sábado, 27 de abril de 2024

Abril (quase) sempre?

JOSÉ AFONSO SEMPRE, SEMPRE! | Foram uns dias felizes, estes. Deveria ser sempre assim. Não devemos ter medo de viver em alegria. Em alegria, sim,  como referiu Mariana Mortágua na sua bonita intervenção na Assembleia. Devemos celebrar os avanços civilizacionais só possíveis devido à revolução, como disse Rui Tavares, na sua lição de democracia e de apologia da dignidade. Das comemorações oficiais destaco estas intervenções. O líder fascista também se destacou pelo ódio, exibido em delírio gritado e esbracejado. Asqueroso, sempre. Rui Gaivota, perdão, Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, destacou-se pelo ridículo. Tanta gaivota a esvoaçar. Tanta metáfora parva em circulação. Até falou em gaivotas a voar traz. O que é que deu ao homem? A canção de José Afonso foi estraçalhada por este mestre do disparate. Aquilo foi uma canseira. Para finalizar destaco outra atitude deplorável: o partido fascista, os deputados da direita, os membros do governo e todos os bandalhos lambe-botas que vegetam no parlamento saíram quando foi cantada "Grândola, vila morena", de José Afonso. Fizeram bem. Precisamos de perceber bem quem desprezamos. Os militares de Abril assistiram e cantaram. Emocionados. Ainda sentem o arrepio da emoção, como é óbvio. 

24 DE ABRIL - Mas, oficialidades fora, as comemorações foram mesmo muito bonitas por todo o país. Na véspera, o Largo do Carmo encheu e a festa foi a maior de sempre ali, apesar do boicote do "prefeito". Já no Terreiro do Paço, lugar onde o "prefeito" festejou, o espectáculo foi só isso: espectáculo. Sem festa. "Grândola, vila morena" foi esquecida. Foi o 25 de Abril deles, os que acham que Abril não pode ser como quer a esquerda. Quase sempre vá que não vá, mas sempre? 

Em todo o país a música aconteceu. Música boa, música assim-assim e música má. Não me deslocaria nem um metro para ouvir muitas das atoardas que por aí se ouviram. É o que se pode arranjar, dizem-me. É a vida, acrescentam. A minha não é, é a deles. Há gente para tudo. Que se divirtam.


25 DE ABRIL - No dia 25 de Abril descemos a Avenida. O nome de Liberdade nunca lhe assentou tão bem. Fomos muitos. Muitos mesmo. O artista visual Pedro Chorão dizia-me: Mas com tanta juventude a manifestar-se, como é que tanto jovem votou no Chega? Pergunta pertinente sem resposta. Bem, há respostas possíveis, mas deixemos isso por agora. Sim, fomos muitos. Somos muitos a não querer o regresso do tempo bisonho e triste sugerido por Passos Coelho, Paulo Núncio, Nuno Melo, Otero, César das Neves e outros frustes defensores da família dita tradicional.

A Arte com A grande aconteceu também neste dia em Setúbal. Pedro Chorão abriu exposição na Casa da Cultura, em mostra comemorativa. Rumámos do Rossio em festa, em Lisboa, para Setúbal. Fomos abrir a exposição deste artista único. Era preciso associarmos a esta comemoração tamanha qualidade visual. Aprendemos a ver melhor, com Pedro Chorão. Percorremos o espaço com prazer. Privilégio da cidade ter uma exposição destas em comemoração de Abril.


26 DE ABRIL - Sexta-feira foi noite de conversarmos com amigos estrangeiros que viveram Abril. Foi o Muito Cá de Casa, na Casa da Cultura. Conversa esclarecedora e cheia de surpresas. Foi muito bonito estarmos com gente que não víamos há muito. Somos gente que sente e que se envolve com os acontecimentos que nos mudam a vida. Estes estrangeiros ensinaram no Círculo Cultural, quando as instalações da actual Casa da Cultura era a sede dessa colectividade antifascista. Ensino nocturno bem sucedido. Muita gente fez ali o ensino secundário. Recordámos esse tempo. Recordámos José Afonso. José Afonso, o Zeca, está sempre presente. É impressionante. Há quem não morra, nem que os fascistas e seus amigos os queiram matar. O 25 de Abril é José Afonso, "Grândola" e esquerda. A direita sente-se bem entre a escória política. A direita é a escória política. São o que for preciso, desde que lhes seja garantida carreira próspera. 

27 DE ABRIL - Abertura do Museu Nacional Resistência e Liberdade. Programei ir. Não fui. Esteve lá o Presidente de (quase) todos os portugueses. Não me apetecem cerimónias oficiais. Não me apetece ouvir o Presidente de quase todos. Não votei nele. Não alinho com as suas atitudes. Não me apetece estar ali. Não é por mais nada, é só por isto. Vou lá um destes dias.

Fiquei em casa. Leio José Afonso: 

Inúteis eram as vozes e as palavras
O cativeiro represo dos sentidos
Abre-se uma comporta e nada altera
A matéria dura de que é feita a vida
Ferros pedaços brancura nunca vista
E um rio que não pára nem descansa
Que perfeita modorra não se esconde
Nesta vasa indecisa e aos ouvidos
Chegam silvos cantantes gargalhadas
E tudo dói como se fora treva
Como se fora vinho nesta névoa


[Escrito na prisão de Caxias, 1973]

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25 de Abril sempre





Agora e sempre. Ainda estamos a festejar. Todo o país festeja em alegria. Descemos a Avenida da Liberdade (que nome tão justo), assistimos a concertos de gente que toca os sons da surpresa e canta as palavras justas, abrimos uma soberba exposição de Pedro Chorão, conversámos com amigos estrangeiros que viveram o 25 de Abril. Hoje ainda há a abertura do Museu em Peniche para assinalar a denuncia da repressão.
Ainda estou a curtir. Amanhã farei menção de tudo o que vivi nestas comemorações dos 50 anos da revolução que nos tirou do obscurantismo. Está a ser bom, apesar dos fascistas do Chega e do pernóstico da Câmara de Lisboa. Que se lixem os fascistas e os que os compreendem.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Eles estavam cá

GENTE DE FORA CÁ DENTRO | É como vos digo. Vale a pena ouvir gente que quer estar conosco. Gente de fora que vem para cá comemorar Abril e a Liberdade. Aprendemos uns com os outros. Vamos aprender. Vamos conversar, recordar, rir, olhar para os outros. Os outros que são como nós. Gostamos de viver em liberdade. Todos juntos. Até já.

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PRÓXIMO DA NOITE

À ventania de Pedro Chorão

Por Ana Nogueira

Quase todos os dias sente-se o vento, próximo da noite. As folhas e os ramos manifestam-se, os pássaros procuram o interior das copas. É sempre este vento, mais fresco do que foi a tarde, que nos faz mudar de ideias. Comemore-se o dia dentro de casa. Um quadro de Pedro Chorão é um abrigo, temporário, enquanto o vento se instala. Um casaco bastaria, claro, mas nada se compara àquele conforto, preferimos senti-lo com os olhos.
Os ventos não mudaram, a pressão sempre existiu.Distraímo-nos com o céu azul, o calor do sol, com esta saborosa liberdade de vestir leve e uns chinelos de dedo. Expostos, até confiantes de que muitos nos acompanham, mostramos com poucas reservas o prazer de sermos. Desnudarmo-nos facilita a comunicação, expressar o que realmente quer-se dizer, ouvimos melhor? Esquecemo-nos dos ventos. Voltam porque é da natureza, raramente previsíveis à nossa perceção ocupada pela vida. A pressão é alta. Os répteis estão ao rubro nestes dias de sol, escondem-se debaixo, atrás, por entre, em buracos, nas sombras que encontram, nos fundos escuros, nas caves fechadas, nas tocas dos outros, nas cavernas que a erosão construiu. Não fazem nada. A luz, afinal em excesso, encandeia, há uma cegueira branca, sem maus cheiros, não damos muito por eles. Outro dia. As cores húmidas dos quadros de Pedro Chorão são densas, nada têm de líquido, a fluidez não interessa, a macha por vezes pastosa, multicamada sem volume a pesar como força contrária. Precisamos resistir. Arrefece, a brisa é passageira, escurece. Não se trata da noite, que é o sítio dos atentos, estamos ainda a meio do dia. Escurecem as cores, num todo, sem contraste, a paleta fresca nebulosa anuncia através de traços-mancha, pinceladas sobrepostas suficientemente visíveis para distinguirmos as necessárias, apontam em várias direções, dependendo do vento, mas em conjuntos. Pedro tem tudo sobre controlo, quer dizer, no sentido da composição que construiu, revela a eminência do caos. Avisa. Os sinais estão lá, como não percebemos isto antes? A humidade está no ar, não lava e nem mata a sede, é de ventos que se trata.A ventania agita as árvores de Pedro, põe à prova a paciência daqueles ramos, a direção muda depressa, tanta contradição, inverdade, estes ventos insistentes porque não se calam, sabem o que dizem, para eles é pouco importante, o que interessa é falar, falar, falar, até parecer verdade. Os ramos parecem partir-se, alguns podem perder-se levados pelo vento, mas é só um sonho, as árvores resistem. Caso alguns quebrem, podem sempre tentar voar, sendo certo que cairão, são partes secas que afinal o vento podou. Os troncos fragmentam-se em pedaços sem desmontar, estão ligados como uma soma de ossos articulados, como um esqueleto apertado, fragmentos muito juntos entre si, é só a nossa perceção sobre o que a ventania faz a uma árvore. Pedro Chorão tem toda a razão, isto é um momento crítico. Aqueles galhos partidos podem bem ser partes substantivas, não temos tempo para nos interrogar sobre o que vem a seguir. Instalou-se a tempestade. As árvores de Pedro mantêm-se, estão vivas. Referimo-nos à sua força, não à verticalidade, que troncos ocos mortos também ficam de pé e contra estes é benéfica uma tempestade daquelas que derruba. Ventos assim significam baixa pressão, logo, uma descida à sobrevivência, promovem insónias, olhos abertos, ficamos de sentinela. Não se trata de uma descida ao medo, as árvores fustigadas estão apenas a reagir contra a entropia. Nada está garantido. Nestes quadros a ventania cobre momentaneamente pequenas porções da fronteira instável daquelas árvores, que nos faz adivinhar uma certa configuração em movimento. Tudo mexe, o fundo disforme, a figura que se decide na indecisão da forma e da paleta, que melhor maneira de clarificar na complexidade dos seus elementos. Nesta fase, valia a pena ter um par de botas para substituir os chinelos, é uma questão de temperatura. Parece que o assunto é distinto, mas podemos regressar a um dia de sol nos quadros de Pedro Chorão. O vento mantém-se, determina o estado geral da pintura. A ventania, tão importante, sem ela ficaria outra coisa na tela. O movimento acorda. É preciso arejar, continuar mesmo quando próximo da noite estiver mais fresco do que esteve a tarde.
PEDRO CHORÃO
PINTURA
Abertura, 25 de Abril, 19 horas





quarta-feira, 24 de abril de 2024

COMEMORAMOS A ARTE QUE ABRIL PERMITE | Comemoramos Abril com José Afonso e Pedro Chorão na Casa Da Cultura | Setúbal. A exposição abre às 19 horas. A pintura é de Pedro Chorão. A música é de José Afonso. O texto que envolve esta paisagem é de Ana Nogueira. E este vosso amigo dirá o que lhe ocorrer dizer quando olha estas obras soberbas. Vamos conviver. Vamos viver em Abril, com Abril.

 

terça-feira, 23 de abril de 2024

ESTAMOS JUNTOS | Não podemos faltar. Vamos dizer aos fascistas que não passarão. Bom dia da Liberdade para todos.

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domingo, 21 de abril de 2024

Indispensável

PINTURA DE PEDRO CHORÃO EM SETÚBAL | É um grande privilégio para a cidade receber uma exposição de Pedro Chorão na data em que se comemoram os 50 anos da revolução. É a segunda vez que este artista único expõe em Setúbal. Em setembro de 2019 mostrou, na galeria da Casa Da Cultura, trabalhos em papel que povoaram aquelas paredes com o rigor e inteligência que só assistem aos grandes artistas. As imagens que aqui estão são dessa ocasião.


Agora são telas de grande formato que preenchem os espaços da Casa. Convidei a artista visual e professora Ana Nogueira para explicar na Folha de Sala o que vê quando observa o trabalho de Pedro Chorão. Chamou ao seu texto "Próximo da Noite". Texto surpreendente na descrição dos ambientes sugeridos nas telas. Parece que há música ali. E há.

Eu estou a olhar para os quadros e ainda nem sei o que dizer. O espanto absorve-me, mas já tenho título para o texto: "O que dizer, quando o que se vê diz tanto".

E pronto, na próxima quinta-feira, dia 25, vamos descer a avenida em alegria por Abril e depois vamos rumar a Setúbal para estarmos com Pedro Chorão e o seu trabalho recente. Abril também vai estar aqui. Sempre!
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PEDRO CHORÃO
PINTURA

Abril/Maio. 2024
Abertura: 25 de Abril. 19 horas
Casa da Cultura | Setúbal. Galeria e Espaço João Paulo Cotrim





sábado, 20 de abril de 2024

Tiago Rodrigues: na medida do impossível

"Catarina e a beleza de matar fascistas" é um marco na cultura teatral contemporânea. Corre mundo, e ainda bem. O surgimento de novos fascistas, agora já sem botas cardadas, mas sim muito arranjadinhos, com roupas de marca e muito bem preparados — Os melhor preparados de sempre, dizem os especialistas e analistas de serviço — desperta-nos para atitudes de rejeição dessa nova ordem, mas encontra-nos no território de uma estranha razoabilidade, onde tudo nos é apresentado como normalizável. Não é. Não pode ser. O final da peça é uma surpresa que se entranha de imediato.

Em "Na medida do impossível" estamos no centro do conflito. São relatos amargos e tristes, mas que tentam encontrar a esperança. Tiago Rodrigues  é um mestre desta nossa maneira de olharmos o mundo. Nós achamos que estamos atentos, mas ele vai mais além. Mergulha em todas as impossibilidades. Todos os atropelos à existência são interpretados aqui de uma maneira tão lúcida que nos faz olhar com maior compreensão para o que ainda não tínhamos percebido, absorvendo-nos num imenso manto de derrota. Ficamos surpreendidos com as situações limite. Muitas definitivas. O sofrimento e a morte devido a guerras insistem em existir para gáudio dos novos imperadores.

"Catarina e a beleza de matar fascistas" e "Na medida do impossível" são peças sobre o triunfo de um aparente imobilismo que nos quer encontrar derrotados e tristes. Mas Tiago insiste em alertar-nos. Só podemos agradecer-lhe.

Assisti às representações destes dois monumentos culturais em tempos diferentes, como é evidente. Na passada sexta-feira fui à Culturgest. Mulheres e homens de grande qualidade artística e intelectual subiram a este palco de denúncia e revolta. "Um murro no estômago", dizia-me um amigo à saída. Com razão. Mas saímos dali mais crescidos. Com mais vontade ainda de percebermos o que nos está a acontecer. E reagirmos. Não nos peçam para frequentarmos espectáculos manhosos dos Emanueis, Clementes, Toys ou Carreiras. Mais murros na cabeça não, por favor.






Na medida do impossível

Encenação e texto

Tiago Rodrigues

Interpretação

Adrien Barazzone, Beatriz Brás, Baptiste Coustenoble, Natacha Koutchoumov

Música ao vivo

Gabriel Ferrandini

Tradução

Thomas Resendes

Cenografia

Laurent Junod, Wendy Tokuoka, Laura Fleury

Composição musical

Gabriel Ferrandini

Luz

Rui Monteiro

Som

Pedro Costa

 

Colaboração artística, figurinos

Magda Bizarro

Assistente de direção

Lisa Como

Produção

Comédia de Genebra

Coprodução

Teatro Nacional D. Maria II – Lisboa, Odéon-Théâtre de l'Europe, Piccolo Teatro – Milão, Équinoxe – Scène nationale de Châteauroux, CSS Teatro stabile di innovazione del FVG – Udine, Festival d’Automne à Paris, Théâtre national de Bretagne – Rennes, Maillon – Théâtre de Strasbourg scène européenne, CDN Orléans / Centre-Val de Loire, La Coursive – scène nationale de La Rochelle

Colaboração

Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Médicos sem Fronteiras


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A montanha pariu um monstro


Não dá para perceber. Não dá para respeitar. Não dá para tolerar. Um governo com maioria é derrubado, provocando uma crise política. Vamos para eleições, e muda tudo. Forma-se outro governo que vai no sentido oposto ao do governo derrubado, mas com exactamente o mesmo número de deputados a apoiá-lo do que o do partido maior da oposição. Cresce uma força política que roça a delinquência. Força essa que aliada ao novo governo pode mudar tudo provocando medidas políticas delinquentes. Os grunhos saem dos buracos em delírio. Parece que assim é que é. Vamos voltar ao passado. Mulheres podem ir para onde quiserem, mas de preferência para as lidas do lar. Pessoas sexualmente diferentes dos grunhos devem voltar para o armário. As medidas anunciadas que tanto animaram os debates é melhor serem esquecidas. Vamos voltar à normalidade da direita: polícias para a rua para arrear no cidadão. Políticos para o parlamento para aliviarem os atropelos ao capitalismo desenfreado. Quem ganha mais quer ganhar mais ainda. Vamos nessa. 

As conclusões agora reveladas mostram o sarilho provocado pela extremosa Justiça. Nada se confirma, tudo foi um embuste. Tudo isto aconteceu por mor de um "descuidado" parágrafo que uma senhora da Justiça escreveu, diz-se. Foi? Se calhar foi mesmo o parágrafo, mas a senhora não se enganou. Não houve aqui descuido nenhum. Desta vez a montanha não pariu um rato. Pariu um monstro. Vamos estar em confronto com um passado que pensávamos mais arredado do pensamento das pessoas. Estávamos enganados. Os monstros andavam escondidos nas histórias contadas passadas antes de 25 de abril de 1974. Agora andam aí de novo sem vergonha na cara. Dizem o que querem e fazem-se ouvir. Estão 50 fascistas no parlamento, fora os que ainda não sairam das gavetas infectas. 

E a senhora que provocou isto tudo não se demite?

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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Receituário

Está tudo a acontecer. Celebra-se a Liberdade. Liberdade de pensar, falar, adquirir conhecimento sem censura. Proibir é proibido. Conhecer é fundamental.
PADRE FELICIDADE - O oposicionista praticante

Receituário

Está tudo a acontecer. Celebra-se a Liberdade. Liberdade de pensar, falar, adquirir conhecimento sem censura. Proibir é proibido. Conhecer é fundamental.

CONVITE | INAUGURAÇÃO
20 ABRIL 16H00
HENRIQUE RUIVO
O BOATO
obra gráfica e pintura
É com muito prazer que convidamos para a inauguração da exposição de Henrique Ruivo «Boato», Sábado, dia 20 de Abril, a partir das 16h, na Tinta nos Nervos.
Este ano celebramos o 25 de Abril e os 50 anos do começo da vida democrática no nosso pais.
A exposição «Boato» de Henrique Ruivo integra as comemorações desse momento fundador na Tinta nos Nervos. Nascido em plena ditadura, no Alentejo, Henrique Ruivo (1935-2020) deu voz no seu trabalho gráfico e plástico ao combate pela liberdade, à resistência e à aspiração por dias melhores. Os trabalhos em mostra datam sobretudo da década de 1970, com particular incidência no período revolucionário e anos posteriores, quando pintura e obra gráfica se contaminaram. Reúnem-se projectos gráficos realizados em diferentes contextos (da pesquisa artística à intervenção, à contestação) e em diversos suportes: Ilustração, Cartoon político, Caricatura, Propostas gráficas para Jornais, Revistas, Livros (capas para múltiplas editoras), Autocolantes, Capas de discos, Cartazes, Serigrafias, Pintura e Escultura.
TINTA NOS NERVOS
Terça a Sexta, das 11h às 19h; Sábado, das 11h às 18h
Encerra Domingo e Segunda

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Notícias do buraco


OLHA O PASSARÃO | Passos Coelho segue as pisadas de Trump. O que importa é ele, o próprio, quem vier a seguir que feche a porta. É a ira do ressabiado. Passos não perdoa à esquerda aquele arredamento do poder. O pote ficou longe. Agora, com Montenegro, a coisa está a correr mal. Já podiam estar contentes e confiantes, caso o actual líder do PPD/PSD experimentasse um aconchego com o javardolas fascista. Com 50 energúmenos no parlamento aliados aos nossos só podia correr bem. Cordões sanitários? Que merda é essa? É limpinho que entre os deputados do partido de Passos/Montenegro ainda há muitos energúmenos que apoiariam a javardice. Basta olharmos para os "social-democratas" eleitos na anterior legislatura, transladados agora e eleitos
pelo partido fascista. Esqueceram a social-democracia. Aliás, nunca foram social-democratas. Mal perceberam que ali não tinham hipótese de lucro político, viraram-se para o partido do grunho falante. O grunho não vai largar o rebanho de que se afastou. Ele só pensa em fazer crescer o partido fascista.

Passos Coelho é um político extremamente calculista. Muito mais inteligente do que Ventura, vive na tentação de meter o fascista no bolso ou eliminá-lo. A sede de protagonismo político cega-o. Alinha com quem for preciso para saltar para o estrado da pouca-vergonha. Agora o que é preciso é cavalgar esta onda em que a democracia permite que se apreciem fascistas. O "povo de direita" quer liberdade. Queixam-se em páginas de livros e em outros mediatismos. Não lhes falta quem os faça ouvir, mas queixam-se na mesma. Querem liberdade para o povo de direita. O que será isso? Não se percebe: quem é que lhes tira a liberdade, a eles, que querem o impensável e dizem-no já sem que a vergonha os iniba? As mulheres devem ser o que a bíblia sagrada decreta. Vão para as cozinhas porque só elas sabem servir maridos e prole. Ainda iremos assistir ao regresso do chefe da família do Estado Novo: ela manda em casa, mas quem manda nela sou eu. Meninas de cor-de-rosa, meninos de azul. Tradição é tradição, Vamos lá acabar com essas modernices hippies e esquerdistas O lugar da mulher é na lida da casa. O homem tem mais que fazer. Tem responsabilidades que exigem esforço e saber masculino. Faz sempre falta um homem em casa. Para quê? Olhem, para mandar nas mulheres. Há lidas que não são para os homens. Exemplo? Acham bem que uma mulher assista a um jogo de futebol pela televisão, com uma gamela de tremoços em frente, cigarro na boca e cervejolas por todo o lado? Alguém lava melhor a loiça do que uma mulher? E gostam de ver um homem a passar a ferro, hã?! Bem, as mulheres tirarem a carta, até não está mal pensado. Elas têm muito mais jeito para irem buscar os putos, perdão, os meninos à escola.

Em entrevista à inefável senhora dona Avillez — parece que aquilo se chama Rádio Observador, deus lhes perdoe —, disse o que lhe passa por aquela cabecinha outrora ornamentada pelos cabelos pintados em tons apreciáveis pelos frequentadores do mais inenarrável gosto, mas agora ausentes. Passos Coelho assume o papel de troglodita de serviço, o que denuncia a sua conhecida e agora reeditada ambição. O ódio que decidiu adaptar ao seu discurso taralhoco prende-se com a estratégia de se dar a conhecer como realmente é. É que já há muitos como ele a saírem dos buracos infectos de ranço. Tem apoio. Não se cala e avança com impropérios incivilizados porque sabe que há muitos cretinos que pensam como ele. Passos Coelho não quer ser um troglodita como Trump ou Bolsonaro. Tinha a criatura que criou para desempenhar esse papel. Mas Ventura cresceu muito. Está um fascista feito. É o seu orgulho. E então não lhe ocorreu mais nada. Deu-lhe para ali. Logo a ele, que não era crente. Será que já é? Será que é ele próprio o porta-voz do povo preferido de um deus menor que dita regras restritivas e serôdias? O megafone é dele. Veio para ficar. Quer ser tudo: justiceiro, ajustador de regras, salvador dos fiéis ao pote. É um maçador. Cansa. Fede. Quer tramar quem felizmente não pensa como ele. Não se pode exterminá-los? Não se pode eliminar a esquerda?

Não, Passos passarão. Não passarão.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Eles estavam cá

Como viveram a revolução os estrangeiros que estavam a trabalhar ou a estudar em Portugal?

Vamos conversar com professores ingleses, e portugueses que entretanto foram para Londres, mas que em 1974 estavam por cá, e por cá viveram intensamente aquele tempo fascinante.
Vieram a Portugal quando a revolução fez quarenta anos. Vêm agora de novo, de propósito para comemorarem conosco os 50 anos da revolução. O encontro está marcado para dia 26 à noite, na sala José Afonso, da Casa Da Cultura | Setúbal. Vai ser bom.



segunda-feira, 15 de abril de 2024

50 anos de liberdade - Design de comunicação (3)


BOCAGE - BODONI | 
Foi já no ano de 1994. A liberdade e a democracia já contavam vinte anos. Resolvi inventar uma relação de amizade entre Bocage e Bodoni. Propus a ideia para que se integrasse nas Festas Bocageanas que se realizam sempre em Setembro. O Departamento Cultural da Câmara aceitou e deu todo o apoio. A coisa fez-se.
Claro que Bocage nunca conheceu Bodoni. Tudo isto foi inventado. Mas de facto foram contemporâneos. E poderiam perfeitamente cruzar-se nas actividades que desenvolveram. Um poeta/escritor, outro autor tipógrafo. Bodoni criou a tipografia que tem o seu nome. Tipo de letra com uma eficácia e elegância que ainda hoje permite recriações e utilizações ousadas. Também a grafia dos nomes animou grafismos. BOCAGE/BODONI têm o mesmo número de letras, separados pelo mesmo número de sílabas e começam ambos por B. Encontro marcado: Bocage conviveu com Bodoni, em Setúbal, naqueles dias de setembro e outubro de 1994.
Foi convocada muita gente que generosamente correspondeu com mais ideias. Eu apresentei a ideia inicial à Inês Lamim e à Marta Dias, e depois ao Departamento de cultura. Desenvolvi a ideia em dez ampliações de composições de letras do tipo Bodoni, em telas quadradas com dois metros de lado, que foram instaladas na Casa Bocage, na altura galeria de arte. Foi também na Casa Bocage que a Marta Dias cantou poemas de Bocage, musicados por ela para o evento, acompanhada por Dimas Pereira. Miguel de Castro leu poemas. O Rui Mesquita e o João Costeira fizeram, na Biblioteca Municipal, uma performance em que inventavam um diálogo entre Bodoni e Bocage. O ambiente foi descontraído e divertido.
Tudo isto ficou documentado em publicação — aqui mostrada na imagem — incluindo textos de Inês Lamim, que "explicou" esta amizade entre poeta e tipógrafo, e Álvaro Arranja, insistindo na ideia de liberdade na poesia de Bocage.
A exposição ainda viajou até Parma, onde experimentou as paredes do Museu Bodoni.
Foi assim. Foi bom.

domingo, 14 de abril de 2024

P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
António Aleixo
O EMBUSTE | Afinal parece que a redução do IRS deste governo é igualzinha à do governo anterior. Certo, há ali mais uns raminhos de demagogia, mas isso só prova a ideia de Aleixo. Montenegro prometeu o mundo e mais uns planetas e agora tenta esconder a mentira com uma peneira. A direita mente sempre muito mais do que esquerda. É matemática. Ou simplesmente aritmética, vá. A direita é sempre trauliteira e desonesta. Nunca são os interesses das pessoas que norteiam os extremosos políticos que se colocam ao serviço do povo. É apenas a economia capitalista sem freio que conta. A mentira é a táctica.
A extrema-direita contesta a direita dita civilizada, é claro. Com esses fascistas ficava tudo resolvido em menos de um fósforo. Suspendia-se a democracia por uns momentos, e os mais necessitados, ou os mais exigentes, que fossem morrer longe. A extrema-direita é pior do que a direita tradicional, apesar de cada vez mais frequentemente serem muito parecidas. Unidas podem fazer muita trampa.

sábado, 13 de abril de 2024

Receituário

Está a acontecer. Até já.



Eles andam aí

"Actualmente, negamo-nos a ver o retorno do fascismo. Dizem-me que do que eu falo é dos perigos do populismo. Não é nada disso. O populismo é como os mosquitos, um pouco irritantes. O perigo real é mesmo o retorno do fascismo. O fascismo é o cultivo político de nossos piores sentimentos irracionais: o ressentimento, o ódio, a xenofobia, o desejo de poder e o medo. Não deveríamos confundir conceitos. Devemos chamar o fascismo pelo nome”. 

[Rob Riemen, ensaísta, filósofo e diretor do Nexus Institute]

Rob Riemen é um pensador que nos alerta para este perigo. Li o seu "Eterno retorno do fascismo" e nunca mais me calei. Recentemente deu esta entrevista. Insiste no que o preocupa. O homem sabe o que diz. Tem razão. Estamos em tempo de combate ao fascismo. Não há outro nome a dar a isto.

Os fascistas saíram dos buracos. Andam aí e já sem vergonha. Lançam livros até há pouco tempo impensáveis, formam movimentos de uma "ética" deplorável que anseiam por incutir nos incautos, falam abertamente sem medo do ridículo. Eles percebem que há muitos ridículos como eles que podem constituir normas de poder ridículas, que depois de aplicadas passam a ser criminosas. Os fascistas não prestam. Vivem da tentativa de instalação do medo. Só pensam em tolher, nunca a fazer crescer. 

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Não passarão

Era evidente. Aquela sentença não fazia sentido nenhum. Condenar alguém que denuncia um criminoso é um absurdo. Quem condenou não se enganou. Fez o que lhe baila na cabeça. Os tempos sopram a favor desta gente. É bom perceber que ainda sopram bons ventos. Combater a extrema-direita racista, xenófoba, sexista, fascista, é uma obrigação. Os fascistas não se normalizam. Não são normais. Os fascistas combatem-se. Sempre.

Um abraço, Mamadou.