quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Generosa castidade

O Cardeal Patriarca de Lisboa diz que a castidade é generosa e responsável.
O senhor Cardeal é um homem generoso e bom: que pratique a generosidade com todas as suas forças, são os meus votos. Mas será responsável sugerir a inexistência de sexualidade? Responsável, não me parece que seja adjectivo que conste no dicionário do senhor Cardeal. O que diz é completamente desajustado da realidade. Não admira que defenda a repressão das atitudes dos outros. Isto é o que de mais razoável encontrou para a solução do problema do aborto em Portugal? É melhor que não se fie na virgem.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Muito obrigado, senhor Presidente


Acabo de chegar da sessão, no São Luiz, do "É a cultura, estúpido", com Mário Soares. A lição decorreu como era esperado. Soares falou da sua experiência com grande à-vontade e sentido de humor.
Memorável, portanto.
Já agora, peço desculpa mas não resisto, vou contar: quando ainda estava nos propósitos de ajeitar as roupagens que o inverno nos exige, Mário Soares entra na sala, estende-me a mão e cumprimenta-me, "Como está", interroga-me. "Bem, e o senhor Presidente?" Senhor Presidente, disse eu. O homem não se desmanchou. Seguiu caminho para a mesa do palratório. Claro que não era preciso acrescentar mais nada à história. O que está dito, está dito, e vale o que vale. Claro que reconheço que agora o Presidente é outro. Mas, no fim da conversa, percebi o incidente inicial: percebi as diferenças.
"Muito obrigado, senhor Presidente". Insisto.

Escolhas

Se Salazar ganhar as tele-eleições, e se o "Não" for a escolha dos portugueses, talvez se chegue à conclusão que, afinal, a anualmente comemorada alvorada de Abril, não estará muito a contento da população deste pobre país. Que tal fazer-se um referendo para se perceber qual o detergente a utilizar no electrodoméstico político? Devíamos começar a pensar nisso. Não queremos cá malta contrariada...

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Nim



Um dos melhores "bonecos" de Ricardo Araújo Pereira.

Os defensores do "Não" têm uma imensa vontade de dizer que não, de proibir, de impor os seus serôdios ditames. Chamam-lhe: Consciência. Como se fosse uma partícula divina que se lhes meteu pelo corpo, e que lhes permite julgar a consciência dos outros.
Os defensores do "Não" acham que o Estado não deve subsidiar a assistência a mulheres "pecadoras", porque é contra a consciência deles. Como se não houvessem eleições e como se não houvesse uma Assembleia da República, onde essas coisas são discutidas e decididas. Ou seja, como se não houvesse Democracia. Se formos por aí, nunca mais saímos daqui. Por exemplo: alguns de nós, que nunca entrámos em nenhum dos estádios de futebol pagos pelo regime, porque não gostamos de futebol, teríamos que ir reclamar o nosso quinhão nessa participação. E os que não estão de acordo com a ditadura da consciência que os defensores do "Não" nos querem continuar a impor, com a manutenção da actual lei, o que poderão fazer? Bem.... Agora têm uma oportunidade. É dizer "Sim" no dia 11 de Fevereiro. Dizer "Sim" não impõe nada a ninguém. Apenas regula a liberdade individual.
A cada um a sua consciência. Seremos consciente e livres, se respeitarmos a Consciência dos outros.

É a Democracia, Estúpido!

Numa altura em que se discute quem é o melhor e o pior português, as produções fictícias convidam Mário Soares para se explicar no encontro mensal "É a Cultura, Estúpido!", amanhã, terça-feira, no jardim de inverno do Teatro São Luiz. Soares está muito bem colocado na "eleição" para o pior português de sempre. Na competição para a escolha dos melhores nem sequer foi apurado. É notável, esta comunidade eleitora, que rejeita um democrata e coloca nas figuras elegíveis um ditador que Mário Soares combateu desde que se entende. Quem entende esta gente? Como vai falar de partidos políticos e do funcionamento da Democracia, pode ser que nos dê umas pistas. Não vou faltar. Apareçam. É às seis e meia da tarde. A entrada é livre.

domingo, 28 de janeiro de 2007

Fernando Pessoa | Mark Rothko


Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
Mas, quando dispertei da confusão,
Vi que esta vida aqui e este universo
Não são mais claros do que os sonhos são
Obscura luz paira onde estou converso
A esta realidade da ilusão
Se fecho os olhos, sou de novo imerso
Naquelas sombras que há na escuridão.

Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,
É a mesma mistura de entre-seres
Ou na noite, ou ao dia transferida.

Nada é real, nada em seus vãos moveres
Pertence a uma forma definida,
Rastro visto de coisa só ouvida.

Fernando Pessoa Texto
Mark Rothko Imagem

sábado, 27 de janeiro de 2007

Bandeiras ao alto


Aranha Figueiredo, vereador apeado da Câmara de Setúbal, falou com o Público. Revela-se injustiçado e considera que a reformulação resultou numa "má solução". Já o tínhamos percebido, há muito.
Sabemos que estas decisões vêm de cima. De uma espécie de divindade oculta que ilumina a acção do partido. Mas, desta vez, Aranha identificou "dois ou três indivíduos". A decisão destes sacristões levam-no a comentar: "Não é por haver esta ou aquela incompetência ou este ou aquele indivíduo mais incompetente que se baixam as bandeiras".
A religiosidade mantém-se: santidade partidária acima de tudo. Abençoados sejam.
Resta saber se, caso fosse ele a divindade a decidir sobre a vida de outros camaradas, teria tanto prurido com a competência e a lealdade.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Todos juntos

Toda a gente é pela despenalização, percebe-se agora. A malta do "não", com excepção do cónego de Castelo de Vide, também não quer castigar os comportamentos irregulares. Não há bispo que não esteja disponível para verter uma lágrima por um ou outro casos de aborto. Parece que ninguém apoia a condenação, com pena de prisão, da prática da interrupção da gravidez. É certo que agora até encomendaram um bonequinho mentiroso aos chineses. Mas, é certo também que estão deveras condoídos com quem sofre. Conclusão: Se calhar ainda não perceberam bem a pergunta do referendo. Claro que falamos de gente inteligente e informada, mas, provavelmente, foram acometidos por uma espécie de iliteracia súbita.
Ou então, tudo isto não passa de brio religioso. E, todos sabemos que, muitas vezes, as opções religiosas encobrem realidades.
Às vezes realidades bastante violentas.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Completamente de acordo

Sofia Loureiro dos Santos diz, o que abaixo se transcreve, no seu blogue. Percebe-se que a Sofia lida muito bem com a lucidez, e fazem-lhe muita impressão estes sofismas. A mim também.
Se Matilde Sousa Franco e Maria do Rosário Carneiro estivessem verdadeiramente de acordo com a despenalização do aborto, votariam "sim" no referendo de 11 de Fevereiro, porque é precisamente essa a pergunta que é colocada: Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
Continue a ler em Defender o quadrado

O Fantasma da Câmara

Aquilo ali para os lados da Câmara de Lisboa está incontrolável. Fala-se em renovação, mas sem necessidade de eleições antecipadas. Não percebo que alterações poderão ser operadas sem que se consultem os lisboetas. Em democracia, e quando as situações ficam sem controlo, não há que recear eleições. Poderá ser mesmo a melhor solução, na minha opinião. Com tanta trapalhada, até parece que anda por lá o fantasma político de Santana Lopes. Há quem garanta que nunca de lá saíu.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Um outro centrão

Estou a assistir ao frente-a-frente, na SIC-N, entre Luís Filipe Menezes e Octávio Teixeira. Uma cordata coligação entre o PCP e a ala mais populista do PPD-PSD. Um festival de salamaleques, em matérias que não o justificaríam, digo eu. Cada vez mais, o PCP é um dos partidos mais conservadores da sociedade portuguesa. Este debate é como aquele algodão do anúncio: não engana. Estas jogatinas polítiqueiras já não se limitam aos acordos nas autarquias. Quem quiser que os compre, ou por outra, que vote neles.

Pau-mandado

Querem reduzir-nos à condição de pau-mandado. Bispos, cónegos e demais acólitos, insistem na condenação de quem recorre ao aborto, indiferentes às opiniões de crentes ou não crentes: levam todos pela mesma tabela.
Magistrados incomodam-se com atitudes de jornalistas e de outros cidadãos que ousam discordar das suas decisões. O juiz decide, está decidido.
Percebe-se assim o sucesso de Salazar nas eleições da televisão. Continua a ser-nos instigado o medo: ou te portas bem, ou vais de cana. O tempo poderá ter mudado. Em Portugal, há quem não queira dar por isso.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Garbosos justiceiros

No programa da RTP1, Prós e Contras, os burocratas da justiça reclamam, com manifesto enfado, seriedade na discussão do caso da menina, pelos vistos mal adoptada, e de tal forma que, o pai adoptivo paga com a prisão esse mau passo. Não há dinamismo na interpretação das leis, parece. Estes doutores em leis queixam-se da Comunicação Social. O processo é complexo, dizem. Num Estado de Direito, estes problemas passam pelas mãos destes justiceiros do reino. É justo. Portanto, como vivemos um tempo em que a Justiça está na ordem do dia — todos os jornais e noticiários televisivos abordam atropelos de vária ordem —, será que está a Justiça portuguesa em condições de exercer isso mesmo: justiça? Por este andar, e com tantos casos, dentro de algum tempo poderemos estar em condições de percebê-lo. Até agora não dá para ter a certeza disso

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Super-Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa diz que a despenalização, prevista na proposta que agora vai a referendo, pode levar mulheres a abortarem só porque lhes apetece. Como se fosse assim: uma mulher engravida, mas, um dia, porque lhe caíu mal o pequeno-almoço, opta por uma interrupçãozita. Mais um argumento a juntar à algazarra que decorre até 11 de Fevereiro. Aliás, a proposta de Marcelo não tem par: sendo diferente de todas as existentes, seria, se fosse ele a mandar, a mais tolerante, a mais justa, a mais fantástica de todas. E isto ainda não acabou.

Cavaco e o picante


Na viagem pela Índia, o nosso mais alto magistrado, em declarações à imprensa portuguesa, confessou não ser apreciador da cozinha indiana. A primeira-dama confessou-nos um padecimento: só têm comido arroz e pão. E iogurte, diz o Presidente, acrescentando que nunca foram muito dados a picante. Esta inábil declaração, esclarece a falta de cosmopolitismo do casal de Belém. Mas também a ignorância em termos gastronómicos. Cada um come o que lhe apetece, mas o Presidente da República não devia fazer estas figuras. Ele é o mais saliente representante da Nação. Com esta amostra, fico com dúvidas sobre a qualidade dessa representação.

Os polícias da Fé

Um cónego de Castelo de Vide considera a Interrupção Voluntária da Gravidez um crime do pior. Para este homem de Fé, quem vota pelo sim não deve ter direito a eucaristias. Casamentos e funerais devem ser privados da participação de representantes da Igreja Católica. Não se percebe o funcionamento desta nova polícia da Fé. Obrigará os devotos cidadãos a confessarem o "crime" após a saída da baiuca de voto? Que métodos proporá para identificar os prevaricadores? O cónego reaccionário não tem grande respeito por comportamentos democráticos. Só conhece a delação, a ameaça e o castigo.
Que Deus tenha paciência e lhe perdoe.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Fiama


Porque deste a teu filho asas de plumagem e cera
se o sol todo-poderoso no alto as desfaria?
Não me ouviu, de tão longe, porém pensei que disse:
todos os filhos são Ícaros que vão morrer no mar.
Depois regressam, pródigos, ao amor entre o sangue
dos que eram e dos que são agora, filhos dos filhos.
Fiama Hasse Pais Brandão

Luisa Ferreira Imagem

Falta de chá

O primeiro-ministro vai em visita oficial à China.
Consta que não vai lá estar ninguém homólogo para o receber.
Portugal poderá ser um país periférico, mas com a quantidade de malta chinesa que por cá convive connosco, já merecíamos melhor acolhimento.
Será que o governo tratou das passagens numa loja chinesa?
São razoáveis estas pechinchas, mas parece-me excessiva a displicência.

sábado, 20 de janeiro de 2007

No promises


Carla Bruni tem um novo cd.
Chama-se No promises e é belíssimo: musical e esteticamente.
Também é verdade que a rapariga é lindíssima, mas não é isso que é para aqui chamado.
Passem os olhos e os ouvidos pelo trabalho da Carla.
Bom fim-de-semana.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Abortos há muitos (Continuação)

Já que estou com a mão na massa, e para acrescentar massa ao bolo, não posso deixar de referir a brilhante intervenção do jurista António Pinto Ribeiro sobre uma receita à base de ovos e frangos. Diz o inteligentíssimo advogado que "um ovo não é igual a um pinto, um ovo não tem os mesmos direitos do que um frango."A imagem é de assinalável requinte. Nem dá para dizer mais nada. Nunca percebi o “sucesso” desta criatura. Há coisas que continuo a não perceber. Mas uma coisa é certa: assim não levamos a carta a garcia.

Abortos há muitos

Há quem se queixe da algazarra que domina a praça pública.
Percebo a necessidade de encontrar argumentos para tornar o debate civilizado. Mas, o que esperavam?
Não há muito mais a dizer, meus amigos. Argumentos há e muitos, mas têm barbas. O que está dito, está dito.
Agora é esperar pelo resultado do debate.
Esperemos que seja positivo, esse resultado.

Quem quer ser convencido?

Ribeiro e Castro não consegue convencer o povo. Esta opinião pertence a Nuno Melo, o demissionário lider parlamentar do CDS-PP.
Melo percebeu, finalmente, que não tem vida para estar sentado no lugar da frente do seu grupo parlamentar. A contestação ao líder do partido exigia esta atitude. Poderá ter toda a razão do mundo, mas há razões pouco persuasivas. A ideia de que a prioridade de um político deve ser a de convencer o povo, já não convence muita gente.

Manual de civilidade

Um incidente no programa televisivo "Big Brother", na Grã-Bretanha, chegou com grande alarido ao parlamento. Até levou o primeiro-ministro a tomar firme posição contra o racismo. Pelo que se conhece do inenarrável concurso, não nos surpreendem os exercícios de delação, nem as demonstrações de ódio. Não me parece que, no nosso país, tão indescritível produto fosse preocupação para os deputados da nação. Há coisas que não merecem a mais tolhida importância.
Em casos destes, não estamos assim tão mal.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Inquietações

Se a história está bem contada, é perturbante. Uma criança vive com os seus pais desde que se entende. Passados cinco anos aparece uma criatura que nunca viu mais gorda, e que se esteve borrifando para o seu nascimento, garantido que é ele o pai e ameaçando, em caso de vencer o caso em tribunal, retirar-lhe o contacto com os actuais protectores. O tribunal deu razão ao pai biológico e condenou os adoptivos. Será a escolha certa? Para a cidadã de cinco anos, não dá para ter a certeza da bondade dessa escolha. Assim de repente é difícil encontrar uma história razoável para contar à criança.
Terá o tribunal contado com isso? Os tribunais têm seres humanos lá dentro. E, toda a gente sabe: errar é humano.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Se não os podes vencer...


Vai haver disputa, naquela coisa dos melhores portugueses.
Por cá já há candidato.
Fernando Pessoa foi a escolha.
Porquê? Por isto:

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.


Costa Pinheiro Imagem

Vai para a tua terra


O doutoramento honoris causa que obsequiou o Presidente da República, na sua visita à Índia, foi envolto em vigorosa manifestação de rua. Estudantes locais sopraram ruidosos insultos contra a iniciativa. Percebe-se que não apreciam por ai além estes reconhecimentos em gente de paragens longínquas. A coisa é agravada pela fatalidade de Cavaco representar uma nação que foi colonizadora.
Os sectores mais conservadores que integraram a maioria apoiante de Cavaco Silva na sua eleição, provavelmente perceberam que afinal é possível haver quem nos arremesse um indecoroso "Vai para a tua terra". Gritado daquela maneira, a um grado representante de todos nós, dá para perceber que labregos xenófobos há em todo o lado. Os nossos conterrâneos, que por razão nenhuma endereçam agressivas expulsões a pessoas com evidentes diferenças culturais e comportamentais, fazem molhinho com os estudantes indianos que se recusaram a respeitar o Presidente da República Portuguesa.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

O fantasma do ditador


Não deixa de ser curioso. Salazar nunca achou graça a processos eleitorais. Também nunca esteve de acordo com o processo de independência de um território lá para os caminhos que vão dar à Índia. Agora, surge como possível vencedor de umas tele-eleições, e embaraçou o Presidente cá da terra, eleito democraticamente, por causa de um retrato seu pendurado numa parede do tal território.
Que estranha vingança.
Que territórios tão estranhos.

Júlio Pomar Imagem

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Hipocrisias várias


Sim! Apetece-me dizer que já não é sem tempo. Parece impossível que ainda exista uma lei assim num país da Europa. Acho inacreditável que ainda se debata uma questão dessas. Com franqueza! Vamos lá ver se vai desta! Paula Rego ao DN

Um pouco por todo o país as missas sucedem-se em "defesa da vida". Nada a estranhar nestes rituais. Uma missa permite a defesa de hipocrisias várias e pretende que rezas anulem automaticamente pecados. Esta derradeira batalha, a que hipocritamente designam contra o aborto, é a última tábua a que se podem agarrar após o naufrágio de outras jangadas. O mundo estaria melhor se andássemos em ferozes cruzadas contra as uniões de facto, a homossexualidade, o divórcio, o adultério, o erotismo, a literatura maldita, a mini-saia, os decotes, os umbigos de fora, as teorias evolutivas, as utopias e o mais que se lembrassem para preservar a sua serôdia vontade. Bom mesmo seria vivermos para sempre na comodidade dos dogmas, vigiados de perto pelos zelosos servos do Criador. Felizmente isso já não é possível. Por muito que escarafunchem na cartola, não há coelhinho que os salve. E mesmo esta defesa intransigente do aborto clandestino deverá ter os dias contados. Se não for desta, não acredito que se mantenha este triste debate por muito mais tempo. Esperemos que seja desta.

Paula Rego Imagem

Uma questão de bom-gosto

Em entrevista a Ana Lourenço, para a SIC-N, Alberto João Jardim resolveu fazer chantagem com Cavaco Silva. A votação que o agora Presidente absorveu na Madeira foi significativa, logo, deve pensar bem antes de promulgar a Lei das Finanças Regionais. O grande chefe madeirense considera-se o intérprete da vontade dos seus súbditos. Não reconhece nenhum líder acima dele. Trata tudo e todos com indecorosa indiferença. Esta má-criação tem sucesso lá na ilha. E ele continua muito senhor do seu nariz. Finalmente há quem lhe faça frente. Alargar essa frente a Belém é um imperativo democrático.
E é também uma questão de bom-gosto.

domingo, 14 de janeiro de 2007

Mas há vida para além da televisão

Aquela coisa dos grandes portugueses é mesmo uma grande palhaçada.
Agora já está percebido, não é verdade?

A primeira descoberta do século XXI


A exposição de Amadeu de Sousa Cardoso na Gulbenkian foi um sucesso: a mais visitada de sempre. No último dia esteve aberta até de madrugada, sempre com enchente. Fernando Pessoa classificou o artista como a "primeira descoberta de Portugal no século XX". Os portugueses descobriram agora o seu maior pintor. Um boa descoberta para o inicio do século XXI.

Conversa em família

Bush Insiste no seu jogo. Admite, em antecipação, baixas dos dois lados. A morte continuará a passear pelas ruas de Bagdad. O Iraque está a ferro e fogo e a solução não se vislumbra. Ouvindo o Presidente americano, pronunciando o seu discurso pouco ou nada conclusivo, ninguém arrisca um desfecho. Aquilo está para durar. Bush confessa que errou. Já o tinhamnos percebido. Mas a chatice é que com essa inabilidade deixa a casa em muito mau estado. Os Democratas não parecem com vontade de apanhar os cacos. Mais parece que os estragos poderão continuar se forem eles a tomar conta do condomínio.
Entretanto, no Iraque poderá ficar tudo em cacos, literalmente.
Ali não há lugar para metáforas.

sábado, 13 de janeiro de 2007

Em defesa da Paz

Espanha manifesta o seu repúdio pelo terrorismo.
A ETA e a sua extensão diplomática dizem que nada impede a continuação das negociações.
Os crimes do terrorismo não incomodam estes "defensores da Paz".
A ETA acha que deve estabelecer as regras.
Romper a acordado faz parte das regras.
São feitios.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Tudo bons rapazes

Já pouco se espera do caso Casa Pia. Histórias mal contadas, misturadas com torpes mentiras, são enredo vulgar nestes contos de cordel. Nada parece funcionar: provavelmente acusam-se inocentes e esquecem-se culpados. Algo se passou, haverá quem saiba tudo de fio a pavio, mas esses não participam na história. As agressões aos rapazes da Casa PIa é feita por gente distraída. Todos sabiam que estava qualquer coisa a acontecer ali ao lado, mas não viram nem ouviram nada. Tudo não passou de intuição. Já se prevê o final: "...e viveram felizes para sempre". Para a malta casapiana que suportou o pesadelo da pedófilia, o final será contado de outra maneira. Mas, parece que ninguém estará lá para o ouvir.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

O voo do moscardo

Aviões da CIA adejaram pelo nosso território. Comparado com as peripécias dessa organização "protectora" por esse mundo fora, isso não passou de afazer de babysitter. Não percebo, portanto, a indignação que desperta nos deputados na Nação e nos que ganham a vida lá fora, no Parlamento Europeu. É mais grave do que parece? Se calhar é. Então devia ser esclarecido. Mas assim, neste culpar e desculpar, não vamos a lado nenhum. Ao contrário dos tais aviões que já foram, já voltaram e já estão preparados para outra.

Cobrador beato

Paulo Macedo, o super-cobrador de impostos, mandou celebrar uma missa. Em Estado laico, qual a intenção do beato acto? É a de pedir ao Criador muita saúde e sorte para os contribuintes, para que possam ter os impostos em dia? Ou trata-se simplesmente de um humilde agradecimento pelo benção que representa o seu principesco ordenado? E quem pagou a missa? Nós, os pagantes de impostos, ou ele próprio? Espero bem que tenha sido o senhor cobrador. É que, muito sinceramente, não me sinto nada bem no papel de alminha bem-fazeja da Igreja Católica. Nem da Católica, nem de nenhuma outra.

iPhone


Steve Jobs, na sua melhor forma, voltou a dar show. Agora apareceu com um revolucionário aparelhinho que é telefone, mp3, dá para navegar na net, mandar e-mails, enfim, um prodígio da investigação tecnológica.
Chega cá lá para o fim do ano.

Já há luz ao fundo do túnel

Compor o túnel do Rossio vai ser muito mais dispendioso do que o inicialmente previsto.
Que novidade! A coerência nacional exige esta premissa.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Complicado, este simplex

Os rigores da crise não nos deixam pano para mangas e há que cortar em muito sítio para mantermos a compostura e a convicção de que Portugal é um país viável (essa velha questão que, como diria O'Neill, temos com nós próprios). Por outro lado, é indiscutível que um Estado mais magro, mais ágil e mais eficaz deve ser um objectivo de revitalização nacional - não motivado por meros cálculos economicistas -, resultando daí, entre outras coisas, a simplificação burocrática da vida dos cidadãos. Simplificar, cortar e racionalizar em estruturas e meios técnicos e humanos constitui um imperativo reformista fundamental. Mas não se reformam as funções do Estado sem ponderar previamente os critérios a que devem obedecer essas reformas e quando se corre atrás do efeito propagandístico mais imediato para simular mudanças que se limitam a agitar a superfície das águas.

É a opinião de Vicente Jorge Silva. Escreveu-a hoje, no DN. Leiam-no, se estiverem para aí virados.

Sem sombra de pecado


Os argumentos a favor e contra a Interrupção Voluntária da Gravidez são conhecidos. Já não há muito a acrescentar. É por isso que se anda por aí a dar ao badalo sem autorização do bom-senso. Não deixa de ser curioso, ver prestigiados moralistas do burgo fazendo as continhas a quanto custa cada uma das intervenções em causa. Eles, que não demonstram grande preocupação com a saúde das pessoas envolvidas, andam de calculadora em riste, muito preocupados com os gastos públicos. Agora até meteram explicador. Chamaram o super-economista Borges, essa promessa eterna sempre adiada, e encomendaram-lhe o sermão: aquilo ainda é caro, diz o especialista em economia, saúde e tudo.
Que os "Nãos" convoquem a moralidade para as suas entretengas, é o que deles se esperava. Mas, aludir a questões económicas para iludir os mais distraídos, é poucochinho. É mesmo imoral.

Paula Rego Imagem

Os piores portugueses de sempre


Já estava à espera disto. Disse-o aqui, quando se começou a falar destes concursos: não percebo a utilidade destas porcarias. O pior português de sempre, em iniciativa do Inimigo Público, está prestes a ser revelado. Diz-se que "os portugueses" contemplaram Mário Soares. Cerca de quatro mil e poucos "eleitores" votaram no ex-presidente. Felizmente, a quantidade de pessoal que se passeia cá pela terra, é muito superior. Tudo leva a crer que, os que têm pachorra para estas votações, são o pior que por aí anda. O piorzinho de todos nós.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Neo-modernidade


Matilde Sousa Franco é uma simpática senhora. Foi uma esposa exemplar. Quando o marido foi para a estrada, em campanha eleitoral, ela esteve ao seu lado, em carinhosa solidariedade. Não se lhe conhece uma ideia, nem nunca revelou uma atitude sobre fosse o que fosse, mas estava lá, onde o seu marido decidia estar. Após a lamentável morte de António Sousa Franco, o PS compensou essa simpatia permitindo que Matilde se instalasse na Assembleia da República. A agora deputada da Nação resolveu alinhar com os apologistas do Não no referendo sobre a IVG. Foi com esta roupagem que pronunciou: "Nós é que somos modernos".
A extremosa viúva de Sousa Franco descobriu que a modernidade lhe assentava como uma luva. E a gente percebe que está perante uma mulher moderna e corajosa. Matilde tem a coragem de ir contra a maioria do seu partido, numa questão tão cara a tantas mulheres que, defendendo outra razão, tanto fizeram contra a hipocrisia que norteia a actual lei. A senhora não percebeu peva do que poderá ser essa coisa a que chamam modernidade. Inverte conceitos, e diz o que acha. Seria honesto se não passasse de uma falácia. Ao seu lado também ninguém está interessado em esclarecer coisa nenhuma. É melhor assim: podem-se dizer coisas sem nexo, porque o que é preciso é dizer coisas da boca para fora. É neste registo que está a campanha do deixa-estar-como-está.

Paula Rego Imagem

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Pró e contra quem?

Estou a gramar o programa de Fátima Campos Ferreira, na RTP 1. Deu-me para aqui. O tema é a juventude na sociedade, parece-me. Vai-se a ver e... Não passa de uma feira em que se expõe a fatalidade da existência de uma juventude portuguesa sem rumo. Entre os convidados, Barata Moura e Daniel Sampaio estão sem jeito. Os jovens dirigentes partidários caem de velhos com os velhos argumentos. A sociedade envelhece. Os jovens acham que não. Alguém diga a estes jovens que se julgam detentores de toda a razão, que eles próprios já parecem andar a cair das canetas. Não há pachorra.

Os trunfos da guerra


O enforcamento de Saddam não suscitou um pio ao primeiro-ministro britânico. A situação no Iraque não lhe sugere empolgantes comentários. É certo que, o outrora hábil Blair, vai abandonar brevemente as lides, mas até parece que já se pôs a caminho. O ministro Gordon assomou-se agora para salvar a honra do convento, criticando a pena capital. Com tanta hesitação, tudo indica que, do lado dos trabalhistas, ninguém tem opiniões, nem se atira para a frente com convicção. A guerra no Iraque foi a cartada mal jogada. Quem os mandou alinhar no jogo de Bush? Cameron, o dinâmico líder conservador, aguarda a vez de lançar os seus trunfos. A situação iraquiana pode dar uma mãozinha.

domingo, 7 de janeiro de 2007

Construir a democracia

O primeiro-ministro iraquiano ameaça rever a política de relações com os países que criticaram a execução de Saddam. É um assunto interno dos iraquianos, refere. No caso de Portugal, nada feito — Não temos pena de morte, logo não podemos aprovar medida tão definitiva.
O primeiro-ministro, quando não concorda, ameaça com corte de relações. A Democracia constrói-se, no Iraque.

sábado, 6 de janeiro de 2007

Dia de Reis




"Três Reis Magos" Francisco Relógio Imagem

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Esticar a corda

Começa a ser fastidioso o desfile de hipocrisia que vagueia pelo mundo. Os arautos da Justiça e da Liberdade ocidentais — decerto conscientes do fracasso que é a imposição do seu modelo no Iraque, realçado nas manifestações, no mundo árabe, de consternação pela morte do ex-ditador —, sentem-se alcançados com a exibição da barbaridade da execução. O mundo "civilizado" brada, agora, pelos seus valores.
As imagens captadas no cadafalso são uma vergonha, concordam indignados. Ilustrando a ladainha, as imagens do enforcamento continuam a ser exibidas em sessões contínuas, nos canais de televisão internacionais. A lei da corda é um bom argumento para o sucesso garantido do espectáculo. E, por outro lado, estimula um excelente exercício de comiseração.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Netquê?

Eduardo Pitta conta a sua história. Aconteceu-me algo semelhante. Fico assim poupado a mais argumentos. É sobre a trapalhada que é a NetCabo.

Diz o roto ONU

De vez em quando o assunto vem à baila. Soldados da ONU transformam-se em depravados violadores de menores, enquanto cumprem as suas missões nos países auxiliados. Que grande auxílio! Não será possível controlar este crime imundo, cometido pelos "benfeitores" ao serviço de uma organização que é suposto zelar pela paz mundial? Como será feito o recrutamento destes delinquentes?

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Se eu acreditasse...

...que o Estado algum dia iria assumir o seu papel social de apoio às mulheres e famílias sem recursos; se eu acreditasse que as associações de "defesa da vida" (que aparecem quando se anunciam debates e desaparecem no dia a seguir aos referendos) iam cumprir o que prometem sobre solidariedade e promoção de uma "cultura de responsabilidade e de respeito pelo valor da vida"; se eu acreditasse que, fora do período de propaganda eleitoral, alguém neste país trabalhasse "na criação de condições para que todas as mulheres que engravidam possam ter verdadeiras alternativas de vida e não façam escolhas de morte", como leio num desses manifestos; se eu acreditasse que as 25 a 30 mil interrupções de gravidez ilegais que se fazem anualmente em Portugal deixassem de existir por via da educação sexual, do presumível apoio do Estado, e da conversa moralista das tais associações criadas por encomenda; se eu acreditasse, enfim, na bondade intrínseca das instituições, e no cumprimento dos deveres mínimos do Estado; se eu...

O Pedro Rolo Duarte escreveu isto no DN de hoje. Eu diria o mesmo. Mas ele já o disse tão bem, que não me atrevo a acrescentar nem uma vírgula. Leiam-no, se puderem.

A falta de vergonha também entra na luta

O Governo convocou os jogadores de futebol para o grupo de normais cidadãos contribuintes. O sindicato dos homens da bola já ameaçou com greve. O argumento é o de que a vida na profissão é curta. Todos sabemos que, nos dias que correm, ninguém conta ter emprego para sempre. Se os futebolistas pensam não fazer nada na vida depois dos trinta e tais (idade em que arrumam as botas), somos nós (os que não vislumbramos a idade em que vamos arrumar o estojo do ofício), que vamos ter que pagar a existência de gente que se recusa a entrar no jogo? Os rapazolas da bola acham-se acima de todos nós.
Seria caricato, se não fosse vergonhoso.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Brincando aos clássicos


O ano que agora começa a gatinhar está ainda sujeito a arremessos do seu antecessor. A missiva do Presidente Cavaco, debitada tão próxima dos anteriores sinais de cooperação com o governo, deixa laivos de perplexidade. Estará o Presidente a demarcar-se das políticas que pensa não atingirem bom porto? Ou, dando razão a muitas previsões, começa a estar farto do seu novo amor, preparando já o regresso ao amor primeiro?
Não dá para acreditar que Cavaco seja do tipo: um amor em cada porto.
Provavelmente tenta nadar para porto seguro.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Ano novo vida nova

Aí está o ano de 2007.
São trezentos e muitos dias que nos esperam.
Aqui no blogue já se deu uma mudança na coluna ali da direita. O texto de Enrique Vila-Matas, que nos acompanhou durante o ano que passou, foi substituído por um do poeta alemão Georg Weerth.
A tradução é de João Barrento, e foi incluído na colectânea "A Rosa do Mundo", publicado em 2001, com direcção editorial de Manuel Hermínio Monteiro para a Assírio & Alvim.
E pronto, já encetei. Volto amanhã. Até lá.