Catarina Martins, na apresentação da minha condição de mandatário da sua candidatura à Presidência da República no distrito de Setúbal, disse: "As pessoas da cultura sabem antecipar o que aí vem, sabem criar diálogos, fazer pontes..." É a opinião de Catarina e também a minha. Acrescento que política sem cultura é como olhar, tentar perceber o que se tenta ver, e não o conseguir.
Fernando Pessoa, que tinha aquela natural curiosidade que o levava a querer perceber tudo, escreveu isto: "cultura é o aperfeiçoamento subjectivo da vida, dividido entre arte (aperfeiçoamento directo) e ciência (aperfeiçoamento do conceito do mundo), sendo mais do que erudição; é uma atitude de espírito que extrai sabedoria das experiências, cultivando a curiosidade e o aprofundamento, e não apenas o acúmulo de saber." O homem percebeu tudo.
Natália Correia, em carta enviada a José Afonso, depois de o ter visto e apreciado num programa televisivo, a linhas tantas escreveu isto: "Temos que perceber a cultura dos incultos". Era já então a preocupação com a evidente ocupação do espaço mediático pelos arautos do populismo cultural e político. Mais pessimista, Nelson Rodrigues achava que "Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos."
A absorção cega de tretas vagas ou mentirosas não são documentação cultural. Olhar e fazer o que já foi feito não é intelectualmente sério. A curiosidade intelectual não cega, alarga a visão. Os cargos políticos devem ser ocupados por quem assume valores e tem ideias. Por quem tem cultura. Em democracia devemos sempre tentar eleger quem está do lado certo. E somos nós que decidimos o que está certo. É à esquerda que há valores que nos animam e fornecem alegria para viver de olhos abertos e cabeça atenta.