segunda-feira, 11 de abril de 2022

Allons enfants de la patrie


Assistimos hoje a situações que nunca imaginámos concretizadas. Os poderes são disputados pelas direitas, enquanto as esquerdas assistem impotentes. Há países onde a extrema-direita ganha eleições. Mas o mais grave é quando a disputa é entre a direita e a extrema-direita. Ou entre extremas-direitas. 

Hoje assistimos a uma guerra sangrenta entre duas extremas-direitas, por puro interesse hegemónico. Quem se lixa é quem sofre debaixo das balas ou perfurado por elas. Um Putin fascista vê nazis por todo o lado, tornando o seu rival agredido herói mundial. Para as extremas-direitas não há ideias. Há conquistas e imposições de ajustamentos purificadores. Aqui mais perto, apesar de com contornos mais aligeirados, podemos acrescentar o que se passa em Portugal e Espanha. Os terceiros lugares nas votações são disputados pelas direitas mais extremas, remetendo as outras esquerdas para o pelotão de trás. Será que o eleitorado está doido, ou é a esquerda que não está a ver bem o filme e prefere assistir à projecção instalada no segundo balcão?

Vamos percebendo que o perigo é real. Por cá temos um energúmeno fascista sem qualidades retóricas nem decência a conquistar substantivo eleitorado. Em Espanha, a extrema-direita franquista (já alinham em aconchegos saudosistas com o sinistro criminoso Franco) prepara-se para crescer sem freio. Em Moscovo, um ditador enlouquecido, não quer saber de democracias de trazer por casa e ataca desprezando vidas humanas até à abjecção. 

Em França temos um bico de obra que é um pau de dois bicos. Para que uma fascista sem vergonha assuma a Presidência é preciso votar num autocrata que é o que for preciso para estar no poder, queimando tudo o que pode ser alternativa à sua volta. Estes políticos egocêntricos da direita populista não têm o mínimo respeito pelas opiniões dos outros ou pela vida das pessoas. São projectos unipessoais de exercício do poder. França vai ser um bico de obra se Le Pen ganha aquilo. A Europa fica fragilizada, e isso, nos tempos que correm, é mesmo muito mau para os europeus. Mas pedir ao eleitorado de esquerda para votar no sempre-em-pé Macron é como ir comprar lã e sair tosquiado.

É já tempo de a esquerda se unir e arranjar soluções eficazes para as tormentas do mundo. As pessoas precisam de ser protegidas e de ter esperança no futuro. Se o neoliberalismo da extrema-direita — que só promete o salve-se quem puder — tem tanto sucesso que até já tem as suas hienas a guinchar nos parlamentos democráticos, a esquerda deve dizer claramente que é muito melhor do que isso: quer justiça social, protegendo as pessoas, e é mais eficaz na aplicação do sistema ao serviço das populações e dos seus anseios. A esquerda existe para combater a direita serôdia e bafienta. A direita é sempre serôdia e bafienta, mesmo quando se higieniza e disfarça de liberal e democrata.