segunda-feira, 17 de junho de 2024

Fascistas não

FASCISTAS NÃO | Ainda não percebemos onde pode chegar a extrema-direita em Portugal. Ventura chegou-se à frente, vindo do PPD/PSD. Ousou a linguagem sem vergonha característica dos novos fascistas. Foi eleito para o parlamento e esteve sozinho a vociferar e a esbracejar sem que o indecoro o incomodasse. São assim, os fascistas: barulhentos e malcriados. Trump, Bolsonaro e Ventura frequentam essa escola rasca.

Também há os que se moderam. Percebem a tempo que os exageros podem desagradar aos seus incautos seguidores. Continuam com aquela postura psicótica, mas com estudos. Marine Le Pen e Meloni não faltaram a essas aulas de etiqueta. Mas os princípios estão lá, e esta gente não descansa enquanto não os aplica. Nathalie Tocci alertou-nos para o equívoco em entrevista ao Público: "A ilusão de que Meloni se moderou porque o poder modera é um disparate absoluto". E diz mais: "Se analisarmos todas as dimensões do que seria uma definição comunmente aceite do que um fascista faria ou quereria fazer no século XXI, ela, literalmente encaixaria em todas". Rob Riemen, autor do famoso " O Eterno Retorno do Fascismo" também chamou a nossa atenção para este busilis: "Actualmente, negamo-nos a ver o retorno do fascismo. Dizem-me que do que eu falo é dos perigos do populismo. Não é nada disso. O populismo é como os mosquitos, um pouco irritantes. O perigo real é mesmo o retorno do fascismo. O fascismo é o cultivo político de nossos piores sentimentos irracionais: o ressentimento, o ódio, a xenofobia, o desejo de poder e o medo. Não deveríamos confundir conceitos. Devemos chamar o fascismo pelo nome”.

Ora, é a apologia da ligeireza que trama a realidade. Percebemos que o CDS/PP já não existe, e que nas últimas eleições uma chusma de gente sem trambelho até ali alinhada com o PPD/PSD juntou-se ao partido fascista, mas ainda não sabemos se já sairam de lá todos. A aproximação dos ditos sociais democratas ao rebanho de Ventura está a dar-se de mansinho. O inenarrável candidato do partido fascista que agora concorreu às europeias foi embaixador no tempo do governo de Passos Coelho no Egipto. Imagine-se como estivemos representados por lá. Ninguém dá por estes chalupas quando estão em exercício porque eles não exercitam nada. Quando se levantam da sua confortável cadeira e têm que dizer ao que vêm, percebe-se tudo. São uns tontos em delírio. Moderam-se, mas pouco. Fingem a bonomia. Uns alinham por Putin, outros por um raio que os parta. No parlamento europeu existem três grupelhos fascistas que juntos dão em sinistro grupo de malfeitores.

Estou longe de insinuar que Montenegro e os seus montenegrinhos são fascistas, mas as medidas anunciadas — populistas e muitas sem possibilidade de aplicação — são propaladas para agradar ao fascista do Chega. O delírio justicialista junta-se à propaganda vazia. A vontade de dizer umas coisas, que anunciam o fazer de outras, levam-nos a cair no ridículo. Por exemplo: a tentativa de alterar de novo o logo do governo, simplificando-o um dia e retirando a simplificação no outro, voltando ao estúpido "emblema" do dia da primeira medida, é de uma inocência visual — ou mental, mesmo, porque o que se olha salta na cabeça — que mete dó. Claro que fizeram bem em mudar o logo que o anterior governo preferiu — tanta sofisticação incomodava os parolos que agora circulam pelos ministérios —, mas o amadorismo que imprimem em tudo o que fazem parece coisa de pároco de paróquia dos arabaldes, deus me perdoe. Ou deus lhes perdoe, vá, que eu não tenho fé para rezar por eles.