Em Outubro de 2017 foi a vez de Graça Ezequiel expôr na galeria da Casa da Cultura - Setúbal. A exposição respondia por ROSTOS EM SOL MENOR. João Paulo Cotrim apresentou. Seguem os textos que promoveram o acto. Continuamos a recordar, enquanto não temos ordem de soltura total.
NOS BASTIDORES | É João Paulo Cotrim que o diz na folha de sala:
Ninguém dá por ela, como convém a um bom fotógrafo. A Graça desfaz-se nos cenários, nas paisagens, nos momentos. Ninguém a vê. E por isso o seu território outro não é que os bastidores. Mesmo quando fotografa o palco, o que nos dá a ver é o outro lado, o da preparação, o esboço antes do risco final, o momento em que o artista se apaga para deixar entrever o indivíduo. Em performance ou repouso, de atenção presa ou distraído no acaso, alguém foi apanhado sendo. Apenas sendo, vibrantemente existindo. Daí o negro, a enorme quantidade de negro que estas fotos contêm. No palco, pouco mais há além do negro profundo, a cor da arte, e precisamos do olhar e da câmara da Graça para libertar a luz destes rostos. Eles estão a criar para nós, a dizer que não podemos ser apenas isto, que no negro se encontram todas as cores que precisamos para abrir mundos neste. Ensaiando ou descontraindo, como representando ou dizendo, o escritor, o artista, o actor, o músico são mais, são maiores. Por serem nós, por nos fazem ser com eles. São magnéticos porque atraem a limalha das nossas existências. Gastei horas olhando os matizes que brincam na pupila daquele olho, de penetrante azul. E mais ainda ouvindo as marimbas de brincar numa das mãos do baterista, enquanto a outra faz vibrar a pele. E os olhos são toda uma outra conversa e vede com dizem, aos gritos ou em sussurros. Isto aprendemos, sem qualquer pretensão de ensinar, com os retratos da Graça. A ver no escuro.
Desta vez Graça Ezequiel saiu dos bastidores e veio mostrar o que anda a fazer naqueles sítios onde ninguém dá por ela. Ontem, na abertura da sua exposição, na galeria da Casa Da Cultura | Setúbal, alguns dos "modelos" vieram perceber como ficam quando estão no escuro a recitar os clássicos e os contemporâneos, a libertar os sons dos instrumentos e a cantar. O que melhor sabem fazer — por profissão ou prazer — está ali pendurado naquelas paredes.
O encontro durou pela noite fora. Ou será pela noite dentro?
O encontro durou pela noite fora. Ou será pela noite dentro?