quarta-feira, 28 de abril de 2021

O café de volta



Voltámos e somos recomendáveis. O Café da Casa da Avenida regressa com novo fôlego, adaptado às circunstâncias, mas com propostas apetecíveis. A nossa sugestão de degustação de vinhos vale uma visita. É bom conviver em ambiente tão agradável. A extraordinária exposição de Fernanda Carvalho é um apetite para o olhar. Excelente. Venham até cá.

CASA DA AVENIDA | ARTE | GALERIA | CAFÉ
Avenida Luísa Todi, 292. Setúbal

terça-feira, 27 de abril de 2021

Regresso


EM VOZ ALTA
| Os encontros com os grandes poetas portugueses vão voltar à Casa Da Cultura | Setúbal. António Ramos Rosa vai ser lido por dois grandes nomes da representação em Portugal: Lia Gama e Luís Lucas.

Imperdível. Apareçam na próxima quinta-feira, dia 29, às nove da noite em ponto.

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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Medalha de Mérito Cultural


LOURDES CASTRO
| Recebeu hoje a medalha de mérito cultural. Se há artistas com mérito, Lourdes Castro está na primeira fila. A ministra da Cultura foi à Madeira fazer a entrega. Vi pelas imagens televisivas que a artista gostou da homenagem. Aos noventa anos recebeu a medalha com uma humildade juvenil. Os grandes artistas não envelhecem. Vivem. Criam. São gente singular. Eu gosto muito do trabalho e do percurso de vida de Lourdes Castro. Parabéns, minha senhora. Continue a surpreender-nos.

Dicionário da Invisibilidade


ANDRÉ CARRILHO DE NOVO NA CASA DA CULTURA | É a terceira exposição de
André Carrilho na Casa Da Cultura | Setúbal. Vamos reabrir o Espaço Ilustração com uma importante exposição: Dicionário da Invisibilidade é o título desta mostra de Maio. Abre no próximo dia 30 de Abril, às 19 horas. O livro será apresentado durante o decorrer da exposição, na Galeria da Casa da Avenida. Comunicaremos data e hora a seu tempo.

sábado, 24 de abril de 2021

O meu 25 de Abril


Ergue-te ó Sol de Verão

Somos nós os teus cantores

Da matinal canção

Ouvem-se já os rumores

Ouvem-se já os clamores

Ouvem-se já os tambores

José Afonso


A data que se assinala este domingo foi decisiva na vida de muitos de nós. Tudo mudou. Hoje não se imagina o que é viver em ditadura, longe do conhecimento, da liberdade, do conforto democrático. 

Para mim o 25 de Abril é José Afonso. A descoberta da sua obra ditou-me um gosto e um reforço da ideia que tinha de cidadania. Conheci o Zeca logo depois desta data. Tudo confirmado. Um homem como ele é uma dádiva. Foi corajoso. Possuidor de uma extrema cultura, combateu o fascismo com as armas que tinha na mão: a música, a literatura, a intervenção cívica. Rejeitou a mediocridade do nacional-cançonetismo, expressão criada por João Paulo guerra para definir o gosto duvidoso da música de feira, festivaleira de trazer por casa, e dos fadunchos marialvas. "Inventou" outra música. Foi um combate difícil, que não permitiu a permanência no país de muitos dos nossos cantores. A juventude mais esclarecida deixou-se influenciar por estes novos arautos do conhecimento alternativo. 

Em finais de março de 1974, o Coliseu dos Recreios recebeu o Encontro da Canção Portuguesa. Nas imagens que este cartaz reproduz reconhecem-se alguns dos mais influentes cantautores do momento. São os pioneiros no combate à chunguice sonora: José Afonso, José Barata-Moura, Fausto, José Jorge Letria, Vitorino, Adriano Correia de Oliveira e Manuel Freire. Sérgio Godinho e José Mário Branco não estavam no país. José Afonso e Adriano Correia de Oliveira foram proibidos de entrar em palco, mas depois de uma solicitação da organização lá foi possível participarem. Diz quem lá esteve que foi emocionante. 

A canção senha/confirmação escolhida pelos militares para a madrugada do golpe tinha de ser de José Afonso, é claro. Foi sugerida Venham Mais Cinco, mas Almada Contreiras, militar envolvido, resolveu usar Grândola, vila morena, por ter percebido a emotividade que envolveu a canção interpretada por José Afonso. Almada Contreiras contou isto em livro por mim editado na Estuário — Militares e Política: o 25 de Abril, de Luisa Tiago de Oliveira —, e confirmou e desenvolveu a ideia em sessão Muito Cá de Casa, na Casa da Cultura, Setúbal.

Passados estes 47 anos sobre a data que nos permitiu abraçar o mundo, é aos nossos cantores que agradeço. Foram eles que me fizeram ter orgulho na música feita em Portugal. E, como eles, continuo a desprezar a musicalidade da treta que ainda se pratica e encoraja neste país de parolos costumes. É um combate. Venceremos, sempre. Quem perde é quem se cala perante a eficácia da cultura dos incultos, como dizia Natália Correia. Viva a liberdade. 25 de Abril, sempre.

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AFONSO REIS CABRAL EM SETÚBAL | Foi um daqueles gostos muito grandes, este de receber Afonso Reis Cabral no Café da Casa da Avenida e na Sala José Afonso da Casa Da Cultura | Setúbal. Sala cheia, dentro das possibilidades contemporâneas, e curiosidade participativa. Falámos de tudo: Viagens, livros, edição e publicação, e mais o que nos veio à cabeça. Até falámos da música e dos músicos manhosos que nos agridem a inteligência e o conforto intelectual. Encontro feito de amizade e prazer no reencontro.

Muito Obrigado,
Afonso
.
A fotografias são da
Isabel Pinto Oliveira
.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Quantas horas têm os dias?


AS HORAS E OS DIAS
| O Café da Casa da Avenida vai reabrir na próxima sexta-feira, dia 23. Um nova exposição anima as paredes. Fernanda Carvalho interpretou os dias de confinamento em trabalho fotográfico onde explora e mostra os "resíduos de lar" como diria José Afonso. No serviço de café há surpresas, como não poderia deixar de ser. Tentamos fazer o melhor. Os nossos amigos confirmarão se o conseguimos. Até já.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Regresso à vida, aos poucos





Hoje vou ao teatro. Aos poucos vamos tentar voltar a estar bem.

BIRDLAND de Simon Stephens, pelos
Artistas Unidos
às sete da tarde. A peça está apresentável ao público no
Teatro Da Politécnica
, de segunda a sexta-feira, sempre à mesma hora. É bom regressar às salas.
As fotografias são do
Jorge Gonçalves
.

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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Design de comunicação


Da série Grandes Capas.

The New Yorker
. Art by R. Kikuo Johnson.

domingo, 18 de abril de 2021

Design de Comunicação



DA SÉRIE GRANDES FRACASSOS
| Sabem perfeitamente o que imaginamos e sentem-se à vontade para nos garantirem que temos fraca imaginação. Eles sabem o que nós nunca imaginámos. Também sabem que a primeira vez nos custa e provavelmente estão disponíveis para nos sugerir uma primeira vez com eles. Ah, e tratam-nos por tu, como se fossemos muito lá de casa ou simplesmente seus simplórios servidores. É a direita a comunicar.

sábado, 17 de abril de 2021

Edward Hopper


Há sempre mistério em Hopper. A alegria escondeu-se. A solidão é a realidade do artista. Foi como observou o seu tempo. Nunca encontrou motivos para festejar com a sua pintura. Mas o tempo ditou-lhe outros envolvimentos: a sua obra é uma alegria para os sentidos. O seu tempo é o nosso tempo. Viva Hopper.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

História é história


Cada vez mais faz menos sentido designar como grande história a história das nações apenas contemplando episódios da política, dos heróis e dos vilões das passadeiras vermelhas da socialização coquete e dos grandes tratados. A história é o que de saliente acontece num tempo e depois é contado noutro, mais tarde. De tudo o que acontece em nosso redor, o que sobressai fica para a história, mas os enleios em que tudo se desenvolveu contribuíram para essa exaltação. 

As publicações Estuário lançam agora esta colecção em que essas histórias têm o merecido destaque. Chama-se o empreedimento A HISTÓRIA DO MUNDO É A HISTÓRIA LOCAL e abre com este BREVE HISTÓRIA DA FREGUESIA DE SÃO SEBASTIÃO, SETÚBAL. É um livro notável, com investigação e escrita de Diogo Ferreira. Vai ser apresentado dia 26, no auditório das novas instalações da Junta de Freguesia de São Sebastião. A Cátia (garota não) vai resolver a parte musical. Prevê-se o melhor.

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terça-feira, 13 de abril de 2021

Design de comunicação

Da série Grandes Capas 


O teletrabalho tornou-se a maneira mais segura e económica de trabalhar. Segura para o trabalhador: não se arrisca a contactos e contágios. Económica para o empregador: reduz custos efectivos. Ou seja, assim de repente parece ser o futuro do trabalho intelectual, administrativo ou de gestão. O ideal é ir tudo para casa e trabalhar de pijama. Até se poupa na vestimenta. Os encontros via zoom, ou em outras plataformas cada vez mais eficazes, são a grande sala de reuniões da grande multinacional. 

O teletrabalho não é novidade para mim. A minha área de trabalho não necessita de ser frequentada fisicamente com insistência diária. Há anos que ando nisto. Mas agora, nesta altura em que o teletrabalho é a solução para todos os males, começo a sentir a falta do outro. Do encontro ao almoço, do copo ao fim da tarde, do lançamento, da abertura da exposição onde se encontram os amigos e os amigos dos amigos. Não se vê um fim disto. Não se encontra uma solução. A revolução tecnológica fornece-nos o teletrabalho apenas. Esperemos que não se torne qualquer coisa aparentada a uma telescravidão. Esperemos que a geração que desponta para o trabalho durante esta pandemia, venha um dia a conhecer o prazer de estar com alguém a trabalhar. As pessoas devem de estar em primeiro lugar, muito antes do trabalho, e muito antes ainda do teletrabalho. As pessoas precisam de estar umas com as outras. O trabalho só é um prazer quando o outro também está a trabalhar ali ao lado. Vamos beber um café?

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segunda-feira, 12 de abril de 2021

Design de comunicação

Da série Grandes Capas.


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sábado, 10 de abril de 2021

Modos de fazer paisagem






A paisagem rodeia-nos e ilustra vivências e passagens do tempo. Vivemos rodeados das memórias impressas nesses ambientes colectivos. São telas instaladas em nosso redor. As exposições VIAGEM MAIOR, de Duarte Belo e João Abreu, e APODIDRASKINDA, de Katie Lagast, visionáveis na Casa da Avenida desde ontem, têm em comum um certo reconhecimento do valor da paisagem e da importância e influência que têm nas nossas vidas.

Duarte Belo e João Abreu habituaram-nos ao rigor fotográfico aliado a uma preocupada interpretação da natureza. Estas paredes transportam interrogações e receios. A paisagem é assunto muito sério. A sua interpretação e protecção não podem ser encarados com excessiva descontração. As imagens passam para livro, onde se explicam com textos também de elevado rigor científico e estético. Uma grande viagem, esta VIAGEM MAIOR.
APODIDRASKINDA, de Katie Lagast é uma belíssima instalação, onde a interpretação da realidade urbanística tem aqui contornos de elevada atenção pela cor e forma da tradição urbana. Carlos Botelho (o pintor de Lisboa), disse uma vez que a cor da cidade é o rosa. Parece-me que Katie Lagast considera razoável a apreciação do mestre pintor. Percebeu isso ao desembrulhar tecidos usados e ao olhar em seu redor.
Sugiro visita. Estamos perante duas exposições de grande qualidade. Dois olhares tão distantes e tão próximos. Duas concepções universais e contemporâneas do mundo e da sua forma.

CASA DA AVENIDA, GALERIA. Avenida Luísa Todi, 286, Setúbal.

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sexta-feira, 9 de abril de 2021

Do umbigo e do vómito


A criatura que faltava no parlamento, mas que descansava no assunto porque alguém fingia que ele estava lá, veio apresentar as lamentáveis escolhas autárquicas. 

Para ele uma coisa é isto das câmaras e freguesias e assim, outra é uma eleição para o parlamento. Ou seja: para as câmaras qualquer delinquente político serve, para o parlamento pia mais fino. Para o PPD/PSD existem políticos de primeira e políticos de segunda e terceira e assim sucessivamente. A abécula que escolheram para a Amadora inscreve-se na extrema-direita mais troglodita. E já sugeriu aliança com o seu amigo que saiu do dito partido social-democrata (que nunca foi), para o novo partido satélite. Esta gente não presta para nada.

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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Pedro Cabrita Reis

PINTURAS DE PAISAGEM | A exposição tem este título. Simplesmente. São as paisagens que Cabrita tem na cabeça.

São trabalhos recentes que agora vão estar na galeria Miguel Nabinho. A abertura é amanhã, sexta-feira, dia 9, e tem horário adaptado às novas medidas do tempo: início às catorze horas e fim já lá para a tardinha/noite. 

Até já, Pedro.

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quarta-feira, 7 de abril de 2021

No divã do psicanalista


Não sei em que cálculos se baseiam os psicanalistas para encontrarem a definição de criminoso. Nem percebo em que patamares de conhecimento científico se instala a definição de imbecil.

Mas todos percebemos que se agora há "Psicanalistas que vêm cálculo político e gestão do ódio em atitudes de Bolsonaro", é porque chegaram tarde ao debate. Este primata já não devia de estar no palácio do Planalto. Uma besta quadrada não deve ser representante de um povo, nem deve governar um país. Nem vale a pena sentarem-no no divã para análise. Tragam o colete de forças. É urgente.

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terça-feira, 6 de abril de 2021

João Jacinto


REGRESSO À VIDA
| O meu amigo João Jacinto vai mostrar trabalho recente na Galeria 111. Quem conhece o seu trabalho sabe que cada mostra é uma surpresa. Surpresa boa. Motivo para festejar. É o que eu vou fazer daqui a pouco. A exposição vai ficar por lá até junho. Não a percam.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Hoje soube-me a pouco


Com um brilhozinho nos olhos encaramos o outro depois da ausência forçada. Temos saudade do encontro. O abraço tarda. Quando o reencontro se dá, o abraço mata a saudade. Estremecemos de emoção e alegria. Alegria verdadeira, quase efusiva. É tão bom.
Os nossos cantores ajudam-nos, com estas palavras e melodias tão generosas. A música ajuda-nos sempre a superar tristezas.
Um abraço
, Sérgio.

domingo, 4 de abril de 2021

Afonso Reis Cabral


Conheci os primeiros passos do Afonso na vida literária, agora já tão de vento em popa. É por isso que vou conversar com ele. Vamos regressar aos convívios Muito cá de casa. Muito timidamente, com lugares reservados na sala, mas com a vontade de voltarmos a estar juntos. Presencialmente, como se diz agora. A saudade aperta. Beijinhos e abracinhos. Até lá.


PARAGEM | Por esta altura do mês, mas no ano passado, eu publiquei aqui isto. Aconteceu na
Casa Da Cultura | Setúbal. Quem haveria de dizer que hoje mantinha actualidade. O mundo parou mesmo.

FILOSOFIA A PÉS JUNTOS | A FILOSOFIA EM CONVÍVIO
O ponto é percebermos onde se cruza a filosofia clássica com o pensamento nos dias de hoje. A contemporaneidade chamada à pedra pelas ideias antigas. Percebermos que isto anda tudo ligado e que o que está a acontecer hoje não é nada nunca visto.
António De Castro Caeiro
— Professor de filosofia e tradutor de poesia clássica grega — assegura a pés juntos que tudo se repete. O ser humano não tem assim tanta imaginação.
Estas conversas tornam-se um instrumento útil para a compreensão do presente, ajudando-nos a perceber e a combater o susto lançado por Nelson Rodrigues no século passado: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.
FILOSOFIA A PÉS JUNTOS cresceu na curiosidade das pessoas. O que constou fez o seu caminho. Hoje estas “aulas” de António de Castro Caeiro são participadas por um público esclarecido e "perguntador". Pretendemos polvilhar de seriedade intelectual tudo o que aqui se propõe.
Esta iniciativa tem a colaboração permanente de
João Paulo Cotrim
, que estimula os diálogos e alonga a conversa. Uma das sessões contou com o poeta
José Anjos
, que associou a filosofia a outras preocupações.
As próximas sessões ao vivo serão anunciadas logo que possível.
Até breve.

sábado, 3 de abril de 2021

Chegou o carteiro





A gente às vezes pensa que receber cartas é coisa do passado. Recentemente vivi a experiência. 

O João Paulo Cotrim enviou-me o seu Navalha no Olho (Nova Mymosa). Estávamos no primeiro confinamento. Não podia ser de outra maneira. Experiência falhada. Como o livro nunca chegou — mau, mau Correios de Portugal — só lhe tive acesso já a refeiçoar com o autor, em parcial desconfinamento. São vinte e três poemas curtos e saudáveis. A Navalha do Olho é para disfarçar. É o erotismo que preenche estas páginas. Recomenda-se a quem gosta de sexo.

Nos últimos dias repeti a experiência. O Embate (Medula), do Henrique Manuel Bento Fialho, iria ser enviado para minha casa. Correio tradicional, livro enfiado num envelope e colocado na caixa pelo senhor carteiro. Desta vez funcionou. Já cá canta. A nota inicial diz assim: Este é um livro de textos. Não é contra nada nem ninguém, é a favor dos textos. Ainda não parei de o ler. São reflexões, pensamentos, textos que nos sugerem outros textos. 

Senti-me como "as garotas ansiosas por notícias do namoro", da canção O Carteiro, que o Sérgio Godinho canta, originária do Conjunto António Mafra. Estes recebimentos causaram-me simultaneamente felicidade e angústia. Em outros tempos, o lançamento destes livros era motivo de encontro com abraços, beijos, dança, e por aí afora. Agora é isto. Os livros dos amigos são sempre uma alegria e um orgulho para nós. É bom na mesma (como o sexo), mas sabe a pouco, como no sexo menos bom. 

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sexta-feira, 2 de abril de 2021

Recordar é estar aqui


Éramos felizes porque fazíamos coisas. Claro que não o sabíamos. A felicidade não entrava no nosso vocabulário porque estávamos a lutar por ela. E isso sabíamos. 

O Circulo Cultural de Setúbal foi fundado por um grupo de gente cultural e politicamente esclarecida que, mesmo antes de abril de 1974, mostrou à cidade que o pensamento não deve ser único e de reconhecimento dos poderes, mas sim de agitação das mentalidades. O salutar conflito é o sal da democracia. A estimulação da curiosidade intelectual fornece-nos a exigência cívica e a sofisticação cultural. Depois de Abril a coisa aqueceu. O facto de José Afonso ser um dos fundadores deu-nos fôlego e preencheu-nos a agenda.
A minha adolescência foi passada de um lado para o outro em ambientes de todas as cores e feitios: convívios de solidariedade, jantares entre amigos até às tantas, copos (muitos copos: uma conversa e um copo é a receita ideal para se estar bem), encontros entre novos amigos, abraços (muitos, também), envolvimentos amorosos (lá teria de ser, acontece) e muita vontade de mostrar o que de novo se podia fazer no país Portugal. Em Setúbal, eu estava mergulhado na actividade do Círculo Cultural. O Círculo foi pioneiro na divulgação de uma certa cultura alternativa. A nossa missão era esquecermos os artistas manhosos da terra e lembrarmos o melhor que se fazia no mundo. A cidade está no mundo. Este cartaz que aqui reproduzo (dei com ele ontem, em arrumações no atelier) promovia uma peça do
Teatro da Comuna
. O Circulo organizou e tratou da logística. Eu, estudante com disponibilidade, acompanhei o grupo por todos os cantos da região — fábricas, bairros, colectividades — em gloriosa digressão. Fiz de tudo um pouco: telefonemas para contactos, distribuição de folhetos promocionais e alombei com caixotes, panos e estrados. Também bebi copos e colaborei em petiscadas com os actores e técnicos após representações. Os actores eram já de assegurado gabarito: Manuela de Freitas, Carlos Paulo, Francisco Pestana, Merlin Teixeira... Encenador: João Mota. Lembro-me de quase todas as récitas. Eu já quase sabia a peça de cor. A música final emocionava-me sempre (ainda a canto de carreirinha). Peça de combate e de esclarecimento político, os valores tradicionais eram ali postos em causa: a família conservadora, a religião, o futebol. O público não tinha visto até àquele dia nada assim. Os actores adaptavam argumentos ao sabor das reacções das pessoas. Cada representação era um espectáculo único. Foi tão bom. Fui tão feliz ali.


quinta-feira, 1 de abril de 2021

Dia das mentiras


Hoje é o dia do populismo e dos populistas. 

A mentira é a verdade da extrema-direita mundial. Não importa distorcer, omitir, alterar conceitos. O que é preciso é que as pessoas acreditem nas enormidades perpetradas. Poderia desejar um feliz dia das mentiras para esta gente, mas não o faço. O que quero mesmo é que se lixem. Sempre. Todos os dias. 

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