segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Ainda somos todos CHARLIE

Edição de Janeiro de 2025 que assinala o massacre de 2015

Foi no dia 7 de janeiro de 2015. Passam agora dez anos. Um par de energúmenos fundamentalistas religiosos atacou a redacção do Charlie Hebdo, em Paris, assassinando doze pessoas e ferindo onze.

Seguiram-se os justificados lamentos mas também a tentativa de justificação do acto. Afirmámos: somos todos Charlie. Mas houve quem usasse a ironia para relativizar a barbaridade: puseram-se a jeito, defenderam. Ou seja: todos devemos ser respeitadores de tudo o que mexe, até da intolerância. Devemos andar penteadinhos e de bibe bem passado a ferro até à idade do colarinho branco e de gravata de nó bem direito ajustada ao pescoço. Não nos devemos pôr a jeito de quem não nos respeita. existe um nome para este comportamento: medo. Há quem tenha medo até da sua sombra. Os hipócritas da direita neoliberal avançaram logo com esse respeitinho que é muito bonito quando lhes dá jeito.
Os cartoonistas do Charlie Hebdo há muito que despiram o bibe e alargaram o nó da gravata. Ou largaram-na, mesmo. Pelo mundo fora há artistas do desenho inteligente e humorado que sofrem ameaças. Há casos recentes de dispensas de colaborações em jornais e revistas de informação e análise política. Inqualificável.
A Festa da Ilustração - Setúbal nasceu em solidariedade com esta gente corajosa que se recusa a respeitar o que não é respeitável. A intolerância não se respeita: combate-se. Em 2019 a Festa homenageou um dos assassinados: Tignous. Tivemos em Setúbal a sua mulher, Chloé Verlhac. Cristina Sampaio, que foi nesse ano a convidada nacional da Festa, era amiga do casal e permitiu esse encontro, que foi repetido em 2021, tornando-se Chloé uma amiga muito cá de casa.
Os fascistas, sejam eles oriundos da politica dos comportamentos à direita, da religião intolerante ou da economia custe o que custar — não vai dar tudo ao mesmo? — não respeitam valores, nem comportamentos civilizados, e desprezam atitudes corajosas de artistas atentos, mas vencem eleições. Há um povo "respeitador" que prefere andar a toque de caixa. Um povo que prefere a "economia" ajustadora dessa gente sem jeito, ao conhecimento cultural e à indignação inteligente.
Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski merecem e nosso respeito. Merecem ser recordados. Vamos lembrar-nos sempre do vosso trabalho insistente e valoroso. Fizeram-nos crescer intelectualmente. Foi muito bom termos vivido no vosso tempo. Ainda somos todos CHARLIE.


Cabu

Tignous

Wolinski

Honoré

Charb


Chloé na Festa da Ilustração, em 2019
Chloé na Festa da Ilustração de 2021
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