sábado, 30 de abril de 2022

Dávamos grandes passeios pela floresta




Tivemos ontem o encontro anunciado. A ideia era falarmos do que nos preocupa como artistas e como observadores de arte. Ana Nogueira revelou-nos a vontade permanente que a move no sentido de encontrar os instrumentos necessários para se exprimir. Carlos Barão precisa de pintar para respirar. Percebemos que não é a representação da realidade que nos move, mas sim a vontade de transformar essa realidade. A cópia da realidade causa-nos violentas angústias. A influência do já feito deve dirigir-nos para a surpresa e não para o confronto com a experiência já realizada. Todos somos artistas: uns experimentam e depois continuam — com coragem, insistência — outros escolhem outros caminhos.
Foi tão boa esta conversa. Saímos dali mais esclarecidos, ou seja: mais confusos e com vontade de conversar mais.

A magnífica serigrafia de Ana Nogueira — com excelente realização gráfica de Gonçalo Duarte — foi aqui apresentada (ver imagem). Sucesso de vendas. Os exemplares que restam estão ainda à venda na Casa Da Cultura | Setúbal. Também o livro de Carlos Barão, Fintar a Sombra, está disponível na recepção/loja da Casa. Duas peças recomendadas para termos por perto. Dois objectos úteis em qualquer casa asseada. A exposição A Floresta de L, de Ana Nogueira, estará visitável até à meia-noite de hoje. Bom fim-de-semana.  

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quinta-feira, 28 de abril de 2022

A vida de Brian


Devo muito a Brian Eno. Revelou-me sons únicos. Pôs-me a dançar. Pensa bem e sabe transmitir o que pensa. Fez-me pensar. Vivo melhor desde que o conheço. Este filme é um momento feliz. Vai ser um grande momento.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

A falar é que a gente se entende


Diz a gente, que é gente. Este energúmeno recebeu o homem da ONU naquele salão repleto de bom gosto e discrição. Não há aqui pompa nem circunstância. Há sabedoria e talento. Talento para mandar matar. Para destruir. O que conversaram não se sabe. Nem se calcula. Oxalá Guterres conheça a linguagem dos energúmenos. É que resta pouco para isto ficar ainda mais perigoso do que já está. Bardamerda para o merdas do Putin.

sábado, 23 de abril de 2022

A fala do olhar


Vamos falar do que vemos quando olhamos. Vamos falar da arte de que gostamos. Também falaremos das atrocidades que nos agridem, é claro. Não gostar do que nos agride é gostar do que gostamos muito. Enfim, iremos falar de muito do que nos passa pela cabeça quando olhamos com os olhos bem abertos. Recusamos andar de olhos fechados. 

Ana Nogueira tem actualmente exposição na Casa. Carlos Barão expôs por cá no ano passado. Dois artistas da Casa que a Casa muito preza. Duas exposições que marcaram o meu percurso como programador/curador na Casa Da Cultura | Setúbal.

Tudo isto acontecerá na próxima sexta-feira. A exposição A Floresta de L, de AnaNogueira, terá o seu fim nesse fim-de-semana. Assinalaremos este encerramento com a edição de uma serigrafia da artista. Enfim, motivos para não faltarmos a este encontro. Até lá.

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sexta-feira, 22 de abril de 2022

O que faz falta é avisar a malta


A
pesar de todas as tentativas de atropelos ao exercício da democracia, a democracia está aí. Veio para ficar, apesar de já termos na casa da democracia doze asquerosos fascistas a representar os imbecis que neles votaram. A festa que se avizinha tem de ser de unidade contra o facismo. Percebemos nas mais recentes eleições que uma chusma de racistas, xenófobos, homofóbicos, machistas e outros trogloditas sairam dos buracos onde se escondiam e andam a céu aberto em proselitismo reaccionário com modos que pensávamos eliminados pela consolidação da democracia. Afinal nada está consolidado. A opinião dos fascistas não se respeita; combate-se. Temos de estar alerta. Não passarão.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Matérias transformadas



Vou regressar aos trabalhos estéticos. Também são éticos: pretendem interpretar a natureza e a natureza das gentes. São apontamentos apenas. Transformações de matérias várias. São coisas. Coisa de que gosto e espero que também gostem. Se não gostarem não faz mal nenhum: põem na borda do prato. Até já.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

A pés juntos


Que isto é mesmo assim. Mais uma anunciada noite de prazer e encontro com o conhecimento. Mais filosofia a pés juntos, que as coisas não se discutem sem convicção. António De Castro Caeiro e Luís Gouveia Monteiro vão voltar a conversar, na Casa Da Cultura | Setúbal, desta vez sobre a Liberdade tão querida e desejada. É na próxima sexta-feira. A não perder.

sábado, 16 de abril de 2022

Ground control to major Tom



O Tom é um dos meus melhores amigos. Gosta de ração, mas prefere comezainas alternativas: arroz de frango, por exemplo. Um gastrónomo exigente. É major por causa do David Bowie. Mas de resto não tem divisas. Não tem raça, como os arianos obcecados pela pureza. Apesar de ser loiro, não é burro. É um cão. Nem sempre obedece, só quando lhe apetece. Aqui estamos nós no exercício dos afectos. Enfim, um fim-de-semana de convívio a quatro patas, com corridas, trambolhões e abraços. Muitos abraços, como se quer no convívio com os amigos. 
Bom fim-de-semana.

As fotografias são do Fernando Pinho.

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quinta-feira, 14 de abril de 2022

A bem da razão


Fátima Bonifácio poderá ser julgada por racismo

Tudo tem limites, é certo. Mas há limites e limites. Esta criatura afirmou, em texto de opinião num jornal de referência, que existem limites para a integração de pessoas com tons de pele diferentes dos dela na nossa sociedade. Aquilo correu-lhe mal. Muita gente se indignou. Tinha de ser. Não nos podemos calar perante atitudes fascistas. Esta criatura tenta legitimar o que não é razoável nem civilizado. Não se espera que um troglodita defenda a tolerância, mas também não se espere que atitudes racistas sejam atiradas para o saco da indiferença, assim sem mais nem menos. A criatura deve ser ouvida em julgamento, é claro. A intolerância e o desejo de "purificação" não cabem numa sociedade civilizada. Vá cantar loas à superioridade racial lá nos charcos das ideias imundas onde chafurda.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Allons enfants de la patrie


Assistimos hoje a situações que nunca imaginámos concretizadas. Os poderes são disputados pelas direitas, enquanto as esquerdas assistem impotentes. Há países onde a extrema-direita ganha eleições. Mas o mais grave é quando a disputa é entre a direita e a extrema-direita. Ou entre extremas-direitas. 

Hoje assistimos a uma guerra sangrenta entre duas extremas-direitas, por puro interesse hegemónico. Quem se lixa é quem sofre debaixo das balas ou perfurado por elas. Um Putin fascista vê nazis por todo o lado, tornando o seu rival agredido herói mundial. Para as extremas-direitas não há ideias. Há conquistas e imposições de ajustamentos purificadores. Aqui mais perto, apesar de com contornos mais aligeirados, podemos acrescentar o que se passa em Portugal e Espanha. Os terceiros lugares nas votações são disputados pelas direitas mais extremas, remetendo as outras esquerdas para o pelotão de trás. Será que o eleitorado está doido, ou é a esquerda que não está a ver bem o filme e prefere assistir à projecção instalada no segundo balcão?

Vamos percebendo que o perigo é real. Por cá temos um energúmeno fascista sem qualidades retóricas nem decência a conquistar substantivo eleitorado. Em Espanha, a extrema-direita franquista (já alinham em aconchegos saudosistas com o sinistro criminoso Franco) prepara-se para crescer sem freio. Em Moscovo, um ditador enlouquecido, não quer saber de democracias de trazer por casa e ataca desprezando vidas humanas até à abjecção. 

Em França temos um bico de obra que é um pau de dois bicos. Para que uma fascista sem vergonha assuma a Presidência é preciso votar num autocrata que é o que for preciso para estar no poder, queimando tudo o que pode ser alternativa à sua volta. Estes políticos egocêntricos da direita populista não têm o mínimo respeito pelas opiniões dos outros ou pela vida das pessoas. São projectos unipessoais de exercício do poder. França vai ser um bico de obra se Le Pen ganha aquilo. A Europa fica fragilizada, e isso, nos tempos que correm, é mesmo muito mau para os europeus. Mas pedir ao eleitorado de esquerda para votar no sempre-em-pé Macron é como ir comprar lã e sair tosquiado.

É já tempo de a esquerda se unir e arranjar soluções eficazes para as tormentas do mundo. As pessoas precisam de ser protegidas e de ter esperança no futuro. Se o neoliberalismo da extrema-direita — que só promete o salve-se quem puder — tem tanto sucesso que até já tem as suas hienas a guinchar nos parlamentos democráticos, a esquerda deve dizer claramente que é muito melhor do que isso: quer justiça social, protegendo as pessoas, e é mais eficaz na aplicação do sistema ao serviço das populações e dos seus anseios. A esquerda existe para combater a direita serôdia e bafienta. A direita é sempre serôdia e bafienta, mesmo quando se higieniza e disfarça de liberal e democrata.

domingo, 10 de abril de 2022

O corpo e o gesto


Language is a Virus

Laurie Anderson

Ana Nogueira vagueava pela floresta quando ouviu um violino que soltava um som vi- brante e arrastado. Moveu-se no sentido desse som. Suspendeu os movimentos do corpo e a respiração. Tentou perceber a origem daquele ambiente único. Perdeu-se por entre arbustos e rochedos. Deambulou por entre folhas amareladas, secas. Arriscou o vaguear até que a luz do luar abraçou a floresta.

Desenhou então movimentos com o corpo, numa dança em que o próprio corpo se envolveu com aqueles troncos secos, ramos delgados e arbustos frondosos. Riscou linhas no papel, raspou a superfície. Surgiram manchas que lhe transmitiram a satisfação e
o desejo de procurar mais. Linhas e manchas que desenharam ambientes imaginados. Por isso não parou. Insistiu. Investiu com rigor de cientista sem ciência, num registo de procura sem preocupações de funcionamento ou solução. Pesquisa intensa, mas nunca esclarecida por soluções académicas ou decisões de finalização. Este trabalho não está finalizado. Nunca estará.

Os desenhos que observamos sugerem a presença da artista. O corpo envolve-se na paisagem. Densas florestas parecem querer romper o papel numa violência soprada por um vento ora suave, ora agressivo e cortante. As dimensões destes trabalhos sugerem o nosso envolvimento. Parece haver um convite a uma aproximação fisica a este papel tão vibrantemente riscado. A intensidade do gesto é denunciada por essa vibração. Tentamos um discurso sólido que enuncie as pretensões da artista. Uma linguagem que traduza atitudes e procuras. Mas a linguagem é muitas vezes um vírus perigoso. Deambulando perdemo-nos, mas não ficamos entediados porque somos surpreendidos pelo desconhe- cido. Por uma inesperada angústia que nos inunda e fascina os sentidos. Pretendemos a surpresa. Percebemos então os trilhos de uma certa felicidade, mas continuamos incon- formados numa permanente procura do desejo. Uma virose que não mata, antes alastra perpectuando essa vontade. Uma dor que se transforma em prazer, alheia a percursos tortuosos ou pouco exigentes. Situamo-nos no território da exigência. Na vertigem de encontrarmos outras vontades de fazer. Sempre. É esta a linguagem visual desta floresta, na minha linguagem. Bem vindos à floresta de Ana Nogueira. José Teófilo Duarte


Texto inserido no prospecto que "explica" a exposição.
Fotografias de Fernando Pinho.

ANA NOGUEIRA
A FLORESTA DE L
ABRIL 2022





terça-feira, 5 de abril de 2022

Na floresta





Entrámos na floresta sem medos. A inicial curiosidade deu lugar a um efectivo conforto intelectual. Um espanto que se tornou comodidade. Estávamos bem ali. É notável, este trabalho de Ana Nogueira. Foi um passeio agradável. Passeámos por ali com a cabeça povoada de música, pensamentos coloridos pelas cores da natureza,. Da Natureza que nos cria, recria e protege, e pelo que naturalmente nos preocupa. Somos gente, sentimos isso. Estamos juntos contra as adversidades. Gostamos de ser gente assim. Muito obrigado pela presença dos que que estiveram presentes. Parabéns, pelo vosso gosto esclarecido.

ANA NOGUEIRA
A FLORESTA DE L
Casa Da Cultura | Setúbal, galeria
Abril, 2022

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Um criminoso é um criminoso


O que está a acontecer na Ucrânia não nos deixa qualquer dúvida. Há um criminoso de guerra no Kremlin que não poderá gozar de uma velhice descansada. O crime não pode compensar. Um criminoso sádico e sem qualquer porção de humanismo dirige uma nação que agride outra nação e as suas gentes. O assassino até já fala em purificação. É o eterno retorno do nazi-fascismo. Confesso que sinto a compaixão natural que nos é possível habitar pelos militares russos que o energúmeno Putin manda para o terreno como carne para canhão. Mas ao vermos as atitudes de alguns desses enviados nas terras ocupadas, a compaixão fica mais esvanecida. Nem todos são criminosos: são precisamente simples carne enviada para o terreno. Mas há criminosos violentos no terreno: imagens de mulheres violadas e queimadas, crianças esmagadas, animais esventrados, homens enforcados e mais o que as fotografias, os verbos e os adjectivos não conseguem descrever, documentam os massacres hediondos. Está tudo registado, não é encenação, como insistem os imbecis que defendem Putin e os seus repugnantes aliados. Putin é um grande filho da puta. E quem diz o contrário é outro. Ponto final.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Um sábado na Floresta



A exposição está montada. Abre este sábado às seis da tarde. Uma surpresa e um espanto. A Floresta de L, de Ana Nogueira, transborda de emoções. Talvez uma das mais importantes exposições do ano. É também uma exposição que dialoga com o observador. Foram convocados os melhores. Estamos no território da excelência, da extrema dignidade visual. Acreditem. Apareçam.

ANA NOGUEIRA
A FLORESTA DE L
Casa Da Cultura | Setúbal, galeria
Abril, 2022
Abertura: dia 2, 18 horas.