terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Aos amigos do João Paulo Cotrim


Vamos esta quarta-feira, dia vinte e nove de dezembro do ano de dois mil e vinte um, despedirmo-nos do João Paulo Cotrim. Um dia que deveria ser para esquecer mas que nunca será esquecido. Um fim de ano que ficará na memória de todos nós pelas piores razões.

Ainda não percebi como vai ser viver sem o convívio com o João. Os almoços não serão tão saborosos. Os livros não serão feitos da mesma maneira nem terão lançamentos tão divertidos. A nossa vida muda quando quem nos muda a vida deixa de estar connosco. E não muda para melhor. Aguentaremos convocando a recordação. Mas não ouviremos mais as históricas expressões do Cotrim. Um ''foi quase um prazer'', era recorrente nas despedidas. Ou ''gosto mais de sexo, mas em não havendo...'' quando lhe era apresentado algo pretensamente surpreendente. Nos restaurantes, ao pedir o molho picante, finalizava com um ''se não lhe fizer falta''. As tiradas humorísticas surgiam em catadupa. Não é de anedotas que falamos. É de humor inteligente sempre polvilhado de conhecimento documentado. Na escrita surpreendeu sempre. Tornaram-se famosos os títulos à Cotrim. Verdadeiros ícones.

Resumindo: um homem culto, mas sem pitada de chatice ou banalidade. É isso: o convívio com o João Paulo Cotrim nunca se detinha na banalidade ou no gosto duvidoso. Era um esteta bem disposto. Um homem de cultura sem prosápia. Um homem bom. Um ser humano de excepção. Era comum diferentes grupos de amigos encontrarem-se por causa dele. O homem parecia uma instituição. Um abrigo de generosidade, talento e lucidez. Somos muitos, os amigos do João. Tratamo-nos por manos porque sentimos a amizade com intensidade. Vamos dar força à Isabel, a mulher que esteve com ele em todos os momentos. Não falamos da grande mulher que está atrás do grande homem. Expressão sexista tão em desacordo com o que sentimos. A Isabel esteve sempre ao lado e muitas vezes à frente do João. A Abysmo deve-se à sagacidade e inteligência destas duas figuras marcantes das nossas vidas. Gostamos muito de ti, Isabel. Estamos contigo.

Vamos despedir-nos do João Paulo Cotrim com o coração apertado e uma interrogação perturbante: e agora? É que a resposta não sai.

Imagem: sessão Muito Cá de Casa, na Casa da Cultura-Setúbal, de apresentação do premiado livro de Luís Cardoso ''O Plantador de Abóboras'', em que também participou Luísa Tiago de Oliveira. Fotografia de Ana Nogueira.

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João Paulo Cotrim 2022






Quando a Festa da Ilustração - Setúbal foi proposta ao vereador da cultura, Pedro Pina, a concepção já estava engendrada entre mim, o João Paulo Cotrim e o Jorge Silva. O Pedro gostou da ideia e entusiasmou-se mesmo muito. 

O ataque à redacção do Charlie Hebdo — factor determinante para a realização da Festa — tinha sido em janeiro - 2015 - e a coisa deveria realizar-se em Junho desse ano. Missão impossível? Nada disso. A Divisão de Cultura da Câmara Municipal convocou uma equipa extraordinária que começou de imediato a trabalhar. 

Claro que o nome que se me assomou de imediato à cabeça para a definição de propósitos e para contactos tinha de ser o do João Paulo. Ele trouxe ilustradores para a ribalta. A sua fama de generosidade e imenso conhecimento cultural tinha muitas histórias contadas. E eu tinha a vantagem de ser amigo dele e por isso de muitos ilustradores. Também eu estava cheio de ganas de mostrar o que se faz em ilustração por esse mundo fora. Juntámos a fome com a vontade de comer. Ele sugeriu que o Jorge Silva tratasse dos ilustradores históricos e propôs reeditar a ideia da Ilustração Portuguesa, mostras concebidas por ele para a Bedeteca, no tempo em que a dirigiu. 

A primeira Festa teve como convidado contemporâneo o André Carrilho, o veterano foi Lima de Freitas, mas também foi mostrado trabalho de Maria Keil, em exposição cedida pelo Museu da Presidência da República. E a Ilustração Portuguesa, claro está. 

Nos anos seguintes os convidados contemporâneos foram Nuno Saraiva, João Fazenda, António Jorge Gonçalves, Cristina Sampaio, André da Loba e Marta Madureira.

O João Paulo Cotrim está portanto associado à Festa da Ilustração e dos ilustradores desde a primeira hora, como se costuma dizer. As propostas para a Festa do próximo ano — 2022 — foram discutidas entre mim e ele. Concordou com o que propus e eu concordei com tudo o que ele acrescentou às minhas propostas. Era sempre assim. O João Paulo tinha sempre mais alguma coisa a sugerir, a tornar melhores as ideias iniciais. Trabalhar com ele era uma verdadeira festa. As ideias que discuti com ele vão agora ser apresentadas por mim à Divisão de Cultura do Município. Mas agora sou eu que acrescento uma nova proposta: A Festa da Ilustração 2022 vai homenagear João Paulo Cotrim. Do princípio ao fim. 

Muito obrigado, João Paulo. Devemos-te muito. Tudo.

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

domingo, 26 de dezembro de 2021

 I know not what tomorrow will bring

Fernando Pessoa



O João Paulo morreu. Ainda me parece mentira. Ainda não me imagino sem o ter por perto. Qualquer encontro com o João Paulo Cotrim era um acontecimento. As ideias fervilhavam. Inesperadas. Brilhantes. O humor e a cultura tropeçavam em alegre convívio. Tanto projecto interrompido. Tanta conversa por continuar. Tanto livro por fazer. Tanto trabalho por encetar. Somos gente de palavra e de palavras. Continuaremos a conversar recordando o João Paulo. Uma vida assim não acaba assim. Não tenho irmãos biológicos. Mas tenho irmãos. O João Paulo é meu irmão. Faltam-me as palavras para descrever o que sinto, mas sei que vamos recordá-lo como ele gostaria. Com muitas palavras. Muita conversa saborosa. Tenho a certeza. Estas palavras saem-me em lágrimas. Um beijo para a Isabel.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Presépio contemporâneo

O meu presépio. Bom natal.





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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

PENSAMENTO MÁGICO | Foi jornalista como escritora, Foi escritora como jornalista. Olhou para os lados, para todos os lados, e viu, pensou o que viu, escreveu, leu, olhou de novo, amou, foi amada. Uma vida cheia que termina agora. Os livros que deixa não me deixam mentir. Foi bom ler Joan Didion. É bom reler Joan Didion.

Muito obrigado.

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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

VENCEREMOS


O Chile viu-se de novo livre de uma chusma de pulhas da pior espécie. Um homem novo — literalmente — foi eleito Presidente. 

Pinochet e seus seguidores são assim um pouco mais empurrados para o caixote do lixo da história. A extrema-direita leva nas trombas. Tem sido assim a história dos povos: existe sempre a ameaça de retorno do fascismo, mas também existe a vontade de não baixar os braços e resistir. O fascismo não passará. Lá e cá. Oxalá.

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Congresso do partido egocentrista


Rui Rio nunca nos desilude. Depois de assegurar que o fascismo nunca existiu em Portugal e que havia um excessivo número de professores em actividade no tempo do lamentável Passos Coelho, vem agora aconchegar o seu discurso ao do seu ex-colega de partido Ventura.

Também Trump é parafraseado. E a Educação torna-se prioridade. Fantástico. Um pantomineiro é um pantomineiro. Nuno Crato, o ministro delinquente que despediu professores e quis fornecer a Educação em embalagem da Farinha Amparo, deve estar a afinar os aparos. O parolo que representa a extrema-direita no parlamento já elogiou o figurão. Marques Mendes e os inefáveis comentadores da treta também. A direita no poder é sempre uma má escolha. Aliada à extrema-direita é um desastre.

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domingo, 19 de dezembro de 2021

O futuro é já a seguir


Muitas e boas festas e um bom ano para todos. Até já.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Migrações e seus motivos



A ONU assinala este dia — Dia Internacional do Migrante —  com a sugestão de olharmos para quem sai da sua terra com olhos de ver e pensar. Quem sai da sua terra porque lá corre perigo é motivo para nos convocar a solidariedade e não o desprezo. Abraçar quem sofre é uma maneira decente de estarmos na vida. "Um homem só deve olhar outro homem de cima para baixo se for para ajudá-lo a levantar-se", disse um dia Gabriel García Márquez. 

A solidariedade com quem sofre nunca é excessiva. Quem foge da guerra e da fome não merece sofrer depois acusações de cobardia e irresponsabilidade. Todos podemos estar um dia numa situação idêntica. Imaginem um partido fascista no poder. Imaginem o partido de Ventura no poder. O partido unipessoal que afirma em panragonas propagandísticas: Os outros prometem, eu cumpro". Eu cumpro, não faz a coisa por menos, o alarve egocêntrico. Cumpre o quê, o xenófobo imbecil?

Com o crescimento da extrema-direita na nossa terra, e com a consequente eleição desta coisa para o parlamento, as ideias xenófobas e racistas começaram a brotar como ervas daninhas. Os broncos-parolos apregoam às claras as suas "ideias" bisonhas e tristes como se de grandes ideias de justiça se tratassem. Imaginar que o partido de Ventura pode eleger mais do que um deputado, instalando nas bancadas de São Bento uma legião de gentalha ainda pior — são sempre piores os grunhos que estão atrás dos grandes grunhos — do que o  fascista que já lá se senta, é motivo para preocupação. Não é medo o que sentimos, é necessidade de higiene. Higiene pura. Metem nojo, os fascistas do partido do fascista que se senta no parlamento. 

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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Preso por ter cão...


Trata-se de uma recorrente abordagem à expressão: preso por ter cão, preso por não ter. 

Rui Rio ataca o Governo e especificamente a Polícia Judiciária por ter prendido o vigarista encartado Rendeiro. Segundo Rio, tudo isto aconteceu porque estamos próximos de eleições. Ou seja: o correcto seria deixar o homem em liberdade até finais de janeiro e depois sim: ala para a jaula. A vontade de justiça desta gente oscila sempre conforme o pulsar da sua agenda política. É esse o motivo desta acusação sem sentido. Será desespero? Não creio. É só palermice, mesmo. Provavelmente, em termos de ciência política chama-se a isto inabilidade. É mais politicamente correcto. Temos portanto um inábil como candidato a primeiro-ministro de um país. Não merecemos isto.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Os maus velhos tempos


Setúbal viveu e sofreu intensamente as políticas do chamado Estado Novo que de novo nada tinha. As velhas práticas repressivas passaram a ser designadas como novas.


A autoridade, os "exemplares" ajustamentos económicos e a disciplina férrea e sem limites no respeito pelo ser humano motivaram a porrada de criar bicho. Albérico Afonso Costa investigou, estudou e passou para o papel esse conhecimento. É bom sabermos o que aconteceu para que não passe pela cabeça de ninguém a ideia de que antigamente é que era bom. Fernando Rosas, historiador que se interessou profissionalmente por nos informar desse passado com seriedade e competência, vai apresentar o livro do historiador Albérico Afonso Costa. A Câmara Municipal de Setúbal apoiou a publicação, e vai estar representada pelo vereador Pedro Pina. A Estuário | DDLX editou e publicou. O lançamento é no próximo sábado, dia 18 de dezembro, à tarde, na Casa Da Cultura | Setúbal. Convidados.

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domingo, 12 de dezembro de 2021


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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Da justiça injusta


Assange corre o risco de ser extraditado para as américas.

Aguardam-no mais de cento e setenta anos de prisão, em sentença aplicada pelos algozes manipulados pelos denunciados por Assange. A injustiça triunfa. Os verdadeiros criminosos ganham asas. Confiamos em quem, se esta injustiça acontecer?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

O que é doce nunca amargou


O QUE É DOCE NUNCA AMARGOU | Luís Cardoso esteve na Casa Da Cultura | Setúbal, em junho passado, para apresentar o seu livro O Plantador de Abóboras. Com ele vieram Luísa Tiago de Oliveira e João Paulo Cotrim que falaram do livro e com o seu autor. Cotrim é o editor da obra. É com uma imensa alegria que recebemos a notícia de que é este livro o vencedor do prémio Oceanos deste ano. Parabéns a Luís Cardoso, que ainda por cima completa hoje mais um ano de vida. Parabéns em duplicado, portanto, meu querido amigo. E parabéns também ao editor João Paulo Cotrim. Há prémios bem doces.



terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Exterminar a diferença


O fascista que se senta no parlamento como deputado, chamou bandidos a uma família que evidentemente não votou nele. É gente diferente da sua gente. O fascista que se senta no parlamento acha que isso é coragem — é a esta profunda indelicadeza e má educação que os fascistas classificam de "chamar os bois pelos nomes", com certeza —, quando de facto não passa de uma expressão criminosa. 

O fascista, porque é um fascista, não percebe que não pode dizer tudo o que lhe vem à cabeça só porque uns fascistas — se calhar é exagero meu: são só ignorantes de estranho carácter —, cometeram a infeliz proeza de lhe permitir proferir alarvidades no parlamento. Acontece que vivemos em democracia e o dito fascista foi condenado por difamação. Recorreu. Recurso recusado. Agora diz-se injustiçado, o parolo fascista. Sim, esta criatura não passa de um parolo sem qualquer nível intelectual ou político. Lança atoardas contra a suposta diferença por ele apregoada, que ressoam nas cabecinhas ocas dos fascistas — ou lá o que são aquela gente inenarrável — que nele votaram. As figuras tristes que faz não causam compaixão, mas sim repulsa. A diferença incomoda esta gentalha. Não percebem que é a diferença que alimenta a democracia,  porque não são democratas. É mesmo isso. O que resta são atoardas de gosto duvidoso.

Fotografia: Marcha fascista sobre Roma que ocorreu de 26 a 28 de outubro de 1922 e tornou-se o evento até então mais emblemático do fascismo italiano. Mussolini é o espalhafatoso do centro da imagem.

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sábado, 4 de dezembro de 2021

Pedro Gonçalves


Com Tó Trips formou os Dead Combo. Morreu hoje um grande músico. Muito obrigado, Pedro Gonçalves.

Paula Delecave em Setúbal



A exposição está montada. E está lindíssima. Abre hoje às sete da tarde na Casa Da Cultura | Setúbal. A arte de ilustrar com linguagem pessoal e atenção à realidade. Paula Delecave vai estar presente. Lá estaremos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Eu vim de lá


São estórias de lá, contadas por quem veio para cá. Contadas do lado de cá, no Espaço Ilustração da Casa Da Cultura | Setúbal. A abertura é no próximo sábado, e vai estar por cá até janeiro do próximo ano. Perder esta exposição é excessivamente mau. Até já.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Isto é uma pandemia, estúpidos!


Custo de ter apenas um local de vacinação é muito menor, diz o aritmético Moedas da Câmara de Lisboa. 

Isto faz-nos pensar sobre o assunto de outra maneira. O importante não é salvar vidas, é poupar. Poupar sempre. Já o seu grande líder Passos Coelho dizia, referindo-se ao SNS, que se devem salvar as pessoas, mas não a qualquer custo. Se esta pandemia tivesse vindo no tempo da direita no poder estávamos bem tramados.