terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Neo-modernidade


Matilde Sousa Franco é uma simpática senhora. Foi uma esposa exemplar. Quando o marido foi para a estrada, em campanha eleitoral, ela esteve ao seu lado, em carinhosa solidariedade. Não se lhe conhece uma ideia, nem nunca revelou uma atitude sobre fosse o que fosse, mas estava lá, onde o seu marido decidia estar. Após a lamentável morte de António Sousa Franco, o PS compensou essa simpatia permitindo que Matilde se instalasse na Assembleia da República. A agora deputada da Nação resolveu alinhar com os apologistas do Não no referendo sobre a IVG. Foi com esta roupagem que pronunciou: "Nós é que somos modernos".
A extremosa viúva de Sousa Franco descobriu que a modernidade lhe assentava como uma luva. E a gente percebe que está perante uma mulher moderna e corajosa. Matilde tem a coragem de ir contra a maioria do seu partido, numa questão tão cara a tantas mulheres que, defendendo outra razão, tanto fizeram contra a hipocrisia que norteia a actual lei. A senhora não percebeu peva do que poderá ser essa coisa a que chamam modernidade. Inverte conceitos, e diz o que acha. Seria honesto se não passasse de uma falácia. Ao seu lado também ninguém está interessado em esclarecer coisa nenhuma. É melhor assim: podem-se dizer coisas sem nexo, porque o que é preciso é dizer coisas da boca para fora. É neste registo que está a campanha do deixa-estar-como-está.

Paula Rego Imagem