quinta-feira, 31 de março de 2005

Parolos aos molhos

O mal de Portugal é a elevada percentagem de parolos. Há parolos em todo o lado e em todas as áreas de intervenção.
Há parolos candidatos a parolos. Há parolos eleitos pelo povo. Há parolos nas elites. Há imensos parolos no parlamento. E aí é um bocadinho chato, porque é lá que se decidem muitas das parolices que nós depois temos que suportar.
Também há os parolos que não permitem que algo "não parolo" se afirme. Isso acontece porque há imensos parolos com imenso poder. Pode ser que as coisas mudem um dia, mas vai ser difícil. Os parolos tem uma camada muito fina de parolice que lhes cobre todo o corpo, cobre-lhes os olhos e atrofia-lhes o cérebro. Os parolos não serão propriamente estúpidos, são apenas parolos, pronto, é outra coisa, muito difícil de definir mas que se topa à légua.
Enfim, há dias em que os parolos estão mais salientes. Até parece que se organizam entre si para a grande parolada. São os dias parolos. Hoje foi um desses dias. Se é que ainda não tinham percebibo.
RR

terça-feira, 29 de março de 2005

Hans Christian Andersen



O Bicentenário de Hans Christian Andersen, escritor nascido em Odense, Dinamarca, a 2 de Abril de 1805, será celebrado em Setúbal no sábado, dia 2 de Abril, na livraria Culsete com uma sessão aberta ao público marcada para as 17h.
Fátima Ribeiro de Medeiros, investigadora na área do conto, fará uma palestra sobre os contos de Andersen.
De seguida será relevado o panorama da recepção portuguesa da obra de Andersen. Quantos de nós, dos mais velhos aos mais novos, não trazem da sua infância um conto de Andersen, nesta ou naquela edição?

Finalmente será apresentada a obra HISTÓRIAS E CONTOS COMPLETOS DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN, acabada de editar, com tradução de João José Pereira da Silva Duarte e que é desde já o acontecimento português mais relevante deste centenário, pois, pela primeira vez, estão disponíveis em português, e em tradução directa do dinamarquês, todos os contos de Andersen.

Hans Christian Andersen, que passou um mês em Setúbal, de 8 de Junho a 8 de Julho de 1866, e que ali plantou um abeto para símbolo da união entre os povos, é o estrangeiro cuja ligação a Setúbal mais honra a cidade. Ao reconhecê-lo, com esta e outras importantes homenagens, já anunciadas ou ainda em preparação, os setubalenses de hoje vão merecendo o respeito dos setubalenses de amanhã.

(Do convite da organização)

domingo, 27 de março de 2005

sábado, 26 de março de 2005

Moby


Este descendente de Herman Melville, que adoptou o nome da personagem que dá o título ao livro mais conhecido do escritor - Moby Dick -, gravou um trabalho a merecer toda a nossa atenção. Estamos perante um disco fortemente intimista, o mais intimista do músico. Chamou-lhe: "Hotel". Gravado no seu apartamento em Nova Iorque, este novo conjunto de originais é um dos seus mais interessantes trabalhos. É ouvir, é ouvir, meus amigos.
JTD

sexta-feira, 25 de março de 2005

Rufus


Rufus Wainwright tem um novo e belíssimo disco. Título: Want 2.
Sons pessoais, intimistas mesmo. Um trabalho onde Rufus esbanja as suas idiossincrasias.
Um trabalho a ouvir, sem dúvida.
JTD

quinta-feira, 24 de março de 2005

Roy Lichtenstein | Florbela Espanca



Languidez

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...

E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...

Florbela Espanca Poema
Roy Lichtenstein Imagem

quarta-feira, 23 de março de 2005

Manoel de Barros



Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
*
Tem mais presença em mim o que me falta.
*
O meu amanhecer vai ser de noite.
*
Sábio é o que advinha.
*
Peixe não tem honras nem horizontes.
*
Eu queria ser lido pelas pedras.

(Livro sobre nada, Rio de Janeiro: Record, 1997, 4a edição)

Esta é uma pequena amostra da obra deste original e instigante poeta brasileiro que merece ser visitada e revisitada muitas vezes. Nascido no estado do Mato Grosso, em 1916, Manoel de Barros tinha apenas um ano de idade quando a família mudou-se para uma fazenda no Pantanal. Talvez por isso sua poesia esteja tão impregnada de referências à natureza e aos ciclos naturais da vida, as tais coisas "desimportantes" que viriam a marcar profundamente sua obra.

Seu primeiro livro, publicado no Rio de Janeiro há mais de sessenta anos, foi feito artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de apenas 20 exemplares e mais um, que ficou com ele. Foi somente a partir dos anos 80 que começou a ser mostrado ao público, por meio da publicação de poesias suas em colunas de revistas e jornais por gente como Millor Fernandes, Fausto Wolff e Antônio Houaiss.

Hoje é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos poetas mais importantes do Brasil. Sobre ele, Antonio Houaiss declarou "Sob a aparência surrealista, a poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões, oníricas num primeiro instante, logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético muito profundo?.

Em entrevista concedida em agosto de 1996, ao ser perguntado sobre qual sua rotina de poeta, respondeu: "Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma palavra. E gosto de ouvir e ler "Vozes da Origem". Gosto de coisas que começam assim: "Antigamente, o tatu era gente e namorou a mulher de outro homem". Está no livro "Vozes da Origem", da antropóloga Betty Midlin. Essas leituras me ajudam a explorar os mistérios irracionais. Não uso computador para escrever. Sou metido. Sempre acho que na ponta de meu lápis tem um nascimento."
releituras
ALF

terça-feira, 22 de março de 2005

Efeito Chico Buarque

(da nossa correspondente no Rio de Janeiro)

Leio num respeitado jornal daqui que o local onde o nosso cantor maior foi visto aos beijos e abraços na praia do Leblon virou ponto turístico. Isso só comprova a minha tese de que ele é mesmo um monumento nacional, a julgar pelo fato de que o lugar que ele frequenta (e a maneira como frequenta!) tenha virado ponto de peregrinaçao! Um respeitado instituto de pesquisa constatou o aumento da frequencia ao local... Já tem até camelô (para quem não sabe, vendedor ambulante) vendendo garrafinhas com areia e água do local.
ALF

domingo, 20 de março de 2005

É burro

Santana não desiste. No congresso da juventude do seu partido, revelou a sua estranheza por não ter sido considerada trapalhada a declaração contraditória do actual ministro das finanças, em relação ao aumento dos impostos. Depois do embaraço que provocou ao partido com o regresso à câmara, volta ao seu natural estado de choramingas inveterado. A criatura não percebe nada. É ainda mais burro do que parece. É burro. é desonesto, é tudo o que a gente não precisa para nada. Quando é que esta peçonha desanda daqui para fora?
RR

quinta-feira, 17 de março de 2005

Sam Francis | Irene Lisboa



Chuvoso maio!

Deste lado oiço gotejar 
sobre as pedras. 
Som da cidade ... 
Do outro via a chuva no ar. 
Perpendicular, fina, 
Tomava cor, 
distinguia-se 
contra o fundo das trepadeiras 
do jardim. 
No chão, quando caía, 
abria círculos 
nas pocinhas brilhantes, 
já formadas?
Há lá coisa mais linda 

que este bater de água 
na outra água? 
Um pingo cai 
E forma uma rosa... 
um movimento circular, 
que se espraia. 
Vem outro pingo 
E nasce outra rosa... 
e sempre assim! 

Os nossos olhos desconsolados, 
sem alegria nem tristeza, 
tranquilamente 
vão vendo formar-se as rosas, 
brilhar 
e mover-se a água...

Irene Lisboa Poema
Sam Francis Pintura

quarta-feira, 16 de março de 2005

Lura



DI KORPU KU ALMA
Conheci a música de Lura no lançamento do mais recente livro de José Eduardo Agualusa.
Ele já me tinha falado desta cantora excepcional com especial dedicação.
Como Lura é uma mulher muito bonita, pensei que o entusiasmo do José Eduardo fosse motivado por esses atributos evidentes da cantora.
No lançamento, ela trauteou um tema incluído neste cd que agora foi posto à venda. Aí, fiquei convencido do talento da senhora.
Desejei até hoje um contacto com um trabalho seu. Esse dia chegou. Para quem gosta de música de origem africana, recomendo. Também se poderá recomendar a quem gosta simplesmente de música. Boa música, é o que este trabalho tem dentro. A ouvir e repetir a audição, até que os ouvidos lhe doam.
JTD

segunda-feira, 14 de março de 2005

Alô Lisboa


Peço desculpas por demorar tanto tempo para iniciar
minha colaboração, mas depois de apelo tão simpático
não poderia adiar mais escrever alguma coisinha.

O Rio de Janeiro tem vivido, nas duas últimas semanas, uma grande polêmica em torno de um dos maiores ídolos da música brasileira: Chico Buarque. Tudo começou quando uma revista estampou em sua primeira página fotos do cantor aos beijos e abraços no mar da praia do Leblon. Desde então tem se falado muito sobre invasão de privacidade (as fotos foram feitas por um paparazzo), sobre o direito de serem publicadas ou não, enfim, rios de tinta andam a correr desde que ficamos a saber que o Chico tem uma nova namorada. Um detalhe: parece que ela é casada... Mas, cá pra nós, em se tratando do Chico Buarque, qualquer infidelidade é compreensível e perdoável. Aliás, sendo ele o que é, monumento nacional, nem se poderia acusar isso de infidelidade. Seria antes amor à pátria.
ALF

sexta-feira, 11 de março de 2005

Alô Rio



- Dizem, na minha família, que eu cantei antes de falar. E havia uma cançãozinha que eu repetia e que tinha um leve tema de sons. Fui criado no mundo da música, minha mãe e minha avó tocavam piano, eu me lembro de como me machucavam aquelas valsas antigas.
- Meu pai também tocava violão, cresci ouvindo música. Depois a poesia fez o resto.

Vinicius de Moraes. Entrevista a Clarice Lispector

Ana Lúcia, é preciso eu fazer isto para lembrar aos fregueses que isto é um blogue luso-brasileiro?
Para quando a tua tão esperada participação?
Até breve. JTD

quinta-feira, 10 de março de 2005

Sharon Stone


47 anos. Parabéns.

quarta-feira, 9 de março de 2005

Paula Rego | Sophia de Mello Breyner Andresen



Naquele Tempo

Sob o caramachão de glicínia lilaz
As abelhas e eu
Tontas de perfume

Lá no alto as abelhas
Doiradas e pequenas
Não se ocupavam de mim
Iam de flor em flor
E cá em baixo eu
Sentada no banco de azulejos
Entre penumbra e luz
Flor e perfume
Tão ávida como as abelhas

Sophia de Mello Breyner Andresen Poema
Paula Rego Pintura

segunda-feira, 7 de março de 2005

Richard Diebenkorn | Herberto Helder



Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

Herberto Helder Poema
Richard Diebenkorn Pintura

domingo, 6 de março de 2005

Mau perder

Um moço do PP mandou a fotografia de Freitas para a sede do PS. Depois dos esforços de Portas em parecer uma figura de Estado, o rapaz resolve deitar tudo a perder e... pimba, disparate. É certo que o poder já lá vai, mas a reacção do garoto não é mais que isso mesmo: uma garotice.
JTD

Murcon de serviço


Júlio Machado Vaz já chegou à blogosfera. Já mora aqui ao lado. Está no serviço de clínica geral, como murcon de serviço.
As opiniões de Júlio, tanto nos livros, como na rádio ou na televisão, nunca são de deitar fora. Muito pelo contrário, é estimá-las e guardá-las.
Gente como Júlio Machado Vaz não se encontra todos os dias. É um privilégio podermos contactar com ele com esta frequência.
Bem vindo, Júlio.
JTD

sábado, 5 de março de 2005

Santana, o nomeador

O ainda infelizmente primeiro-ministro continua no grande reboliço das nomeações.
Mesmo depois da inequívoca remoção do passado dia 20 de Fevereiro, o pior governante de que há memória não desiste de assistir aos seus amigos e correligionários. Insiste em minar de criaturas inenarráveis os lugares de serviço público. Menezes diz que ele ainda tem muito para dar ao país. Não temos dúvidas: se pudesse daria tachos a todos os seus seguidores. A sorte é que o poder vai escasseando, e assim, os amigos vão partindo para outras paragens. Que vão para bem longe. A bem do país.
RR

Sean Scully | Alexandre O'Neill



Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

Sean Scully Pintura
Alexandre O'Neill Poema

sexta-feira, 4 de março de 2005

Hoje há governo


Aqui vão todos os nomes:
Primeiro-ministro - José Sócrates.
Estado e Administração Interna - António Costa.
Estado Negócios Estrangeiros - Diogo Freitas do Amaral.
Estado e Finanças - Luís Campos Cunha.
Defesa - Luís Amado.
Economia - Manuel Pinho.
Trabalho e Segurança Social -Vieira da Silva.
Justiça - Alberto Costa.
Saúde - Correia de Campos.
Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas - Jaime Silva.
Obras Públicas - Mário Lino.
Educação - Mária de Lurdes Rodrigues.
Ensino Superior e Ciência - Mariano Gago.
Presidência - Pedro Silva Pereira.
Assuntos Parlamentares - Augusto Santos Silva.
Cultura - Isabel Pires de Lima.
Ambiente - Francisco Nunes Correia.
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros - Jorge Lacão.

Boa sorte, Portugal.

quinta-feira, 3 de março de 2005

Pierre Soulages | Carlos de Oliveira


Aço na forja dos dicionários
as palavras são feitas de aspereza:
o primeiro vestígio da beleza
é a cólera dos versos necessários.

Carlos de Oliveira Poema
Pierre Soulages Pintura

terça-feira, 1 de março de 2005

Eu também reparei nisto

Nuno Pêgas refere no PÙBLICO de hoje o que também me incomodou. Já que ele o faz tão bem, poupo-me a acrescentar mais prosa. Se isto é serviço público, vou ali e já venho.

Serviço público?

A RTP1 tinha previsto para domingo, às 18h30, a transmissão da final da Taça da Liga inglesa, entre o Chelsea e o Liverpool. O canal cumpriu a grelha e transmitiu de facto o jogo. O que não estava previsto era que o encontro tivesse prolongamento, facto que fez alongar a transmissão para lá da hora a que habitualmente para o ar o Telejornal. Como se não bastasse, o canal do Estado, com obrigações de serviço público, ainda brindou os telespectadores com quase quinze minutos de publicidade a seguir ao termo do tempo regulamentar da partida, transmitindo em seguida o prolongamento do jogo (30 minutos). O telespectador que habitualmente acompanha o Telejornal da RTP1 só o pôde ver por volta das 21h05. Em alternativa, pôde acompanhar os noticiários ou da SIC ou da TVI, que os puseram no ar às habituais 20h00. E a TVI até já tinha feito um resumo do jogo no seu programa desportivo da tarde. Será tão importante para um canal pago pelo contribuinte transmitir um jogo de que quase toda a gente até já sabia o resultado, ainda por cima à hora em que os seus fiéis telespectadores costumam assistir ao dito Telejornal? Não teria sido mais sensato transmiti-lo mais tarde? Será isto o serviço público que tanto se apregoa? Como se não bastasse, estava prevista para cerca das 21h30 a muito aguardada estreia do regresso de Marcelo Rebelo de Sousa aos comentários semanais. Para manter a hora marcada, a RTP fez um Telejornal tão resumido que, no alinhamento, até se "esqueceu" de fazer referência à morte de Vítor Wengorovius, fundador do Movimento de Esquerda Socialista, e considerado um dos grandes antifascistas do nosso país. Nuno Pêgas