quarta-feira, 30 de junho de 2004

reBlogue

THE SILVER LINING: Se Durão Barroso aproveitar o facto de ocupar a presidência da Comissão Europeia para fazer pela Europa o mesmo que fez pelo país, há uma forte hipótese de, dentro de pouco tempo, a Europa estar na cauda de Portugal.

Ricardo Araújo Pereira
  • Gato fedorento
  • reBlogue

    O último a saber

    Guilherme Silva, líder para lamentar do PSD, deu uma entrevista à revista "Sábado", na semana passada. Azar dos azares, a entrevista saiu no dia em que foi conhecida a escolha de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia.

    Revista "Sábado": Seria impensável a saída de Durão para presidir à Comissão Europeia?
    Guilherme Silva: Obviamente que sim. Essa hipótese é extremamente gratificante, mas a verdade é que Durão Barroso tem um compromisso com os portugueses e está fora de questão não o cumprir até ao fim.

    Daniel Oliveira Barnabé

    Asim vai Portugal

    "Há muitos arquitectos competentes em Portugal. Simplesmente, quando percorremos o país que é que vemos? De vez em quando um edifício ou outro de grande qualidade, dispersos no meio de uma massa de arquitectura medíocre."

    Nuno Teotónio Pereira Entrevista ao JL. 23|Julho|2004

    segunda-feira, 28 de junho de 2004

    reBlogue

    DOMINGO ELEITORAL: A comunicação social garante que Santana Lopes é o próximo primeiro-ministro de Portugal, mas parece-me que ainda é cedo. A esta hora, ainda deve haver muitas freguesias por apurar.
    Miguel Góis
  • Gato fedorento
  • Um arquitecto de causas



    Foi brilhante a entrevista que deu a Ana Sousa Dias no "Por outro lado". É uma figura impar no panorama das artes em Portugal. Neste momento, expõe a sua obra, em retrospectiva, no Centro Cultural de Belém. Paula Sá escreveu este texto sobre ele. Foi publicado no DN. E agora vai sair aqui.

    "Nunca sentiu vocação de professor, diz. Até confessa que a ideia de enfrentar uma turma o assustava. Chegou a ser convidado para ministrar várias cadeiras, mas declinou sempre esses convites. Ou melhor, aceitou um, o que lhe foi feito pelo arquitecto Frederico George para a Escola de Belas Artes de Lisboa, onde também tirou o seu curso. «Senti um enorme alívio quando o meu nome foi cortado pela PIDE...» - relembra ironicamente Nuno Teotónio Pereira. Mas hoje, mesmo sem cadeiras ministradas, recebe o doutoramento honoris causa pela Universidade do Porto. E tenta encontrar uma explicação para o grau concedido: «Há quem diga que ao longo da vida fui contribuindo para a formação dos colegas que trabalharam comigo». Entre os quais se contam arquitectos como Gonçalo Birne, João Paciência, Pedro Vieira de Almeida e Nuno Portas.

    E num rasgo de humildade pouco comum a arquitectos, sobretudo com uma carreira longa e reconhecida, assume que não é de «rasgos». Deu oportunidade aos jovens, mas recebeu deles contributos para a sua própria arquitectura.

    O que não impediu de ter recebido os Prémios Valmor de 1968, 71 e 75, e outros tantos de várias espécies. Poucos sabem que o prémio de 71, atribuído ao polémico edifício de escritórios na Rua Braancamp, conhecido como o «Franjinhas», só o recebeu após o 25 de Abril, data em que também é libertado, juntamente com outros presos políticos do Tarrafal.

    É que Nuno Teotónio Pereira cedo se envolveu nas lutas políticas e cívicas contra o regime salazarista, sobretudo na denúncia das injustiças da guerra colonial. Faz parte da vigília do Rato e participa no Movimento da Esquerda Socialista (MES) com Jorge Sampaio. «Depois, tornei-me o chamado "independente de Esquerda"», afirma. Só até 2002. Altura em que sentiu de novo o apelo da intervenção política. «Voltei a filiar-me no PS», diz e volta a justificar: «A política de direita é má para os portugueses». Não consegue compreender o que classifica de «fúria» das privatizações. Tanto mais que foi funcionário público durante 20 anos, ao serviço da Caixa de Previdência e a projectar habitação social. Semeou-a, aliás, por todo o País, mas tem particular carinho pelo Bairro de São Miguel, em Alvalade, onde reside desde os anos 60.

    Lisboa, onde nasceu, continua a apaixoná-lo. E, quando se fala da cidade, faz um parêntesis: «Tem sido feita uma obra extraordinária nos últimos 20 anos, a eliminação dos bairros da lata e do Casal Ventoso. Uma obra a que ainda não se deu a devida importância», afirma num acto de justiça a Jorge Sampaio e João Soares, ex-ocupantes da Câmara de Lisboa. Concorda com Santana Lopes no que toca ao desafio de repovoar a capital.

    Neste momento, ocupa-se de gizar no papel os traços do Programa Polis para a Covilhã. A cidade acidentada no relevo, que muitos dizem impossível de percorrer a pé, onde quer transformar o sistema de mobilidade. "
    Paula Sá

    sábado, 26 de junho de 2004

    Europa nossa

    Não se aceitam devoluções

    Durão Barroso prometeu salvar-nos. Afinal vai-se já embora. Ao contrário de Guterres em 1998 e do actual primeiro-ministro do Luxemburgo, está nas tintas para o país e para o povo que o elegeu. Cá por mim pode ir já daqui a bocadinho. Só espero que não hajam devoluções.
    Santana já está perfilado esperando que o chamem para assumir funções. Situação que nunca imaginámos, mas ao que parece vai acontecer. Vivemos num país de opereta.
    As revistas "Caras" e "Lux" vão passar a ser os orgãos de comunicação oficial do regime. Como diria José Pacheco Pereira: "Pobre país, o nosso." BN

    sexta-feira, 25 de junho de 2004

    Desporto

    Não sei se houve problemas com os adeptos ingleses instalados no Rossio durante o Euro. Mas uma coisa é certa. Vi ingleses em alegre convívio com os vencedores portugueses, na praça Camões e no Bairro Alto. Um até me veio dar os parabéns. Nem todos os súbitos do Sua Magestade são labregos, como constava. BN

    quarta-feira, 23 de junho de 2004

    RETRATOS POLITICOS, 3

    Público, 23 de Junho:
    Paulo Portas: «não houve (da parte da Nato) reparo nem críticas à substituição das nossas capacidades submarinas» (sublinhado meu). A frase contém o seu próprio desmentido e só tem sentido se Portas aludir a outras coisas, pois nós não tínhamos quaisquer capacidades, tínhamos obsolescências, obsolescências submarinas. Contudo, atente-se no acetinado da expressão, é maviosa como o seu sorriso - alacremente submarino.
    Fixa-se o seu retrato e confere: tudo nele está a submergir. Está-lhe estampado, fez um pacto para suspender a dissimulação. O mistério eclode aqui: que leva alguém a querer interpretar um papel precisamente para não ser crível? Suponhamos que o Paulinho aparece vestido de Romeiro, no Frei Luís de Sousa, e que o público, antes que ele solte o «Ninguém», comenta baixinho: é o Portas! A ser esse o objectivo, a pergunta impõe-se: para que se dá ao trabalho de pôr a máscara? Falta-lhe de facto o decoro - palavrinha que deve ser o ai jesus lá em casa - ou no fundo submarino que o impele está a despesa, um tique de perdulário?
    Páginas adiante, um membro da família política do sr. ministro, e que como ele não poupa  os sorrisos, o inefável Silvio Berlusconi, tira-me do sério. O primeiro-ministro italiano acusa a esquerda de fraude eleitoral nas eleições europeias. Assegura que alguns dos boletins de voto favoráveis ao seu partido foram anulados pelos seus escrutinadores. E tem este delicioso deslize freudiano: «A Força Itália é integrada por uma série de pessoas ingénuas que são facilmente enganadas».
    Veio-lhe, como a Paulo Portas, a verdade submarina à tona.

    AC

    RETRATOS POLITICOS, 2

    PÚBLICO, 22 de Junho:
    A minha alma está burra. O corpo do defunto ainda está tépido e já o seu segundo se desobrigou do voto, a acreditar em Miguel Coelho, que afiançou a disponibilidade de António Costa para se candidatar à presidência da câmara (de Lisboa). Ainda o defunto, a sós com o seus botões, agora irremediavelmente a sós com os seus botões, enquanto dedos, olhos e vísceras se lhe dispersam, desaustinados, goza os clamores da vitória, e já o seu alferes se mostra desapegado de todos os lugares, de todos os compromissos, de teodolito assestado na câmara. Coração tão transfuga só o do Santana, que tudo quer mudar para Monsanto, havendo no seu staff quem assegure que até o Parque de Monsanto Santana quer transferir para Monsanto. Pobre do professor, que até no passamento se mostrou um homem cuja palavra não volta atrás, e que agora vê a do seu segundo tomar a feição das coisas imateriais. Matilde, não lhes perdoes!
    "O anúncio de Manuel Maria Carrilho foi um factor de perturbação da nossa estratégia", criticou o airoso Miguel Coelho, ao apresentar os nomes eleitos pela concelhia de Lisboa do PS. Não sei em que é que um bom candidato pode perturbar um processo, a não ser que à competência assegurada se prefira o controle sobre a distribuição de benesses. Carrilho tem tudo para fazer muito bem o lugar - inteligência, ideias, iniciativa, capacidade para escolher equipas, aura mediática e humor. Muito mais do que qualquer dos outros candidatos. Devem odiar que seja tão culto, e que não obedeça às conveniências. Que não siga os cursos da Paula Bobone, como Sócrates. Há outra qualidade que se lhes afigura insuportável: é um homem de bem consigo, com um friso de vaidade a acompanhar-lhe o passo. Como se não fosse legítima a vaidade no pavão e fosse preferível a vaidade do peru. O que vale, informa-nos Miguel Coelho é que a direcção do partido pode chamar a si a escolha do presidente da câmara, caso não concorde com o nome proposto pela comissão política concelhia. Que Carrilho não se intimide e avance, obrigando a direcção do partido a clarificar-se ( - ainda que já anteveja Ferro Rodrigues a empurrar o seu adversário Sócrates para a câmara, e o titubear deste na formulação do "s-i-m, na saúde e na doença!").
    Entretanto lê-se também que Jorge Coelho se "reafirma equidistante". O prefixo no verbo é que me incomoda. Que nada o move para se precupar com alinhamentos face ao próximo congresso do partido, disse, a confiar no Público. Que proibiu os "ferristas" de usarem o seu nome como putativo apoiante do chefe - assevera o matutino. É espantoso - então o homem não se alinhou no dia das eleições, quando diante das câmaras, endereçou os parabéns a Ferro Rodrigues e, apertado pelos jornalistas, se afirmou indefectivelmente ao lado do líder? Preocupa-me uma tão flagrante perda de memória num homem da minha idade. E então leio que ele próprio não se candidata à presidência do partido por, a) razões políticas, e, b), pessoais (motivos de saúde - assim mesmo, entre parêntesis, murmura-se no jornal). Faz-se-me luz: coitado do Coelho, está com Alzheimer.

    AC

    Foi gira, a festa

    Prémios Causa Nossa 
    A festa foi porreira. O Lux estava, como sempre, com óptima música, e já começam a aparecer os novos móveis encomendados pelo Manuel Reis a designers portugueses. O mestre de cerimónias foi Vital Moreira, mas todos os outros bloguistas tiveram um papel a desempenhar. Destaque para o excelente momento de "Stand up comedy" por Luis Filipe Borges.

    E assim, aqui estão os nomeados, já com a revelação dos vencedores (por ordem alfabética):
    (1) Prémio à carreira bloguística: nomeados - António Granado (Ponto Média), J. Pacheco Pereira (Abrupto), Paulo Querido (O Vento lá Fora)
    Vencedor: Paulo Querido.
    (2) Prémio à esquerda: nomeados - Barnabé, Blogue de Esquerda, País Relativo
    Vencedor: Barnabé.
    (3) Prémio à direita: nomeados - Aviz, Blasfémias, Mar Salgado
    Vencedor: Mar Salgado.
    (4) Prémio ao melhor blogger: nomeados - Daniel Oliveira (Barnabé), Pedro Mexia (ex-Dicionário do Diabo), "Roncinante" (O Jumento).
    Vencedor: Pedro Mexia.
    b) Prémios à sociedade (nomeados por ordem alfabética):
    (5) Prémio Força Portugal: nomeados - Diogo Vaz Guedes, José Luís Arnaut, Luís Felipe Scolari
    Vencedor: Diogo Vaz Guedes.
    (6) Prémio José Mourinho: nomeados - Alberto João Jardim, José Mourinho, Pedro Santana Lopes
    Vencedor: Pedro Santana Lopes.
    (7) Prémio Armas de Destruição Massiva: nomeados - George W. Bush, José Manuel Fernandes, Luís Delgado
    Vencedor: Luís Delgado.
    (8) Prémio 5ª Dimensão: nomeados - João César das Neves, José António Saraiva, astróloga Maya.
    Vencedor: José António Saraiva.

    E pronto. Agora é esperar que o Causa Nossa faça um ano. Se para os seis meses foi assim, como será para o primeiro aniversário?

    JTD

    terça-feira, 22 de junho de 2004

    Seis mesinhos...

    Caro Amigo,

    Desde há seis meses que participo, com Ana Gomes, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira, no Blogue "Causa Nossa" que podes visitar em:
    http://www.causa-nossa.blogspot.com/
    Vamos festejar o primeiro semestre de actividade e conto contigo,
    É no dia 22 (ou melhor, na noite de dia 22), terça-feira, pelas 22h00, no LUX, em Lisboa.
    Os nossos amigos, os demais bloggers e os leitores do Causa Nossa são bem-vindos, acompanhados de posts, ideias para blogues e um link para o divertimento.
    Vai haver "stand-up comedy", copos, prémios para a blogolândia e para a sociedade.
    Desta vez, o Causa Nossa não será apenas nosso.

    Conto contigo
    Jorge Wemans

    Lá estaremos.

    segunda-feira, 21 de junho de 2004

    RETRATOS POLÍTICOS, 1

    A Entrevista de João Soares ao Público

    Há dois anos e meio, Guterres avançou como um São Bernardo para salvar o partido da criogenização. O resto é sabido: levou pontapés a montante e a jusante e o navio-escola da Casa Pia atracou-se-lhe ao pé. Não se conhece nenhum animal, mesmo com a envergadura de um São Bernardo, que sob uma saraivada de pontapés possa deixar de ter um percurso errático.
    A acusação de João Soares em relação ao seu secretário geral - num momento em que o horizonte se mostra pela primeira vez propício a uma peroração são bernardina - não passa de uma redundância e mostra que o seu raciocínio está a passo (- ainda não superou a fase "descritiva"), talvez enterrado na areia movediça onde já floresceram categorias. Pois não é que uma das suas ideias motrizes, «o valor sagrado», é o da ética política? Isto não devia ser implícito, estar interiorizado? Onde é que patinou a participação política de João Soares para, e apesar de 20 anos na ribalta política, não ter conseguido inculcar no meio em que se move esses valores, o seu exemplo?
    Um pequeno deslise na entrevista que dá ao Público esclarece-nos quanto ao que lhe falta: nunca tira a devida consequência dos actos. Talvez porque, também nele, os compromissos são mais profundos que a sua capacidade de reforma. Diz sobre os acontecimentos em Matosinhos: «Estou a dizer-lhe o que disse: comigo como secretário geral, e se houver conhecimento antecipado, este tipo de coisas não se passam. Ou, se se passassem por falta de conhecimento antecipado, tinham uma resolução imediata.», «Fazia uma expulsão do partido?», pergunta, cândido, o jornalista. «Não lhe estou a dizer isso...», corrige aflito o candidato. Não passa de um homem atado, como os outros, à matéria do crime.
    Mas analisemos a armação lógica da frase. «...se houver conhecimento antecipado...». Ah, inopinado e irresolúvel paradoxo! Igual só aquela conhecida frase: «Antes de começar a falar há algo que gostaria de dizer...». À frente, João Soares quer emendar, com a mesma douta absurdez e a boa-fé com que o peru aceita o segundo gole de aguardente: «...ou se se passassem por falta de conhecimento antecipado?». João Soares, sem dar-se conta, expõe as redundâncias da sua cartilagem mental e mostra que é feito da mesmíssima massa dos políticos de carreira, a quem a realidade irrita por causa da sua mania de deslocar-se sem um aviso à precedência.
    O que é lamentável é que lida a entrevista se verifica que dentro da criatura há um ermo longitudinal onde o vento varre, a desfastio, e que aquilo que Santana é por fora - três outdoors amassados sob a ondulação oleosa do penteado (ao menos Santana não reinvidica qualidades intrínsecas) - é o novel candidato à coroa do PS por dentro: propaganda e a assustadora desaqueação da guelra na banca da varina.

    António Cabrita

    domingo, 20 de junho de 2004

    Mais bandeirinhas

    e outras tácticas futuras

    Só o facto da memória dos povos ser tracejante explica o entusiasmo das bandeirinhas. Lembro três ocasiões em que as bandeirinhas andaram lúbricas à solta, num frenesim idêntico. Durante o desfile lisboeta que empurrou o escol do país para as naus que rumariam a Alcácer Quibir, após o vexatório Ultimato inglês, e na abertura da Exposição Universal de Lisboa, em 1940. Um momento em que o país foi apanhado de calças na mão e duas manifestações que consagravam um poder de insânia larvar. É obra!
    Fidelino de Figueiredo, em nota apensa à sua História de Portugal, transcreve um documento de época que, com detalhes, retrata a exaltação da fidalguia que havia penhorado cão, irmã solteira, cortinados, brasões, as próprias "letras" das hipotecas, a fim de participar no luxo do cortejo que se revelaria final. Foi um espectáculo que, pela sua dimensão de potlach (- a uma escala de irracionalidade que hoje volta a distinguir-nos com dois submarinos), causa ou risos ou náuseas, arrumando qualquer nacionalismo no expositor dos congelados.
    Julgava-se que pelo menos disso estávamos isentos mas o Euro 2004 trouxe-nos uma regressão infinita. Hoje, os meus compatriotas, buzinam como carneiros melancólicos a quem excitou o tilt dos flippers, e, apesar de gostar de futebol, suspeito que o Euro representa o «turning point» que empurra o país de um longo eclipse para a devassa final. É a altura de emigrar.
    Não me lembro de ter visto bandeirinhas quando o Saramago ganhou o Nobel ou o António Damásio o êxito internacional. João Magueijo continua a viver em Londres, por falta de condições para fazer investigação científica em Portugal, e não há uma única escola secundária no país que tenha um piano. Os espanhóis, apesar de três bolas na trave, perderam por mérito de um golo um tanto fanado do Nuno Gomes mas o que é facto é que hoje os trunfos que a economia portuguesa joga são espanhóis e que até a zona do Alqueva, o nosso último grande empreendimento, é maioritariamente deles. Deve ser mais catarse que por convencimento que buzinam os meus compatriotas, cada bandeira a alucinar um gambosino.
    O "génio do pintelho", que sabia o que a casa gasta, ganhou o Leão em Veneza, e espalhou ele mesmo umas bandeirinhas nos fotogramas seguintes, à míngua de quem celebrasse com ele. Mas no fim, lúcido, deu-se por sodomizado por um mangalho astronómico que não correspondia à média, baixa, do país.
    Em ritmo tracejante, janela sim janela não, as bandeirinhas cobrem o país como uma gelatina à cata de osso, ou um perdigueiro de lambarice claudicante. É compreensível que tenha sido um brasileiro o apóstolo. Em S. Paulo, durante o Campeonato do Mundo da Coreia, encontrei num semáforo um faquir que, entre sinais, engolia vidro e cuspia fogo sobre a bandeirinha brasileira. Explica-me o amigo que me transportava: «este tipo tem de ser faquir porque tem a desgraça de ser honesto e não conseguir roubar!». Há dois anos, ainda não imaginava que em Portugal, a tão breve trecho, seria útil abrir uma escola de faquires... e que os desequilíbrios económicos e sociais se instalariam inexoravelmente, sem um ai, um sinal de revolta, um bardamerda, afeiçoados à fatalidade que o fado, fanhosamente, entre fífias, afaga. Estranha coincidência a do fado estar na moda no momento em que o país voluntariamente se amesquinha! Coincidências que ilustram "uma estranha forma de vida".
    Entretanto, o Alberto Pimenta lançou um livro notável (editada pela Teorema) e é acolhido pelo silêncio. Os jornais, as rádios, as televisões, não lhe dedicam um grama de atenção. Deve ser o custo de não escrever letras para o João Braga! E em Setúbal, onde uma excelente encenação de Harold Pinter não tem o público que merece, três mulheres respondem pelo crime de aborto porque o povinho, no fundo, no fundo, suspeita de tudo o que é indiciado, a bem ou a mal. As prioridades estão todas trocadas, e mesmo nas bandeirinhas não se sabe se é o vento que as move ou o tecido que as mexe.
    Coragem, portugueses, a "retoma das lancheiras" já palpita ao cheiro das bandeirinhas -  a miséria não usa meios tons e faz-se ao esplêndido! E depois, José, que fazer dos paninhos? Da esfera armilar, tão indutora de pecados? De tantos pauzinhos em alta? Avanço uma hipótese ? queimem-se! Há-de ser a fogueirinha tão famosa como a que consumiu a Biblioteca de Alexandria, pois não vale uma simulação de Rui Costa as Tábuas de Hermes Trimegisto, e uma canelada de Petit «O Piolho Viajante»? Coragem Portugueses, o futebol é a metástase mais prometedora!
    E, desconfiado que o expediente das bandeirinhas não será o suficiente para os quartos de final, a generosidade assiste-me e forneço outras tácticas para o jogo.
    Primeira, recorrer ao truque que num jardim zoológico se usou para pôr os pandas a copular: durante os jogos, passar em placards gigantes acoplados às balizas jogadas gloriosas dos pretéritos antepassados, Travaços, Eusébio, Futre e Nené. Que Poborsky não se sentirá inibido ao ver, em simultâneo e  em escala gigante, o saudoso Futre a fintar os polvos galegos, ou o Eusébio a desfeitear Pelé? Enquanto aos nossos, proezas tamanhas provocarão espontâneas vibrações de panda.
    Segunda: a hipótese holográfica.
    Na marginal da Póvoa do Varzim há um talho que se chama "Eça de Queirós". É o que está certo. Só que sobre a carne que alimentava as ideias impenitentes no Eça, esses embriões selvagens, correu o rio de Heraclito, e a memória que validava o nome ? revejo o escritor de monóculo ao balcão, a pedir, "... dê-me oitocentos gramas de acém redondo, ó Ramires!" é hoje um fantasma no cristalino. Mas podemos elevar esta sugestão a uma ilusão holográfica, a semear pelos relvados do futebol. Fugacíssimas "aparições" a deflagrar pelo campo, num ritmo intermitente que não permita o ónus da prova, e que turvem olhos e canetas dos adversários. Flashes de Eça de Queirós a bater-se com uns túbaros, de Bulhão Pato a chupar as amêijoas, ou de Cardoso Pires a debicar um whisky, a rebentar por entre as pernas de Zidane, no momento em que o atleta se prepara para bater o penalty. Visões que não duram mais que um décimo de segundo mas que, subliminarmente, abarrotam a perplexidade dos adversários. E à defesa, armados dos seus dons da ubiquidade, Fernando Pessoa e João Pedro Grabato Dias. A vitória tem de começar por ser retiniana, antes de se tornar muscular.
    E até lá compatriotas, que continue o desproporcionado concerto das buzinas, que fiquem áfonos de gritar «Portugal, Portugal» - eu retiro-me a rever «Um dia Inesquecível» de Ettore Scola, uma fita tremenda onde dois seres frágeis e sós partilham o segredo e os receios da sua diferença, enquanto à volta uma unanimidade irracional corrompe os corações e os lugares com os agoureiros da morte. E como afino os íntimos desacordos e o país é este patético desperdício de energias, pobre matéria dissipada, aí vai bombarda:

    O FECHO DO BOMBARDIER

    1
    A língua do cão desagua
    na fonte santa. Num incessante
    regateio, os sinos ao longe
    forçam ribeiras, gorjeios.

    Comes areias, no recosto
    dominical, atenta na tv
    à matança das focas. De paulada
    em paulada se dá folga

    à estatística. Em golfos
    rubros. Num frémito
    apertas a cabeça do terrier

    para que não veja a morte
    catódica, e na Ponta do Ouro
    titilem as vogais da carne.

    2
    Pára. O primeiro-ministro debita.
    Tem o raciocínio entaramelado
    pela lembrança de ter sido corvo,
    e capacito-me da crueldade do bem.

    De miúda, o ensejo de conhecer os comboios
    por dentro, de subsistir no que se evita
    quando a locomotiva talha
    as trevas na charneca e a esperança

    infecta um olho à criança atada
    ao cepo da pobreza, ao aviltamento
    da mãe que se vende aos espanhóis
    para comprar a fiado. Esta gente,

    pelas mil abscissas do trovão,
    quer impôr imposto ao grito.

    3
    Tinha atirado com a toalha ao chão,
    a ulcerada chapa de ferro
    que jazia junto ao poço. E
    aos seus desapontados buracos

    acudia o verde, tufos de ervas
    feias e raquitícas. E assim intuí:
    "os comboios não são eternos."
    O que lhes dá um hálito humano,

    a fanada loquacidade do galo
    capão.  Poucos anos depois
    li no jornal que havia vagas

    no Bombardier e pus a mãe
    no asilo. Há escolha entre
    o que amamos e quem amamos?

    4
    Um noivo na aldeia, ria a bandeiras
    despregadas c "o colega de trabalho.
    Foi o que me tramou" os santos,
    a pílula. Dez anos a montar janelas

    em chapas que serão velozes.
    Também eu fui um bebé
    recoberto d' ouro, estúpida papoila
    que as galochas de um cauteleiro

    pisaram. Será invisível o ópio
    que nos aveluda as veias? O sinistro
    perseguia-me, comprei um cão.

    Por cicatrizes penso, assopradas
    no zinco, vidro e ar condicionado.
    O maquinista devia ser ministro.

    5
    Mensalmente, envernizam-me a cólera
    com o subsídio do desemprego.
    Cheira a mijo prensado, a neura, há
    tanto que não mudo a roupa da cama.

    Minguo, dois maços por dia p' ra
    três salchichas e um ovo, é fado
    com desrima no pulmão, não ganha
    pr' a vidinha nem se compromete.

    Revejo imagens de minha mãe
    a entrar em pranto nos penhores,
    ou a jogar ao prego c' os espanhóis.

    Que emoção quando feríamos
    um dedo e o calor do sangue
    devolvia uma vida pujante.

    6
    Dezoito meses d' ecos à procura
    de autor. De uma voz coriácea
    e fidedigna ao espelho;
    de um amo... mesmo desprovido

    de beleza, e de quem se comente
    os filhos ou como esquece
    o panamá no café. Dezoito
    meses pelados por um governo implume.

    Desabrochará, o primeiro dia após
    o subsídio, numa queimadura de 1º
    grau que já se move, sorridente.

    Peludo, como as partes, será o fogo
    e fora de si, extasiados, os orifícios
    do meu corpo planarão sem brevet.

    7
    A vantagem dum cão é que não tem
    fachada, promissórias românticas.
    Nem a morte, cravado o gume
    até ao cabo, lhe revela dissimetrias.

    Pude então fazê-lo sem a custódia
    duma lágrima. A pele, o desosso.
    Comovi-me por afinal não ter
    mais carne que um coelho - moída

    só dava para almôndegas. Parecia
    que voltava à cantina do Bombardier.
    Convidei dois antigos colegas.

    E vinho à discrição. Adoraram.
    Foi uma risada quando sugeri
    que comíamos os tomates do ministro.

    António Cabrita

    sábado, 19 de junho de 2004

    Chico Buarque


    Fez a banda passar, despertando em Drummond de Andrade a vontade de falar na alegria de que o seu povo precisava. Viveu a música do seu país e do mundo sempre pelo lado dos que se preocupam em lhe acrescentar algo de novo. Acrescentou. Foi pioneiro da música nova do seu país. Depois desatou a escrever. Tendo feito de melhor que por aí tem saído. Já aqui falei do admirável "Budapeste".
    Mas o que interessa estar a falar do que toda a gente sabe?
    Francisco Buarque de Holanda Faz hoje sessenta anos. Quem diria? Até parece que foi ontem que ouvimos repetidamente o "Samba de Orly", "Tanto Mar", "Pedaço de mim" ou "Almanaque".
    Ficou triste quando estragaram a festa em Portugal. Escreveu então "Tanto mar", 2ª edição, revista, gravada para o disco com o título genérico: "Chico Buarque".
    Nós estamos muito contentes, por termos apreciado tão bem a sua obra.
    E estamos contentes por esta festa de aniversário.
    Parabéns, pá.

    JTD

    sexta-feira, 18 de junho de 2004

    Gonçalo M. Tavares

    O António Cabrita forneceu-me, com entusiasmo, o livro de Gonçalo M. Tavares: "Biblioteca".
    Numa breve nota, o autor justifica a prosa desta forma: "O ponto de partida deste livro é a obra dos autores - Nunca aspectos biográficos. Uma ideia ou apenas uma palavra mais usada pelo escritor (por vezes, mesmo associações inconscientes e puramente individuais) estão na origem do texto. Mas cada fragmento segue o seu ritmo próprio.
    O percurso de leitura poderá ser determinado pelo acaso ou pela vontade dirigida (e não apenas pela sequência da paginação). Agrada-me a ideia de que alguém possa ler alguns destes textos fragmentos hoje e outros daqui a alguns anos."

    Acontece que é difícil deixar a leitura deste livro. Os autores estão todos lá, de uma forma ou outra. Sente-se a pulsação de cada escritor que o Gonçalo convoca. Só para dar um arzinho do que digo, passo para aqui um dos curtos texto do livro. Pode ser Arthur Miller, e reza assim:

    " Nenhum homem é feliz apenas com um frigorífico, um ordenado, uma mulher e duas cervejas. Nenhuma lâmpada tem tanta luz que baste uma lâmpada para permaneceres alegre por dentro.
    Tenho que sair - disse ele, e bateu com a porta.

    Titulo: Biblioteca
    Autor: Gonçalo M. Tavares
    Capa: Margarida Baldaia
    Edição: Campo das Letras

    JTD

    quarta-feira, 16 de junho de 2004

    Demencial

    "Aquilo a que assistimos nos últimos dias em torno da selecção nacional atingiu proporções demenciais. Sentimos que se trata de um fenómeno de patriotismo, mas, como declarou o sociólogo Carlos Fortuna, de um patriotismo a baixo custo. Por um lado, não exige grande esforço: uma bandeira à janela, e já está. Por outro lado, poderá ter o seu reverso ao mínimo desaire, e foi o que começou a acontecer.

    Mas durante uns dias foi a demência. O meu telemóvel promete comentários de Humberto Coelho depois de cada jogo - basta ligar para um número. E passeando nas avenidas novas não contenho uma gargalhada solitária. Os brasileiros chamam "orelhão" ao lugar onde podemos efectuar uma chamada telefónica em plena rua. Pois aquilo que tem habitualmente a forma de uma orelha aparece agora com a forma de uma bola de futebol no interior da qual enviaremos mensagens urgentes, notícias de doenças súbitas, dramas empolgados, testemunhos de amor. Tanto delírio não augura nada de bom. Vamos mesmo ganhar?"

    Eduardo Prado Coelho, Público

    terça-feira, 15 de junho de 2004

    reBlogue

    Problemas de audição ... 
    O primeiro-ministro garantia no domingo à noite: "Entendo a mensagem que nos quiseram dar". Pareceu-me logo que não era o caso. Vista a Imprensa de segunda-feira, lidos os comentadores da direita neoliberal, confirmo: não percebeu, não perceberam.
    Ao contrário daquilo que pensam, os eleitores não podem apenas escolher entre concordar com a governação, ou não querer pagar a factura da governação. Não. Podem também, muito mais simplesmente, não concordar com a governação.
    Nenhum outro Governo desde o do Bloco Central, em 1983, iniciou o seu mandato com tanta disponibilidade do eleitorado para apoiar - doesse o que doesse - o saneamento e a recuperação da coisa pública. Mas, em dois anos, o Governo de Durão Barroso mostrou-se incapaz de o fazer e, em vez de tirar o país de um buraco, meteu-nos num beco sem saída.
    "Aguenta Portugal!" podia ser aceitável para os eleitores, mas era preciso que tivessem confiança no resultado desse esforço. Acontece que não têm!

    Jorge Wemans
  • Causa Nossa
  • segunda-feira, 14 de junho de 2004

    The end

    O filme chegou ao fim. Este FESTROIA correu o pano. Para o ano há mais, provavelmente. Assim o queiram os apoiantes.
    A fita que arrecadou o golfinho mais valioso foi "Bom Dia monsieur Shlomi" do israelita Shemi Zarhin. Merecida vitória, apesar de o meu favorito ser "O Estado do Tempo" do polaco Jerzy Stuhr. Mas, assim como assim, gostei dos dois. Aliás houve muito bom cinema neste FESTROIA. Também houve mau, mas enfim...
    "Bom Dia monsieur Shlomi" é um hino ao entendimento entre os seres humanos. Uma homenagem às pessoas aparentemente vulgares. O argumento de Shemi Zarhin revela-nos uma boa ideia de cinema: Um jovem negligenciado é descoberto por um professor que não descansa enquanto não o releva para um plano superior entre os seus pares. O rapaz tem qualidades e vai delas dando conta gradualmente. Usa os seus cozinhados (onde é um mestre) para unir os desavindos. A cozinha ao serviço da paz e do amor. A cozinha aliada à inteligência, bem entendido. E como nós sabemos como essa coligação funciona bem. Um bom filme, apenas com um senão, na minha opinião: A deficiente fotografia. Mal dos poucos recursos, talvez.

    Não vale a pena falar da cerimónia em si, pois não? Ai vale? É que tudo aquilo me parece tão manhoso que é melhor esquecer. A pepineira suburbana no seu melhor. Os políticos locais em "traje de luces" dando prémios a artistas com chinelos de enfiar no dedo. Claro, estamos em Setúbal. É Verão. Para quê tirar os pirosos fatos da naftalina? Não os vimos em nenhuma projecção. Apareceram para o social. Pobre gente e pobre social.
    O presidente da Câmara e a vereadora da cultura, saíram a grande velocidade do Forum Luisa Todi, logo após a entrega dos prémios. Era preciso ir para o desfile das inenarráveis marchas populares. As marchas em Setúbal constituem um lamentável espectáculo ao estilo latino-americano. Até parece que estamos numa aldeia mexicana, sem ofensa. Mas talvez estejam mais consentâneas com as preocupações culturais dos dirigentes autárquicos.
    Nós vamos continuar a ver cinema, não é verdade? E quanto ao FESTROIA, até para a ano.

    JTD

    domingo, 13 de junho de 2004

    A Esquerda ganhou

    A Esquerda ganhou. Foi a maior vitória de sempre. A Direita tenta desvalorizar: Diz que isto não tem importância; As eleiçôes são europeias, não nacionais. A falta de respeito pelos eleitores é evidente. As pessoas não contam. O tio Deus Pinheiro desvaloriza tudo. Parece que até ganhou as eleições. Não é uma derrota de ninguém, diz ele. Nem com a colagem ao Euro do futebol se safaram. Os argumentos são de mau perdedor. O ridículo tem nome, chama-se "Coligação PSD/CDS".
    JTD

    reBlogue

    Futebolândia 
    Deprimidos pela recessão sem perspectivas, carenciados de causas mobilizadoras, vestimos as janelas e varandas de bandeiras nacionais, num insólito excesso patrioteiro, em penhor da ambicionada glória nos estádios do Euro 2004. É o reino da futebolândia em todo o seu esplendor; só falta substituir a esfera armilar pela imagem de uma bola de futebol. Comparadas com a exaltação futebolística, as eleições europeias parecem cada vez mais um "fait divers". Simbolicamente, a bandeira azul da UE como que saiu de cena...

    Vital Moreira
  • Causa Nossa
  • E agora?

    O que fazemos às bandeirinhas? Pobre país que entrega o seu orgulho a uma equipa de futebol. Quem se lembrou desta palhaçada pseudo-patrioteira de pendurar bandeiras por todo o lado? Ah, foi um brasileiro? Qual, aquele que ajoelha os atletas a rezar no balneário? E que reconhece em Pinochet uma grande figura política mundial? Talvez seja bom encaminhá-lo para o Chile. O seu amigo Augusto precisa de apoio. Avance homem, os amigos são para as ocasiões.

    BN

    quarta-feira, 9 de junho de 2004

    Sousa Franco

    Sousa Franco morreu. Em campanha eleitoral. Combateu pelo que acreditava até hà bocadinho.
    Morreu um grande português.

    JTD

    Paisagem em estreia

    Estreia hoje a "Paisagem" no Teatro de Bolso. Os preparativoa para esta estreia desaconselharam-me a ida às sessões do FESTROIA. Foi necessário retocar alguns promenores na imagem da peça. O costume...
    Mas ainda vi "Bad boys", de Aleksi Makela - Filandia. Um filme onde a esquizofrenia paranóica e o fervor religioso se misturam dando lugar à mais pura paranóia. Gostei.
    O António Cabrita já me ligou. Vamos ver projecções hoje à tarde, depois de almoço.

    Quanto à peça do TAS: muita merda para todos os actores e técnicos da companhia.

    JTD

    segunda-feira, 7 de junho de 2004

    Setúbal apetece

    Por estes dias, Setúbal vive dias de interessante divulgação cultural. Há o FESTROIA, com tudo o que o rodeia (Rui Henriques Coimbra, no ano passado, falava na sua habitual crónica no Expresso do cosmopolitismo vivido nesta cidade no período do festival). É verdade. Parece que estamos numa terra de sonhos. O ambiente é de festa, de férias bem passadas. Também o TAS resolveu estrear a sua nova peça, associando-se a estes ares. A estreia é já na próxima quarta-feira. Chamaram-lhe PAISAGEM E OUTROS LUGARES. Os textos são de Harold Pinter. Bem, do resto já falei num post anterior.

    Continua em grande estilo, o FESTROIA. Os filmes são porreiros, mas acima de tudo, é a boa onda do convívio entre quem gosta de cinema que nos anima nestes dias felizes. Ontem vi PROTEUS. Um singular filme que aborda o racismo na África do Sul em 1725. A homossexualidade nos campos de trabalhos forçados e a relação entre dois prisioneiros levados à morte por esse crime. Um bom filme. Isento de tabus e de hipocrisias balofas.

    Vou continuar atento à festa do cinema, apesar de hoje e amanhã partilhar essa atenção com a estreia da peça do TAS.
    Quarta-feira chega a Setúbal o meu amigo António Cabrita, que como habitualmente, vem para contar a história para o Expresso.
    Iremos almoçar nas esplanadas da Fonte Nova e conversar imenso sobre os nossos projectos próximos. Isto tudo ilustrado com cinema e teatro pelo meio.

    JTD

    domingo, 6 de junho de 2004

    Ana Sousa Dias

    Ana Sousa Dias nunca faz gazeta, às segundas-feiras, no canal 2. Por isso mesmo recebeu o Grande Prémio Gazeta 2003, pelo programa "Por Outro Lado". Uma maneira de distinguir quem melhor sabe fazer perguntas em televisão. Em declarações ao PÚBLICO diz "Gosto neste prémio do facto de ser atribuído por jornalistas, pois é sempre bom ter o reconhecimento dos pares". Comentou ainda o agradável facto deste prémio ter sido atrbuído a um jornalista "free-lancer".

    O PÚBLICO refere ainda:
    "Ana Sousa Dias tinha experiência de jornais diários (esteve no PÚBLICO) e revistas e considera-se sobretudo uma jornalista de imprensa, mas diz que está numa "fase muito boa", pois as experiências de TV e rádio estão "a correr muito bem". Por outro lado, sente-se contente por ver reconhecido um "trabalho que é contra a corrente, por não ter agitação nem agressividade". "O facto de não ser uma entrevista de actualidade permite que haja um envolvimento diferente com os entrevistados, um certo intimismo. Mas dá muito trabalho a preparar", disse ainda.
    Carlos Fino recebeu a Gazeta de Mérito pelo seu trabalho de cobertura da guerra no Iraque, "em que sobressaíram o sentido de oportunidade, o empenho, a coragem, o espírito de sacrifício e uma qualidade geral concretizada numa série de reportagens que constituem um ponto alto no jornalismo de guerra"

    Parabéns, Ana.

    JTD

    Cinema a jorros

    Faço por ficar por Setúbal neste período. Arranjo forma de controlar trabalhos por aqui, e assisto ao maior número possível de sessões do FESTROIA. Um festival de cinema, ainda por cima com estas características - pequenas cinematografias - tem de tudo. Acontecem projecções excelentes, mas também estamos arriscados a apanhar valentes secas. Vale, contudo, sempre a pena. Como diz o outro: sempre se convive, sempre se conhece mais gente. Já que por aqui ando, resolvi partilhar as minhas experiências deste ano. Começou bem. Ontem, sábado, assisti a dois filmes muito interessantes, no mínimo.

    Na primeira sessão da noite, passou a "curta" I'LL SEE YOU IN MY DREAMS de Miguel Angél Vivas. Um muito jovem realizador que, espero, vai dar que falar. O filme é notável. Na realização, na fotografia, no desempenho dos actores. Com destaque para Adelino Tavares, São José Correia e Sofía Aparício. Uma uma história de zombies, que sem explicação aparente, invadem uma pequena aldeia. Fotografia e efeitos especiais muito apreciáveis. Parabéns Miguel.

    A segunda fita tem como tradução para português: O ESTADO DO TEMPO. É de um realizador polaco, Jerzy Stuhr, homem de teatro que se dedica ao cinema desde 1994. O filme conta a história de um homem que abandona a família para se refugiar num convento. É descoberto pela mulher, em plena actuação, como membro de um grupo musical dos monges, que saiu para uma festa de religiosos. Entretanto, cá fora já tudo se tinha alterado. O regime político mudou, e a família está integrada nos mais obscuros enredos desse regime. O homem altera, ingenuamente, os comportamentos da sua gente, retirando-se posteriormente de novo. Uma obra onde é impossível não estabelecer paralelo com outro filme que marcou o FESTROIA do ano passado: ADEUS LENINE. É um filme muito divertido, onde algum latente moralismo é anulado por essa atitude de diversão. Poderá ser um dos grandes filmes deste festival.

    JTD

    quinta-feira, 3 de junho de 2004

    Camarada Lu Is

    Passou nos jornais da noite, na televisão. O primeiro-ministro recebeu uma comitiva de jovens do Seixal.
    Os jovens exibiam, pendurada ao peito, uma fotocópia de uma fotografia de Luis Rodrigues. Para quem não sabe, Luis Rodrigues foi candidato à Assembleia da República, nas últimas legislativas, pelo Distrito de Setúbal. Foi eleito. É, portanto, deputado da nação. A pergunta é: O que leva aquela rapaziada a exibir aquela fotocópia de uma forma tão ridícula?
    Será que foi iniciativa daqueles jovens em homenagem ao seu amado líder?
    Será que o Partido do governo desencantou o passado maoista do seu presidente, e vai passar a exibir as fotografias dos dirigentes ostensivamente, seguindo as tradições orientais? Ou terá sido para o presidente do partido se lembrar do candidato distrital, com vista a uma promoçãozinha?
    O que foi não sei. Mas lá que esta gente está definitivamente a ensadecer, isso é notório.
    Já não há noção do ridículo, nem pingo de vergonha.

    JTD

    quarta-feira, 2 de junho de 2004

    Os lugares da paisagem

    A peça que o Duarte Victor está a encenar para o grupo de que é director, o TAS, está na fase de nervos e entusiasmo. Pelo menos eu estou entusiasmado. O texto é excelente. Os actores perceberam isso. Sabem muito bem o que é um bom texto de teatro. Estes actores há muito que passaram o estado de paixão e enamoramento pelo que fazem. Amam o que fazem. constroem personagens com a sabedoria do entendimento. Tratam os autores por tu. desafiam personagens. Sabem o que fazem.
    Eu, tento embrulhar tudo aquilo: Desenhei objectos, pintei telões, discuti ideias, enfim , fiz o melhor do que sou capaz. Veremos se me safo. Estou impressionado com o profissionalismo da equipa de produção. O António Rosa, já se sabe, é excelente a mandar luzes. O João Gaspar até mete impressão a resolver todos os problemas. Mas fiquei muito agradado em trabalhar com o João Carlos. Isto porque o conhecia mal e não me tinha apercebido do seu grande talento e da sua capacidade de trabalho. que bom trabalhar com gente assim.

    A estreia é já no próximo dia nove. A peça vai estar em cena até dezasseis de Julho, no Teatro de Bolso, em Setúbal. Eu acho que vale a pena.

    PAISAGEM E OUTROS LUGARES
    Uma peça e quatro sketches de Harold Pinter

    Encenação: Duarte Victor
    Cenografia | Design | Imagem: José Teófilo Duarte
    Traduções: Jorge Silva Melo, Pedro Marques, Paulo Eduardo Carvalho, Francisco Frazão e Graça P. Corrêa
    Interpretes: Célia David, Carlos Rodrigues, Duarte Victor, Isabel Ganilho, Maria Simões, Miguel Assis, José Nobre, Sónia Martins, Susana Brito
    Produção executiva: João Gaspar
    Banda sonora e sonoplastia: Miguel Ramos
    Luminotecnia: António Rosa
    Montagem e contra-regra: João Carlos
    Guarda-roupa: Mercedes Lança
    Secretariado: Ângela Rosa

    JTD

    terça-feira, 1 de junho de 2004

    reBlogue

    Já chegámos a Lisboa? 
    Embora sempre a tenha ouvido desde que me conheço, ignoro a origem histórica da frase usada pelos continentais para caricaturar situações e comportamentos disparatados: ?Já chegámos à Madeira??. Ao contrário do que muitos possam pensar, essa origem será muito anterior à era jardinista, embora só depois dela se tenha tornado um verdadeiro clássico. O jardinismo emprestou uma pertinência mais anedótica e folclórica do que nunca à famosa frase. E quando no resto do país acontecem coisas de bradar aos céus, lá se questiona invariavelmente se já aqui se chegou.
    Mas os tempos estão a mudar. O exemplo da Madeira, em vez de constituir uma surrealista extravagância insular, parece ter conquistado definitivamente o coração dos mais excelsos corifeus da civilização ?laranja? continental. No recente congresso do PSD regional, o empresário e deputado Dias Loureiro afirmou que o seu sonho era ver Portugal transformado numa ?imensa Madeira?. (Presume-se que, entre outras coisas, gostaria de exportar para o continente o liberalíssimo regime vigente na região em matéria de incompatibilidades entre interesses económicos privados e cargos políticos). O próprio Pinto Balsemão, tão atacado por Jardim como um dos cérebros da conspiração marxista da comunicação social, não resistiu a prestar vassalagem ao seu arqui-inimigo. Quanto a Durão Barroso, proclamou o inultrapassável patriotismo de Jardim depois deste ter ameaçado com a saída da Madeira da União Europeia. Só faltou mesmo Manuela Ferreira Leite enaltecer o défice zero das contas regionais e apresentá-lo como lição ao rectângulo despesista que tantas dores de cabeça lhe dá. Mas a arrogância e má-criação da ministra nos debates parlamentares comprovam como aprendeu depressa os superiores ensinamentos de Jardim.
    O último congresso do PSD nacional confirmou a tendência. Durão Barroso acusou o governo de Carlos César de ameaçar as liberdades democráticas nos Açores, ao mesmo tempo que celebrava as excelências incomparáveis do jardinismo. Ou denunciava, no mais retinto estilo jardinista, uma tenebrosa conspiração comunista para desestabilizar o regime democrático durante o Rock in Rio e o Euro-2004. Finalmente, a campanha eleitoral para as Europeias tornou-se um festival de insultos dos partidos da direita, onde nem sequer é poupada a aparência física do prof. Sousa Franco. Tudo jardinismo puro, requintadíssimo.
    Por isso, Jardim que se cuide. No estado em que estão as coisas no rectângulo, ou ele aproveita a onda para emigrar para lá e tomar de assalto o laranjal ?cubano?, ou então tem de rever radicalmente o seu estilo se quiser manter a inconfundível originalidade de marca. Neste caso, promovendo na Madeira uma escola de boas-maneiras e chá das cinco. Não seria, além do mais, um surpreendente e irresistível cartaz turístico? O ?Já chegámos à Madeira?? passaria definitivamente à história, e a má-criação e boçalidade ?cubana? faria os educadíssimos madeirenses lançarem o desafio: ?Já chegámos a Lisboa?? Já imaginaram o efeito bombástico que teria ver Jaime Ramos transformado em príncipe da etiqueta?
    Vicente Jorge Silva
  • Causa Nossa

  • (este texto será publicado na próxima edição de "Garajau", "quinzenário sério e cruel" do Funchal)

    reBlogue

    Pachachi afastada afastado do poder...
    O preferido dos EUA para a presidência do Iraque era o sunita Adnan Pachachi. Este rejeitou o convite, justificando-o num comunicado de quatro alíneas, que abaixo se reproduz.
    Baghdad, 01 de Junho de 2004
    Meus amigos,
    a) Sou da opinião que ninguém ia achar muita piada a um Pachachi de 81 anos a aparecer na televisão...já nos basta a Lili Caneças;
    b) Apesar do meu nome ser perfeito para o cargo, olhando para o que tem acontecido ao povo iraquiano nos últimos tempos, acho que o meu adjunto Toden Rabadi ia ter problemas em que o levassem a sério;
    c) As minhas filhas Mijati e Escan Karada pediram-me para não aceitar o cargo, com medo do gozo de que iam ser alvo;
    d) Não quero morrer tão cedo...
    Ass: Adnan Pachachi

    Nelson Desblogueador de conversa