quarta-feira, 26 de junho de 2024

As linhas vermelhas da extrema-direita

O DIREITO À INFORMAÇÃO DO MANUAL DE JOSÉ MANUEL FERNANDES | JMF muda de princípios quando os que tem deixam de dar jeito. Um caso de estudo ou um caso perdido?

Por 
Daniel Oliveira

Observador: a verdade a que temos direito
A colaboração de Henrique Pinto de Mesquita no Observador foi terminada pela direção depois de ter enviado o seu último artigo que o jornal se recusou a publicar. Saiu no “Público” e não atenta contra qualquer valor fundamental, nem contra o Estatuto Editorial do Observador. Diz que os palestinianos são humanos e que a nossa falta de empatia tem uma base racista. Se o Observador acha que um texto tão banal viola a sua linha editorial (em quê?), podiam publicá-lo e a direção deixar clara a sua distância; publicá-lo e, depois disso, dispensar a colaboração; ou não o publicar e dispensar o colaborador. A direção do jornal optou pela mais radical. Tem direito, mas temos de concluir que os artigos de opinião que publica estão, pelo contrário, dentro do editorialmente aceitável. Incluindo textos negacionistas da covid, homofóbicos ou a branquear os horrores da Inquisição. Ou aquele em que se defendia a teoria da “grande substituição”, que levou José Manuel Fernandes, guardião do mais monolítico espaço de opinião da imprensa portuguesa, a justificar-se, escrevendo que os artigos “apenas vinculam os seus autores e não podem ser confundidas com os nossos valores, claramente expressos no nosso Estatuto Editorial.” Das duas uma: ou a nota de JMF era verdadeira e houve um ato de censura Mesquita; ou a ela é falsa e, ao contrário da tentativa de humanizar os palestinianos, a teoria da “grande substituição” cabe na linha editorial do jornal. Há uma 3ª hipótese: não há regras para além da arbitrariedade de JMF. Em 2019, houve uma polémica com um artigo racista de Fátima Bonifácio sobre ciganos e negros. Depois de o publicar, o diretor do Público escreveu um editorial a lamentá-lo e a distanciar-se, mas manteve a colaboração de Bonifácio. Houve indignação nas redes. Qual foi a reação de JMF? Depois de acusar o diretor do Público de instintos censórios, disse: “o tempo em que certas opiniões não podiam ser publicadas só porque discordávamos delas é um tempo que eu julgava que fazia parte do passado”. Reação indignada nas redes ou em editoriais acontecem em democracias. Nas ditaduras censura-se sem polémicas, com despedimentos expeditos e discretos. Disse JMF, em 2019: “O que me incomoda é ver que se quer acabar com o direito a haver pessoas com ideias diferentes e que um jornal queira condenar Fátima Bonifácio ao silêncio”. Bonifácio continuou no Público. Já Mesquita foi condenado ao silêncio pelo “Observador”. Porque JMF mudou de princípios quando os que tinha deixaram de lhe dar jeito.

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