sexta-feira, 30 de junho de 2023

Receituário

Hoje à noite vou fazer palavras cruzadas com o Paulo Freixinho. Vai ser ao vivo., na Casa da Cultura, em Setúbal. Provavelmente vamos inventar uma palavra. Ou mesmo duas. Vocês vão ver.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Perigosas efemérides

Marcelo vai convidar todos os chefes de Estado africanos de expressão portuguesa para os 50 anos do 25 de Abril

A um cartaz com a inscrição 25 DE ABRIL SEMPRE, os chungas do Chega responderam com outro, mesmo ao lado, que apenas acrescentava NUNCA. Isto aconteceu logo que os chungas tiveram representação parlamentar. Agora, com 12 chungas lá dentro, os chungas actuam no parlamento como vulgares delinquentes. Viu-se o que aconteceu com o presidente brasileiro. Era bom que quem trata da segurança e protocolo na AR se ponha a pau com os chungas. Se convidamos chefes de Estado de países estrangeiros devemos garantir dignidade aos actos públicos. Os chungas do Chega não sabem o que isso é. São apenas chungas em delírio antidemocrático, que é por onde respiram. A gritaria delirante do chunga chefe: NÃO HÁ RACISMO EM PORTUGAL, para justificar precisamente os actos racistas praticados, são uma vergonha para todos nós, os portugueses que querem e lutam pelo regime democrático.
Existe na Assembleia da República uma Direcção de Relações Internacionais Públicas e Protocolo que deve assegurar a decência no parlamento. Pelo menos é o que me parece. Porque se não for também para isso, para que serve então?
Os deputados representam-nos. Exigam que nos respeitem.
Os chungas representam chungas. Não são respeitáveis. Combatem-se.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Design de comunicação

Da série Grandes Capas. Charlie Hebdo.


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terça-feira, 27 de junho de 2023

Das coisas nascem coisas


Fez muitos grafismos. Fazia o que era possível numa época em que a imagem era vista como excesso. Trabalhou muito para que a imagem das coisas não envergonhasse os seus promotores. Provavelmente os promotores das coisas não perceberam isso. Muita gente não percebe nada. É de uma grande designer que falamos quando falamos de Alda Rosa. É uma grande exposição em sua honra que abre esta quinta-feira na SNBA. Andámos — DDLX Design Comunicação Lisboapor lá. É para mim uma honra ter participado, e ter tido a confiança da Alda, da autora da arquitectura do espaço, Célia Anica, e do curador responsável pela ideia e pela sua aplicação - Paulo Henriques. Vamos estar lá. A Alda Rosa merece tudo.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

A vida das casas

QUE CASA SOU? | João Concha ilustra, pinta, edita e publica livros e ilustrações, faz coisas que servem para ser olhadas, lidas, observadas com prazer. Estes trabalhos visuais de grandes dimensões que agora nos permite observar têm escondidos armários com gavetas a abarrotar, outras vazias, e têm molduras antigas e carpetes muito pisadas. Tudo isto está entre as paredes desta casa que lhe provoca a interrogação do título que escolheu para esta exposição no Espaço/galeria da Casa da Cultura, Setúbal.

Que casa somos? Que casa queremos? Para que queremos casa? Para vivermos, ou para simplesmente mantermos lá dentro o que temos que guardar para usar cá fora no dia-a-dia? Há casas que abrem para dentro e outras que abrem para fora. Somos a casa que fazemos. A casa é a nosso rosto e o nosso corpo todo. A nossa vida está toda ali guardada. Quem já "desfez" casas de parentes falecidos sabe o quanto é difícil lidar com esses fins. Vidas inteiras nos segredos daquelas paredes. Mas deixemos a tristeza. Estas casas são alegres. Percebe-se o contentamento do fazer. Parecem convidar-nos a entrar.

João Concha teve a ideia de procurar a sua casa em riscos, cores, planos moldados pela sua vontade de encontrar a maneira de estar lá bem. Procurou um conforto, digamos. Será que o encontrou?

No próximo dia 8 de julho vamos estar com ele na abertura da sua exposição em Setúbal. E mais tarde iremos conversar sobre tudo isto. Convidados.

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Sem repetir

Há por aqui alguém que saiba o que é um cruciverbalista? Não!? Então aceitem este convite: vamos conversar com um representante desta disciplina na próxima sexta-feira. É Paulo Freixinho, autor das palavras cruzadas do Público entre outras actividades. Aquilo deve dar uma trabalheira, mas também dá cá um vocabulário à malta...
Este livro que vamos ter a oportunidade de adquirir na sessão é assim como uma feira de palavras: umas já conhecidas outras sugeridas para experimentarmos. São mais de 3500 palavrinhas, umas curtas outras compridas, que nos aparecem ali naqueles quadradinhos tão bem ordenados. É uma obra única. Paulo Freixinho diz que só pensa em fazer outro livro quando este vender um milhão de exemplares. Está a brincar, mas também a falar a sério.
E para já é isto. Apareçam na Casa Da Cultura | Setúbal, na próxima sexta-feira à noite. Vamos sair dali uns verdadeiros especialistas em língua portuguesa. Ou quase.

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domingo, 25 de junho de 2023

Siza 90

Álvaro Siza Vieira completa hoje 90 anos. Um arquitecto excepcional que marcou a paisagem de muitos lugares em todo o mundo. Marcou pela inteligência da resolução e pela vontade de equilibrar funcionalidades. Álvaro Siza não muda paisagens: acrescenta conteúdos funcionais respeitando o lugar envolvente. O projecto da Escola Superior de Educação - Instituto Politécnico de Setúbal é um bom exemplo. Há uma árvore que assistiu ao desenvolvimento do projecto em seu redor. Nem um toque sofreu. O respeito pela natureza é evidente. A vontade de envolvimento na paisagem, sem ornamentos ou piroseiras decorativas, marcam a obra deste galardoado arquitecto. Este projecto em Setúbal é uma pérola. Tive o gosto de trabalhar com ele em dois projectos. Gosto e honra. E foi também um prazer estar em contacto com ele. Hoje faz 90 anos. Muitos parabéns, caro mestre.

sábado, 24 de junho de 2023

Zangam-se as comadres...

Diz-se logo de seguida: descobrem-se as verdades. Não é este o caso. Estas comadres zangadas não conduzem à verdade. É a "verdade" de um filho da puta contra a "verdade" de outro filho da puta. Todos sabemos o que vem a seguir. Um porco contra um porco só provoca lama. Eles sujam-se, mas gostam. Vivem do esterco que provocam, estes grandes filhos da puta. Mas às vezes é melhor que assim seja. Os eunucos devoram-se a si mesmos.

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Ensinar é preciso, sempre



Pedro Lourtie foi homenageado pelos seus pares. Merecido reconhecimento a que não assisti por impossibilidade absoluta. Mas comemoro assim, assinalando a minha admiração por este meu amigo que tanto faz pelo Ensino (assim com caixa alta) em Portugal e lá fora (como se costuma dizer). Pedro Lourtie mantém actividade cívica de monta, que exerce com conhecimento e rigor, e é um ser humano admirável. Ressaltando-se o sentido de humor, canal que transmite inteligência e generosidade, por quem o sabe utilizar, é claro.

Parabéns, Pedro. E a vida continua.
Fotografias da página de Ana Maria Bettencourt

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Receituário

Querubim Lapa em exposição. É para ver e rever. Abre este sábado. 

Até lá. 

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quinta-feira, 22 de junho de 2023

Receituário

Hoje é o André Gago que vai conversar com o João Francisco na biblioteca da Sociedade Nacional de Belas Artes. Lá estaremos. Até já.

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terça-feira, 20 de junho de 2023

Receituário

Falar de fotografia com fotógrafos, é a ideia. E é já esta quarta-feira, às seis e meia da tarde, na NO FRAME, em Campo de Ourique. Até lá.



segunda-feira, 19 de junho de 2023

Ai, as palavras...


Em Abril estive em Montpellier com esta exposição que parte de palavras de José Afonso para o mundo. Muito brevemente a mostra será instalada em outros lugares (Cá dentro e lá fora. Depois aviso), com desenvolvimentos que decorrem desta experiência em Montpellier. Calado é que não quero ficar. Mas hoje venho aqui mostrar o texto que a Ana Nogueira, notável artista, fez o favor de compôr para esta minha exposição e tão bem "ilustrou" o que estava ali mesmo à
vista mas não estávamos a ver. Muito Obrigado, Ana.

A PALAVRA PRECISA DE TERNURA
José Afonso. Obra Poética
O QUE PROPONHO, PORTANTO, É SIMPLES: NADA MAIS DO QUE PENSAR NO QUE ESTAMOS A FAZER.
Hannah Arendt. A Condição Humana
O pensamento torna-se imagem com as palavras. Elas têm o sentido da experiência, senão, para que as queremos? O discurso dentro do discurso é perigoso, esvazia as palavras da sua origem térrea, perfeito por ser puramente artifício, atropela a razão orgânica do pensamento: o discurso dentro do discurso é mentiroso e convincente.
José Teófilo Duarte preserva a condição fenomenológica das palavras através do processo. A ação sobre a matéria, que a transforma, é equivalente ao texto lido, sonhado, mas tornado visível. Por esta via, a existencial, está assegurada a vida das palavras, âncora entre a imaginação e a realidade. Até ao resultado final da matéria transformada, José Teófilo desconhece a sua forma e é fundamental não saber a priori, pois então para que serviria agir caso soubesse? O exercício do fazer põe à prova o texto pensado, ensaia a sua coerência com o espaço/tempo, ele percebe se é autêntico. Uma vez tornado claro, e se for preciso, exclui, recomeça, faz de novo, apura, agora com o conhecimento que a vivência lhe deu. Nas telas, o discurso está fora do discurso, exposto revela a sua inteira razão, a razão de Teófilo.
As palavras que compõem o discurso para se tornarem existência obrigam a um processo difícil por parte do artista quando se encontra no momento anterior à sua mate- rialização. A empreitada tem que ser individual, ou seja, a decisão sobre que caminhos tomar é do artista. Está acompanhado de todas as palavras que vivenciou, também elas já obra sua. Dubuffet opõe o carácter individual ao caráter social da arte, previne-se assim a obra impostora com a independência destes poderes. A criação artística de José Teófilo situa-se na manutenção deste confronto, um contraste que torna as partes vívidas.
Depois de estar no turbilhão do pensamento em ação avança no sentido da transformação, porque não há outro remédio, em diálogo metafísico, em duelo solitá(dá)rio. Há um compromisso com os outros, o da independência, se for preciso na transgressão inteligível da ordem, conflituando com a deferência. [Ana Nogueira]


domingo, 18 de junho de 2023

Ver para crer

Afinal a fotografia foi inventada muito antes do tempo em que é inscrita na História. Leonardo da Vinci foi fotografado, com a sua modelo Mona Lisa, três séculos antes da data que se atribui ao primeiro registo fotográfico. Surpresa extra: Marcelo já tinha inventado as selfies. Esta é a prova. E ainda há quem tenha dúvidas e tenha pedido esclarecimento de veracidade da primeira fotografia ao Polígrafo SIC. Há gente muito desconfiada.

Dia internacional contra o discurso de ódio

EXPERIMENTE-SE A MENTIRA. DÁ VOTOS | O discurso de ódio é um problema universal. O problema racial é  bem visível. A extrema-direita, que vive desse discurso sexista, misógino, racista e homofóbico, usa agora as redes sociais para se exprimir e para se alastrar como erva daninha. Mas o ódio e a manipulação sempre existiram. O tempo de Reagan, Tatcher e do papa polaco foi demolidor. O autocrata Cavaco já andava por aqui a desrespeitar a democracia e manteve-se até hoje experimentando a alarvidade ressabiada. Ventura é um competente praticante da baboseira sem trambelho. Hoje o discurso de ódio faz guerras, instala presidentes idiotas à frente de países e tudo experimenta para anular o pensamento crítico. A extrema-direita instala-se em países poderosos. O contraditório democrático está a ser substituído por "verdades inventadas". Nada se discute, tudo se afirma como verdade absoluta e vai para o saco da irrelevância. Pensar diferente é para velhos. A manipulação é empreendedora. Preferem-se líderes em todas as esquinas. Dispensam-se cidadãos bem formados. Dispensa-se a cultura. Estimula-se a "cultura" da pesquisa online. A mentira ferve e acumula-se em meninges preenchidas de ódio. Sempre foi assim? Se calhar sim, mas agora temos a chamada inteligência artificial a experimentar minar tudo. É perigoso e não percebemos ainda muito bem as consequências. Mas tememos o pior.

Nota final: não são aqui mencionados muitos praticantes do discurso de ódio por questões de higiene e porque são realmente muitos. Muitos mesmo. Seria um enjoo.

sábado, 17 de junho de 2023

Os malucos da bola

O primeiro-ministro fez escala na Hungria para assistir a um jogo da bola e dar um abraço a Mourinho. Também abraçou o líder da extrema-direita e actual presidente húngaro. Marcelo diz que tudo na boa. Justifica a cena como se da coisa mais natural da vida se tratasse. A malta da bola entende-se. Claro que é a coisa mais natural do mundo desviar-se um avião do Estado para ir ver a bola. É normal: os aviões do Estado devem servir os estadistas. Mas para ir abraçar o mete-nojo do Mourinho?! E assistir a um jogo ao lado de um delinquente político? Depois de tanta balbúrdia por causa de comportamentos lamentáveis, se calhar devia de haver mais cuidado na escolha das viagens. E dos abraços. Digo eu, que não vou em futebóis.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Adeus, Rui

RUI CUNHA | Soube agora pelo André Gago que morreu o Rui Cunha. Estive com ele pela última vez numa festa em casa do André. Falámos do passado em que nos conhecemos, de vinhos, de fotografia e da vida boa no campo. Era um excelente fotógrafo e um amante militante da natureza. Eu gostava muito do Rui. É muito triste perceber este fim. Foi bom conhecer-te. Muito obrigado, Rui Cunha.

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Um tal Berlusconi

Carmo Afonso é, na minha opinião, uma das pessoas que melhor opinião têm na imprensa que se publica em Portugal. No Público de ontem saiu este seu texto que opina sobre as homenagens de pesar pela morte de alguém que obviamente não as merece. Os mortos não são todos iguais. Exactamente porque os vivos também não. É ler.

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quarta-feira, 14 de junho de 2023

Receituário

Pelo que anuncia este cartaz desenhado pelo meu amigo Raúl (Culsete), no próximo sábado quatro amigos meus vão estar na adega Ermelinda de Freitas, aqui tão perto de minha casa. Parece que vão beber literatura e falar de vinho. Ou será que é ao contrário?! Nunca sei por onde se começa, quando a prova é de tão boa casta.

Claro que vou até ali dar um abraço à Inês, ao Sérgio, ao Henrique e ao André. Os livros deles já bebi, e os vinhos da Leonor (de Freitas) também. Vou lá conversar sobre isso. É tão bom conversar. Os livros ajudam muito.

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Receituário

É já amanhã, quinta-feira, que o João Francisco Vilhena vai conversar com o André Letria sobre isto, aquilo e mais aquilo ali. O João e o André são meus amigos. Já falei muito com eles. E garanto que eles sabem conversar. É por isso que vou lá conversar com eles. É muito bom conversar. Aprende-se sempre.

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terça-feira, 13 de junho de 2023

Racismo e Arte

AINDA O CARTAZ PALERMA E RACISTA | O autor do cartaz racista diz que chamar racista ao cartaz é exagerado. O parolo que lidera o partido fascista diz o mesmo. Para eles tudo é possível, desde que se pratique o racismo dizendo que não há racismo nessa prática. É opinião. É Arte, diz o autor. O homem acha-se artista, vejam só. 

Estes cartazes já foram exibidos em muitas manifestações. Quem os exibe são professores em luta. António Costa já tinha chamado a atenção para a violência dos frustes desenhos: "ninguém gosta de se ver com um lápis espetado no olho", disse em entrevista. Agora aludiu ao racismo também evidente. Todos os sindicatos se afastaram do violento protesto. Então quem patrocinou aquilo? Quem pagou as impressões gráficas? Foi o autor? O professor que assina a autoria diz, cinicamente, que o desenho representa um porco fofinho. É um miminho para o primeiro-ministro, acrescentou em modo vedeta do momento em entrevistas constantes para as televisões. Parece estar a fazer concorrência ao parolo fascista do Chega. O autor daquela coisa acha-se artista, e acha que pode apelar à violência porque isso é liberdade artística. Lápis espetados nos olhos já usou nos cartazes contra o ministro João Costa. Mas a esse não acrescentou focinho de porco. 

Conclusão: focinho de porco é só para quem não é branco. Os outros todos podem levar simplesmente com lápis a furar os olhos. É a liberdade artística de quem é rapadinho de ideias. 

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segunda-feira, 12 de junho de 2023

O cartaz racista e idiota

O cartaz da moda foi já rejeitado pelos sindicalistas respeitáveis e também pelos outros - os idiotas. Só mesmo o parolo do Chega, apesar de se afastar da manifestação de imbecilidade, diz que aquilo não é racista e subscreve a ideia sem problemas, o imbecil. O costume. O cartaz é estupidamente racista e o seu autor, se diz que não o é, é porque não percebe o que anda ali a fazer. É professor, dizem as notícias. Lamenta-se. O desenho é atribuído a um Pedro Brito que não é, obviamente, o ilustrador de gabarito que conhecemos. O Pedro resolveu esclarecer tudo, depois de ter sido associado à autoria daquele esterco racista e xenófobo. Claro que quem conhece o Pedro e a sua obra nunca teve qualquer dúvida. O Pedro Brito é um excelente artista. O seu nome está associado a muito bom trabalho na ilustração e na realização de cinema de animação. Resolveu comunicar o seu incómodo provocado por esta associação à alarvidade do seu homónimo. Eu partilho o seu esclarecimento. Pode alguém andar muito distraído.

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Dos sábios idiotas


Diz-me aqui a geringonça que publiquei isto há onze anos. O tempo não esbateu a ideia de Bukowski, que chegou a esta conclusão em meados do século passado. Surgem cada vez mais idiotas que se assumem como líderes dos idiotas que os seguem cegamente. Corremos riscos. Os idiotas são ferozes. Não deixam crescer nada à sua volta. São como erva daninha.

sábado, 10 de junho de 2023

Desabafo

E VIVER, NÃO É PRECISO? | Confesso que nunca pensei dizer isto: estou farto de turistas. Tropeçamos neles como se de pedras de calçada soltas se tratassem. Na zona onde trabalho diariamente, pululam entre a normal curiosidade e a anormal falta de respeito por quem lhes aparece pela frente. Já fui atropelado por um viajante alemão que se indignou por eu existir naquele preciso momento em que ele necessitava contra tudo e contra todos de entrar numa daquelas igrejas que estão frente uma à outra no Chiado. Dito isto, e relembrando que nunca pensei dizê-lo, acrescento então uma pergunta: para que querem outro aeroporto? Para meter mais gente na cidade? Aonde?

Precisamos de políticos que tenham a coragem de dizer: Não há mais aeroportos para ninguém. Quem quer cá vir que se ponha na bicha. Se não puder vir em maio vem em setembro. Se não puder em setembro vá para diabo que o carregue. Digo eu, que gosto de ir matar a curiosidade na terra dos outros, mas que detesto andar em demandas por um lugar numa esplanada. Lá fora, como cá dentro, a questão é a mesma: navegar é preciso, mas viver também, ao contrário do que diz a canção. Peço desculpa aos que discordam, mas esta é a minha sincera opinião. Que se lixe o novo aeroporto.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Das palavras

Salman Rushdie deu uma entrevista a Ana Daniela Soares, Transmitida no programa Todas as Palavras, a passar na RTP3. De entre tudo o que de muito importante disse, destaco a alusão à importância das palavras que ficam depois das ocorrências. Reis, presidentes, milionários podem praticar a soberba e a extrema vaidade, mas são as palavras dos escritores que ficam para contar essas veleidades assustadoras ou ridículas. É a literatura que aperfeiçoa a realidade, como sugeria Buckowski.

Também apreciei a sua preocupação com o crescimento da extrema-direita nos EUA e no mundo. Gente horrível percorre as alcatifas do poder. O que podemos fazer? O escritor prefere a inteligência das palavras, é claro. Ele desenvolve o seu papel com grande assertividade e talento. Leio Rushdie sempre com grande gosto e entusiasmo. Saio dos seus livros sempre mais crescido. Também prefiro as palavras.

Vá de Metro, Satanás



A frase foi inventada por Alexandre O'Neil. Virou polémica. O estado em que está o metropolitano de Lisboa actualmente poderia convocar o slogan. Circular naquelas carruagens é um happening permanente. Menos carruagens, provocando enchentes insuportáveis. Horários trapalhões. Escadas rolantes avariadas, em estações como a Baixa-Chiado, anunciando aos passageiros dezenas de degraus por percorrer.

Percebe-se que tudo o que mexe deve ter manutenção. As obras eram necessárias. Estava à vista. Mas não se percebe este desleixo, esta falta de respeito pelos utentes. As obras não justificam a desordem e o mal estar instalados. Sou utente. Estou indignado.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Receituário


ARTISTAS UNIDOS | E é já esta quinta-feira, dia 8 de Junho, que estreia ADAM de Frances Poet!, às 19h00 no Teatro da Politécnica.

ADAM de Frances Poet
Tradução: Nuno Gonçalo Rodrigues.
Com Eduarda Arryaga e Tomás de Almeida e as vozes de Andreia Bento, Francisco Silva, João Pedro Mamede, Pedro Carraca e Tiago Câmara Pereira Cenografia e Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Som André Pires Vídeo Marie Jiménez Consultoria Adam Kashmiry e Dani Bento (GRIT/ILGA Portugal). 
Encenação Andreia Bento e Nuno Gonçalo Rodrigues.
Teatro da Politécnica de 8 a 24 de Junho
3ª a 5ª às 19h00 | 6ª às 21h00 | Sáb às 16h00 e às 21h00
RESERVAS | 961960281 ou bilheteira@artistasunidos.pt
ADAM ESCOCÊS Em árabe, as palavras são masculinas ou femininas. É uma língua que gosta que as coisas sejam uma coisa ou a outra. Em inglês, dizes “the teacher” e não sei se é um homem ou uma mulher – é irrelevante. Eu gosto do inglês. Gosto das palavras que têm para as coisas. As palavras não são sempre preto no branco. Nem nós.
Quando nasces num país onde seres quem és te pode matar, o exílio é a única hipótese. Adam é a história verídica de um jovem trans: Adam Kashmiry. Do Egipto para a Escócia, a peça mostra a sua jornada para encontrar um lugar a que possa chamar lar. Um lugar em que possa existir.
Uma visão ressonante sobre o tema da identidade. Adam leva esta experiência pessoal para o campo universal do teatro. A dúvida e a dor, a esperança e o amor, a família e a solidão, a angústia e a certeza. Contrónimo – uma palavra que é uma coisa e o seu contrário.
Andreia Bento e Nuno Gonçalo Rodrigues

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Pelos bons ares


DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE | O plástico parecia uma revolução. Tornou-se uma preocupação. Os seres humanos abusam dos utensílios que têm à sua disposição. O plástico tornou-se uma javardice. O meio ambiente não conta para nada. Hoje em dia, já todos os governos ostentam um ministério do ambiente. Mas o ambiente continua em elevado estado de degradação. Vive-se mal com o bom ambiente.

Hoje comemora-se não sei bem o quê. Ah, sim, é mais um alerta. Venha ele. Livremo-nos do plástico sempre que possível. Usemos vidro e papel. Reciclemos. Sempre. Pelo bom ambiente. Pelos bons ares.

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sexta-feira, 2 de junho de 2023

Receituário


AGORA VOU BRINCAR, ESTÁ BEM? | Para vermos melhor estes trabalhos do Hugo temos que entrar numa máquina do tempo. A infância regressa ao nosso olhar cansado e farto de imagens sobre imagens. Quando crescemos, ou quando acreditamos que isso aconteceu, recorremos a seriedades absurdas. Perdemos a vontade de brincar. De errar e voltar a fazer. Não entendemos o fascínio da construção inicial. O prazer de emendar até atingirmos a ideia de que agora é que está bem. Em outros tempos as reprimendas, e, em muitos casos, as reguadas ferviam nas mãos de artistas de palmo e meio, incrédulos perante a estupidez do castigo. Estes trabalhos do Hugo aperfeiçoam esse fazer inicial e inesperado porque autêntico. Estes trabalhos, surpreendentes pela execução aparentemente descontra´ída e implicitamente irónica, revelam uma maturidade na recolha de elementos e na sua aplicação. Narrativa simples mas aqui e ali inesperadamente ousada. Circulamos no território da sofisticação formal e cromática. O Hugo despiu o bibe da infância há um bocadinho. Depois cresceu, brincou, olhou à sua volta, estudou, brincou outra vez, voltou a estudar, mas nunca mais parou de viver e de olhar à sua volta. É por isso que faz isto tão bem. [José Teófilo Duarte]

AINDA ACREDITO QUE O CÉU É AZUL
Pintura de Hugo Castilho
Casa da Cultura, Setúbal. Espaço galeria
Abertura dia 3 de junho. 18:00 horas

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Ver sem mexer

É como se nos deixassem ficar durante uma noite num museu. Modelos saem do escuro. Despem-se. Experimentam expôr-se aos artistas em posições delicadas. Observam. São observados. Os artistas adormeceram. De repente surge alguém. Um guarda? Um visitante mais distraído? Não se percebe. Os corpos despidos circulam. Enleiam-se. Existe entre estas paredes uma nítida apologia da intimidade feminina. A artista que fotografa regista a proteção. O aconchego. O conforto desta nudez tão pura e inquietante. O fascínio que a visualização destes ambientes transmite provoca melancolia. Nostalgia das pinturas e das esculturas de outras vidas? Talvez. Mas surpresa também. Apetece-nos dizer: tocar não se pode. Mas percebemos que a tentação exista. Queremos perceber o que estamos a ver. Agrada-nos esta companhia. Parece que já "lemos” isto em qualquer lado. A Literatura explica tanta coisa que olhamos e que não percebíamos até aí. Estas imagens são metáforas visuais para lermos e reflectirmos. Está tudo na Literatura. Esta exposição da Mariana Castro também. E dava um livro. Dos bons.

NE TOUCHE PAS
Fotografia de Mariana Castro
Casa da Cultura, Setúbal. Espaço galeria João Paulo Cotrim
Abertura dia 3 de junho. 2023