quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O que é feito de si, Frederico?


Este imbecil, que violou e matou. Este predador repugnante, que foi condenado e fugiu para parte incerta, só agora é que foi impedido de exercer o sacerdócio. Vinte e seis anos em fuga. Foi o Papa que reparou que este cretino andava à solta e nada tinha sido feito para não envergonhar a Igreja Católica. Tão tarde. Tão revoltante. Tão distraídas, as superiores autoridades das capelinhas.

Fonte: Agência Lusa

O réptil

UM ASSASSINO QUE SE ORGULHA DE O SER | UM GRANDE FILHO DA PUTA.

"Rússia também tem armas para atingir o Ocidente"

O Presidente russo, Vladimir Putin, advertiu hoje que a Rússia tem armas capazes de alcançar alvos no Ocidente, ao discursar perante a Assembleia Federal em Moscovo. 

Fonte: Lusa

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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Os farsolas


"Montenegro promete a reformados que se demite se cortar um cêntimo nas pensões", diz o DN de hoje. Não fala em aumentos substantivos, como o seu ex-companheiro de partido André Ventura. "Os maiores de sempre", diz o farsola. Montenegro também diz que não se vai aliar ao partido neofascista: "não é não", diz. Mas a comunicação social continua a não dar muita importância ao subtítulo das afirmações de Montenegro: "porque não vai ser preciso". O farsola neofascista diz que sem ele não há governo de direita em Portugal. Em que ficamos? Vai ser preciso ou não? Farsolas, todos os direitolas. 

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Intervenção artística

Artistas visuais e seus camaradas de percurso não podem ficar indiferentes às injustiças. O mundo precisa dos artistas para que a solidariedade e a denúncia do que não é justo se imponham. A Arte não é decoração. A Arte é intervenção. A decoração é para os frustes. O bonitinho que se lixe. Sejamos autênticos. Procuremos a beleza que nos desperta os sentidos. Veneza é um exemplo. Viva.

Partilho um texto de Lawson-Tancred publicado em artnet.com

Um grupo de activistas recém-formado, conhecido como Art Not Genocide Alliance (ANGA), publicou uma petição apelando a que Israel seja excluído da participação na 60ª Bienal de Veneza deste ano. "Não ao Pavilhão do Genocídio na Bienal de Veneza", exige a carta aberta em linha. Até à data, conta com mais de 8.000 signatários. A ANGA descreve-se como um grupo internacional de artistas, curadores, escritores e trabalhadores culturais.

"A Bienal tem-se mantido em silêncio sobre as atrocidades de Israel contra os palestinianos", refere a carta, lembrando que a Bienal e a curadora da 59ª edição, Cecilia Alemani, pronunciaram-se em apoio à Ucrânia após a invasão russa em fevereiro de 2022. "Estamos chocados com este duplo padrão".

A carta descreve a política que envolve o conflito entre Israel e o Hamas, bem como a enorme perda de vidas humanas em Gaza, com o número de mortes recentemente estimado em 250 palestinianos por dia. A Bienal não pode expor na África do Sul desde 1968 até 1993, ano em que o apartheid foi abolido.

"A arte não acontece no vazio e não pode transcender a realidade", lê-se na carta. Enquanto a equipa de curadores de Israel planeia o seu chamado "Pavilhão da Fertilidade", que reflecte sobre a maternidade contemporânea, Israel assassinou mais de 12 000 crianças e destruiu o acesso aos cuidados reprodutivos e às instalações médicas. Como resultado, as mulheres palestinianas fazem cesarianas sem anestesia e dão à luz na rua".

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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

O desejado

Montenegro apresenta hoje o seu sucessor caso não tenha o maior número de votos para formar governo. Este pantomineiro, que deu o dito por não dito várias vezes, e que tentava passar sucessivamente leis reprovadas pelo tribunal constitucional, vai entrar hoje na campanha da aliança Direita/extrema-direita. Este estropício é a alminha penada da extrema-direita. Sim, já houve arranjinhos de extrema-direita a governar Portugal. Cavaco e Passos são políticos de extrema-direita. Os clássicos gurus dos trapaceiros que só pensam em ir ao pote. As linguagens verbal e corporal desta gente diz tudo. São uns inábeis no verbo e uns gabirus na posse. As estações de televisão deliram com estas inenarráveis criaturas. Tudo fazem para que o seu desempenho seja um sucesso. Será que há por aí muita gente com saudades desta gente reptiliana?

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Desenhar os sons

José Brandão "explica" a capa de "Coro dos Tribunais", na exposição sobre as capas dos discos de José Afonso, na Casa da Cultura - Setúbal.
José Brandão "explica" a capa de "Coro dos Tribunais", na exposição sobre as capas dos discos de José Afonso, na Casa da Cultura - Setúbal.
Uma exposição de desenhos de José Brandão povoou a galeria da
Casa da Avenidaem Novembro de 2021. Exposição integrada na Festa da Ilustração - Setúbaldesse ano, e por altura do lançamento do álbum "Coro dos Tribunais" de José Afonso. Celebrava-se assim a reedição do trabalho de José Afonso e aproveitava-se para falar sobre a vertente estética visual que envolve o seu trabalho musical. José Brandão esteve presente em conversa. Foi bom conversar com ele e perceber como surgiu o convite para fazer a capa deste disco único musical e poeticamente. Ana Nogueira animou a conversa interpretando por palavras os desenhos de Brandão. O brilhante texto que se segue, e que foi inserindo no Jornal da Festa da Ilustração, foi "desenhado" por Ana Nogueira:

JOSÉ BRANDÃO, ILUSTRADOR. PENSAR ATRAVÉS DO DESENHO
Por que razão é necessário fazer um Desenho? Sobre isto precisamos escrevê-lo.
O Desenho enquanto expressão, é também ideia. O Desenho ideia, estruturador do pensamento, construtor imagético de significados sobre o mundo (nós nele). Os sentidos fornecem-nos dados transformados em imagens que se interrelacionam. O Desenho ideia arquiteta a expressão visível e a experiência do fazer contribui para essa arquitetura. Desenho ideia e Desenho enquanto expressão são partes constituintes do trabalho gráfico de José Brandão.
O Desenho enquanto expressão é ideia matérica em pontos, linhas ou manchas e resulta de uma ação do corpo para representar o nosso entendimento sobre uma realidade imaginária ou natural/real. O Desenho acontece pelo gesto que pensa sobre o registo que está a desenhar-se, encontrando empiricamente os caminhos, mas colaborando na representação intencional do(a) autor(a); é uma interação dialógica (comunicação) entre o(a) ilustrador(a) e o mundo. Ao produzir Desenho há uma aprendizagem sobre o objeto, de natureza interpretativa, logo subjetiva.
Desenhar é um ato sinalizado de conhecimento. Este ato de desenhar, verbo cujo étimo, de origem latina, é designare: o Desenho desígnio.
O Desenho recorre a um “filtro interpretativo”, expressão de Massironi (2010:17), para tornar reconhecível as representações expressivas do pensamento. Parry J. avisou-nos sobre a contínua ‘erupção’ do subjetivo na comunicação, no(a) autor(a) e no(a) fruidor(a). O Desenho faz-se suficientemente reconhecível para se afirmar comunicável. A sua força interventiva (por que comunicativa), desperta por vezes violência. Morre-se por desenhar.
Se o Desenho comunica uma realidade interpretada, implica a exclusão de elementos e a relevância de outros. Exige uma escolha. Diferentemente da linguagem verbal – que possui uma gramática mais estável -, a linguagem gráfico-desenhativa precisa de reinventar-se em cada Desenho, de modo a encontrar uma estrutura organizadora única que comunique com intencionalidade.
Ainda persistem equívocos sobre o Desenho. Não é mais fácil ou mais difícil desenhar do que escrever, é diferente.
O Desenho de José Brandão sendo interpretação é uma tomada de posição, “uma forma de pensamento” (Bártolo, J.:2014): Desenho ideia e Desenho matéria.
É preciso sempre fazer um Desenho. [Ana Nogueira]

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sábado, 24 de fevereiro de 2024


Escrevi este texto para o catálogo da próxima exposição que vai acontecer nas galerias da
Casa Da Cultura | Setúbal e da Casa da Avenida. Vai ser uma exposição importante na programação das exposições deste ano. Este ano temos grandes artistas a circular nas nossas galerias. Nos anos anteriores também. E nos próximos. Segue o convite.

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA | O sofrimento das pessoas preocupa quem conta as histórias das pessoas. A pintura que quer perceber o que se passa em seu redor interpreta situações e provoca interrogações. O sofrimento de quem vive na ilha ao lado é o nosso sofrimento. Sofremos perante privações e injustiças. Fugimos da agressão. Tememos a ameaça. Já não há heróis românticos. Os heróis de hoje sofrem e desesperam. Choram e anseiam pelo fim do sofrimento. Procuram e lutam pela paz. A paz, essa prática de vida tão instável. A pintura faz representações do sofrimento humano com uma assertividade que se justifica pela crueza da aplicação pictórica. Paulo Robalo faz isso. Faz ranger as trinchas e as espátulas. Interpreta nos suportes a vida das pessoas que sofrem. Gente que quer fugir ao sofrimento. Há um som que se solta destes painéis tão intensamente marcados pelos apetrechos que riscam e rasgam a tela. Estas telas mostram vidas que sofrem. Vidas que acabam. O mar engole muitos dos que fogem à miséria que as guerras impõem. A beleza não está nos planos lisos e esteticamente bem comportados. Essa preocupação decorativa não existe aqui. Denunciar o sofrimento é preciso. Navegar (assim) não é preciso.
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Música e design gráfico


A próxima
Festa da Ilustração - Setúbal vai trazer de novo a imagem na obra de José Afonso. Vamos ter as capas dos discos em convívio expositivo. Vamos voltar a privar com os trabalhos dos designers que vestiram os trabalhos gravados de José Afonso. É de excelência visual que falamos.

José Afonso escreveu e cantou músicas novas. Mudou o mundo da música portuguesa. Para a divulgação do seu trabalho convidou competentes designers para vestir os LPs que ía lançando para nosso prazer e sorte. José Santa Bárbara foi o mais chamado. Mas José Brandão, Alberto Lopes e João de Azevedo também foram convocados. Em Abril de 2017 ocupámos as paredes da Casa da Cultura com uma grande exposição sobre o trabalho gráfico na obra de José Afonso. Chamou-se à mostra "Mas quem vencer esta meta que diga se a linha é recta". Estiveram presentes os autores mencionados. João de Azevedo também, é claro. Conheci-o em 2013. Só lhe atribuía o pormenor de ter feito a capa do disco "Com as minhas tamanquinhas". Percebi que é um homem cheio de mundo. Convidei-o para desenvolver a ideia iniciada nas "Tamanquinhas", com o sentido de fazer uma exposição na Casa Da Cultura | Setúbal Aceitou o convite e entusiasmou-se. O resultado foi uma exposição transbordante de alegria e emoção. Em Maio de 2015 João de Azevedo expunha pela primeira vez o trabalho que desenvolveu à volta da capa desse álbum.

ROMA/SETÚBAL NA CAPA DE UM DISCO | Quando José Afonso convidou João de Azevedo para conceber graficamente a capa do disco, havia uma grande distância a separá-los. João estava em Itália, José Afonso em Setúbal. A encomenda foi feita com a tecnologia possível na época: telefone fixo. José Afonso ligou ao João solicitando a tarefa. O briefing foi feito assim: José Afonso cantarolou ao telefone a música que dá nome ao álbum e descreveu a ideia geral da coisa. Entendido o pretendido, João envia de Roma para Setúbal, por correio, o resultado final, com três hipóteses para escolha. A ilustração mantinha-se, mas os fundos eram à escolha do freguês José Afonso. Um era azul mais ou menos turquesa, outro era num amarelo assim para o torrado, e a terceira escolha era o rosa vivo que veio a ser escolhido pelo dito freguês. Esta história foi-me contada pelo João. Sei que José Afonso ficou radiante com este trabalho. Disse-mo a mim. Eu também gosto muito desta capa. E das outras.

O álbum "Com as minhas tamanquinhas" saiu em 1976. É o trabalho mais directamente político de José Afonso. Andam por lá denúncias, ironias, gozos tremendos. Os desenhos de João de Azevedo documentam essas preocupações e desejos, agora que estas músicas únicas e intemporais voltam a circular nos pratos dos gira-discos, nos leitores de CDs, nas plataformas musicais, nos nossos sentidos. Muito obrigado, João de Azevedo. Muito obrigado, José Afonso.

[Fotografia: João de Azevedo e José Afonso em Roma, e capa do álbum "Com as minhas tamanquinhas".
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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Às vezes não tenho jeito para falar de amigos


José Afonso morreu há 37 anos. O nosso comum amigo Henrique Guerreiro ligou-me a dar a notícia. Foi a madrugada mais triste que tinha vivido até aí. Continua a ser. Este fim marcou-me por muito tempo muito intensamente. Todos os anos a chegada deste dia deixa-me em completo desconforto. Doeu. Muito. Nesta imagem estou com José Afonso, em fotografia de Armando Reis, para um trabalho publicado em 1986. É a única fotografia que tenho em que estou com ele. Tempo em que fotografias só com máquinas fotográficas. Mas a memória guarda muitas imagens inesquecíveis. Quem conheceu José Afonso não o esquece. Mas quem não o conheceu pessoalmente também não o esquece. A sua obra não cairá no esquecimento, agora que está a ser reeditada e divulgada com o rigor que ele exigia.

José Afonso é a minha maior referência cultural e cidadã. Tive a sorte de ter crescido a trezentos metros de sua casa, em Setúbal. Comecei por ouvir o meu pai e a minha mãe falarem de um tal Dr. José Afonso que cantava baladas contra "a situação". Em 1973, entrou lá em casa "Cantares do Andarilho". "Vejam bem, que não há só gaivotas em terra, quando um homem se põe a pensar". Que estranho, que coisa nova está a acontecer à música feita no país do fado, futebol e touradas. Eu, que já não ia em festivais desde o fim da instrução primária, fiquei a pensar naquelas palavras. Sem palavras. 

Sempre me interessou o que se fazia no mundo. Sempre virei costas à imundice provinciana do fascismo setubalense. Havia até um clube que ostentava esse nome. Era o clube setubalense, inundado de empresários da cidade. Não eram admitidos "pés rapados", como eles diziam. O meu pai, pequeníssimo empresário, muito bem calçado, recusou-se sempre a entrar no covil. Eu percebi entretanto que existia um sítio chamado Círculo Cultural de Setúbal, mas a inferioridade da minha pouca idade não me permitia ainda subir as escadas do edifício da 5 de Outubro. José Afonso foi um dos seus fundadores e animadores. Um luxo em Setúbal. 

A figura de José Afonso sempre me fascinou. A minha sede de cosmopolitismo nasceu com o seu exemplo. Ele queria conhecer o mundo todo. Queria perceber a vida das pessoas. Foi viver para Setúbal para ser professor do Ensino Secundário. Escolheu Faro ou Setúbal. Porquê? Porque eram cidades perto de aeroportos. Calhou-lhe Setúbal na caderneta de professor. A coisa correu bem. Fez amigos e fez crescer atitudes. Correu mal quando foi denunciado por ter cantado "Os vampiros" numa sessão de convívio. Quem o denunciou foi a filha de um dirigente da bola que não era boa da bola. José Afonso adorava futebol, praticava a modalidade no pavilhão da Movauto, com outros amigos, mas nunca foi em futebóis. Mas, correu mal quando foi denunciado? Pelo contrário: perdeu-se um excelente professor, mas ganhou a cultura musical. A nova situação de desempregado obrigou-o a dedicar-se à música a tempo inteiro. Arnaldo Trindade percebeu o que poderia acontecer. José Afonso assinou contrato com a Orpheu e começou a gravar regularmente. A música portuguesa tornou-se sofisticada e interventiva. Metáforas literárias e visuais escondiam o que o regime fascista não queria que se ouvisse. Mas ouvíamos e percebíamos. 

A distância que senti em relação a alguém com tão elevada estatura intelectual não adivinhou a amizade que depois mantivemos até ao seu fim. Sem distâncias. José Afonso aproximava as pessoas. Tinha um fascínio que nos aproximava dele. Cultíssimo, bem informado, surpreendia-nos com um sentido de humor a que não estávamos habituados. Havia a surpresa. O inesperado. Era um astuto observador de realidades. Isso percebe-se na sua obra. O seu empenho nas causas cidadãs era notório e intenso. Conheci-o ainda nas instalações da 5 de Outubro do Círculo, já depois do dia 25 libertador. O café Tamar era lugar de encontro. Frequentava a sua casa. Tornei-me amigo da família. Até hoje. As estantes de livros daquela sala tão confortável, eram a floresta que me esclareceu hesitações literárias. Houve uma vez que, estando eu lá em casa, um jornalista espanhol que o foi entrevistar pediu-me para fazer as fotografias. Já fui fotógrafo da imprensa castelhana, portanto. 

Com a passagem do Círculo Cultural para a Rua Detrás da Guarda (estranho nome que ainda hoje se mantém, infelizmente), edifício onde hoje existe a Casa da Cultura, a minha intervenção na actividade da colectividade passou a atingir proporções de permanência. Graças à sua ligação ao Círculo participaram em sessões das mais variadas actividades as mais variadas figuras da cultura portuguesa. Como estudante com alguma disponibilidade acompanhei essas actividades por perto. Por perto não; por dentro. Conheci gente do teatro, da música, do cinema e de todas as áreas da cultura artística. Gente de grande talento e também generosidade. Acompanhei representações, carreguei caixotes, desenhei e distribuí a propaganda avisadora. Acompanhei grupos de teatro como "A Comuna" e "A Barraca". Músicos como Adriano, Vitorino, Fausto, Sérgio Godinho, Emilio Cao, Pi de la Serra, Luís Cília, José Mário Branco. Malta do teatro como Manuela de Freitas, Melim Teixeira, João D'Ávila, Jorge Silva Melo, Luís Miguel Cintra. Bem, não cabe aqui muito mais gente. Fiquemos por aqui.

Fui a muitos espectáculos com José Afonso. Era um grande privilégio acompanhar alguém que deixava tudo em estado de espanto com a sua chegada. Eu, munido de grande curiosidade intelectual, bebia as palavras e os sons de tantos artistas de esdrúxulo gabarito. Ficou algumas vezes em minha casa, quando regressava de espectáculos que acabavam tarde. A sua casa, na Bento Gonçalves, era perturbada pelo ruído de autocarros e trânsito intenso a horas que não o deixavam descansar depois de noite de canto e convívio até tarde.  A casa dos meus pais, onde eu então vivia, era mais resguardada. Lembro-me de falarmos de Arte em geral e de música em particular. Lembro-me do que ele não gostava nada e do que apreciava com vontade militante. Uma vez levei-o a uma exposição em que eu me tinha envolvido. Rogério Ribeiro, meu professor, expôs no Museu de Setúbal/Convento de Jesus. Exposição notável. A galeria foi redesenhada por Rogério Ribeiro. Quando lá cheguei com José Afonso, Rogério estava por lá. Apresentei-os. Ficaram amigos. José Afonso falava da exposição a toda a gente que lhe aparecia pela frente. Chegou a agradecer-me aquele contacto. Também "desabafou" comigo a sua opinião sobre as capas dos seus próprios discos. Falava com grande entusiasmo da relação de amizade com João de Azevedo, autor da capa de "Com as minhas tamanquinhas". Conheci mais tarde, muito mais tarde, esse homem maravilhoso que foi João de Azevedo. Percebi aquela amizade. 

Convidei o João de Azevedo para que desenvolvesse a ideia da capa das "tamanquinhas", para uma exposição na Casa da Cultura de Setúbal. Fez vinte trabalhos notáveis, formato 70X100, que depois correram mundo. Desenvolvi uma exposição, também na Casa da Cultura, sobre as capas dos trabalhos gravados com intervenção de designers. Esta exposição foi uma das maiores produções feitas naquela galeria. Tenciono voltar à carga. Muito brevemente será desenvolvido um trabalho que abordará essa inovação na concepção de capas de discos em Portugal. O design das capas dos discos de José Afonso são rigorosos manifestos visuais. 

Os trabalhos gravados de José Afonso estão a ser agora reeditados. Gravações remasterizadas que mantiveram as capas originais concebidas por designers como José Santa-Bárbara, José Brandão, João de Azevedo e Alberto Lopes. Trabalhos visuais que são pérolas. Fui convidado pela família e pelo editor para fazer os cartazes promotores dos lançamentos das novas edições. Trabalho que me honra e alegra. O Zeca (como era chamado pelos amigos) merece tudo. E todos merecem conhecer José Afonso. Recordá-lo é estar com ele. Há pessoas que não morrem. Vivem aqui, todos os dias, na nossa memória e na obra. E que obra. Muito obrigado, Zeca.

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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Normalizar anormalidades


Parece que estamos a assistir a uma intensa normalização da extrema-direita. Vale tudo. Como se não bastasse o chunga neofascista, os palonços empenhados em normalizar a direita mais abjecta, vão buscar o amigo de políticos adeptos do compadrio e do capitalismo popular. Cavaco foi a primeira cara da extrema-direita em Portugal. Cavaco só dispara inanidades. Também os programas da manhã das televisões generalistas andam a normalizar os novos fascistas. Isto não é normal. É abjecto. Mas, se pensarmos bem, até faz sentido. Os programas da manhã das televisões generalistas são feitos por idiotas para idiotas.

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O tempo dos grunhos

Um grunho candidato do partido neofascista, proferiu afirmações sexistas e xenófobas em debate público. Ana Abrunhosa sentiu-se insultada. Pediu desculpa aos presentes e abandonou a sala. O grunho justificou-se agravando a sua atitude. Para ele, Ana Abrunhosa abandonou a sala por questões ideológicas. A atitude dele não é ideológica? É um ungido pelos deuses? Grunho é grunho, não muda mesmo quando se quer limpar da lama em que se envolve. 

Por outro lado, o chefe dos neofascistas veio assumir que era o líder dos polícias que querem subverter o sistema democrático. Percebemos tudo. Havia mulheres a espreitar atrás do chefe dos grunhos. Ver uma mulher a apoiar o Chega é repugnante. Esta gente quer ser condenada a arear tachos e panelas e a ser protegida pelo macho que se instala na sala a ler o Correio da Manhã? Que gente é esta?!

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Dia Mundial da Justiça Social


Vamos comemorar, denunciar, simplesmente assinalar, ou lutar?

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Debater, debater, debater

A GRANDE BALBÚRDIA VAI SER O DIABO | Luís Montenegro estava mal preparado. Pedro Nuno Santos estava bem preparado. Desta vez os senhores comentadores estão quase todos de acordo. Isto apesar da parvoíce do discurso futebolístico. Não há pachorra para tanta bola à trave, ou lá o que é. Eu, que não sou comentador, comento o seguinte: a grande balbúrdia de que fala Pedro Nuno Santos ainda está para acontecer. A balbúrdia de que fala Pedro Nuno Santos é o diabo de Pedro Passos Coelho. Debater é importante, mas governar também é preciso. Por este andar teme-se o pior.

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domingo, 18 de fevereiro de 2024

Os senhores comentadores

Carmo Afonso põe os pontos nos is. Ou, para sermos mais exactos, põe dois pontos na conversa fiada dos senhores comentadores: quem mente ganha debates? É a mentira estratégia aceitável? Tenham juízo, senhores comentadores da treta.



sábado, 17 de fevereiro de 2024

E agora o filme

https://fb.watch/qgO2GGdUEG/

A MENINA COM OS OLHOS OCUPADOS | O filme está a chegar. Fiz parte do júri do Prémio Nacional de Ilustração que distinguiu este trabalho do André. Fico mesmo muito contente com este trajecto. O livro é simplesmente incrível. Pedagógico e lindo. O filme vai ser outra pérola fornecida por este artista extraordinário. Anseio por vê-lo.

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Nunca lutes com um porco; ficas todo sujo, e ainda por cima o porco gosta.
Bernard Shaw
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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Caminhar na paisagem

A exposição de Miguel Navas na
Galeria Monumental é um caso. Excelente exposição onde a surpresa se instala em cada trabalho. Fazer este percurso esclarece a vontade do artista de olharmos a paisagem percorrendo-a com outros sapatos.

A paisagem observa-nos. Encontramos ali a surpresa. Maneiras inéditas de a representar. Há também influências? Claro, a pintura não nasceu minutos antes de Miguel Navas entrar no seu atelier, mas percebe-se a originalidade. A procura de outros caminhos. Percebe-se a necessidade de representação de uma outra paisagem. Esta paisagem comunica connosco. Apela a uma circulação pela sala. Visitamos os trilhos da originalidade pictórica. As diferenças surpreendem-nos. Encontrar as semelhanças com a realidade é tarefa escusada. Interessa a vontade de descobrir o novo. Há o interesse em olhar o futuro da pintura. O artista pinta sempre o mesmo quadro. As premissas são rebuscadas do interior da mente. Mas hoje é um dia diferente de ontem. Mudamos. Nós é que mudamos sempre e olhamos sempre uma paisagem diferente. Acontece isso quando olhamos esta pintura. Hoje vi as coisas assim: há ali autenticidade, muito trabalho de observação e vontade de transformação. Não existe aqui a piroseira representativa forçada. A parolice da habilidade não faz aqui sentido. A surpresa acontece. Acontece sempre na pintura de Miguel Navas.
O Manuel San-Payo solicitou-me autorização para incluir na folha de sala um texto meu sobre o trabalho de Miguel Navas, publicado aqui dias antes da abertura da exposição. O artista sugeriu isso. Fiquei contente e honrado. O pequeno texto foi lá colocado. Esta opinião completa esse meu olhar. Parabéns, Miguel. E até breve, na Casa Da Cultura | Setúbal.
[Esta exposição termina neste sábado. Apressem-se. Só ganham com isso].

Kremlin: ordem para matar

Navalny morreu na prisão depois de uma caminhada. Esta é a versão oficial dos déspotas russos. Mas, com o historial de crimes por envenenamento que têm no curriculum, alguém acredita na candura dos esbirros do criminoso Putin? Estar preso por pensar diferente já é um crime cometido pelo regime. Morrer por isso é uma afronta a quem defende a liberdade. Putin é o chefe de um gangue de criminosos vulgares, mas com ordem para matar por terem o criminoso Putin como chefe. 

Foto: Kirill Kudryavtsev / AFP

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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

As palavras são actos

Mariana Mortágua colocou o neofascista no seu lugar: o lugar dos delinquentes políticos que pululam no partido neofascista. O neofascista enervou-se. Os neofascistas enervam-se sempre que percebem que são efectivamente criminosos. Nunca querem perceber. Assobiam para o lado e rolam na carpete. O facto de estar perante uma mulher não é irrelevante. Os neofascistas são sexistas, misóginos e mesmo machistas. Este Ventura é um delinquente verbal que resvala quase sempre para a delinquência efectiva. Também o outro líder de extrema-direita, disfarçado de liberal refervido e aparentemente mais civilizado, foi "esclarecido" por Mariana Mortágua. Este debate foi esclarecedor. É que as palavras são actos. Que Mariana inspire os outros candidatos de esquerda. Os fascistas são desprezíveis, mas existem. Devem ser combatidos com desprezo inteligente. Ainda há muita gente a acreditar no lobo mau justicialista. 

Receituário

A OUTRA MARGEM | No próximo sábado, dia 17, vamos falar sobre o que é a outra margem. A margem sul é o lado de lá. O lado que não é o nosso. E onde fica o nosso lado?

Sábado, às quatro e meia da tarde, lá estaremos, na Casa Da Cultura | Setúbal, para conversarmos sobre este assunto que motivou o trabalho fotográfico de Luís Ramos, exposto nas galerias da Casa. Vamos até lá.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Debater o quê?

CHEGAR AO POTE COM O CHEGA? | Os debates eleitorais andam longe da minha curiosidade. O candidato do partido neofascista causa-me infecções e alergias. O estilo é repugnante. Um malcriado sem trambelho.

Mas ontem acabei por ouvir e ver, entrecortadamente, a contenda entre o neofascista e Montenegro. Aquilo ferveu. Foi feio. E com emissão estendida no tempo. Parece que foi o debate mais longo. O que pretende o jornalista com o prolongamento? Esclarecer o entendimento entre a direita?
Montenegro respondeu no final que o PS é o seu principal adversário. Coitado do homem. Mas o que é que este tótó ainda não percebeu? Com a debandada de gente do PPD/PSD por achar que as hipóteses de eleição pelo partido neofascista é mais segura para chegar ao pote, Montenegro arrisca-se a ficar sozinho no estrado. Até empresários de casas de alterne estão na fila para entrar na Assembleia da República. Bem, talvez Montenegro se esteja a livrar dos neofascistas que ainda por ali andavam. Terão já abandonado todos a chamada social-democracia? Ou ainda estão a ver onde vão parar as modas eleitorais? O principal adversário do PPD/PSD é o partido neofascista "Chega", estúpidos! Abram os olhos!

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Entre basalto e flores em Angra








Abertura da exposição ENTRE BASALTO E FLORES, de Ana Maria Bettencourt, em Angra do Heroísmo. Reencontro de amigos e curiosidade por este trabalho que interpreta a paisagem açoriana com rigor intelectual e estético. A intervenção do presidente da edilidade, José Gabriel do Álamo Meneses, foi uma lição sobre o que deve ser feito para preservar o que de bom existe. Ana Maria Bettencourt esclareceu motivos e vontades. Todos os visitantes saíram dali com a curiosidade satisfeita mas com vontade de ver mais. Foi bom. Muito bom.