domingo, 30 de junho de 2024

Mensagem aberta a José Pedro Aguiar Branco

Caro Senhor Presidente da Assembleia da República Portuguesa: O deputado de extrema-direita André Ventura está a convidar polícias para invadirem o parlamento na próxima quinta-feira, por dentro e por fora, para pressionarem as atitudes dos deputados que nesse dia vão discutir o futuro das polícias.
Pergunto: André Ventura pode fazer este apelo? Deduzo que a sua resposta, senhor Presidente, será: "no meu entender pode". E se pode, faço outra pergunta: André Ventura pode apelar a que os polícias presentes nas galerias se manifestem? Ele é "gajo" para isso. No seu entender pode? Desculpe esta minha preocupação, mas se um deputado de extrema-direita que quer eliminar o sistema em que vivemos pode tudo, nós, os que não queremos o que ele quer, o que podemos fazer?
As atitudes da extrema-direita no mundo, sob o comando de Steve Bannon, fazem lembrar “Banalidade do Mal”, a obra de Hannah Arendt. André Ventura tornou-se um dos mais afoitos líderes da extrema-direita no mundo. Azar nosso e sorte dos fascistas portugueses. Vamos deixá-los fazer tudo? A democracia pode permitir tudo até à sua eliminação?!
Senhor Presidente: o mundo está a ficar um lugar cada vez mais perigoso. Portugal está no mundo e começa também a ser motivo de preocupação. 50 deputados anti-sistema no parlamento são motivo de preocupação para todos os democratas.
Não, não podem fazer e dizer o que quiserem. Ofendem os nossos princípios democráticos e a nossa inteligência. Não queremos isso. Não podem, mesmo. Não passarão.

Design de comunicação

Da série: Grandes Capas. The Economist.



sábado, 29 de junho de 2024

Viva o galo de Barcelos


Estava a ouvir Luís Marques Mendes na sua monótona e desinteressante alocução televisiva semanal, e a tentar perceber porque razão nunca concordo com o homem. Tudo ali é transformado em transtornada gabarolice.


Marques Mendes, tal e qual como acontecia com o seu antecessor Rebelo de Sousa, só olha para os acontecimentos conferindo-lhes estratégia. Chamam a essa prosápia "interesse nacional", mas na verdade não é nada disso. É só interesses pessoais e carreiras políticas que estão em causa. O homem explica: ganhámos todos com a ida de António Costa para Bruxelas. E diz nomes e moradas de toda a gente ganhadora. Costa, claro, mas também Montenegro que assim chega ao poder mais cedo, e se não fosse o parágrafo da procuradora não se sabe se lá chegaria. Pedro Nuno Santos, que assim também chega mais cedo à liderança do seu partido. Ventura, que assim elegeu cinquenta energúmenos — esta classificação é minha, é claro —, para o parlamento. O país Portugal que com um português no topo fica a rebentar de orgulho, e mais não sei quem, que segundo o optimista opinador fica em melhor situação política e com a carreira garantida.

Resumindo: um governo com maioria absoluta cai. Fica instalada a incerteza. Os fascistas crescem na Assembleia da República. Um governo de parolos toma posse. A esquerda fica a bater com a cabeça na parede, mas a criaturinha acha que é uma vitória de toda a gente. Para estes manhosos a política é um jogo sem regras. Só as regras do interesse pessoal contam. Nada tenho contra Costa, muito pelo contrário. Como disse Catarina Martins no debate com Sebastião Bugalho: "Sei que António Costa não é Durão Barroso". Mas estes aconchegos engendrados por gente politicamente sem classificação incomodam-me.
A política é mais do que isso, senhor comentador com ambições. A política é a melhor maneira de resolvermos problemas das pessoas. E só os políticos que estão para aí virados merecem o nosso respeito, digo eu, que não tenho respeito nenhum por muitos dos envolvidos na dita vitória nacional.
As vossas carreiras políticas pessoais que se lixem.

Deus, pátria, eternidade

Há uma gente da classe política que se acha indispensável. Uma vez chegados ao poder acreditam que sem eles o mundo não avançaria. Não me refiro aos históricos nazi-fascistas do costume, mas sim aos que agora pululam por aí. Trump, Putin e Bolsonaro nasceram para liderar. Só a vontade de poder os move. Meloni move-se por lá agora, e não se envergonha do passado fascista de Iltália nem do seu mentor Mussolini. Na Hungria também já há um burgesso de extrema-direita no poder. Na Argentina também. BardellaSalvini, Abascal e Ventura (este parece considerar-se o novo Cristo que desceu à terra), mais os emergentes fascistas que na Alemanha, Holanda, Áustria e por aí afora, observam ansiosos os seus heróis que já experimentaram ou exercem o poder. 

Mas nem todos são da extrema-direita clássica. Alguns puxam da cartilha marxista e acham que assim ficam ungidos pela santa esquerda. O javardolas da Coreia do Norte não distingue a esquerda da direita. É imortal, como o avô e o pai, e lá vai mandando naquela indescritível monarquia. O espalha-brasas da Venezuela acha-se ungindo mesmo, e até chama camarada a Putin, outro que é o que for preciso, desde que seja para limitar direitos e liberdades e para construir (ou será reconstruir?) um império assente no despautério.

Há uma qualquer unção que os apanhou no poder e que os leva a não pensar em outra coisa. Não se percebe, por exemplo, o que pretendem fazer os apoiantes de Lula, no Brasil. Se calhar acham que o homem é eterno. Ele parece achar, e ninguém o desmente. Estes líderes indispensáveis são perigosos. Movem-se imperturbáveis num andor de pechisbeque, seguidos de inenarráveis sabujos que fingem idolatrá-los. Nem todos os fazem pelas piores razões. Provavelmente acham-se mesmo fantásticos e insubstituíveis. Alguém lhes deveria dar esta notícia. Talvez um médico ou um enfermeiro:: vocês são mortais e, como toda a gente, não são imunes ao disparate. Enxerguem-se!

O recente debate Biden-Trump transmitiu-nos uma visão do horror no poder. Um velhinho com debilidades evidentes mirra perante um criminoso aplaudido pelos seus crimes. É a populaça sem trambelho que alimenta o populismo desbragado. Como é que os EUA se deixaram governar por um ser execrável como Trump, e como é que esse farroncas vai de novo exercer a farronquice mais vil e miserável, num país que tem influência nas políticas e nas vidas de todos nós? Como? No partido Democrata não há mais ninguém para substituir o velhinho? E os republicanos só têm nas suas fileiras cretinos, dementes e imbecis arrogantes?

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sexta-feira, 28 de junho de 2024

A plagiar é que a gente se entende

FAZER PELA VIDA | A ministra da saúde copiou e deu a entender que estava a revelar algo único? E então?! A plagiar é que a gente se entende. E se plagiar implica ainda alguma vontade de iludir, copia-se. Para quê perder tempo com originalidades? Trabalhar dá muito trabalho. O melhor mesmo é fazer o que já foi feito. É copiar e esperar que ninguém dê por isso. É fácil, é barato e dá milhões, como sugeria um lema de um concurso da Santa Casa. A preguiça recompensa.

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Filosofia premiada

António de Castro Caeiro vê reconhecido e premiado o seu trabalho "O que é a Filosofia". Este livro, como outros do António, foram apresentados na Casa da Cultura - Setúbal, local onde já é "muito cá de casa". Foi na Casa da Cultura que falou pelos cotovelos de assuntos filosóficos, acompanhado por João Paulo Cotrim. Foi aliás o João Paulo que deu nome à coisa: Filosofia a pés juntos. Depois do João Paulo já não estar entre nós, António de Castro Caeiro ainda esteve à conversa com o Luís Gouveia Monteiro. E ainda houve uma vez em que o António, o João Paulo Cotrim, o José Anjos e o Carlos Barreto participaram na finissage de uma exposição minha na Casa da Avenida. É sempre um gosto muito grande vermos, ouvirmos e lermos estes amigos de tão elevado talento. Este livro premiado também foi apresentado na Casa da Cultura, no espaço João Paulo Cotrim, e a conversa foi comigo e com quem quis aparecer. Não ficaremos por aqui. Parabéns, António. 

A percepção das coisas

Carmo Afonso anuncia hoje que vai deixar de ter opinião no Público. Claro que o Público vai continuar a ter motivos de interesse. Tem entre os seus colaboradores alguns dos melhores opinadores da actualidade. Mas o que aconteceu aconteceu agora, com este afastamento? Esta falta vai ser notada. É que "o que faz falta é avisar a malta", como esclareceu musicalmente José Afonso. E a Carmo Afonso avisa a malta como ninguém. Ficámos sem saber para onde o vai fazer agora. Faz falta sabermos isso.

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Cavaco defende... O quê?!

Cavaco defende eleições para desbloquear. Quer um governo à vara larga. A cavacal verborreia está escarrapachada no Expresso. As embalagens a abarrotar de esferovite (peço licença ao Daniel Oliveira para o uso da expressão tão assertiva), estão a dar o resultado previsto. E cavaco, sempre pouco original, prevê o previsto: Montenegro grande vencedor do arrastão eleitoral. Não li [nunca leio) Cavaco. Até olhar inadvertidamente os retratos do homem colocados na imprensa me causa urticária. Mas encalhei neste anúncio de mais um escrito do Presidente da República mais reaccionário da democracia. A linguagem, diz-me quem o lê, anda próxima da estética literária dos relambórios do ministério público. Vivemos na era da comunicação de plástico. Observamos a imagem da embalagem e compramos o produto. Pode a embalagem vir cheia de esferovite. Que se lixe. A linguagem corporal de Montenegro e Ventura diz muito, dizem-me que é o que diz a psicologia. Já a linguagem que sai da boca Cavaco, Montenegro e Ventura é poucochinha e oca, mas diz tanto às sondagens e ao que elas fabricam.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

As linhas vermelhas da extrema-direita

O DIREITO À INFORMAÇÃO DO MANUAL DE JOSÉ MANUEL FERNANDES | JMF muda de princípios quando os que tem deixam de dar jeito. Um caso de estudo ou um caso perdido?

Por 
Daniel Oliveira

Observador: a verdade a que temos direito
A colaboração de Henrique Pinto de Mesquita no Observador foi terminada pela direção depois de ter enviado o seu último artigo que o jornal se recusou a publicar. Saiu no “Público” e não atenta contra qualquer valor fundamental, nem contra o Estatuto Editorial do Observador. Diz que os palestinianos são humanos e que a nossa falta de empatia tem uma base racista. Se o Observador acha que um texto tão banal viola a sua linha editorial (em quê?), podiam publicá-lo e a direção deixar clara a sua distância; publicá-lo e, depois disso, dispensar a colaboração; ou não o publicar e dispensar o colaborador. A direção do jornal optou pela mais radical. Tem direito, mas temos de concluir que os artigos de opinião que publica estão, pelo contrário, dentro do editorialmente aceitável. Incluindo textos negacionistas da covid, homofóbicos ou a branquear os horrores da Inquisição. Ou aquele em que se defendia a teoria da “grande substituição”, que levou José Manuel Fernandes, guardião do mais monolítico espaço de opinião da imprensa portuguesa, a justificar-se, escrevendo que os artigos “apenas vinculam os seus autores e não podem ser confundidas com os nossos valores, claramente expressos no nosso Estatuto Editorial.” Das duas uma: ou a nota de JMF era verdadeira e houve um ato de censura Mesquita; ou a ela é falsa e, ao contrário da tentativa de humanizar os palestinianos, a teoria da “grande substituição” cabe na linha editorial do jornal. Há uma 3ª hipótese: não há regras para além da arbitrariedade de JMF. Em 2019, houve uma polémica com um artigo racista de Fátima Bonifácio sobre ciganos e negros. Depois de o publicar, o diretor do Público escreveu um editorial a lamentá-lo e a distanciar-se, mas manteve a colaboração de Bonifácio. Houve indignação nas redes. Qual foi a reação de JMF? Depois de acusar o diretor do Público de instintos censórios, disse: “o tempo em que certas opiniões não podiam ser publicadas só porque discordávamos delas é um tempo que eu julgava que fazia parte do passado”. Reação indignada nas redes ou em editoriais acontecem em democracias. Nas ditaduras censura-se sem polémicas, com despedimentos expeditos e discretos. Disse JMF, em 2019: “O que me incomoda é ver que se quer acabar com o direito a haver pessoas com ideias diferentes e que um jornal queira condenar Fátima Bonifácio ao silêncio”. Bonifácio continuou no Público. Já Mesquita foi condenado ao silêncio pelo “Observador”. Porque JMF mudou de princípios quando os que tinha deixaram de lhe dar jeito.

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Fim das Representações do Trabalho

Está a chegar ao fim, esta grande exposição que celebra quem trabalha. Está no ISCTE até ao fim do mês de junho. No primeiro dia de julho encerra oficialmente, com finissage que contém debate e visita guiada por José Pacheco Pereira, que foi o comissário do empreendimento. Segue-se um excerto do texto que escreveu para a brochura:

"Nasce-se e morre-se. Nasce-se, vive-se e morre-se. Para uma pequena minoria, nasce-se, aprende-se e morre-se. Para quase todos os homens e mulheres, nasce-se, trabalha-se e morre-se. Em toda a história da humanidade o trabalho é aquilo que molda a vida de quase todos. Nos campos, nas minas, nas fábricas e oficinas, nos escritórios, nas escolas, no mar, nas montanhas, nos rios, a presença humana tem a ver com o trabalho. E o trabalho é duro fisicamente, arriscado, brutal, doentio, indesejado na sua forma, aceite por obrigação ou necessidade, mas ter trabalho ou trabalhar permite sobreviver e, com muito esforço, viver. Não se escolhe na maioria dos casos onde e como se trabalha, raras vezes dá “alegria” e muito menos “felicidade”, mas o trabalho é também por isso um local de luta pelas condições de o ter. Quando se tem salário e direitos, e se luta por isso, ter trabalho dá dignidade". [José Pacheco Pereira]
NOTA FINAL: O design de comunicação foi desenvolvida por nós, DDLX. A imagem foi desenvolvida a partir de um cartaz lançado em 1975, pela Intersindical. Representa um apelo a um militar, Que aqui personifica todos os militares no activo, e é uma maneira de se abordar esse período que agora se comemora: 50 anos do 25 de Abril.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Finalmente...

... A LIBERDADE | Parece que é desta. Bem vindo, a este lado do mundo.

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domingo, 23 de junho de 2024

Portugal democrático

Fascista Ventura no Conselho de Estado. Fascistas sentados ao lado do presidente da Assembleia da República que permite ofensas racistas. Um fascista preside à comissão do chamado "caso das gémeas". Fascistas interrompem lançamentos de um livro para a infância, comandados por inenarrável ex-juiz fascista. Fascistas manifestam-se contra a diferença e o progresso. Anti-fascistas são agredidos por polícias. Os fascistas são sempre protegidos pelas polícias - PSP e GNR. Fascistas lançam livro contra a ideia contemporânea de estarmos uns com os outros. Os fascistas só querem recuar, nunca avançar. Eles já não andam apenas por aí. Estão entranhados. E já nem se estranham. É estranho.

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sábado, 22 de junho de 2024

Vemos, ouvimos e lemos

Folheamos jornais, lemos, ligamos a televisão, vemos e ouvimos. Ficamos horrorizados. São repugnantes, estes tempos que nos querem fazer viver. O ministro dos negócios estrangeiros de Portugal faz declarações disparatadas em Angola. Abraça o colonialismo como heroísmo. Reconhece o valor da luta contra os resistentes angolanos. Notável. Faz lembrar o ex-primeiro-ministro de extrema-direita que tivemos sem quase dar por isso. Cavaco condecorou pides e negou reconhecimento a Salgueiro Maia. E considerou Nelson Mandela terrorista, ao lado de Tatcher e Reagan, os mais repugnantes "estadistas" da época. 

Hoje, ao frequentar o jornal da RTP2, deparo com uma situação que se deu no Porto. Um ex-juiz, agora agitador político de extrema-direita, interrompe o lançamento de um livro para a infância da autoria de Mariana Jones. Esbraceja e vocifera contra a autora, que diz ser contra as crianças. Foi violento. As chamadas forças da ordem agiram de acordo com os seus anseios. Escolhem sempre o lado dos bons, como tal ninguém foi incomodado ou identificado. Os delinquentes são sempre protegidos. Esta gente sente-se protegida, agora que tem cinquenta representantes no parlamento. Tentam normalizar-se. Como se tal fosse possível. Os deputados fascistas eleitos por idiotas racistas, sexistas, homofóbicos, fascistas, fazem figuras tristes que vão "de encontro", como diz o chefe Ventura, ao que os seus eleitores preferem. Outros deputados ditos democratas chegam-se aos fascistas. Radicalizam o discurso porque acham que assim acarinham os eleitores perdidos para os fascistas. Envergonham-nos. 

O melhor mesmo é não ler, ouvir, ou ler? Não creio. O melhor mesmo é combatê-los. Encontrem maneiras de o fazer, senhores deputados da esquerda. Nós faremos o nosso melhor. Esta gente não nos mete medo, como pretende. O medo não vencerá a nossa vontade de liberdade. Não passarão, mesmo.

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Os "justos" contra os "impuros"

José Pacheco Pereira hoje no
Público. Passo para aqui uma pequeníssima parte do assertivo texto. Mas diz tanto sobre esta choldra que nos julga e condena:

«Depois do 25 de Abril de 1974 muita gente escapou à justiça pelo seu comportamento durante a ditadura ou, mais ainda, pelo seu papel de participantes naquilo que era a essência da ditadura: a força bruta contra os que se lhe opunham, com mortes, prisões, torturas. Há, no entanto, em especial, um grupo que escapou à penalização do seu papel na ditadura: os juízes dos Tribunais Plenários. Esses juízes eram serventuários da PIDE, exactamente serventuários, impediam qualquer simulacro de julgamento e de lei, mesmo as que habitualmente a ditadura não aplicava, ficavam furiosos quando os presos referiam as torturas por que tinham passado, ameaçavam os advogados, chegando a mandar prendê-los em pleno julgamento. Era gente que devia ter sido punida com rigor, mas escaparam por uma mistura de protecção corporativa e por serem “meritíssimos juízes”, ou seja, gente da alta, digníssimos juristas, cheios de pompa e circunstância, um exemplo de como ter diplomas, cursos, latim não impedem que se seja torcionário aplicado.
Digo isto porque justiça não havia de todo então e estamos agora a caminhar para institucionalizar não justiça, mas violação de direitos humanos, abusos de poder, interferência não-democrática na vida política. Exagero? Nem pensem. O episódio da divulgação de escutas e documentos em segredo de justiça na comunicação social teve um único objectivo: prejudicar a candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu.
Quem escolhe os tempos, seja o Ministério Público que pede as diligências, sejam os juízes de instrução que as autorizam, sabe muito bem qual o impacto público na vida política que têm medidas como as buscas. E sabe ainda melhor que cometer o crime de violação do segredo de justiça, divulgar escutas sem conteúdo criminal e fotografias do processo, no caso desta semana, directamente apontadas a Costa e à sua “casa” governamental, alimenta alguns dos seus opositores europeus que estavam a usar como pretexto a sua “situação judicial” (que ninguém sabe qual é), e é pura política e da pior. É um ataque à democracia que não precisa de qualquer lei sobre o discurso de ódio, para ser isso mesmo, ódio. E não é preciso ir mais longe para perceber como funciona esse ódio, por parte de muita gente que está furiosa com a possibilidade de Costa vir a ter um lugar de relevo na Europa, e que compara as fugas com as revelações de Assange. Sim, ouvi isto mesmo na Rádio Observador, que destila ódio a Costa como quem respira. E objectivamente pede mais sangue telefónico.»

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Velho circo, novo circo

É entrar, senhoras e senhores, meninas e meninos. O novo circo chegou. A anterior gerência deixou tudo esburacado, mas os novos malabaristas, ilusionistas, domadores e palhaços limparam tudo e deram outra cor a este novíssimo circo. Uma cor mais garrida a uma postura na arena mais alegre. A pista está limpa, graças ao esforço desta gerência exemplar. Números novos todos os dias? Nada disso, os números de sempre mas com nova vida, vá. Que o público gosta é de circo novo e com feras. E ao vivo, que o povo gosta de ver a cara e as vestimentas dos malabaristas e dos palhaços. Tudo brilha e rebrilha. Tudo preparado para a adaptação à nova telenovela eleitoral televisiva. Que o melhor está para vir. O novo circo veio para ficar. Coaching diário. Sessões sucessivas de surpreendentes números de ilusionismo. Circo e feras. É entrar, senhoras e senhores, meninas e meninos. O novo circo chegou.

Homenagem

O ACTOR MORREU | Morreu Donald Sutherland. Tenebroso, terno, Irritante, talentoso. Um actor que entrava em cena só porque existia. Um actor. Foi bom viver no seu tempo.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

José Afonso ao vivo no Coliseu

A FNAC resolveu promover nove discos em vinil que estavam fora de circulação. Alguns gravados antes, outros depois de Abril. Chamaram à iniciativa "Sempre!". E que boa iniciativa. Pretendem assim premiar e celebrar a intemporalidade. Convidaram nove artistas da actualidade, e em actividade, para fazerem a escolha promocional dos nove discos a divulgar. Concordo particularmente com Ana Lua Caiano. A linhas tantas diz isto, na brochura que assinala a coisa:

"A música é, entre outras coisas, um puzzle orgânico entre palavras e melodia. E José Afonso domina esse puzzle com uma mestria incrível: cada nota e sílaba que José Afonso canta parece funcionar como uma célula que só pode estar no sítio onde está e em mais nenhum sítio".
Tão verdadeiro. Tão assertivo. Tão bom.
O triplo álbum "José Afonso ao vivo no Coliseu" já está à venda. Ao ouvi-lo, percebemos o que Ana Lua percebeu e percebemos ainda a onda de solidariedade e também de intemporalidade que inundava a existência deste artista único que escolheu o nome artístico de José Afonso.
Muito obrigado, Ana Lua Caiano. E parabéns pelo teu bom gosto, e também pelas tuas já confirmadíssimas qualidades musicais e intelectuais.














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terça-feira, 18 de junho de 2024

E o prémio vai para... Paulo Buchinho

A imagem visual na imprensa é importante. Designers e ilustradores fazem o que podem para que o que procuramos nos jornais nos apeteça frequentar. Pessoalmente não consigo passar os óculos por papéis mal apresentados. Olho para jornais desde pequeno e comecei a exigir quando quis fazer parte do clube dos que fazem acontecer a imagem. Paulo Buchinho está metido num sarilho. Agora faz parte dos ilustradores com visibilidade muito observada na imprensa que se sabe vestir. Vestir bem. E pertencer à associação dos bem vestidos, bem paginados, é uma responsabilidade. Agora não nos pode desiludir. Para ele não deverá ser difícil. Talento mora com ele. É uma espécie de estilista de ideias ilustradas. E o estilo que ele tem. Estas cenas desenhadas são a sua vida. E a gente gosta que assim seja. Parabéns, Paulo.

Fonte: Studio Noel.

Uma mulher em cena



Anouk Aimée morreu hoje. Tinha 92 anos. Parecia imortal. Há tanta gente que parecia imortal e depois a gente vê que o é mesmo. Era uma mulher muito bonita, diz toda a gente. Mas isso chega? Anouk Aimée não era "biombo de sala" como na definição depreciativa de mulher sugerida na música de José Afonso. Anouk Aimée tinha talento de sobra para uma actriz do seu tempo e deste. Anouk Aimée foi o que quis ser: actriz e grande mulher. Mulher fantástica. Mulher. Ah, sim, e também era muito bonita.

Maria Quintans

Tão bom, Maria Quintans. Muito obrigado, Maria Quintans. Até sempre, Maria Quintans.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Fascistas não

FASCISTAS NÃO | Ainda não percebemos onde pode chegar a extrema-direita em Portugal. Ventura chegou-se à frente, vindo do PPD/PSD. Ousou a linguagem sem vergonha característica dos novos fascistas. Foi eleito para o parlamento e esteve sozinho a vociferar e a esbracejar sem que o indecoro o incomodasse. São assim, os fascistas: barulhentos e malcriados. Trump, Bolsonaro e Ventura frequentam essa escola rasca.

Também há os que se moderam. Percebem a tempo que os exageros podem desagradar aos seus incautos seguidores. Continuam com aquela postura psicótica, mas com estudos. Marine Le Pen e Meloni não faltaram a essas aulas de etiqueta. Mas os princípios estão lá, e esta gente não descansa enquanto não os aplica. Nathalie Tocci alertou-nos para o equívoco em entrevista ao Público: "A ilusão de que Meloni se moderou porque o poder modera é um disparate absoluto". E diz mais: "Se analisarmos todas as dimensões do que seria uma definição comunmente aceite do que um fascista faria ou quereria fazer no século XXI, ela, literalmente encaixaria em todas". Rob Riemen, autor do famoso " O Eterno Retorno do Fascismo" também chamou a nossa atenção para este busilis: "Actualmente, negamo-nos a ver o retorno do fascismo. Dizem-me que do que eu falo é dos perigos do populismo. Não é nada disso. O populismo é como os mosquitos, um pouco irritantes. O perigo real é mesmo o retorno do fascismo. O fascismo é o cultivo político de nossos piores sentimentos irracionais: o ressentimento, o ódio, a xenofobia, o desejo de poder e o medo. Não deveríamos confundir conceitos. Devemos chamar o fascismo pelo nome”.

Ora, é a apologia da ligeireza que trama a realidade. Percebemos que o CDS/PP já não existe, e que nas últimas eleições uma chusma de gente sem trambelho até ali alinhada com o PPD/PSD juntou-se ao partido fascista, mas ainda não sabemos se já sairam de lá todos. A aproximação dos ditos sociais democratas ao rebanho de Ventura está a dar-se de mansinho. O inenarrável candidato do partido fascista que agora concorreu às europeias foi embaixador no tempo do governo de Passos Coelho no Egipto. Imagine-se como estivemos representados por lá. Ninguém dá por estes chalupas quando estão em exercício porque eles não exercitam nada. Quando se levantam da sua confortável cadeira e têm que dizer ao que vêm, percebe-se tudo. São uns tontos em delírio. Moderam-se, mas pouco. Fingem a bonomia. Uns alinham por Putin, outros por um raio que os parta. No parlamento europeu existem três grupelhos fascistas que juntos dão em sinistro grupo de malfeitores.

Estou longe de insinuar que Montenegro e os seus montenegrinhos são fascistas, mas as medidas anunciadas — populistas e muitas sem possibilidade de aplicação — são propaladas para agradar ao fascista do Chega. O delírio justicialista junta-se à propaganda vazia. A vontade de dizer umas coisas, que anunciam o fazer de outras, levam-nos a cair no ridículo. Por exemplo: a tentativa de alterar de novo o logo do governo, simplificando-o um dia e retirando a simplificação no outro, voltando ao estúpido "emblema" do dia da primeira medida, é de uma inocência visual — ou mental, mesmo, porque o que se olha salta na cabeça — que mete dó. Claro que fizeram bem em mudar o logo que o anterior governo preferiu — tanta sofisticação incomodava os parolos que agora circulam pelos ministérios —, mas o amadorismo que imprimem em tudo o que fazem parece coisa de pároco de paróquia dos arabaldes, deus me perdoe. Ou deus lhes perdoe, vá, que eu não tenho fé para rezar por eles.



domingo, 16 de junho de 2024

A Maria Quintans

Morreu a Maria Quintans. Eu gostava tanto dela... Era uma mulher incrível e escrevia poesia assim:

a todos os nomes que do pânico nascem dou um corno
para ficar atrás da porta e
um chumbo de mercúrio para a morte
a todos os poetas dou uma mãe — a minha mãe — arrancada aos
ombros do meu desgosto
a todos os homens dou o meu sangue inundado de eternidades
provocatórias
uma ruptura na garganta onde todos os dedos se espalham.
Maria Quintans. Se me empurrares eu vou. Assírio & Alvim

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