado, 23 de maio de 2020

Desentorpecer

Há uma nova publicação online que está a dar pano para máscaras. Maneira de dizer: não será pano para mangas, porque essas estão arregaçadas para não caírem nos teclados. 

Assim se percebe o que fez e pensou quem se recolheu perante a ameaça que nos atingiu com a força toda. De dois em dois dias há novas publicações. O bloco B foi inserido ontem e aí anda. Os próximos estão a chegar. Até já.
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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Torpor - Bloco B

Nova publicação hoje à noite. Imperdível. www.torpor.abysmo.pt
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quinta-feira, 21 de maio de 2020

AGENDA TORPOR

O sítio TORPOR está online e aguarda visitas. Ler, ver, ouvir e pensar é recomendável e faz bem à saúde. 

Aqui ficam as datas de publicação das próximas secções, para que não vos falte nada. Divirtam-se. Até já.
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quarta-feira, 20 de maio de 2020

Novo, a estrear

Este estabelecimento abre hoje às oito da noite.

Meditações para meditar. Desabafos para a melhor compreensão dos dias. Vale a pena ouvir o que esta gente tem para dizer. Isto não acaba assim. Amanhã começa, mesmo aqui, à frente dos nossos olhos.
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terça-feira, 19 de maio de 2020

POP MARX


António Guerreiro, no último Ípsilon introduzido no Público, traçou o trajecto da invenção "marxismo cultural". Excelente texto — como sempre — onde trajectos e razões são abordados e desmontados. Também por ali se encontram notas para reflexão. Modestamente, acrescento algumas.

Poderíamos simplificar: o marxismo cultural é uma invenção dos fascistas sem cultura. Mas esta seria a saída básica, sem razões para mais abordagens.
A expressão "marxismo cultural" foi inventada para o combate a todas as expressões de emancipação que despontaram no século vinte: Direito dos mais fracos ao ensino. Emancipação feminina. Liberdade de escolha entre ciência e religião, ou reconhecer a coexistência sem complexos. Reconhecimento de géneros para além dos ditados pelas convenções conservadoras. Direito ao desejo sem complexos de género. Direito a decidirmos o que fazer com o nosso corpo. Possibilidade de criação de família por pessoas do mesmo sexo. Liberdade de criação cultural e de sua fruição sem distinções de condição social. Enfim, liberdade e oportunidades para todos.
Estas ideias cresceram como cogumelos e tornaram-se drogas duras. Os adeptos do "bom-senso" e do "bom-gosto" nunca aceitaram tamanha agressão. Esconderam-se nos seus casulos e fizeram tudo para serem eles, e só eles, os conhecedores e naturais frequentadores dos territórios da excelência e das boas práticas, ungidos pelos deuses que criaram todas as coisas que lhes são úteis.
A expressão que culpa Marx de tudo o que é mau nasceu lá para os lados das américas, e espalhou-se por todo o lado com ganas de combate aos ateus e pelo restabelecimento da fé cristã como orientação única de vida, e em guerra com o crescimento do islamismo que grassa por todo o mundo. Claro que há nuances nas atitudes da direita. Nem todos os conservadores nos mandam para a Coreia, Cuba ou Venezuela ao vislumbre da mínima discordância, mas os adeptos da invenção "marxismo cultural", sim. Muitas vezes arrastam para este sítio mal frequentado gente que nunca fumou o tabaco marxista, mas que têm interesses culturais com cheiros nauseabundos. É exterminá-los, antes que fedam. O "marxismo cultural" é vírus que agride o conceito de família e dos bons costumes. O combate a este vírus tornou-se prioridade para gente como Trump e Bolsonaro. Os seus males não se comparam aos do Covid-19, coisa ligeira e passageira. A extrema-direita americana não se importa de ter um representante caricato. E no Brasil não importa que o líder seja um imbecil encartado. O que importa é o combate aos que querem reconhecimentos e direitos. Contra o "marxismo cultural" não existe um "fascismo cultural". A vida não é assim tão simples. Nem se pode concluir que a ignorância dá menos trabalho. As razões são políticas. Há uma direita que quer tudo como sempre foi. Novos nortes são uma grande barafunda. Deus nos livre desses males.

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segunda-feira, 18 de maio de 2020

domingo, 17 de maio de 2020

sábado, 16 de maio de 2020

Reencontros

Dia 18 inicia-se nova etapa nesta interrupção das nossas vidas. Os restaurantes vão reabrir apesar de todos os limites aos funcionamentos. O Restaurante Fidalgo é meu poiso frequente. 

Na DDLX Design Comunicação Lisboa, para além de fazermos a imagem da casa, concebemos o rótulo do vinho que Eugénio Fidalgo escolhe com saber e sabor. Este FONTE DAS MOÇAS chegou mesmo a tempo de estrear a reabertura no próximo dia 18, segunda-feira. O saboroso líquido corresponde às expectativas a que nos habituaram os vinhos da região de Lisboa. Excelente. Excelente também será este regresso a uma certa normalidade. A normalidade possível, é certo, mas desejável. Bom regresso. E boas escolhas.
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Na travagem brusca

Dias e dias em casa levaram muita gente a não deixar para amanhã o que pode ser feito hoje. 

Vem aí um novo projecto editorial online, que poderá experimentar versão em papel com o regresso dos dias melhores. Veremos. Interpretações dos dias neste intervalo das nossas vidas. São reflexões escritas e desenhadas que saem das gavetas do confinamento. A publicação de um primeiro bloco está marcada para a madrugada de dia 20, quarta-feira. A ideia partiu de João Paulo Cotrim, editor da Abysmo, e está a ser aplicada no terreno por nós, na DDLX.
É ler e olhar, porque isto não acaba assim.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Estar vivo é o contrário de estar morto

Aguarda-se a nomeação de Regina Duarte para o cargo de ministra da saúde, acumulando com o lugar que já tem no ministério da (pouca) cultura. 

Como já está habituada a tornar relativos os motivos da morte, está bem à vontade para desprezar a vida. É que nem toda a gente aguenta lidar com o mentecapto que botaram lá como presidente. Só mesmo uma mentecapta.
Fonte Expresso
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quarta-feira, 13 de maio de 2020

Apareceu brilhando...

O gabiru fascista do "Chega!, que já tresanda" considera-se um iluminado pela aparição mariana. Tem uma missão: salvar Portugal, quiçá o mundo. 

Os idiotas que o seguem cegamente devem ter visto nele uma aparição divina, de facto. Estamos com toda a certeza perante um novo fenómeno de fé. Já aconteceu no Brasil e nos EUA. Loucos vencem eleições e tentam governar. Em vão. Os governos das nações não são para ser entregues a vendedores de pomadas milagrosas. Estes messias valem o que valem; nada. Mas quem os admira e venera augura-lhes anseios de salvação. Gente parva sempre houve e sempre haverá. Os parvos não se importam de ter salvadores assim amalucados e egocêntricos como seus gurus. Revêm-se neles. Há um problema: alguns chegam ao topo. O fascista da Cofina faz tudo o que for preciso para dar nas vistas. Até quer ser o quarto pastorinho, valha-lhe a santa.
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Livro de vida





Tem 102 páginas. Formato: 21,5X15 cm. Na capa o nome do autor e o título: Gerhard Richter Snow-White. À folha de rosto antecipa-se uma página em vegetal onde está impresso, a prata, o nome da editora/galeria: Waco Works of Art. Na badana que dobra vinda da contracapa foi inscrita a ficha técnica. 

Nem mais uma palavra. Ao todo são 100 trabalhos que reproduzem intervenções de Richter a tinta acrílica e lápis. Data de publicação: 2006. É o volume mais caro guardado no sítio dos livros arte da minha biblioteca. Literalmente o segundo mais caro, mas em comparação com um Tápiès quatro vezes maior, com o triplo das páginas e fartura de texto. Os livros de arte são caros. Facto. Mas este Richter provoca-me constantemente. Visito-o com frequência. Rentabilizado. Mesmo sem palavras diz-me tanto. E é-me tão caro.
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terça-feira, 12 de maio de 2020

Da indigência intelectual


Este assunto não mereceria grandes incómodos, não fosse o caso de ter passado a assunto sério discutido na Assembleia da República e tudo.

Nuno Melo, da tribuna europeia, lançou o morteiro. Os professores que organizam as lições de história pela televisão, resolveram usar uma peça existente na casa, em que o historiador Rui Tavares apela aos petizes que encorpem o exército comunista que está a dominar o mundo. Os seus zelosos compatriotas, instalados nas tribunas nacionais, perceberam o perigo denunciado e vá de interpelar o governo comunista que dirige Portugal, pela voz do deputado Telmo, um competente arauto da cruzada contra o perigo que assola o planeta e arredores. Temos, portanto, uma tropa unida e corajosa, arregimentada com o novel e corajoso representante da Cofina no parlamento, que nos salvará desta desgraça emergente. Ninguém nega a esdrúxula coragem destes valorosos guerreiros. Que ninguém se atreva a fazer-lhes frente — a política é para os políticos profissionais; os cidadãos eleitores é comer e calar — nesta constante luta pela limpeza racial e contra a imposição de ideologias malfeitoras. Nunca tenham medo de ser ridículos. O medo do ridículo tolhe a coragem. Força.
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segunda-feira, 11 de maio de 2020

Ólhó Repórter
















Estes escritos no confinamento que aqui vou partilhando, vão ao fundo de tempos tão distantes como saudosos. Num baú de plástico encontrado na cave — os baús de madeira dos nossos avós já só existem nas histórias — encontrei jornais que não consigo colocar no recipiente do papel a reciclar. Não sou saudosista. Nada me detém no passado. Tudo me alimenta a vontade de olhar para o futuro, mas há pérolas que brilham como lanterna em caverna escura. Entre primeiros números do JL, exemplares do Se7e e do Diário de Lisboa em que sou mencionado por boas razões, e Blitz de várias temporadas, encontrei alguns exemplares do Repórter de Setúbal. 

O Repórter foi um jornal, semanário, que nasceu da vontade e esforço de uma pernada de amigos. Muitos andam por aí — não somos assim tão velhos —, mas já há desaparecidos em combate. O combate pela vida, que nos é agora tão caro.O exemplar que trago à colação — saiu em 29 de dezembro de 1984 — traz dentro uma preciosa entrevista a José Afonso, conduzida pelo Mariano Gonçalves — então director do jornal em exercício. Alternava com Tapum Ferreira. Carlos Catalão era o director adjunto —, e por este vosso amigo, que aqui fazia a sua estreia na carreira de jornalista, encerrada logo após a saída deste número. Só acompanhei o entrevistador principal porque conhecia José Afonso, e era tido como conhecedor do seu trabalho. Nesta edição já eu falava da obra gráfica na obra de José Afonso. E já pensava o que penso hoje, mas hoje com a vantagem de já ter produzido uma exposição com o trabalho visual dos treze LPs editados por Zeca, com os grafismos dos designers José Santa-Bárbara, Alberto Lopes, José Brandão e João de Azevedo, os feitores das imagens das capas e arranjos gráficos.

A entrevista recolheu opiniões de José Afonso sobre a sua passagem pela cidade. A linhas tantas refere a dificuldade que tiveram os fundadores do Círculo Cultural. "Não foi fácil pormos o Círculo Cultural de pé," diz. O círculo funcionou nas instalações onde hoje está a Casa Da Cultura | SetúbalA direita fascista tentou, de maneira caluniosa e vil, boicotar a constituição de uma coutada de "esquerdistas, drogados, passadores de droga e de outras práticas imorais". O costume para a época. Costume que não mudou assim tanto. É ver o deputado europeu Nuno Melo acusar o Ministério da Educação por passar nas aulas da nova telescola um programa do historiador Rui Tavares.

O Repórter teve projecto gráfico meu e era paginado por mim, em casa, na véspera de ir para a máquina. Isto quando os computadores nem miragem eram. Tudo montado em acetatos transparentes, em sentido invertido, com precisão literalmente milimétrica.
Este jornal teve a ousadia de misturar Setúbal com outros saberes. Representou, naquele tempo, a ideia que defendo para uma comunicação social regional, sim, mas com os olhos postos no mundo. Reconheço que é difícil manter um projecto assim. Este acabou por não se aguentar. Foi pena. Agora leio este exemplar como se tivesse acabado de sair. E sinto-me bem, com saudades do futuro.



As fotografias são do Armando Reis. O guedelhudo barbudo que está ali sentado ao lado do entrevistado sou eu. Foi isto.
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Humanidade sem humanidade

É difícil ter opinião sobre a monstruosidade real. Sem ficção. Como é isto possível? A filosofia, a psicologia, a sociologia terão respostas. Eu não. facebook



sábado, 9 de maio de 2020

Ignorância não é solução

É costume dizer-se nestas ocasiões: isto vale o que vale. É verdade. E o que é verdade hoje pode não ser amanhã. Mas estas sondagens de agora revelam uma possível verdade que nos pode dar algum descanso. 

O insuportável labrego da Cofina não tem tanta gente a segui-lo — na sua cruzada criminosa racista e fascista — como ele próprio fazia crer. Não nos permite sestas descansadas. Continuamos a ter de estar alerta e a denunciar o sem-maneiras e seus apoiantes. Mas percebermos que nem tudo está podre é um alívio. A promoção da ignorância e os ataques à democracia não podem dar frutos. Um bom fim-de-semana para todos. Em casa, mas com boas notícias.
Fonte Expresso
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quinta-feira, 7 de maio de 2020

Uns e outros

A polémica vale o que vale. Um assunto que discrimina cidadãos não deveria ser assunto. Mas é. 

O que mais me incomodou e revoltou nesta polémica foi a resposta do deputado fascista ao jogador da selecção de futebol. Para o energúmeno que se senta na extrema direita do parlamento, um jogador de futebol da selecção nacional não se deveria pronunciar politicamente. Esta atitude tem tudo de salazarenta: a política é para os políticos. O energúmeno não está enganado porque é um fascista. Mas, já agora, um tão graduado em Direito pode achar uma coisa destas? O animal é mesmo assim uma figura tão brilhante e mestrada e doutorada em direito? Ou não passa de uma besta quadrada? Logo ele, que comenta futebol e faz política. Catarina Martins e António Costa puseram-no no seu lugar de aprendiz de tribuno fascista. Mas, não sei se repararam, o pretenso tribuno atirou logo com as últimas sondagens à cara de Catarina, que tinha atirado as atitudes do parvalhão para o caixote do lixo. Quem vai para o caixote do lixo, quando há um eleitorado fascista a crescer? Ele sabe o que anda a fazer. É preciso ser denunciado. Sempre. Mas há quem só oiça vozes de burros, meu caro Quaresma.
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quarta-feira, 6 de maio de 2020

Levante-se o réu


Passaram hoje setenta anos sobre um episódio que mudou os julgamentos políticos em Portugal. Acusado pelo regime de traição, Álvaro Cunhal, em tribunal, dá a volta ao texto e acusa os fascistas que o acusavam. Frase histórica: "Que se sentem os fascistas no banco dos réus".

A partir daí os seus camaradas de partido passaram a assumir a condição de militantes, usando o tribunal como palco para a denúncia das atrocidades do regime. Hoje é difícil entender as atitudes de homens e mulheres que lutaram contra o regime imposto por Salazar e pelos grandes empresários de então. O regime protegia a corrupção instalada. As populações sofriam na pele com a imposição de um sistema repressivo que perseguia, prendia, torturava e matava. A mais reprovável miséria minava a vida do povo. A oposição combatia na clandestinidade. Os militantes inscritos na prioridade de combater o regime eram cidadãos ilegais. A legalidade era o fascismo: a delação e o ódio eram legais.
Famílias de militantes comunistas foram separadas. Filhos enviados para o exterior para sua própria protecção. Cunhal esteve preso anos a fio. Foi torturado. Na prisão desenhou, escreveu, traduziu. Foi um homem com capacidades invulgares. O seu trabalho artístico e literário está publicado.
Hoje, em democracia, e para as gerações que nasceram em liberdade política e cultural, tudo isto é inimaginável. Até parece que foi excessivo e inútil. Mas não foi. Foram estas atitudes que nos deram a possibilidade de ter hoje um regime democrático. E depois de Abril foram estes democratas que construíram a democracia. Sim, a democracia não foi obra apenas dos partidos que formaram governos. os projectos de lei foram elaborados e depois votados, primeiro na Assembleia Constituinte e depois na Assembleia da República, pelos deputados que construíram a democracia em Portugal. Álvaro Cunhal teve desempenho fundamental. Sempre foi um democrata que aceitou as regras da situação que ajudou a construir.
Bem sabemos que ainda hoje existe quem esteja sempre com a pistola acusatória pronta a disparar. Quem defende a democracia que releva o bem estar das pessoas, a cultura, o humanismo, a solidariedade, é prontamente enviado para a Coreia do homenzinho das experiências bélicas, para a Venezuela, para Cuba e mais não sei para onde. Há quem não veja, ou não queira ver, que nem todos pensamos da mesma maneira porque somos todos diferentes. Imaginar um regime como o da Coreia do Norte implantado aqui, ou achar que é isso que a esquerda quer, é mais ou menos como não ter medo de ser ridículo.
Alinho estas palavras, neste fim de dia em que passam setenta anos sobre esta data histórica, para relembrar Álvaro Cunhal. Ele merece ser relembrado.

Fotografia de Carlos Lopes
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Sebastião Salgado

 

Conhece o terreno. Sabe o que se está a passar. Pede a retirada dos invasores ilegais. O Brasil tem uma dívida para com os seus primeiros habitantes. 

São preocupações de alguém que associa o talento de grande artista à solidariedade para com quem sofre a injustiça de ser ameaçado na sua terra, e é vulnerável às ameaças de agora. Fazendeiros ilegais são criminosos sem lei. Gente desprezível que não conhece pingo de generosidade ou humanismo. A vida das pessoas vale uma bagatela perante o lucro desenfreado. Muito obrigado, Sebastião Salgado.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Meu caro amigo





As atitudes do iletrado irresponsável que se senta actualmente na cadeira da presidência, no Palácio do Planalto, trouxeram-me à memória um episódio que revela bem o desprezo que esta gente adepta de ditaduras e da anulação do conhecimento nutre pelas pessoas de cultura e pela cultura em si. E consequentemente pela vida das pessoas, como se viu no tempo dos militares e se tem visto agora, com esta tropa fandanga no poder.

Nos primeiros anos da década de 1980, o Brasil, então em ditadura, experimentou um processo de decadência política e económica que só terminou com o fim do regime dos militares, em 1984.
Em 1982, Sérgio Godinho viajou até lá. Já tinha sido detido uma vez naquele país, em 1971. Permaneceu na prisão durante dois meses. Desta vez o domicílio prisional durou pouco mais de um mês. Motivo das detenções: crime de divulgação cultural. Teatro e música não são perfume para ditadores.
Em Portugal a notícia foi recebida em choque. José Afonso residia em Vila Nogueira de Azeitão. No dia 4 de Dezembro desse ano, atirou a doença para trás das costas — na altura já a avançar a passos largos — e iniciou uma estruturada campanha de solidariedade com Sérgio Godinho. Assumi a tarefa de tratar da reprodução e distribuição de um documento/abaixo-assinado, "sugerindo" a libertação do seu colega, a enviar ao Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal. O dito documento acabou por não chegar ao Palácio das Necessidades, por razões óbvias: Sérgio foi libertado uns dias depois. A sua libertação resultou de uma gigantesca acção de solidariedade encetada por gente da cultura e das esquerdas de Portugal, do Brasil e de muitas outras geografias. José Afonso estava sempre na primeira fila destas manifestações solidárias.
Sérgio Godinho já esteve três vezes em sessões Muito cá de casa, na Casa Da Cultura | Setúbal. Em 17 de Maio do ano passado, apresentámos Estocolmo, o seu mais recente livro. Antes do encontro na sala José Afonso, estivemos à conversa. Passou-se então o seguinte: como descobri os originais com o texto de José Afonso e as assinaturas dos portugueses solidários, resolvi oferecer aquele documento único ao ex-prisioneiro da ditadura militar brasileira. Fiquei com uma cópia da folha A4 assinada por José Afonso. Está aqui. Assim como algumas imagens que documentam uma amizade.
As ditaduras reprimem, prendem e matam. Em tempo de elogio destes tempos, é tempo de denunciá-los.
Fascismo nunca mais, mesmo.

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