sexta-feira, 28 de março de 2025

Finissage

O CÉU DESABADO - ÚLTIMAS REPRESENTAÇÕES | A exposição de Ana Nogueira está quase a ser desmontada. Mas não precisam de vir a correr. Nós vamos estar cá até às oito da noite desta sexta-feira, dia 28. Venham até cá e bebam um copo connosco. Tudo isto é muito recomendável.

quarta-feira, 26 de março de 2025

José Brandão


Morreu José Brandão. Foi um dos mais importantes designers portugueses. Como ilustrador criou uma linguagem única. Desenho de grande rigor e de traço surpreendente. Os desenhos são feitos com a cultura de cada um. O cérebro ajuda e a mão ajuda o cérebro. Um artista de mão segura e de cérebro esclarecido e atento. Deixa-nos muito trabalho gráfico impresso. Mas foi também um professor recordado por alunos de várias gerações.

Realço aqui capas de três discos fundamentais para a história da música portuguesa: "Coro dos Tribunais", de José Afonso; "Por este rio acima", de Fausto; "Pano Cru", de Sérgio Godinho. Mas deu-nos muito mais. Muito livro, folheto, cartaz, imagem corporativa, visualizações várias e de grande qualidade visual. É justo dizer: devemos-lhe muito.
Participou em duas edições da Festa da Ilustração, Setúbal, com exposições de grande relevo, e também na exposição sobre as capas dos discos de José Afonso que se instalou na Casa da Cultura em Maio de 2017. Visitámo-lo, eu e a Ana Nogueira, no seu atelier, para preparamos as exposições. A Ana escreveu o texto inserido no "Jornal da Festa" e fez a curadoria da exposição. Foi muito bom trabalhar com José Brandão. Perdemos um grande artista visual. Perdi um amigo. Muito obrigado, Zé Brandão.

Parlamento das direitas q.b.

Montenegro quer nos debates "todos os parceiros” da coligação com assento parlamentar, título de notícia da
Lusa.

Mas então que raio de democracia é essa? O fadista marialva carregadinho de "aficion" não foi eleito porque não estava colocado em lugar elegível, mas tem direito a um lugar nos debates, que é lá isso? Vai deixar que fuja para o partido fascista unipessoal do indescritível Ventura? E também deve ir para o governo, pois então. O fadista líder e muitos outros. Há por aí toureiros que dariam bons ministros da educação, e fadistas marialvas ministros da cultura. Esconde tão nobre gente porquê? Tem vergonha das verdades educacionais e culturais? O líder dos monárquicos portugueses dava com toda a certeza para desempenhar esse papel. Seria um papelinho. Pense nisso.

terça-feira, 25 de março de 2025

Um mau palhaço mau

Um quase confesso nazi  — ele já justificou a simpatia pela eliminação de pessoas nas câmaras de gás nos campos de extermínio nazis — entrevistou um comunista que é secretário-geral do seu partido. Olhando pelo retrovisor o passado do nazi quase confesso nestas andanças perguntadoras, nada de bom seria de esperar. O homem é um tatibitate profissionalmente e um atrapalhado mentalmente. Como "escritor" não tem ponta por onde se lhe pegue, e como jornalista é uma anedota. Dou razão a quem aconselha os candidatos de esquerda a não porem lá os presuntos, quando é o estupor a fazer inquéritos. A não ser que seja para treinos para os debates eleitorais com o manhoso do Ventura. Aproveitem a maldade do palhaço. Há males que podem vir por bem.

Poema em linha reta


OS RIDÍCULOS | São tão fantásticos, os detentores de toda a razão. Tão engraçados, os moralistas justicialistas. Ridículos?, nunca. Que o diga Fernando Pessoa, com este "poema em linha recta", dito aqui por Osmar Prado, em conversa descontraída de episódio de telenovela. Nem tudo é tão ligeiro como parece. Notável interpretação.

domingo, 23 de março de 2025

Receituário


O chefe de uma certa aldeia gaulesa tinha apenas um medo a atormentá-lo: que o céu lhe caísse em cima da cabeça. "O céu desabado" de Ana Nogueira não nos vai atingir. Vamos poder circular por este céu em perfeita segurança e com muito prazer.  Estes desenhos desafiam a habilidade corriqueira. Vão mais além do jeitinho decorativo. Rejeitam a facilidade e colocam-se no patamar da exigência estética. Este encerramento, na próxima sexta-feira, vai ser uma festa. Vamos ter petiscos e um dos melhores vinhos portugueses. Quem puder ou quem quiser aparecer não se vai arrepender. Toda a gente é bem vinda. Até lá.

facebook



Maior que o pensamento

Conheci Herberto Helder no princípio dos anos oitenta do século em que ele e eu nascemos. Gente antiga que pertence a outro século. Eu organizava uns encontros literários e artísticos no Círculo Cultural de Setúbal a que chamei "Dois dedos de conversa com... ". Nestes encontros participaram muitos dos protagonistas culturais da época. Mais ou menos como hoje acontece com o "Muito cá de casa", na Casa da Cultura, situada no local onde funcionava o Círculo e se davam as referidas conversas. 

Eu ía para Lisboa todos os dias para aprender qualquer coisa. Circulava entre o AR.CO e a SNBA, e no fim das aulas encontrava-me com poetas, romancistas, artistas e jornalistas que paravam no Expresso, um bar que existia ao lado da livraria/galeria Libris. A livraria/galeria era propriedade do meu amigo Aníbal Telo, editor da Forja. O Telo apresentou-me a um mar de gente que valeu a pena conhecer. A minha primeira exposição de trabalhos visuais foi neste lugar de encontro e fruição intelectual. Baptista-Bastos, Manuel da Fonseca, Adriano Correia de Oliveira, Vitorino, Virgílio Martinho, José Carlos González, Vitor Tavares Manaças, Luiz Pacheco, Aldina Costa, Aníbal Fernandes, Hipólito Clemente (que dirigia a livraria Opinião, ali muito perto), Herberto Helder, e muitos outros e outras que ao fim da tarde não dispensavam o trajecto entre o Expresso, a Libris, o Estibordo e o pequeno restaurante situado mesmo no princípio das escadinhas do Duque. O Adriano era mais Trindade (cervejaria). Um dia encontrei-me por ali com José Afonso e lá fomos todos petiscar à Trindade. Lembro-me do jantar todo. De tudo isto resta só mesmo a Trindade e o tal restaurantezinho das escadinhas do Duque de que não me lembro se tem nome. Os espaços são outra coisa e as pessoas já não estão cá. Só o Vitorino e o Anibal Fernandes continuam vivos e activos. E eu, já agora, que estou agora a contar estas coisas.

Herberto Helder morreu no dia 23 de março de 2015. Foi há precisamente 10 anos. Recordo-o no dia em que o livro tem dia mundial. Isto anda tudo ligado, lá escreveu Eduardo Guerra Carneiro. Mas agora vou contar a minha história pessoal com o poeta de "O amor em visita". A primeira vez que falei com Herberto Helder foi assim desta singela maneira: entrei na Libris e perguntei ao livreiro — lamento não me lembrar do nome deste senhor tão simpático e tão competente — onde era a galeria Leo. Herberto Helder, ali presente, ao ouvir-me, levanta-se do sofá onde se instalava, põe-me o braço por cima do ombro e diz-me rigorosamente estas palavras: "É para a exposição do José Escada, não é?". É, respondi. "Venha comigo". E lá fomos, eu e o poeta caminhando pelo Largo Trindade Coelho até à entrada da Travessa da Queimada, onde se situava a galeria. "É ali ao fundo, no lado direito. Depois passe por aqui para me dizer o que achou". Senti aquele desafio como uma grande responsabilidade. Eu, curiosa criatura, mas iniciante nestes convívios, saberia lá o que dizer sobre o trabalho de um artista que tanto admirava a outro que considerava, e considero, um génio do nosso tempo? Cheguei à galeria absorto num turbilhão de sentimentos: uma pilha de nervos entrecortada entre a euforia e o regalo. A exposição de José Escada causou-me uma inquietação do caraças. Um espanto visual. Um delírio de informação estética. O proprietário/galerista era uma figura incrível. Uma produção visual. Parecia personagem de Hergé. Sim, tinha um certo ar de Tintin, e transbordava conhecimento e simpatia. Estive na pequena galeria mais de uma hora. Ainda me lembro de todos os motivos de conversa. Ao sair da galeria lembrei-me da "ordem" de Herberto e desloquei-me ligeiro para a livraria. O poeta já não estava lá. Nem na livraria, nem no Expresso, nem no Estibordo, nem nas escadinhas. Já tinha ido para o Cais do Sodré, para apanhar o comboio para a chamada "linha". Morava por lá, esclareceu-me o simpático livreiro. A conversa sobre a pintura de José Escada ficou para outro dia. Essa e muitas outras conversas se deram por estes lugares de encontro, mas também na livraria da Assírio e Alvim, na rua Passos Manuel, onde eu ía frequentemente encontrar-me com a Luísa (Cruz) e o Homero (Cardoso). Herberto Helder nunca falava de poesia. Nem da sua nem da dos outros. Irritava-se mesmo a sério quando lhe pediam opinião. Falei com Herberto de cinema, de artes visuais, de política e de comportamentos. Soube-me a pouco, mas foi tão bom...

Considero Herberto Helder um grande senhor do nosso tempo, não apenas como escritor, poeta, pensador, mas também como praticante de atitudes maiores. Confesso que neste dia em que se assinala o seu fim, sinto saudades desses encontros. Nestes dias sinto a sorte que tenho tido em conhecer tanta gente que deu tanto às nossas vidas. Se fosse religioso agradecia a um qualquer deus generoso e bom. Como não o sou, agradeço à vida e a toda a gente que comigo se tem cruzado. Há privilégios que se agradecem.

facebook


sábado, 22 de março de 2025

Pela natureza

Respeito e protecção. Pela nossa sobrevivência.

facebook

sexta-feira, 21 de março de 2025

Os novos fascistas


Provavelmente quem diz que Trump não é fascista tem razão. Vejamos. O fascismo nasceu em Itália e por lá morreu, dizem os "historiadores" que nos pretendem desmentir. O problema está no reconhecimento desta morte. O fascismo morreu? Onde está a certidão? O fascismo, antes daquele colapso que sofreu em Itália, já se tinha expandido pelo mundo. E agora, com Meloni voltou em força. Também Portugal aturou um bando de fascistas corruptos admoestados por Salazar, o "não-corrupto" que permitia os atropelos causados pelos seus cães de guarda para se aguentar no poder. Salazar mandava prender, torturar, censurar, apagar, porque assim tinha o bando de corruptos na mão. Estes biltres que manipulam e reprimem têm um nome. Habituámo-nos a chamar-lhes ditadores.

O que se passou em Espanha, Brasil, Chile, Argentina e em outros sítios caídos nessa desgraça, foi uma aplicação das regras dos velhos fascistas, mas com adaptações circunstanciais. Houve um "fascismo à portuguesa" e houve outros fascismos consoante os folclores regionais. Todos diferentes, mas todos com objectivos iguais. Houve um tempo em que estes biltres começaram a ser varridos das carpetes do poder. A diferença entre esquerda e direita percebe-se bem quando recordamos o que então aconteceu. A esquerda aplica ideias que combatem os fascismos e fazem avançar a tolerância e põem a inteligência acessível a todos. Promove direitos e apoia os de baixo. A direita promove o egoísmo. Entrega tudo a quem já tem muito e retira tudo aos que conquistaram direitos e alguma qualidade de vida. Dizem que tem de ser assim para a economia funcionar.
Trump, Musk e Vance actuam segundo o catecismo do neoliberalismo mais vil e agressivo. Não respeitam avanços civilizacionais e aplicam o que a agenda que adoptaram dita. Despedem gente que trabalha bem — funcionários, cientistas e professores que percebem o que está a acontecer —, retiram apoios justos a quem precisa, deportam emigrantes decretando-os criminosos e entregam-nos à mais vil tirania. Trump é um ditador. A democracia já não mora ali. Musk e Vance são os novos fascistas que querem controlar o mundo. Sim, a agenda desta gente repugnante é a do fascismo para este novo século. As acções adaptam-se aos novos tempos. Musk tem um exército multimédia que alastra a mentira e a indignidade. Vance e Trump têm a mioleira cheia de ódio. Só sabem e só querem odiar.

Trump ultrapassa todos os dias o gigante da história — GIGANTRUMP — que o Daniel Tércio e o João Tércio publicaram. A realidade ultrapassa negativamente a ficção a uma velocidade que assusta. Estamos assustados, mas não vamos deixar de reagir. O susto não pode apagar a nossa vontade de combater este novo fascismo. E todas as acções são válidas. No próximo dia 27 vamos falar deste filme pornográfico que está a passar em sessões contínuas nos Estados Unidos da América e no mundo. A Dora Patalim e a Rosa Azevedo vão falar do livro, e o livro vai ser o pretexto para falarmos disto tudo. Apareçam.

facebook

quinta-feira, 20 de março de 2025

Quando vier a primavera...

Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

ALBERTO CAEIRO, Poesia. Obras de Fernando Pessoa
Edição: Fernando Cabral Martins, Richard Zenith. Lisboa: Assírio & Alvim. 2001.

As árvores morrem de pé

 

Esta frase foi título de uma peça que marcou o teatro em Portugal, mas pode muito bem aplicar-se às peças que Vitor Ribeiro vai mostrar no MAEDS - Museu de Arqueologia e Etnologia do Distrito de Setúbal. Chamou à mostra PEDRA NUA.

Vitor Ribeiro molda na pedra àrvores robustas que nos sugerem uma natureza reinventada. Estas árvores não caem nem que as tentem derrubar. São objectos consistentes na sua condição física, mas também intelectualmente. São fortes como pedra, se me permitem a ironia. Se as rodearmos e procurarmos bem até podem dar sombra, mas não é para isso que são esculpidas estes pedregulhos pesados e rijos. As preocupações do escultor prendem-se com os atropelos ambientais que nos ameaçam. Estas árvores não são árvores. Então, o que são? A arte não imita a natureza; melhora a nossa noção de realidade. Informa-nos e forma-nos. Estes objectos estéticos alertam-nos para o que está para vir. São outras árvores que Vitor Ribeiro encontrou na sua imaginação. São modelos sem existência. Expostas num museu que mostra arqueologia, mostram algo que já não existe. São pedras de uma arqueologia inventada. A natureza sem árvores seria um problema. As árvores de Vitor Ribeiro, mostradas neste sábado, Dia Internacional das Florestas e Dia Mundial da Árvore, revelam essa preocupação e acrescentam uma floresta de prazer ao nosso olhar.

A exposição abre no próximo sábado, dia 22, às quatro horas da tarde, e eu vou lá confirmar tudo isto que estou para aqui a dizer.

facebook

quarta-feira, 19 de março de 2025

Coisas de Pai

Este é o meu pai, aqui desenhado por um senhor desenhador que assina: J. S. Neto. O desenho é de 1949, o meu pai tinha 29 anos e eu ainda não era projecto. O meu pai chamava-se José Jacinto Duarte e foi um bom homem.

Ensinou-me muitas coisas que ainda hoje sei e outras que já esqueci, mas lembro-me de ele me as ter ensinado. Mas claro que me lembro de muita coisa mesmo: gostar de saborear boa comida, beber um copo ou dois à refeição, ler jornais diariamente — ele lia dois: O Século e o Diário de Notícias — ir para o campo ou para a praia nos dias de descanso, e depois mais aquelas coisas que toda a gente aprende com os pais: o respeitinho pelos mais velhos e por quem sabe coisas, e saber estar com os outros com elevação sem ser subserviente.

Não sei se absorvi tudo. Tenho-me esforçado por fazê-lo. Mas, esta é a verdade: há muita coisa que fui fazendo à minha maneira. A gente passa a vida a inventar coisas.

terça-feira, 18 de março de 2025

Não há fome que não dê em fartura

Os meus avós queixavam-se de não os terem deixado ir às urnas. Agora diz-se por aí que o povo vai às urnas contrariado. É um fartote de eleições. Não há fome que não dê em fartura. O infelizmente primeiro-ministro também não queria eleições, mas provocou-as. O infelizmente ainda primeiro-ministro vê a política como um electrodoméstico familiar. Casas, casinhas e casinos são árvore de patacas. Se o povo que vai contrariado às urnas eleger este negociante descarado, que não hesita em ter negócios com gente de jogos de casino, vamos ter um grande sarilho por muito tempo. Montenegro é evidentemente um negociante que se aproveita da sua acção política. Só não vê quem não quer estar para aí virado. Mas se o dito povo votar noutro sentido também não vamos ter sol na eira. Este país vai ficar ingovernável. Culpa? Do Presidente que com as suas percepções e decisões levou-nos a este estado, e do primeiro-ministro que "está a adorar governar". Um partido fascista cresceu, e um parolo com linguagem corporal foleira a olho e implantes capilares aparentemente pintados com graxa de sapato chegou a primeiro-ministro. O salve-se quem puder do neoliberalismo mais feroz está na moda e tem apoio popular. Gente manhosa, sem valores culturais e sem preocupações sociais está a chegar ao poder em muitos lugares do planeta. Portugal segue sempre as modas "lá de fora". Teme-se o pior. Mas deixem lá a malta ir votar. Quem não quiser fique em casa. Não queremos cá povos contrariados.

segunda-feira, 17 de março de 2025

Inesquecível

O Fernando Sobral assegurava todas as sextas-feiras estas duas páginas — Sociedade recreativa —, no Jornal Económico. Em 2022, neste dia 18 de março, passam hoje três anos, escrevia sobre o livro onde João Paulo Cotrim pôs texto e João Francisco Vilhena fotografias. 

O Fernando escrevia como ninguém. Calhava escrever sobre relógios. Tornou-se um especialista. Ía à Suiça para lançamentos e apresentações de novos modelos. Eu cheguei a aconselhar-me com ele quando quis comprar um relógio de uma marca que não conhecia, mas que me agradava esteticamente. Aconselhou-me a compra e contou-me a vida do objecto desde o seu nascimento. Não havia assunto que lhe provocasse receios. Artigos de luxo ou artesanatos, livros, músicas, artes visuais, cinema, política, banda desenhada, ilustração, atitudes, tudo se alinhava no conhecimento deste brilhante conhecedor das letras e da sua utilidade. Foi um escritor de relevo. Já depois da sua morte foi publicado por Francisco José Viegas, na Quetzal, o seu último romance: "O Jogo das Escondidas".  Macau é o mote, e a história é deliciosa. Conversei com o Fernando sobre tudo o que nos passou pela cabeça em inúmeros almoços e outros encontros. Foi à Casa da Cultura, Setúbal, conversar com os seus leitores, juntamente com outro amigo e escritor de méritos firmados: Rui Cardoso Martins. Noite inesquecível.

O Fernando morreu dois meses depois da publicação destas páginas no Jornal Económico, a 16 de maio de 2022. Guardei as páginas impressas e releio-as agora com a saudade a entristecer-me. Foi bom conhecer o Fernando e a sua obra que fica e que nos informa da qualidade humana e intelectual deste ser humano único. Quem o conheceu sabe que é esta a verdade. A saudade é tramada.



facebook

domingo, 16 de março de 2025

Um criminoso a prémio Nobel da paz?

Trump atacou a capital do Iémen matando dezenas de pessoas e deixando feridas mais de uma centena. Foi ele próprio que comandou ao segundo a operação. Os imbecis que apoiam Trump não falam em mais nada: querem o prémio Nobel da paz para o criminoso que os ilude. Este candidato ao prémio Nobel diz fazer a guerra como medida preventiva. Ataca para não ser atacado. Espalha o terror para garantir a paz. Um criminoso no poder tem destas coisas: tudo está a ser feito ao contrário. De cabeça para baixo. Ou de cabeça perdida. Trump exerce o poder pensando com a sua própria cabeça. O problema é que tem a cabeça cheia de merda.


facebook

Em voz alta - o regresso

Foi um recital de uma poesia que está a sair do papel, agora, e que parece ter sido feita para ser dita, agora já a seguir, em voz alta. António Simão apresentou-a e deu-lhe uma direcção. Inês Pereira e Raquel Montenegro deram-lhe vida, outra vida, diga-se.

Esta poesia permite linguagens porque tem atitude. Permite interpretação, mas tem em si a consistência dessa atitude. E essa atitude está carregada de sentimentos que são os de quem pensa a actualidade e reage. Maria Brás Ferreira e Patrícia Lino põem em primeiros papéis estes trabalhos reveladores de uma frescura inicial que se adensa à primeira leitura pela intensidade que se agarra a cada frase. Esta poesia tem uma boa respiração e é bem respirada e bem dita, e em voz alta, como o fizeram tão bem as actrizes Inês Pereira e Raquel Montenegro. Parabéns Inês, Raquel, António e Artistas Unidos. Aguardo a vossa próxima leitura encenada na Casa Da Cultura | Setúbal. Esperemos que muito mais gente perceba o que se está a passar com a novíssima poesia portuguesa e com a maneira de a dizer. Até já.




sábado, 15 de março de 2025

Era uma vez um regime fascista que caiu em 25 de Abril de 1974


Foi um fim de tarde muito bonito. Encontrámo-nos na sala José Afonso, da Casa da Cultura, Setúbal, para falarmos do livro A CAMINHO DO 25 DE ABRIL, de Luísa Tiago de Oliveira. Sérgio Campos Matos fez uma apresentação brilhante, analisando os factos que Luísa Tiago de Oliveira refere no livro. Luìsa Tiago de Oliveira revelou o que a motivou para encetar a empreitada, Carlos Almada Contreiras foi referência. 


Almada Contreiras foi recordado neste encontro por camaradas seus. Ferreira da Silva e Luís Costa Correia estiveram presentes e contaram a sua história de Abril, com pormenores da preparação do golpe revolucionário. Estes dois militares de Abril estão ligados a Setúbal (Costa Correia poir nascimento) e já tinham estado nesta sala por ocasião da comemoração que aqui fizemos dos quarenta anos do 25 de Abril. Almada Contreiras esteve nessa sessão e contou como escolheu "Grândola" para senha e apresentou-me o seu camarada Luís Costa Correia como o militar que no dia 25 foi ocupar a sede da PIDE, na António Maria Cardoso. Reencontrei Costa Correia no funeral de Contreiras, e agora em Setúbal. Recordámos agora de novo o orgulho de termos três homens ligados à cidade na preparação da acção que mudou as nossas vidas. Almada Contreiras escolheu "Grândola, Vila Morena" para senha e comandou as operações militares que levaram à ocupação das instalações da polícia secreta fascista. Costa Correia foi o operacional designado para o feito. Ferreira da Silva fez oposição à ditadura desde que foi para a vida militar. Três homens ligados a Setúbal que são um orgulho para a cidade.

Como digo logo no inicio deste meu desabafo, este foi um fim de tarde muito bonito. Foi dos momentos mais bonitos que vivi na Casa da Cultura. Não sou nada de bairrismos, nacionalismos ou patriotismos serôdios, mas não resisti em pedir ao meu amigo Fernando Pinho para fazer um registo em que me coloco orgulhoso ao lado do meu conterrâneo que tratou de ir acabar com a imundice fascista que se alojava na rua António Maria Cardoso. Foi um fim de tarde bonito. Muito bonito. Parafraseando Tiago Rodrigues, esta é uma maneira de sentirmos a beleza de matar fascistas. Metaforicamente falando, mas com aquela sensação de estarmos a fazer qualquer coisa que contribui para o combate à ignorância e à estupidez. Os fascistas ignorantes são estúpidos. Os que não são estúpidos são requintados biltres. É combatê-los. Sempre!

Nota: José Pacheco Pereira não esteve presente para poder participar nas cerimónias fúnebres de Miguel Macedo, falecido inesperadamente. 



sexta-feira, 14 de março de 2025

Poesia em voz alta


A ideia é de Jorge Silva Melo: colocar na voz de gente do teatro poetas com boas surpresas literárias. Em anteriores sessões tivemos o convívio de poetas como Raúl Leal, Herberto Helder, Camões, Fernando Pessoa, Cesário Verde, Luís Filipe Castro Mendes, José Afonso, Bocage, entre muitos outros, ditos por actrizes e actores como Lia Gama, Maria João Luís, António Simão, Catarina Wallenstein, Nuno Gonçalo Rodrigues, Luís Lucas ou Manuel Wiborg.

São agora retomadas as leituras EM VOZ ALTA com o ciclo Novíssimos Poetas Portugueses – Figuras na Passagem, com selecção dos poetas por Hugo Milhanas Machado e dos poemas por António Simão. Dar a conhecer a novíssima poesia portuguesa é um bom contributo para percebermos o que se anda a fazer literariamente neste país de poetas, como se costuma dizer.
Esta sexta-feira, dia 14, às 21h30, vão estar em Setúbal, na Casa Da Cultura, vão ser lidos textos de Maria Brás Ferreira e Patrícia Lino por Inês Pereira e Raquel Montenegro.
Um regresso de uma ideia que é uma boa ideia, e que vai continuar a provocar bons convívios.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Saudades do João Paulo Cotrim


O João Paulo Cotrim faria hoje anos. Como ele não está cá, nós vamos recordá-lo neste encontro de amigos que o João Francisco Vilhena preparou, e que ocorre dentro da exposição que recorda o último texto publicado pelo João Paulo. As imagens foi o João Francisco que fez, a olhar para as nuvens. Os textos vão ser lidos pela Inês (Fonseca Santos), pelo André (Gago), pelo Carlos (Querido), Pelo Nuno (Miguel Guedes) e pelo Pedro (Saavedra). A música é de outro Pedro (Oliveira), que andou pelos Sétima Legião e por outros mares.

É hoje, às seis e meia da tarde, na Sociedade Nacional de Belas Artes. Até já.

quarta-feira, 12 de março de 2025

No meu tempo...

Comemoro o meu aniversário com este poema de Helder Moura Pereira. Outro poeta, Manuel da Fonseca, disse uma vez: isto de estar vivo ainda vai acabar mal. Assertivo e indesmentível decreto. Mas enquanto o pau vai e vem folgam as costas, disse alguém que não sei se escreveu poemas. A poesia pode mudar o mundo. O nosso mundo pessoal, pelo menos. Os fascistas não gostam de poesia, nem de livros, nem sequer de falar disso. É também por isso que a poesia é muito importante. Pode ser uma arma. Recordo textos de poetas porque são os poetas que me ilustram os dias com inteligência e elegância. Este é o meu tempo, e eu vou continuar a inventar o resto. 

terça-feira, 11 de março de 2025

Votar não é pecado, senhores comentadores

Comentadores e analistas mais específicos andam muito preocupados com o nosso cansaço colectivo. O povo está farto de eleições, dizem, a propósito deste imbróglio que Luís Montenegro criou.

São muito engraçados, os comentadores. Devem pensar que somos todos parvos e não sabemos o que fazemos quando entramos no cubículo do voto. As pessoas que prezam a democracia não se importam nadinha de ir colocar o papelinho dobrado na urna tira-teimas. Quem não gosta de eleiçôes são os fascistas. Esperemos que quem neles votou não repita a estupidez. Esperemos que desta vez fiquem ali aos berros menos do que os cinquenta actuais. Os comentadores podem dar uma ajuda. Comentem com asserividade e não os respeitem. Os fascistas não se respeitam; combatem-se. Há ainda outra recorrente opinião afirmada pelos senhores comentadores: vamos lá dizer isto de maneira que as pessoas lá em casa percebam. Lá está: pensam que cá em casa ninguém sabe ler e escrever. No dia das eleições vamos sair de casa e dizer aos senhores comentadores e aos seus políticos ajustadores de políticas de direita que não precisamos que nos digam muito devagarinho como as coisas são. A gente percebe, e não precisamos das vossas explicações para nada. Votar contra estas políticas de direita é uma das maneiras de participarmos na vida do país. De termos voz. Quem precisa de dar explicações devagarinho e de maneira que se perceba é Luís Montenegro.

Jornalismo de pacote


Foi interessante percebermos as diferenças entre as entrevistas a Pedro Nuno Santos, conduzida por Clara de Sousa, na SIC, e a Luís Montenegro, na conversa com Sandra Felgueiras, na CNN/TVI.

Clara de Sousa acha que o PS peca e agride por não aprovar a acção do governo e por insistir nos atropelos cometidos por Montenegro. A entrevista transformou-se em inquérito. Pedro Nuno Santos, apesar da tentativa de ser apresentado ali como culpado pela crise, esteve bem. O que o levou ali não foram sentimentos de culpa, mas sim fazer o que um partido de oposição tem que fazer: oposição.
Sandra Felgueiras fez trabalho de casa. Preparou perguntas aparentemente incómodas e pôs o primeiro-ministro a escorregar no território pantanoso em que se instalou, mas sempre em tendencioso sentido: porque não esclareceu logo tudo?! Tentando dar a entender que o que falhou foi a comunicação. O descaramento de Montenegro, colocando-se em insistente e impertinente sobreposição às interrogações da jornalista, deu em que a conversa se transformasse em passeio pela avenida. O homem é um príncipe em passeio pelos jardins de um palácio em ruínas.

Isto anda mesmo tudo ao contrário. Desde Trump e Bolsonaro que quem mente e falha é que é vedeta de televisão. O jornalismo pede espectáculo, e há políticos com vontade de participar na palhaçada. É assim uma espécie de jornalismo circense.

facebook