sábado, 27 de março de 2021

Dia Mundial do Teatro


SENTIR
| Agora chama-se resiliência à capacidade de resistir. A palavra foi adaptada de outra disciplina, a Física, para designar a capacidade que temos de resistir às ameaças. Depois de um mergulho profundo, voltamos à tona e à chamada normalidade. Vamos ficar todos bem, diz-se. Somos uns sempre-em-pé. 

De toda a gente que trabalha na cultura, é o pessoal dos espectáculos que mais sofre com esta enormidade pandémica. As cortinas fecharam por tempo indeterminado. A malta foi para casa. Uns tentaram fazer outras coisas, outros não conseguem fazer mais nada. São artistas. Precisam de pisar os estrados onde nos mostram o seu talento. A sua imensa e intensa vontade de fazer rir, meditar, ver as diferenças das coisas. Precisamos de sentir isso. Fernando Pessoa tem razão — como quase sempre, aliás — quando diz: sentir é compreender. Não podemos ficar rendidos aos miseráveis entretenimentos televisivos que nos remetem para a absoluta indigência mental. Já temos os livros, é certo, e a televisão por cabo que nos propõe viagens e sonhos, mas precisamos de estar com vocês ali, nas tábuas, ao vivo. 

TEATRO é outra palavra adaptada a circunstâncias diversas. Fala-se em teatro sempre que se quer definir acção no terreno. Fala-se em teatro das operações ou em teatro de guerra. Os políticos, quando estão no teatro da política, declamam que estamos em guerra contra um inimigo desconhecido. Estamos de facto nesse teatro. E nessa guerra. É esse inimigo que estamos a combater. Todos. E vamos vencê-lo. Temos que voltar às salas de espectáculo, aos anfiteatros, às galerias, aos cafés, aos restaurantes, às esplanadas, aos passeios pela cidade, mas, confesso, tenho acima de tudo saudades de voltar a ver os meus amigos actores e actrizes a trabalhar. O teatro interpreta a vida. E sem essa interpretação a vida é uma merda. 

Muito obrigado. Muito obrigado mesmo. E até breve.

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