quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Turismo da desgraça

" Agora o que é ridículo e execrável é o espectáculo dos "populares" à volta da tragédia, numa exibição dos piores sentimentos colectivos. Por esse "povo" não tenho nenhum respeito, nem por eles, nem pela televisão que os mobiliza e atiça, porque acho que a democracia não se faz só da igualdade e do maior número, faz-se da lei e dos costumes civilizados. E a turba dos mirones, ululante e voyeurista, não merece senão ser posta à distância. O PÚBLICO publicava há dias uma fotografia exemplar: uma fila de mirones dobrados, de rabo para cima, espreita por uma nesga do tribunal de Portimão. A um canto, uma câmara de televisão. Tudo explicado naquela metáfora da subserviência a uma curiosidade mórbida, que faz espreitar por uma fresta de uma janela, numa posição pouco decorosa."

José Pacheco Pereira expressa no
PÚBLICO de hoje a indignação perante o circo em que foi transformada a morte de uma criança. Estamos juntos nisso. Assistimos nos últimos dias à exploração sem escrúpulos por parte das televisões e dos jornais ensopados em sangue, de uma tragédia que assim se transformou numa romaria popular. Todos querem ser vistos no ecrã. Acenam para os telespectadores. Há quem clame pela PIDE, há quem chame por Salazar. Um circo primitivo que nos revolta e envergonha.
JTD

Bela Monica

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Monica Bellucci faz hoje trinta e seis anos.
Parabéns.

quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Rosas novas para um velho jardim

Example(...) não sou, nem nunca fui, dos que tendem a considerar Alberto João Jardim como uma espécie de bobo da corte, de ébrio de serviço ou de inimputável crónico, recursos habituais de um indiferentismo destinado a encobrir o que politicamente se passa de muito sério na Madeira. Um processo de instrumentalização perversa da autonomia regional num microcosmos insular, económica e culturalmente marginalizado, por parte de uma oligarquia política e económica que através do nepotismo e do controlo clientelar do Estado e dos negócios assegura a sua perpetuação no poder em regime de crescente esvaziamento e formalização da vida democrática.

Por isso, também, nutro um profundo respeito por todos, homens e mulheres, políticos, sindicalistas, gente da cultura ou simples cidadãos, que na Região Autónoma da Madeira lutam com denodo e com grande coragem cívica em prol de uma outra concepção de autonomia regional, com verdadeira democracia, com desenvolvimento económico equilibrado e justiça social, desafiando a arrogância e a prepotência do poder vigente. O futuro pertence-lhes. Queira o Bokassa ou não queira.

Fernando Rosas, hoje no PÙBLICO.

domingo, 26 de setembro de 2004

Françoise Sagan

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Leio nos jornais que morreu. Françoise Sagan conviveu comigo durante a minha adolescência. Era uma autora que apreciava. Mais do que isso, era completamente apanhado. Li tudo o que me foi possível.
Muitas vezes senti vontade de a reler. Nunca fiz esse exercício. Talvez agora, perante esta notícia definitiva, sinta a vontade de satisfazer a leitura de "Bonjour tristesse", "Viver não custa" ou "Um raio de sol na água fria". É precisamente deste último livro que retiro uma passagem, a fala de uma das personagens:

"Nenhum dos meus heróis se droga. Como estou fora de moda! Mas quando penso nisso, acho cómico que na nossa época, em que todos os tabus, os grandes tabus, são demolidos, em que a sexualidade - é uma fonte de rendimento declarável, em que a fraude, o roubo e a desonestidade, quase se tornaram gracinhas de salão, acho cómico que as pessoas só achem condenável uma única coisa: a droga."

Isto foi escrito em 1972. Entretanto muita coisa mudou. Inclusivamente nas atitudes de Françoise. Fica a recordação da sua escrita. O que não é pouco. Depois das próximas releituras dos seus livros, espero continuar a gostar do melhor que ela nos deixou.

sexta-feira, 24 de setembro de 2004

A bem da nação

Pires de Lima, o esforçado porta-voz do CDS-PP, disse ontem, num debate televisivo, que a ex-ministra da justiça, Celeste Cardona, ganharia mais como advogada, trabalhando no seu escritório, do que na administração da Caixa Geral de Depósitos, local onde são depositados os ex-governantes.
Mais uma vítima da actividade política, disposta a abdicar de tudo para nos servir.
Será que esta gente pensa que somos todos parvos?
Vão fazer poucochinho do diabo que os carregue.
JTD

quinta-feira, 23 de setembro de 2004

Gonçalo M. Tavares | La Fontaine

Um homem cruzou-se com um animal e leu-lhe três fábulas para o ensinar.
Mais tarde um animal cruzou-se com um homem e deu-lhe três dentadas para o ensinar.
Mais tarde a Natureza inteira cruzou-se com o homem e com o animal e enterrou-os com três pazadas de terra para os ensinar.

Titulo: Biblioteca
Autor: Gonçalo M. Tavares
Capa: Margarida Baldaia
Edição: Campo das Letras

JTD

terça-feira, 21 de setembro de 2004

Corto Maltese

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Corto Maltese, o mítico marinheiro nascido em Malta, filho de um inglês e de um espanhola, aparece por aí todas as segundas-feiras. É o jornal PÚBLICO que o faz viajar até nós, dando-nos assim a oportunidade de completarmos colecções.
Quem não conhecia esta magnífica criação de Hugo Pratt, pode desta forma entrar no seu mundo.
"Segunda o PÚBLICO é porto de abrigo para Corto Maltese".
RR

Portugal confuso

Este governo encetou uma nova maneira de gerir o país; atira para o ar e depois logo se vê onde cai.
O primeiro-ministro é um espada neste desporto. falou das taxas moderadoras para a saúde, mas parece que ninguém sabe muito bem do que se trata. Falou na prioridade do ínicio do ano escolar, e prometeu empenho pessoal. Afinal resolveu ir dar uma voltinha e a Educação que se lixe.
O caso da Educação já é um caso, de facto. Quando é que acertam? Quando é que acabam a incompetência e as desculpas esfarrapadas? Quando é que a ministra se demite? Quando é que acaba este governo?
JTD

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

José Adelino Tacanho

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Durante um tempo infinito fez o Festival dos Capuchos. Agora estava mais moderado na sua actividade de animação cultural. Tinha todos os cuidados possíveis para manter o corpo em bom estado. Por isso a desistência do corpo deixou-nos estupefactos.
Foi traído por um ataque cardíaco. A morte é assim, traiçoeira.
Fica-nos a memória dos espectáculos que nos ofereceu. E a recordação da sua imagem esbelta e sempre em movimento.
JTD

quarta-feira, 15 de setembro de 2004

Narciso feliz

Ouvi agora mesmo na TSF. Narciso Miranda declarou, após a reunião da comissão nacional do PS: "Estou feliz".
Como não disse mais nada, ficamos sem saber o porquê de tanta felicidade.
Geralmente quem fez merda fica feliz porque não percebe o que fez.
Ou então percebe, mas fica feliz na mesma porque gosta do que faz.
"Narciso achou feio tudo o que não era espelho".
JTD

terça-feira, 14 de setembro de 2004

Agualusa na Época

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''Saramago cultiva o niilismo e o pessimismo. Seus livros são contaminados pelo desencanto. É difícil escrever quando se descrê completamente da vida. Ele é vítima da própria descrença. É um velho'.

José Eduardo Agualusa, de passagem pelo Brasil para lançamento do seu "Vendedor de Passados", deu uma entrevista à revista Época. Passe por lá.

Marcelo sabe tudo

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Marcelo Rebelo de Sousa disse na oratória de domingo, na televisão da quinta das celebridades, que olhando para todos os candidatos à liderança do PS, nenhum tem, obviamente, perfil para primeiro-ministro.
Alguém diz ao professor quem é o actual presidente do conselho de ministros?

Onde está o governo?

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Santana diz que vai haver taxas nos serviços de saúde por causa da justiça social.
O ministro Bagão diz que o orçamento de estado é como gerir uma casa. E que auto-estradas são um luxo concedido aos condutores. Os impostos de quem nelas não circula não devem ser utilizados para as pagar.
Será que é mesmo assim?
De facto, é frequente ver administradores bancários e outros gestores abastados, nos centros de saúde, na bicha para a injecção. A injustiça é clara. Então não é que estes senhores pagam o mesmo que um pobre reformado, usando assim o Serviço Nacional de Saúde, que deveria assistir aos mais necessitados?
Quanto às auto-estradas, claro que só servem para os privilegiados que têm carro passearem. Não servem rigorosamente para mais nada; todos os produtos consumidos pelas populações são transportados de carroça, pelas estradas nacionais.
E parece óbvio que gerir o orçamento de estado é como gerir uma casa. Já estou a ver Bagão e Santana a caminho do Ikea, acompanhados por algumas das suas secretárias, para comprarem chávenas para o café. Ou mesmo a pedir orçamento para os móveis da nova cozinha de São Bento.
São estes senhores que nos governam. Será que acreditam, mesmo, no que dizem?
JTD

segunda-feira, 13 de setembro de 2004

É só porrada

Luis afonso, na secção da Pública "Sociedade recreativa", aborda, com o seu habitual talento, a violência na televisão.
O desenho representa um telespectador aterrado, escondido por um sofá, enquanto o aparelho televisivo escorre sangue.
Até parece que estamos combinados. Ou talvez não. É já ponto acente que as televisões se preocupam demasiado com o estimulo da violência.
Dizem-me que Avelino Ferreira Torres vai participar num concurso de celebridades. Tudo se passa numa quinta. E Avelino é apenas mais um dos cromos que por lá vai vegetar. Dizem-me que assim talvez se veja a nu e em directo o nível das criaturas. Acham que sim? Era necessário gastar tempo de antena com tão medíocres prestações?
Paulo Portas, tão preocupado com a moral e os bons costumes, deve estar maravilhado com a participação do seu colega de partido.
Esperemos que, se houver confusão na tal quinta, ele convoque os operacionais adequados para dar resposta a alguma incorrecção de algum concorrente para com o inefável Avelino.
JTD

sábado, 11 de setembro de 2004

We will never forget

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Já passou algum tempo sobre o ataque às torres gémeas em Nova Iorque. Foi há três anos.
Quando tudo aconteceu eu estava lá. Passeava pela quinta avenida. O voo para Portugal partia nesse dia a meio da tarde. De um momento para o outro tudo se alterou. O regresso só aconteceu cinco dias depois. Entretanto, tudo se passou com a normalidade possível. Visitei locais que já não tinha intenção de visitar, participei em vigilias em homenagem às vítimas do atentado.
O hotel era perto de Times Square. E Times Square era o local onde toda a gente se dirigia para saber novidades. Era ali que nos sentiamos informados. Quando cheguei a Portugal fui convocado para um programa de televisão onde se evocava o ataque, entre "recitais" de cantores indescritíveis e alegres curiosidades. Pelo meio a entrevistadora pedia "sangue". As televisões apreciam a desgraça. Dizem que traz audiências. É claro que me arrependi da minha participação no programa. Mas o que lá vai, lá vai.
Hoje, nas notícias das oito na mesma estação televisiva, um português que também se encontrava na "Big Aplle" ao tempo do atentado, dava o seu testemunho. Entre muitas vulgaridades e até tiradas de humor, referiu que nos dias seguintes passeava por uma Times Square deserta, ele os filhos e alguns "turistas malucos". É disto que as televisões gostam. É certo que isto nunca aconteceu, mas imaginar a cidade que não dorme, com a sua praça mais frequentada sem vivalma, é tentador. Não basta o drama, é preciso ampliar a dor para que se torne credível. Foi um grande momento de televisão, o que este senhor nos proporcionou.
O melhor mesmo é desligar o aparelho. Não quero ouvir mais relatos de talentosos protagonistas da história. A minha memória do acontecimento é suficiente. We will never forget.
JTD

sábado, 4 de setembro de 2004

Condenável e chocante

O que leva militantes de uma causa independentista a usar crianças como reféns?
Que respeito tem esta gente pala vida humana?
O mundo está cada vez mais perigoso.
Os filhos da puta estão, cada vez mais, sem qualquer tipo de princípios.
JTD

quinta-feira, 2 de setembro de 2004

La Mamounia

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Nesse verão por invrível que
pareça hoje vivi uma paixão desusada.
Procurei saber por ti, parti para longe
como se faz nos romances.
Lembro-me ter-te visto
no fundo da piscina
antes do sol se essaouira
ter revelado as nuvens que
o meu corpo, submerso, fez vir à superfície.

Como as nuvens a minha história
sem ti desfez o sentido da tua figura
esguia e ainda jovem. Morreste sob
as palmeiras, entregue à sonolência
do cansaço em tudo semelhante
ao efeito da heroína.

Fuji nesse verão para entender
a relativa importância do sexo
nas variações do amor. Vejo-me
ainda às voltas com essa pergunta


Fernando Luis Sampaio. Escadas de Incêndio. Quetzal. 2000.
Pintura de David Hockney

quarta-feira, 1 de setembro de 2004

September again

A Wallpaper de Setembro já aí está. Soberba.
  • Wallpaper

  • Também o iPod mini, um dos mais recentes rebentos da Apple, chegou a Portugal. Já povoa as estantes de uma Fnac perto de si. Há-os em cinco cores. O meu preferido é o metalizado.
    Tenho ou não razões para gostar de Setembro?
  • Apple

  • RR

    Limites do corpo

    Example

    Vestida do teu suor fui sobranceira ao medo.
    Mas todos os templos batidos pelos ares estão nas colunas das tuas coxas.
    Venerado o teu septo nasal e a pele do crâneo como se foram
    da criança própria surge o susto - todo o amor é abolição de limites até do próprio corpo.


    Maria Velho da Costa. Corpo Verde. Contexto. 1979
    Pintura de Paula Rego

    Respiração

    Example

    Vai abrir a manhã.

    A neblina esfuma
    os pesados navios.

    O silêncio está cheio
    da respiração do mar.


    Miguel de Castro Terral, Estuário, 1990
    Pintura de Edward Hopper

    Gastão e Donald no poder

    Para quem fala em luxo ideológico nas alusões a alguns comportamentos da esquerda, não deixa de ser irónico ver a armada portuguesa ser utilizada para defender as ideias do seu ministro. Foi entregue a estes meninos um país inteirinho para brincarem. E um mar, também. Bonito de ouvir, foi o discurso do secretário de estado destinado à triste figura de defensor dos nossos preciosos mares. Motivo da decisão: Estavam em risco a saúde pública e a soberania nacional. Tudo isto desencadeado por um barquinho que mais se assemelha aos que ilustram as histórias juvenis.
    Este governo parece desenhado pelos estúdios da Disney; chefiado pelo sortudo Gastão e com o marujo Donald como segunda figura.
    JTD