terça-feira, 30 de abril de 2024
Da diferença dos dias
segunda-feira, 29 de abril de 2024
Atitude e dignidade
sábado, 27 de abril de 2024
Abril (quase) sempre?
JOSÉ AFONSO SEMPRE, SEMPRE! | Foram uns dias felizes, estes. Deveria ser sempre assim. Não devemos ter medo de viver em alegria. Em alegria, sim, como referiu Mariana Mortágua na sua bonita intervenção na Assembleia. Devemos celebrar os avanços civilizacionais só possíveis devido à revolução, como disse Rui Tavares, na sua lição de democracia e de apologia da dignidade. Das comemorações oficiais destaco estas intervenções. O líder fascista também se destacou pelo ódio, exibido em delírio gritado e esbracejado. Asqueroso, sempre. Rui Gaivota, perdão, Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, destacou-se pelo ridículo. Tanta gaivota a esvoaçar. Tanta metáfora parva em circulação. Até falou em gaivotas a voar traz. O que é que deu ao homem? A canção de José Afonso foi estraçalhada por este mestre do disparate. Aquilo foi uma canseira. Para finalizar destaco outra atitude deplorável: o partido fascista, os deputados da direita, os membros do governo e todos os bandalhos lambe-botas que vegetam no parlamento saíram quando foi cantada "Grândola, vila morena", de José Afonso. Fizeram bem. Precisamos de perceber bem quem desprezamos. Os militares de Abril assistiram e cantaram. Emocionados. Ainda sentem o arrepio da emoção, como é óbvio.
24 DE ABRIL - Mas, oficialidades fora, as comemorações foram mesmo muito bonitas por todo o país. Na véspera, o Largo do Carmo encheu e a festa foi a maior de sempre ali, apesar do boicote do "prefeito". Já no Terreiro do Paço, lugar onde o "prefeito" festejou, o espectáculo foi só isso: espectáculo. Sem festa. "Grândola, vila morena" foi esquecida. Foi o 25 de Abril deles, os que acham que Abril não pode ser como quer a esquerda. Quase sempre vá que não vá, mas sempre?
Em todo o país a música aconteceu. Música boa, música assim-assim e música má. Não me deslocaria nem um metro para ouvir muitas das atoardas que por aí se ouviram. É o que se pode arranjar, dizem-me. É a vida, acrescentam. A minha não é, é a deles. Há gente para tudo. Que se divirtam.
25 DE ABRIL - No dia 25 de Abril descemos a Avenida. O nome de Liberdade nunca lhe assentou tão bem. Fomos muitos. Muitos mesmo. O artista visual Pedro Chorão dizia-me: Mas com tanta juventude a manifestar-se, como é que tanto jovem votou no Chega? Pergunta pertinente sem resposta. Bem, há respostas possíveis, mas deixemos isso por agora. Sim, fomos muitos. Somos muitos a não querer o regresso do tempo bisonho e triste sugerido por Passos Coelho, Paulo Núncio, Nuno Melo, Otero, César das Neves e outros frustes defensores da família dita tradicional.
A Arte com A grande aconteceu também neste dia em Setúbal. Pedro Chorão abriu exposição na Casa da Cultura, em mostra comemorativa. Rumámos do Rossio em festa, em Lisboa, para Setúbal. Fomos abrir a exposição deste artista único. Era preciso associarmos a esta comemoração tamanha qualidade visual. Aprendemos a ver melhor, com Pedro Chorão. Percorremos o espaço com prazer. Privilégio da cidade ter uma exposição destas em comemoração de Abril.
26 DE ABRIL - Sexta-feira foi noite de conversarmos com amigos estrangeiros que viveram Abril. Foi o Muito Cá de Casa, na Casa da Cultura. Conversa esclarecedora e cheia de surpresas. Foi muito bonito estarmos com gente que não víamos há muito. Somos gente que sente e que se envolve com os acontecimentos que nos mudam a vida. Estes estrangeiros ensinaram no Círculo Cultural, quando as instalações da actual Casa da Cultura era a sede dessa colectividade antifascista. Ensino nocturno bem sucedido. Muita gente fez ali o ensino secundário. Recordámos esse tempo. Recordámos José Afonso. José Afonso, o Zeca, está sempre presente. É impressionante. Há quem não morra, nem que os fascistas e seus amigos os queiram matar. O 25 de Abril é José Afonso, "Grândola" e esquerda. A direita sente-se bem entre a escória política. A direita é a escória política. São o que for preciso, desde que lhes seja garantida carreira próspera.
27 DE ABRIL - Abertura do Museu Nacional Resistência e Liberdade. Programei ir. Não fui. Esteve lá o Presidente de (quase) todos os portugueses. Não me apetecem cerimónias oficiais. Não me apetece ouvir o Presidente de quase todos. Não votei nele. Não alinho com as suas atitudes. Não me apetece estar ali. Não é por mais nada, é só por isto. Vou lá um destes dias.
Fiquei em casa. Leio José Afonso:
Inúteis eram as vozes e as palavras
O cativeiro represo dos sentidos
Abre-se uma comporta e nada altera
A matéria dura de que é feita a vida
Ferros pedaços brancura nunca vista
E um rio que não pára nem descansa
Que perfeita modorra não se esconde
Nesta vasa indecisa e aos ouvidos
Chegam silvos cantantes gargalhadas
E tudo dói como se fora treva
Como se fora vinho nesta névoa
[Escrito na prisão de Caxias, 1973]
25 de Abril sempre
quinta-feira, 25 de abril de 2024
Eles estavam cá
GENTE DE FORA CÁ DENTRO | É como vos digo. Vale a pena ouvir gente que quer estar conosco. Gente de fora que vem para cá comemorar Abril e a Liberdade. Aprendemos uns com os outros. Vamos aprender. Vamos conversar, recordar, rir, olhar para os outros. Os outros que são como nós. Gostamos de viver em liberdade. Todos juntos. Até já.
PRÓXIMO DA NOITE
À ventania de Pedro Chorão
quarta-feira, 24 de abril de 2024
terça-feira, 23 de abril de 2024
ESTAMOS JUNTOS | Não podemos faltar. Vamos dizer aos fascistas que não passarão. Bom dia da Liberdade para todos.
domingo, 21 de abril de 2024
Indispensável
PINTURA DE PEDRO CHORÃO EM SETÚBAL | É um grande privilégio para a cidade receber uma exposição de Pedro Chorão na data em que se comemoram os 50 anos da revolução. É a segunda vez que este artista único expõe em Setúbal. Em setembro de 2019 mostrou, na galeria da Casa Da Cultura, trabalhos em papel que povoaram aquelas paredes com o rigor e inteligência que só assistem aos grandes artistas. As imagens que aqui estão são dessa ocasião.
Agora são telas de grande formato que preenchem os espaços da Casa. Convidei a artista visual e professora Ana Nogueira para explicar na Folha de Sala o que vê quando observa o trabalho de Pedro Chorão. Chamou ao seu texto "Próximo da Noite". Texto surpreendente na descrição dos ambientes sugeridos nas telas. Parece que há música ali. E há.
Eu estou a olhar para os quadros e ainda nem sei o que dizer. O espanto absorve-me, mas já tenho título para o texto: "O que dizer, quando o que se vê diz tanto".
E pronto, na próxima quinta-feira, dia 25, vamos descer a avenida em alegria por Abril e depois vamos rumar a Setúbal para estarmos com Pedro Chorão e o seu trabalho recente. Abril também vai estar aqui. Sempre!
PEDRO CHORÃO
PINTURA
Abril/Maio. 2024
Abertura: 25 de Abril. 19 horas
Casa da Cultura | Setúbal. Galeria e Espaço João Paulo Cotrim
sábado, 20 de abril de 2024
Tiago Rodrigues: na medida do impossível
"Catarina e a beleza de matar fascistas" é um marco na cultura teatral contemporânea. Corre mundo, e ainda bem. O surgimento de novos fascistas, agora já sem botas cardadas, mas sim muito arranjadinhos, com roupas de marca e muito bem preparados — Os melhor preparados de sempre, dizem os especialistas e analistas de serviço — desperta-nos para atitudes de rejeição dessa nova ordem, mas encontra-nos no território de uma estranha razoabilidade, onde tudo nos é apresentado como normalizável. Não é. Não pode ser. O final da peça é uma surpresa que se entranha de imediato.
Em "Na medida do impossível" estamos no centro do conflito. São relatos amargos e tristes, mas que tentam encontrar a esperança. Tiago Rodrigues é um mestre desta nossa maneira de olharmos o mundo. Nós achamos que estamos atentos, mas ele vai mais além. Mergulha em todas as impossibilidades. Todos os atropelos à existência são interpretados aqui de uma maneira tão lúcida que nos faz olhar com maior compreensão para o que ainda não tínhamos percebido, absorvendo-nos num imenso manto de derrota. Ficamos surpreendidos com as situações limite. Muitas definitivas. O sofrimento e a morte devido a guerras insistem em existir para gáudio dos novos imperadores.
"Catarina e a beleza de matar fascistas" e "Na medida do impossível" são peças sobre o triunfo de um aparente imobilismo que nos quer encontrar derrotados e tristes. Mas Tiago insiste em alertar-nos. Só podemos agradecer-lhe.
Assisti às representações destes dois monumentos culturais em tempos diferentes, como é evidente. Na passada sexta-feira fui à Culturgest. Mulheres e homens de grande qualidade artística e intelectual subiram a este palco de denúncia e revolta. "Um murro no estômago", dizia-me um amigo à saída. Com razão. Mas saímos dali mais crescidos. Com mais vontade ainda de percebermos o que nos está a acontecer. E reagirmos. Não nos peçam para frequentarmos espectáculos manhosos dos Emanueis, Clementes, Toys ou Carreiras. Mais murros na cabeça não, por favor.
Na medida do impossível
Encenação e texto
Tiago Rodrigues
Interpretação
Adrien Barazzone, Beatriz Brás, Baptiste Coustenoble, Natacha Koutchoumov
Música ao vivo
Gabriel Ferrandini
Tradução
Thomas Resendes
Cenografia
Laurent Junod, Wendy Tokuoka, Laura Fleury
Composição musical
Gabriel Ferrandini
Luz
Rui Monteiro
Som
Pedro Costa
Colaboração artística, figurinos
Magda Bizarro
Assistente de direção
Lisa Como
Produção
Comédia de Genebra
Coprodução
Teatro Nacional D. Maria II – Lisboa, Odéon-Théâtre de l'Europe, Piccolo Teatro – Milão, Équinoxe – Scène nationale de Châteauroux, CSS Teatro stabile di innovazione del FVG – Udine, Festival d’Automne à Paris, Théâtre national de Bretagne – Rennes, Maillon – Théâtre de Strasbourg scène européenne, CDN Orléans / Centre-Val de Loire, La Coursive – scène nationale de La Rochelle
Colaboração
Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Médicos sem Fronteiras
A montanha pariu um monstro
Não dá para perceber. Não dá para respeitar. Não dá para tolerar. Um governo com maioria é derrubado, provocando uma crise política. Vamos para eleições, e muda tudo. Forma-se outro governo que vai no sentido oposto ao do governo derrubado, mas com exactamente o mesmo número de deputados a apoiá-lo do que o do partido maior da oposição. Cresce uma força política que roça a delinquência. Força essa que aliada ao novo governo pode mudar tudo provocando medidas políticas delinquentes. Os grunhos saem dos buracos em delírio. Parece que assim é que é. Vamos voltar ao passado. Mulheres podem ir para onde quiserem, mas de preferência para as lidas do lar. Pessoas sexualmente diferentes dos grunhos devem voltar para o armário. As medidas anunciadas que tanto animaram os debates é melhor serem esquecidas. Vamos voltar à normalidade da direita: polícias para a rua para arrear no cidadão. Políticos para o parlamento para aliviarem os atropelos ao capitalismo desenfreado. Quem ganha mais quer ganhar mais ainda. Vamos nessa.
As conclusões agora reveladas mostram o sarilho provocado pela extremosa Justiça. Nada se confirma, tudo foi um embuste. Tudo isto aconteceu por mor de um "descuidado" parágrafo que uma senhora da Justiça escreveu, diz-se. Foi? Se calhar foi mesmo o parágrafo, mas a senhora não se enganou. Não houve aqui descuido nenhum. Desta vez a montanha não pariu um rato. Pariu um monstro. Vamos estar em confronto com um passado que pensávamos mais arredado do pensamento das pessoas. Estávamos enganados. Os monstros andavam escondidos nas histórias contadas passadas antes de 25 de abril de 1974. Agora andam aí de novo sem vergonha na cara. Dizem o que querem e fazem-se ouvir. Estão 50 fascistas no parlamento, fora os que ainda não sairam das gavetas infectas.
E a senhora que provocou isto tudo não se demite?
sexta-feira, 19 de abril de 2024
Receituário
Está tudo a acontecer. Celebra-se a Liberdade. Liberdade de pensar, falar, adquirir conhecimento sem censura. Proibir é proibido. Conhecer é fundamental.
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Notícias do buraco
OLHA O PASSARÃO | Passos Coelho segue as pisadas de Trump. O que importa é ele, o próprio, quem vier a seguir que feche a porta. É a ira do ressabiado. Passos não perdoa à esquerda aquele arredamento do poder. O pote ficou longe. Agora, com Montenegro, a coisa está a correr mal. Já podiam estar contentes e confiantes, caso o actual líder do PPD/PSD experimentasse um aconchego com o javardolas fascista. Com 50 energúmenos no parlamento aliados aos nossos só podia correr bem. Cordões sanitários? Que merda é essa? É limpinho que entre os deputados do partido de Passos/Montenegro ainda há muitos energúmenos que apoiariam a javardice. Basta olharmos para os "social-democratas" eleitos na anterior legislatura, transladados agora e eleitos pelo partido fascista. Esqueceram a social-democracia. Aliás, nunca foram social-democratas. Mal perceberam que ali não tinham hipótese de lucro político, viraram-se para o partido do grunho falante. O grunho não vai largar o rebanho de que se afastou. Ele só pensa em fazer crescer o partido fascista. Passos Coelho é um político extremamente calculista. Muito mais inteligente do que Ventura, vive na tentação de meter o fascista no bolso ou eliminá-lo. A sede de protagonismo político cega-o. Alinha com quem for preciso para saltar para o estrado da pouca-vergonha. Agora o que é preciso é cavalgar esta onda em que a democracia permite que se apreciem fascistas. O "povo de direita" quer liberdade. Queixam-se em páginas de livros e em outros mediatismos. Não lhes falta quem os faça ouvir, mas queixam-se na mesma. Querem liberdade para o povo de direita. O que será isso? Não se percebe: quem é que lhes tira a liberdade, a eles, que querem o impensável e dizem-no já sem que a vergonha os iniba? As mulheres devem ser o que a bíblia sagrada decreta. Vão para as cozinhas porque só elas sabem servir maridos e prole. Ainda iremos assistir ao regresso do chefe da família do Estado Novo: ela manda em casa, mas quem manda nela sou eu. Meninas de cor-de-rosa, meninos de azul. Tradição é tradição, Vamos lá acabar com essas modernices hippies e esquerdistas O lugar da mulher é na lida da casa. O homem tem mais que fazer. Tem responsabilidades que exigem esforço e saber masculino. Faz sempre falta um homem em casa. Para quê? Olhem, para mandar nas mulheres. Há lidas que não são para os homens. Exemplo? Acham bem que uma mulher assista a um jogo de futebol pela televisão, com uma gamela de tremoços em frente, cigarro na boca e cervejolas por todo o lado? Alguém lava melhor a loiça do que uma mulher? E gostam de ver um homem a passar a ferro, hã?! Bem, as mulheres tirarem a carta, até não está mal pensado. Elas têm muito mais jeito para irem buscar os putos, perdão, os meninos à escola.
terça-feira, 16 de abril de 2024
Eles estavam cá
Como viveram a revolução os estrangeiros que estavam a trabalhar ou a estudar em Portugal?
segunda-feira, 15 de abril de 2024
50 anos de liberdade - Design de comunicação (3)
BOCAGE - BODONI | Foi já no ano de 1994. A liberdade e a democracia já contavam vinte anos. Resolvi inventar uma relação de amizade entre Bocage e Bodoni. Propus a ideia para que se integrasse nas Festas Bocageanas que se realizam sempre em Setembro. O Departamento Cultural da Câmara aceitou e deu todo o apoio. A coisa fez-se.