sábado, 24 de fevereiro de 2024


Escrevi este texto para o catálogo da próxima exposição que vai acontecer nas galerias da
Casa Da Cultura | Setúbal e da Casa da Avenida. Vai ser uma exposição importante na programação das exposições deste ano. Este ano temos grandes artistas a circular nas nossas galerias. Nos anos anteriores também. E nos próximos. Segue o convite.

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA | O sofrimento das pessoas preocupa quem conta as histórias das pessoas. A pintura que quer perceber o que se passa em seu redor interpreta situações e provoca interrogações. O sofrimento de quem vive na ilha ao lado é o nosso sofrimento. Sofremos perante privações e injustiças. Fugimos da agressão. Tememos a ameaça. Já não há heróis românticos. Os heróis de hoje sofrem e desesperam. Choram e anseiam pelo fim do sofrimento. Procuram e lutam pela paz. A paz, essa prática de vida tão instável. A pintura faz representações do sofrimento humano com uma assertividade que se justifica pela crueza da aplicação pictórica. Paulo Robalo faz isso. Faz ranger as trinchas e as espátulas. Interpreta nos suportes a vida das pessoas que sofrem. Gente que quer fugir ao sofrimento. Há um som que se solta destes painéis tão intensamente marcados pelos apetrechos que riscam e rasgam a tela. Estas telas mostram vidas que sofrem. Vidas que acabam. O mar engole muitos dos que fogem à miséria que as guerras impõem. A beleza não está nos planos lisos e esteticamente bem comportados. Essa preocupação decorativa não existe aqui. Denunciar o sofrimento é preciso. Navegar (assim) não é preciso.
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