É como se nos deixassem ficar durante uma noite num museu. Modelos saem do escuro. Despem-se. Experimentam expôr-se aos artistas em posições delicadas. Observam. São observados. Os artistas adormeceram. De repente surge alguém. Um guarda? Um visitante mais distraído? Não se percebe. Os corpos despidos circulam. Enleiam-se. Existe entre estas paredes uma nítida apologia da intimidade feminina. A artista que fotografa regista a proteção. O aconchego. O conforto desta nudez tão pura e inquietante. O fascínio que a visualização destes ambientes transmite provoca melancolia. Nostalgia das pinturas e das esculturas de outras vidas? Talvez. Mas surpresa também. Apetece-nos dizer: tocar não se pode. Mas percebemos que a tentação exista. Queremos perceber o que estamos a ver. Agrada-nos esta companhia. Parece que já "lemos” isto em qualquer lado. A Literatura explica tanta coisa que olhamos e que não percebíamos até aí. Estas imagens são metáforas visuais para lermos e reflectirmos. Está tudo na Literatura. Esta exposição da Mariana Castro também. E dava um livro. Dos bons.
NE TOUCHE PAS
Fotografia de Mariana Castro
Casa da Cultura, Setúbal. Espaço galeria João Paulo Cotrim
Abertura dia 3 de junho. 2023