" Agora o que é ridículo e execrável é o espectáculo dos "populares" à volta da tragédia, numa exibição dos piores sentimentos colectivos. Por esse "povo" não tenho nenhum respeito, nem por eles, nem pela televisão que os mobiliza e atiça, porque acho que a democracia não se faz só da igualdade e do maior número, faz-se da lei e dos costumes civilizados. E a turba dos mirones, ululante e voyeurista, não merece senão ser posta à distância. O PÚBLICO publicava há dias uma fotografia exemplar: uma fila de mirones dobrados, de rabo para cima, espreita por uma nesga do tribunal de Portimão. A um canto, uma câmara de televisão. Tudo explicado naquela metáfora da subserviência a uma curiosidade mórbida, que faz espreitar por uma fresta de uma janela, numa posição pouco decorosa."
José Pacheco Pereira expressa no PÚBLICO de hoje a indignação perante o circo em que foi transformada a morte de uma criança. Estamos juntos nisso. Assistimos nos últimos dias à exploração sem escrúpulos por parte das televisões e dos jornais ensopados em sangue, de uma tragédia que assim se transformou numa romaria popular. Todos querem ser vistos no ecrã. Acenam para os telespectadores. Há quem clame pela PIDE, há quem chame por Salazar. Um circo primitivo que nos revolta e envergonha.
JTD