quarta-feira, 31 de março de 2021

Porque...


SONHO| Trio de luxo: Eugénio de Andrade, Fausto, José Afonso. Regresso a esta música com frequência. Preciso dela. É raro sentirmos a perfeição. Não existe. Mas aqui parece tanto estarmos perto. O Sonho, a proximidade do outro, o desejo, o estremecimento, a procura do prazer. A paixão. Tão simples. A simplicidade tem tanta sofisticação.

terça-feira, 30 de março de 2021

Não vem o silêncio sentar-se à minha mesa


POR UM MOMENTO ME FUI HABITUANDO
 | O sentimento de inércia, outra palavra da física adaptada ao discurso coloquial, está escarrapachado neste poema de José Afonso. "Hoje não saio, sinto-me perdido". Mas um possível desconfinamento gradual parece estar aqui: "O país conhece a autópsia do dia/Amanhã o ruído das crianças interrompe-me o sono". 

Solidão, recolhimento, desespero. Esperança contida. Belíssimo texto.

Era só para nos lembrarmos disto: José Afonso escreveu sobre muito. E bem.

TEXTOS E CANÇÕES Autor: José Afonso. Organização: Elfride Engelmayer. Capa: Paulo Scavullo. Edição: Relógio d'água. Outubro 2000.

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segunda-feira, 29 de março de 2021


Martha Mendes
 no Facebook: O Doutor Carlos Moedas, ontem, em conversa com o Ricardo Araújo Pereira, disse em tom depreciativo e a armar ao engraçado, a propósito de Monica Bellucci, que a Diva italiana “já tinha uma certa idade”, era “um nome do passado”, “muito anos 80” e que “os miúdos já não conhecem isso”. O Doutor Carlos Moedas faz jus ao nome: ele é mais trocos.

[Na foto: Monica Belluci fotografada há dois meses, aos 56 anos, para a mais recente campanha da Cartier, uma das marcas mais premium e high-profile do mundo. De facto, é um cheiro a mofo que não se aguenta, Doutor Moedas. Já o Doutor está aí no ponto. Uma tentação. Só não perde a cabeça quem já desistiu de].

CONTAR TROCOS | Não vi a entrevista. Só li o texto da
Martha
. Percebo que o tal de Moedas está a precisar de ir ao
Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto
. Mas pior ainda do que a falta de vista são as vistas curtas. E mais esta: quem se mete com a Mónica leva... Espero que um par de patins, em Lisboa.

domingo, 28 de março de 2021

Design de comunicação





DA SÉRIE GRANDES CAPAS | A escolha é da Creative Review, que contemplou mais uns  quantos trabalhos para a selecção do melhor publicado em 2020.
 

Eu escolhi estes. Um deles — New Yorker — já tinha sido chamado a figurar aqui neste lugar. Assunto encerrado por agora. Não tarda nada há mais .

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sábado, 27 de março de 2021

Dia Mundial do Teatro


SENTIR
| Agora chama-se resiliência à capacidade de resistir. A palavra foi adaptada de outra disciplina, a Física, para designar a capacidade que temos de resistir às ameaças. Depois de um mergulho profundo, voltamos à tona e à chamada normalidade. Vamos ficar todos bem, diz-se. Somos uns sempre-em-pé. 

De toda a gente que trabalha na cultura, é o pessoal dos espectáculos que mais sofre com esta enormidade pandémica. As cortinas fecharam por tempo indeterminado. A malta foi para casa. Uns tentaram fazer outras coisas, outros não conseguem fazer mais nada. São artistas. Precisam de pisar os estrados onde nos mostram o seu talento. A sua imensa e intensa vontade de fazer rir, meditar, ver as diferenças das coisas. Precisamos de sentir isso. Fernando Pessoa tem razão — como quase sempre, aliás — quando diz: sentir é compreender. Não podemos ficar rendidos aos miseráveis entretenimentos televisivos que nos remetem para a absoluta indigência mental. Já temos os livros, é certo, e a televisão por cabo que nos propõe viagens e sonhos, mas precisamos de estar com vocês ali, nas tábuas, ao vivo. 

TEATRO é outra palavra adaptada a circunstâncias diversas. Fala-se em teatro sempre que se quer definir acção no terreno. Fala-se em teatro das operações ou em teatro de guerra. Os políticos, quando estão no teatro da política, declamam que estamos em guerra contra um inimigo desconhecido. Estamos de facto nesse teatro. E nessa guerra. É esse inimigo que estamos a combater. Todos. E vamos vencê-lo. Temos que voltar às salas de espectáculo, aos anfiteatros, às galerias, aos cafés, aos restaurantes, às esplanadas, aos passeios pela cidade, mas, confesso, tenho acima de tudo saudades de voltar a ver os meus amigos actores e actrizes a trabalhar. O teatro interpreta a vida. E sem essa interpretação a vida é uma merda. 

Muito obrigado. Muito obrigado mesmo. E até breve.

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Ricardo Guerreiro Campos







A DOR DÓI, O BOI MUGE | Ricardo Guerreiro Campos expôs na galeria da Casa da Cultura - Setúbal em fevereiro de 2016. Originalidade didáctica em saudável convívio com entusiasmo e rigor. Teatralização de formas conjugadas em espaço vivo e actuante. Transformação de matéria com sentido inteligível da forma e da cor. Exposição/instalação com apresentação do crítico de arte e professor Carlos Vidal que disse assim:  

CONSTRUIR FORMAS: A TAREFA DO AUTOR E DO OBSERVADORO trabalho pictórico realizado pelo Ricardo Campos no seu ano de finalista da FBAUL (2014) levou à letra a expressão “trabalho pictórico”. Primeiro, porque se tratava de um trabalho mesmo – o autor preparava, arranjava ou cortava os suportes, muitas vezes rectângulos de madeira de baixa altura e dimensão em extensão horizontal, preparava, construía o suporte onde fazia inscrever um fragmento de imagem. Em segundo lugar, dir-se-ia que essa “imagem” era sempre pictórica, ou fantasmagoricamente pictórica não sendo puramente da ordem da pintura: evocava o preto e branco do desenho quanto o preto e branco da fotografia.

Por fim, não só o suporte como também a imagem eram trabalhados, retalhados, reduzidos ao fragmento quase ilegível de tão subtil. O ponto de partida para o pequeno desenho inscrito na larga e horizontal “linha” ou pedaço de madeira podia ser a fotografia ou um frame de um vídeo, mas uma imagem trabalhada era/é, sobretudo, um fragmento (uma boca, mão, uma linha branca num rectângulo maior, etc.), fragmento esse que, devido à sua escala e forma de presença, ora não era visto, ora era/é visto como aquilo que não era (não é): um desenho, uma fotografia p/b, uma parte da própria ripa quando os nós se faziam notar. O que parece não é – se algo parece um desenho, é porque é uma pintura (o contrário também é aplicável).

De outro modo, havia um jogo e um trabalho: o trabalho supunha a feitura do suporte e da imagem, o jogo tratava de nos fazer oscilar entre imagens (quando a imagem central, um corpo, por exemplo), entre imagens e entre o pequeno e o grande formato, pois o trabalho convocava o exterior à imagem e nele integrava a não-imagem, ou seja, aqui, o vazio.
E o formato, grande ou pequeno tudo aqui parece ser da ordem do indecidível, é fruto tanto da imagem como do seu exterior, quer dizer, a imagem é todo o campo do suporte, ora preenchido, ora esvaziado: esvaziado de imagem mas contaminado por esta.
Uma palavra que podemos ir buscar pode ser “interactividade”. A imagem joga com o que a rodeia, teatraliza todo o campo (e a realidade da cenografia e do teatro não é estranha ao autor, com experiência no terreno); a imagem interage com o vazio e espaço que a cerca/rodeia. Dessa envolvente a imagem deixa de o ser para, tudo no seu conjunto, ser antes FORMA, outra Realidade (pois muitas vezes a imagem é Realista e a capacidade de representação do autor vem à superfície).

Mas a FORMA é o conjunto da imagem, do que a rodeia e do suporte. Esta interacção é interior ao “trabalho pictórico”, é esta interacção que faz de um trabalho um “trabalho pictórico” e não apenas um desenho ou uma pintura, se não quisermos usar o termo “instalação” (também viável). Esta realidade interna é interactiva, disse, mas também performativa.
O “trabalho pictórico” é performativo porque as suas partes relacionam-se e fazem-se umas às outras ou umas com as outras. Trata-se, portanto, de uma performance pictórica. Mas há, no Ricardo Campos, uma outra vontade: não só a que o liga ao teatro, mas também à arte como campo que pode formar o visível, o gosto pelo visível, o gosto pictórico ou, numa perspectiva digamos “humanista”, o autor não deixa de estar ligado à arte como coisa potenciadora de educação e formação, frequentando mesmo um mestrado em Educação Artística.
Então teremos de concluir que a arte educa porque impõe ao espectador um trabalho, que é um trabalho de ver e construir o visível. Um trabalho paralelo, claro, ao do artista. Que vê, constrói e volta a ver. E dessa conjugação nascem as Formas. [
Carlos Vidal, 2016] 

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sexta-feira, 26 de março de 2021

Mónica Garcia







Em Maio de 2018 Mónica Garcia expunha na galeria da Casa da Cultura - Setúbal. Recordo agora as palavras que alinhámos para descrever o acontecimento. Acrescento que foi uma das mais marcantes exposições na galeria da Casa. 

A ZONA | Monica Garcia é artista visual. Vai ter, na galeria da Casa Da Cultura | Setúbal, uma instalação que mete materiais que se transformam e alteram tudo todos os dias. Eu diria que esta exposição vai ser muitas exposições. Nos dois últimos parágrafos do texto que escreveu para a publicação que explica A ZONA, diz:
"Na Zona, ponto, linha e mancha expressam-se utilizando a força da gravidade, a pressão atmosférica, a densidade, a distância e o tempo, como suporte para criar uma poesia espacial através da exploração dos limites da plasticidade do material com que tais elementos são formados.
O processo revela-se tão importante quanto o resultado. Recorrendo a ciclos temporais para a reconfiguração do espaço, a Zona pode ser encarada como uma instalação space-time specific, onde diversos pontos de contacto vibram entre si dentro de um laboratório de observações".

quinta-feira, 25 de março de 2021

Jean-Jacques Pardete


Morreu o meu amigo Jean-Jacques Pardete. Amigo de muitos anos e de muitas exposições e outras acções. Todos os anos convivíamos na Festa da Ilustração - Setúbal. Na montagem das exposições e na fruição da Festa. E como eu gostava de me encontrar com ele. Divertido, com um sentido de humor tortuoso, encontrava sempre uma piada lúcida para contornar um atropelo. Eu gostava muito do Jean-Jacques. Este fim entristece-me. Homenageio-o assim.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Jasper Johns



HÁ UM PRINCÍPIO PARA TUDO | Nasceu longe dos enleios artísticos e culturais. Depois da tropa foi para a grande cidade. 

Em Nova Iorque, Jasper Johns conhece Robert RauschenbergMerce CunninghamMarcel Duchamp, John Cage e Leo castelli. A amizade com Castelli, que conheceu numa exposição colectiva em que participou, levou a que o galerista organizasse a sua primeira exposição individual. O trabalho de Jasper Johns foi desde muito cedo reconhecido pelos seus pares e classificadores. Os motivos muito gráficos — bandeiras, mapas, cartas e impressos — eram transformados pela acção do seu gesto pessoal e intransmissível. O tratamento que deu à bandeira norte-americana ficou célebre.

Estas páginas têm mais informação com uma certa utilidade: www.tate.org.uk/  e arteref.com/

Vamos viajando da maneira possível.

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segunda-feira, 22 de março de 2021

Chalupas negacionistas



VÍRUS, AMIGO, A MALTA ESTÁ CONTIGO | Esta gente não pode ser levada a sério. 

Esta maluca do cabelo azul consegue dizer sem se rir e sem tino que não é contra o vírus que se manifesta, mas sim contra o combate ao vírus. Isto é: vírus, cumpre o teu dever. Com liberdade, que a malta não gosta de confinamentos completamente desnecessários. Contra as vacinas. Pelas rezas. Sem máscara. Sem protecção. Sem cérebro. As inanidades que brotam destas bocas porcas são um insulto a quem respeita o outro. Anormais básicos. Ignorantes encartados.

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Jina Nebe

 

REAIS PRESENÇAS |
Jina Nebe
expôs pinturas e fotografias, na galeria da
Casa Da Cultura | Setúbal
, em Novembro de 2019. Foi outra das participações estrangeiras na programação da galeria da Casa. E eu escrevinhei umas palavras na folha de sala. As citações que as antecedem servem para que a coisa se "perceba" melhor.


Toda a arte verdadeira é abstracta na sua estrutura.
Se o fotógrafo não é um descobridor, então não é um artista. Paul Strand

Eu não fotografo a natureza. Fotografo as minhas visões.
Fotografaria uma ideia antes de um objecto, um sonho antes de uma ideia. Man Ray 



IMPREVISÍVEL REALIDADE | Há imagens que nos impõem surpresa e assombro. Quando se viaja por estradas aéreas é a distância que dita a observação. O mundo é limitado e atingível. Está ao nosso alcance, mas os limites são imperceptíveis. 

A vontade de representação passa à necessidade de se encontrarem contornos. Tornar visível num plano o que se observou de tão longe. A complexidade passa a simplicidade. Aqui, observamos relevos em sucessões de cores e sombras. Jina Nebe convoca os materiais mais diversos para esta vontade de se exprimir. Esta exposição são várias exposições. A artista quis mostrar aqui - talvez por ser esta a primeira vez que expõe na cidade -, a diversidade do seu trabalho. Circulamos por trilhos que nos são estranhos. Há por ali muita rota. Muito caminho percorrido pela densidade das impressões fotográficas, da diluição das tintas, das raspagens mais agressivas. Caminhamos pelo ar. Podemos até levitar. Quem nos impede? Estes trabalhos devem ser vistos com os olhos e a mente disponíveis para a mudança. Mudar é bom, quando se muda para melhor. Para quê fazer o que já foi feito? Para quê insistir na facilidade da habilidade? 

O artista deve surpreender. Sempre".


Enquanto a realidade não o permite, podemos "frequentar" outros trabalhos neste local: Jina Nebe

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domingo, 21 de março de 2021

Dia Mundial da Poesia

Eu, que não tenho nenhuma certeza, sinto que a poesia é isto:

Gamy Fernandes





ENLEIOS E AMARRAS | No dia 5 de novembro de 2016 abria à nossa curiosidade, na Casa da Cultura - Setúbal, uma exposição de pinturas de Gamy Fernandes. Os apetrechos de pesca são o motivo. Título da mostra: Enleios e Amarras. 

Os desenvolvimentos expostos abordam pela forma e cor objectos e texturas que procuram uma linguagem própria. Uma estética pessoal. Entre a procura e o disfarce. Entre a melancolia e a alegria. Ambientes desgastados, mas trazidos até aqui em alusão a uma actividade que se enleia na vida dura de gente viva. Convoquei para a folha de sala e para as paredes da galeria um texto de Raúl Brandão que pudesse servir  as filosofias de circunstância. Diz assim: 

O Sol já se pôs e não vi o raio verde... O Mundo não existe, o mundo é a luz. 

Tão bom, não é? Foi assim, já lá vão cinco anos. Quem quiser conhecer melhor o trabalho de Gamy Fernandes pode aceder ao seu sítio aqui no pedaço: gamyfernandes.wixsite.com/

Assim vamos recordando o passado, esperando melhores dias para o futuro.

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sábado, 20 de março de 2021

Flávio Andrade





REFRESCO | Flávio Andrade apresentou-nos este soberbo projecto em Agosto de 2013, na galeria da Casa da Cultura - Setúbal. Sobre as fotografias foram publicados textos de dois grandes conhecedores do ofício: José Soudo e José Miguel Sardo. É com pequenos excertos desses testemunhos que vos deixo. Mas se quiserem conhecer melhor o trabalho do Flávio vão até aqui: 
www.flavioandrade.com

"A capacidade de contacto pessoa a pessoa com a aproximação possível, sem intrusão abusiva no espaço alheio, permitindo-nos a nós, agora que vemos as imagens, sentir que poderíamos estar naquele mesmo lugar, como fotografados ou até como fotógrafos, também por lá anda, qual Friedmann ou melhor, qual Capa, incisivo na necessidade de aproximação, como algo de determinante e significativo, para que a fotografia conquistada, represente afeto e respeito pelo “outro”, o que está do lado de lá da câmara. A intemporalidade destas imagens, também são um dos seus cunhos mais marcantes, pois elas não têm tempo, nem lugar, mesmo que lhes consigamos identificar algum sítio ou algum momento. São do passado, assim como podem ser do presente, ou quem sabe, de um futuro que estará para chegar. Para terminar e não me alongar mais, sinto-lhes a modernidade, assim como a contemporaneidade. Afinal, todas estas razões, foram as que me fizeram evocar as memórias de tempos idos, assim como as memórias de um tempo moderno e, claro, as de agora, de um tempo contemporâneo. O fotógrafo autor movimentou-se muito bem em todas estas águas. O fotógrafo autor movimenta-se muito bem em todas estas águas Com a amizade e o respeito que nos liga, há muitos anos, só lhe posso agradecer o que nos dá a ver. Esta tensão e sobriedade, conjugadas com o prazer, que colocou na construção e na escolha final das imagens que agora partilha connosco." José Soudo | Fotógrafo e docente de Fotografia e História da Fotografia

"A praia de "Refresco" é um território que toda a gente reconhece mas onde ninguém se revê. Uma imagem em 24 por segundo de um vídeo de férias. Uma recordação vaga de verão carregada dessa resignação que nos invade nos primeiros dias de agosto e da nostalgia dos primeiros chuviscos de inverno. Um refresco, conservado no congelador, como uma promessa de melhores dias de sol nesse território desértico, aberto, oficialmente, apenas 3 meses por ano". José Miguel Sardo  | Jornalista 

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sexta-feira, 19 de março de 2021

Tratar os bois pelos nomes


O Expresso tem um problema: tem esta besta quadrada a escrever alarvidades por lá.

A ligeireza verbal que este cretino utiliza para interpretar um problema gravíssimo, é de bradar ao céu dos pardais, que é a barriga dos gatos. Há pachorra para tanta delinquência intelectual? Existirá uma cultura destes alarves justiceiros?






Em Outubro de 2017 foi a vez de Graça Ezequiel expôr na galeria da Casa da Cultura - Setúbal. A exposição respondia por ROSTOS EM SOL MENOR. João Paulo Cotrim apresentou. Seguem os textos que promoveram o acto. Continuamos a recordar, enquanto não temos ordem de soltura total. 

NOS BASTIDORES | É João Paulo Cotrim que o diz na folha de sala:
Ninguém dá por ela, como convém a um bom fotógrafo. A Graça desfaz-se nos cenários, nas paisagens, nos momentos. Ninguém a vê. E por isso o seu território outro não é que os bastidores. Mesmo quando fotografa o palco, o que nos dá a ver é o outro lado, o da preparação, o esboço antes do risco final, o momento em que o artista se apaga para deixar entrever o indivíduo. Em performance ou repouso, de atenção presa ou distraído no acaso, alguém foi apanhado sendo. Apenas sendo, vibrantemente existindo. Daí o negro, a enorme quantidade de negro que estas fotos contêm. No palco, pouco mais há além do negro profundo, a cor da arte, e precisamos do olhar e da câmara da Graça para libertar a luz destes rostos. Eles estão a criar para nós, a dizer que não podemos ser apenas isto, que no negro se encontram todas as cores que precisamos para abrir mundos neste. Ensaiando ou descontraindo, como representando ou dizendo, o escritor, o artista, o actor, o músico são mais, são maiores. Por serem nós, por nos fazem ser com eles. São magnéticos porque atraem a limalha das nossas existências. Gastei horas olhando os matizes que brincam na pupila daquele olho, de penetrante azul. E mais ainda ouvindo as marimbas de brincar numa das mãos do baterista, enquanto a outra faz vibrar a pele. E os olhos são toda uma outra conversa e vede com dizem, aos gritos ou em sussurros. Isto aprendemos, sem qualquer pretensão de ensinar, com os retratos da Graça. A ver no escuro.
Desta vez Graça Ezequiel saiu dos bastidores e veio mostrar o que anda a fazer naqueles sítios onde ninguém dá por ela. Ontem, na abertura da sua exposição, na galeria da Casa Da Cultura | Setúbal, alguns dos "modelos" vieram perceber como ficam quando estão no escuro a recitar os clássicos e os contemporâneos, a libertar os sons dos instrumentos e a cantar. O que melhor sabem fazer — por profissão ou prazer — está ali pendurado naquelas paredes.
O encontro durou pela noite fora. Ou será pela noite dentro? 

quinta-feira, 18 de março de 2021

Racismo de sofá



Os candidatos à Câmara de Lisboa estão aí. O PPD/PSD e o CDS/PP, aliados a monárquicos direitolas e a adeptos do anedótico partido de Tino de Rans, apresentam-se de mãos dadas com o Moedas das privatizações à lei da Troika.

Os fascistas trazem para a ribalta um apresentador de programas de televisão para atrasados mentais. Está conforme o seu eleitorado. Medina será o proposto pelo seu partido, João Ferreira pelo seu, e o Bloco trouxe para a frente Beatriz Gomes Dias. A escolha de Beatriz não agradou aos racistas mais sensíveis. Parece que os insultos são mato na pantanosa floresta das redes sociais. Confesso que não me apercebo das inanidades que os vândalos de serviço alardeiam. Nem tenciono perder muito tempo com os energúmenos fascistas/racistas que bolsam em parangonas de alarvidade o seu ódio imbecil. Questão de higiene. Mas estamos esclarecidos neste ponto: os racistas existem em Portugal. Agridem, conspurcam, espalham uma mediocridade que nos envergonha como cidadãos. E crescem como merda lançada na ventoinha. Fascistas e racistas não se respeitam. É combatê-los. Sempre. 

quarta-feira, 17 de março de 2021

Design de comunicação


Da série Grandes Capas. Newsweek.

terça-feira, 16 de março de 2021

José Maria Bustorff









EVOLUÇÃO
| Em fevereiro de 2018, Bustorff expôs na galeria da Casa da Cultura e na Casa da Avenida, trabalhos de grande formato  a que deu este dialéctico título. Recordo aqui a informação que recolhi e integrei no material de comunicação:

 Jochen Bustorff veio a Portugal em 1974. Queria perceber o que se estava a passar. Os enredos que levaram à instalação da democracia aguçaram-lhe a curiosidade. Ficou por cá durante todo o processo inicial. Viveu alguns anos em Setúbal. Depois continuou a correr mundo, mas voltou a Portugal e ficou a morar e a trabalhar em Pombal. Até mudou o nome artístico para José Maria Bustorff. Agora vai voltar à cidade onde foi feliz. Setúbal vai acolher duas exposições do pintor — Casa Da Cultura | Setúbal e Casa d’Avenida. Chamou a estas mostras EVOLUÇÃO. Podem ser visitadas durante todo o mês de fevereiro.

A biografia que se segue esclarece o que foi possível apurar de um artista andarilho que não sabe estar quieto.

José Maria Bustorff fez o curso superior de belas-artes em Hamburgo. Após conclusão da licenciatura, o governo alemão concedeu-lhe uma bolsa para estudar arte popular em Portugal, no Alentejo. Resulta desse estudo a publicação do livro Diário do Alentejo, em português e alemão. Viveu depois em Setúbal, onde fez grandes amizades. José Afonso foi um desses amigos, tornando-se o poeta-cantor grande referência para o pintor. Em 1982 trabalhou para o ministério da agricultura de Moçambique, como responsável por um projeto editorial. Três anos mais tarde viaja para Roma, entregando-se exclusivamente à pintura.
Viajou pelos grandes desertos de África, documentando, fotografando e desenhando outras realidades. Deu aulas na Universidade da Namíbia.
Entre 1992 e 1994 residiu em Paris, trabalhou no Louvre e criou  o seu próprio ateliê. 
Vive e trabalha em Portugal desde 1995.
Fez exposições em todos os locais por onde passou: Alemanha, França, Portugal, Sudão, Namíbia, Brasil, Cuba, Macau, Hong Kong e China.
Em 2002 foi galardoado na Bienal do Vidro da Marinha Grande, com um trabalho sobre o pensamento de Marcel Duchamp, e com o primeiro prémio de pintura no Congresso Trás-os-Montes.
Em 2005, a Cooperativa Árvore, no Porto, e o Celeiro do Marquês, em Pombal, mostraram o seu trabalho em grandes exposições. Participou também na Bienal de Vila Nova de Cerveira.
Outras exposições: em 2008, na Fábrica Social, convidado pelo escultor José Rodrigues. Em 2009, na Chiado de Coimbra. Em 2010, na galeria do Teatro-Cine de Pombal. A Fundação José Rodrigues, recém constituída, volta a mostrar o seu trabalho no Porto, em 2013. Expõe em Hamburgo em 2014. 
Em 2016 expõe em Santiago do Cacém, integrando as comemorações do 25 de Abril.
Volta a expôr em Pombal, no Teatro-Cine, entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017.
Em fevereiro do mesmo ano volta a expôr na cooperativa Árvore, no Porto.
Em fevereiro de 2018 expõe pela primeira vez em Setúbal, na Casa da Cultura e na Casa d’Avenida.

segunda-feira, 15 de março de 2021

O que faz falta


O processo de destituição de Dilma permitiu percebermos que o poder político no Brasil está nas mãos de políticos anti-política. 

Não existia qualquer acusação contra Dilma. O processo foi orquestrado e instruído pelas mais básicas noções de oratória. Resultou. Substituíram a Presidente eleita por um fantoche que se dispôs a representar esse papel com esmero e até devoção. Também Lula foi detido sem provas de coisa nenhuma. Desde Fernando Henrique Cardoso que o Brasil seguia um rumo. Cresceu economicamente e havia uma esperança social. Muita gente deixou de ser extremamente pobre. Claro que surgiram fogachos de corrupção. Labaredas, mesmo. Mas o pretexto para o combate a esse flagelo universal colocou no poder uma tropa-fandanga ainda mais desavergonhadamente corrupta.
Lula foi agora devolvido à liberdade. Não se percebe bem por quanto tempo. Sobre o Brasil não se está a perceber nada. Era bom que Lula se mantivesse em liberdade e usasse o seu carisma para criar alternativas aos bandidos depravados que detém o poder. A insistência em tácticas e estratégias antigas não é solução. Tudo tem o seu tempo. A política está a mudar todos os dias. Os facistas estão a alimentar o seu sonho de retorno. Mas a esperança no conforto da democracia com melhoras sociais e culturais também cresce e recomenda-se. Lula deverá ter isso em conta. Ninguém é insubstituível. Quem tem de ser substituído é o energúmeno que ocupa o palácio do Planalto. Ele e a chusma de bandidos que se sentam por lá. O mundo precisa de gente decente nas cadeiras onde se sentam os decisores. Os facistas não fazem cá falta nenhuma. São como a fome.

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