O CÉU DESABADO - ÚLTIMAS REPRESENTAÇÕES | A exposição de Ana Nogueira está quase a ser desmontada. Mas não precisam de vir a correr. Nós vamos estar cá até às oito da noite desta sexta-feira, dia 28. Venham até cá e bebam um copo connosco. Tudo isto é muito recomendável.
sexta-feira, 28 de março de 2025
quarta-feira, 26 de março de 2025
José Brandão
Morreu José Brandão. Foi um dos mais importantes designers portugueses. Como ilustrador criou uma linguagem única. Desenho de grande rigor e de traço surpreendente. Os desenhos são feitos com a cultura de cada um. O cérebro ajuda e a mão ajuda o cérebro. Um artista de mão segura e de cérebro esclarecido e atento. Deixa-nos muito trabalho gráfico impresso. Mas foi também um professor recordado por alunos de várias gerações.
Parlamento das direitas q.b.
Montenegro quer nos debates "todos os parceiros” da coligação com assento parlamentar, título de notícia da Lusa.
terça-feira, 25 de março de 2025
Um mau palhaço mau
Poema em linha reta
domingo, 23 de março de 2025
Receituário

O chefe de uma certa aldeia gaulesa tinha apenas um medo a atormentá-lo: que o céu lhe caísse em cima da cabeça. "O céu desabado" de Ana Nogueira não nos vai atingir. Vamos poder circular por este céu em perfeita segurança e com muito prazer. Estes desenhos desafiam a habilidade corriqueira. Vão mais além do jeitinho decorativo. Rejeitam a facilidade e colocam-se no patamar da exigência estética. Este encerramento, na próxima sexta-feira, vai ser uma festa. Vamos ter petiscos e um dos melhores vinhos portugueses. Quem puder ou quem quiser aparecer não se vai arrepender. Toda a gente é bem vinda. Até lá.facebook
Maior que o pensamento
Conheci Herberto Helder no princípio dos anos oitenta do século em que ele e eu nascemos. Gente antiga que pertence a outro século. Eu organizava uns encontros literários e artísticos no Círculo Cultural de Setúbal a que chamei "Dois dedos de conversa com... ". Nestes encontros participaram muitos dos protagonistas culturais da época. Mais ou menos como hoje acontece com o "Muito cá de casa", na Casa da Cultura, situada no local onde funcionava o Círculo e se davam as referidas conversas.
Eu ía para Lisboa todos os dias para aprender qualquer coisa. Circulava entre o AR.CO e a SNBA, e no fim das aulas encontrava-me com poetas, romancistas, artistas e jornalistas que paravam no Expresso, um bar que existia ao lado da livraria/galeria Libris. A livraria/galeria era propriedade do meu amigo Aníbal Telo, editor da Forja. O Telo apresentou-me a um mar de gente que valeu a pena conhecer. A minha primeira exposição de trabalhos visuais foi neste lugar de encontro e fruição intelectual. Baptista-Bastos, Manuel da Fonseca, Adriano Correia de Oliveira, Vitorino, Virgílio Martinho, José Carlos González, Vitor Tavares Manaças, Luiz Pacheco, Aldina Costa, Aníbal Fernandes, Hipólito Clemente (que dirigia a livraria Opinião, ali muito perto), Herberto Helder, e muitos outros e outras que ao fim da tarde não dispensavam o trajecto entre o Expresso, a Libris, o Estibordo e o pequeno restaurante situado mesmo no princípio das escadinhas do Duque. O Adriano era mais Trindade (cervejaria). Um dia encontrei-me por ali com José Afonso e lá fomos todos petiscar à Trindade. Lembro-me do jantar todo. De tudo isto resta só mesmo a Trindade e o tal restaurantezinho das escadinhas do Duque de que não me lembro se tem nome. Os espaços são outra coisa e as pessoas já não estão cá. Só o Vitorino e o Anibal Fernandes continuam vivos e activos. E eu, já agora, que estou agora a contar estas coisas.
Herberto Helder morreu no dia 23 de março de 2015. Foi há precisamente 10 anos. Recordo-o no dia em que o livro tem dia mundial. Isto anda tudo ligado, lá escreveu Eduardo Guerra Carneiro. Mas agora vou contar a minha história pessoal com o poeta de "O amor em visita". A primeira vez que falei com Herberto Helder foi assim desta singela maneira: entrei na Libris e perguntei ao livreiro — lamento não me lembrar do nome deste senhor tão simpático e tão competente — onde era a galeria Leo. Herberto Helder, ali presente, ao ouvir-me, levanta-se do sofá onde se instalava, põe-me o braço por cima do ombro e diz-me rigorosamente estas palavras: "É para a exposição do José Escada, não é?". É, respondi. "Venha comigo". E lá fomos, eu e o poeta caminhando pelo Largo Trindade Coelho até à entrada da Travessa da Queimada, onde se situava a galeria. "É ali ao fundo, no lado direito. Depois passe por aqui para me dizer o que achou". Senti aquele desafio como uma grande responsabilidade. Eu, curiosa criatura, mas iniciante nestes convívios, saberia lá o que dizer sobre o trabalho de um artista que tanto admirava a outro que considerava, e considero, um génio do nosso tempo? Cheguei à galeria absorto num turbilhão de sentimentos: uma pilha de nervos entrecortada entre a euforia e o regalo. A exposição de José Escada causou-me uma inquietação do caraças. Um espanto visual. Um delírio de informação estética. O proprietário/galerista era uma figura incrível. Uma produção visual. Parecia personagem de Hergé. Sim, tinha um certo ar de Tintin, e transbordava conhecimento e simpatia. Estive na pequena galeria mais de uma hora. Ainda me lembro de todos os motivos de conversa. Ao sair da galeria lembrei-me da "ordem" de Herberto e desloquei-me ligeiro para a livraria. O poeta já não estava lá. Nem na livraria, nem no Expresso, nem no Estibordo, nem nas escadinhas. Já tinha ido para o Cais do Sodré, para apanhar o comboio para a chamada "linha". Morava por lá, esclareceu-me o simpático livreiro. A conversa sobre a pintura de José Escada ficou para outro dia. Essa e muitas outras conversas se deram por estes lugares de encontro, mas também na livraria da Assírio e Alvim, na rua Passos Manuel, onde eu ía frequentemente encontrar-me com a Luísa (Cruz) e o Homero (Cardoso). Herberto Helder nunca falava de poesia. Nem da sua nem da dos outros. Irritava-se mesmo a sério quando lhe pediam opinião. Falei com Herberto de cinema, de artes visuais, de política e de comportamentos. Soube-me a pouco, mas foi tão bom...
Considero Herberto Helder um grande senhor do nosso tempo, não apenas como escritor, poeta, pensador, mas também como praticante de atitudes maiores. Confesso que neste dia em que se assinala o seu fim, sinto saudades desses encontros. Nestes dias sinto a sorte que tenho tido em conhecer tanta gente que deu tanto às nossas vidas. Se fosse religioso agradecia a um qualquer deus generoso e bom. Como não o sou, agradeço à vida e a toda a gente que comigo se tem cruzado. Há privilégios que se agradecem.
sábado, 22 de março de 2025
sexta-feira, 21 de março de 2025
Os novos fascistas
Provavelmente quem diz que Trump não é fascista tem razão. Vejamos. O fascismo nasceu em Itália e por lá morreu, dizem os "historiadores" que nos pretendem desmentir. O problema está no reconhecimento desta morte. O fascismo morreu? Onde está a certidão? O fascismo, antes daquele colapso que sofreu em Itália, já se tinha expandido pelo mundo. E agora, com Meloni voltou em força. Também Portugal aturou um bando de fascistas corruptos admoestados por Salazar, o "não-corrupto" que permitia os atropelos causados pelos seus cães de guarda para se aguentar no poder. Salazar mandava prender, torturar, censurar, apagar, porque assim tinha o bando de corruptos na mão. Estes biltres que manipulam e reprimem têm um nome. Habituámo-nos a chamar-lhes ditadores.
Trump ultrapassa todos os dias o gigante da história — GIGANTRUMP — que o Daniel Tércio e o João Tércio publicaram. A realidade ultrapassa negativamente a ficção a uma velocidade que assusta. Estamos assustados, mas não vamos deixar de reagir. O susto não pode apagar a nossa vontade de combater este novo fascismo. E todas as acções são válidas. No próximo dia 27 vamos falar deste filme pornográfico que está a passar em sessões contínuas nos Estados Unidos da América e no mundo. A Dora Patalim e a Rosa Azevedo vão falar do livro, e o livro vai ser o pretexto para falarmos disto tudo. Apareçam.
quinta-feira, 20 de março de 2025
Quando vier a primavera...
Quando vier a primavera,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
ALBERTO CAEIRO, Poesia. Obras de Fernando Pessoa
As árvores morrem de pé
Esta frase foi título de uma peça que marcou o teatro em Portugal, mas pode muito bem aplicar-se às peças que Vitor Ribeiro vai mostrar no MAEDS - Museu de Arqueologia e Etnologia do Distrito de Setúbal. Chamou à mostra PEDRA NUA.
A exposição abre no próximo sábado, dia 22, às quatro horas da tarde, e eu vou lá confirmar tudo isto que estou para aqui a dizer.
quarta-feira, 19 de março de 2025
Coisas de Pai
Este é o meu pai, aqui desenhado por um senhor desenhador que assina: J. S. Neto. O desenho é de 1949, o meu pai tinha 29 anos e eu ainda não era projecto. O meu pai chamava-se José Jacinto Duarte e foi um bom homem.
terça-feira, 18 de março de 2025
Não há fome que não dê em fartura
Os meus avós queixavam-se de não os terem deixado ir às urnas. Agora diz-se por aí que o povo vai às urnas contrariado. É um fartote de eleições. Não há fome que não dê em fartura. O infelizmente primeiro-ministro também não queria eleições, mas provocou-as. O infelizmente ainda primeiro-ministro vê a política como um electrodoméstico familiar. Casas, casinhas e casinos são árvore de patacas. Se o povo que vai contrariado às urnas eleger este negociante descarado, que não hesita em ter negócios com gente de jogos de casino, vamos ter um grande sarilho por muito tempo. Montenegro é evidentemente um negociante que se aproveita da sua acção política. Só não vê quem não quer estar para aí virado. Mas se o dito povo votar noutro sentido também não vamos ter sol na eira. Este país vai ficar ingovernável. Culpa? Do Presidente que com as suas percepções e decisões levou-nos a este estado, e do primeiro-ministro que "está a adorar governar". Um partido fascista cresceu, e um parolo com linguagem corporal foleira a olho e implantes capilares aparentemente pintados com graxa de sapato chegou a primeiro-ministro. O salve-se quem puder do neoliberalismo mais feroz está na moda e tem apoio popular. Gente manhosa, sem valores culturais e sem preocupações sociais está a chegar ao poder em muitos lugares do planeta. Portugal segue sempre as modas "lá de fora". Teme-se o pior. Mas deixem lá a malta ir votar. Quem não quiser fique em casa. Não queremos cá povos contrariados.
segunda-feira, 17 de março de 2025
Inesquecível
O Fernando Sobral assegurava todas as sextas-feiras estas duas páginas — Sociedade recreativa —, no Jornal Económico. Em 2022, neste dia 18 de março, passam hoje três anos, escrevia sobre o livro onde João Paulo Cotrim pôs texto e João Francisco Vilhena fotografias.
O Fernando escrevia como ninguém. Calhava escrever sobre relógios. Tornou-se um especialista. Ía à Suiça para lançamentos e apresentações de novos modelos. Eu cheguei a aconselhar-me com ele quando quis comprar um relógio de uma marca que não conhecia, mas que me agradava esteticamente. Aconselhou-me a compra e contou-me a vida do objecto desde o seu nascimento. Não havia assunto que lhe provocasse receios. Artigos de luxo ou artesanatos, livros, músicas, artes visuais, cinema, política, banda desenhada, ilustração, atitudes, tudo se alinhava no conhecimento deste brilhante conhecedor das letras e da sua utilidade. Foi um escritor de relevo. Já depois da sua morte foi publicado por Francisco José Viegas, na Quetzal, o seu último romance: "O Jogo das Escondidas". Macau é o mote, e a história é deliciosa. Conversei com o Fernando sobre tudo o que nos passou pela cabeça em inúmeros almoços e outros encontros. Foi à Casa da Cultura, Setúbal, conversar com os seus leitores, juntamente com outro amigo e escritor de méritos firmados: Rui Cardoso Martins. Noite inesquecível.
O Fernando morreu dois meses depois da publicação destas páginas no Jornal Económico, a 16 de maio de 2022. Guardei as páginas impressas e releio-as agora com a saudade a entristecer-me. Foi bom conhecer o Fernando e a sua obra que fica e que nos informa da qualidade humana e intelectual deste ser humano único. Quem o conheceu sabe que é esta a verdade. A saudade é tramada.
domingo, 16 de março de 2025
Um criminoso a prémio Nobel da paz?
Trump atacou a capital do Iémen matando dezenas de pessoas e deixando feridas mais de uma centena. Foi ele próprio que comandou ao segundo a operação. Os imbecis que apoiam Trump não falam em mais nada: querem o prémio Nobel da paz para o criminoso que os ilude. Este candidato ao prémio Nobel diz fazer a guerra como medida preventiva. Ataca para não ser atacado. Espalha o terror para garantir a paz. Um criminoso no poder tem destas coisas: tudo está a ser feito ao contrário. De cabeça para baixo. Ou de cabeça perdida. Trump exerce o poder pensando com a sua própria cabeça. O problema é que tem a cabeça cheia de merda.
Em voz alta - o regresso
Foi um recital de uma poesia que está a sair do papel, agora, e que parece ter sido feita para ser dita, agora já a seguir, em voz alta. António Simão apresentou-a e deu-lhe uma direcção. Inês Pereira e Raquel Montenegro deram-lhe vida, outra vida, diga-se.
sábado, 15 de março de 2025
Era uma vez um regime fascista que caiu em 25 de Abril de 1974
Foi um fim de tarde muito bonito. Encontrámo-nos na sala José Afonso, da Casa da Cultura, Setúbal, para falarmos do livro A CAMINHO DO 25 DE ABRIL, de Luísa Tiago de Oliveira. Sérgio Campos Matos fez uma apresentação brilhante, analisando os factos que Luísa Tiago de Oliveira refere no livro. Luìsa Tiago de Oliveira revelou o que a motivou para encetar a empreitada, Carlos Almada Contreiras foi referência.
Como digo logo no inicio deste meu desabafo, este foi um fim de tarde muito bonito. Foi dos momentos mais bonitos que vivi na Casa da Cultura. Não sou nada de bairrismos, nacionalismos ou patriotismos serôdios, mas não resisti em pedir ao meu amigo Fernando Pinho para fazer um registo em que me coloco orgulhoso ao lado do meu conterrâneo que tratou de ir acabar com a imundice fascista que se alojava na rua António Maria Cardoso. Foi um fim de tarde bonito. Muito bonito. Parafraseando Tiago Rodrigues, esta é uma maneira de sentirmos a beleza de matar fascistas. Metaforicamente falando, mas com aquela sensação de estarmos a fazer qualquer coisa que contribui para o combate à ignorância e à estupidez. Os fascistas ignorantes são estúpidos. Os que não são estúpidos são requintados biltres. É combatê-los. Sempre!
Nota: José Pacheco Pereira não esteve presente para poder participar nas cerimónias fúnebres de Miguel Macedo, falecido inesperadamente.
sexta-feira, 14 de março de 2025
Poesia em voz alta
A ideia é de Jorge Silva Melo: colocar na voz de gente do teatro poetas com boas surpresas literárias. Em anteriores sessões tivemos o convívio de poetas como Raúl Leal, Herberto Helder, Camões, Fernando Pessoa, Cesário Verde, Luís Filipe Castro Mendes, José Afonso, Bocage, entre muitos outros, ditos por actrizes e actores como Lia Gama, Maria João Luís, António Simão, Catarina Wallenstein, Nuno Gonçalo Rodrigues, Luís Lucas ou Manuel Wiborg.
quinta-feira, 13 de março de 2025
Saudades do João Paulo Cotrim
O João Paulo Cotrim faria hoje anos. Como ele não está cá, nós vamos recordá-lo neste encontro de amigos que o João Francisco Vilhena preparou, e que ocorre dentro da exposição que recorda o último texto publicado pelo João Paulo. As imagens foi o João Francisco que fez, a olhar para as nuvens. Os textos vão ser lidos pela Inês (Fonseca Santos), pelo André (Gago), pelo Carlos (Querido), Pelo Nuno (Miguel Guedes) e pelo Pedro (Saavedra). A música é de outro Pedro (Oliveira), que andou pelos Sétima Legião e por outros mares.
quarta-feira, 12 de março de 2025
No meu tempo...
terça-feira, 11 de março de 2025
Votar não é pecado, senhores comentadores
Comentadores e analistas mais específicos andam muito preocupados com o nosso cansaço colectivo. O povo está farto de eleições, dizem, a propósito deste imbróglio que Luís Montenegro criou.
Jornalismo de pacote
Foi interessante percebermos as diferenças entre as entrevistas a Pedro Nuno Santos, conduzida por Clara de Sousa, na SIC, e a Luís Montenegro, na conversa com Sandra Felgueiras, na CNN/TVI.
Isto anda mesmo tudo ao contrário. Desde Trump e Bolsonaro que quem mente e falha é que é vedeta de televisão. O jornalismo pede espectáculo, e há políticos com vontade de participar na palhaçada. É assim uma espécie de jornalismo circense.