Edição de Janeiro de 2025 que assinala o massacre de 2015 |
Foi no dia 7 de janeiro de 2015. Passam agora dez anos. Um par de energúmenos fundamentalistas religiosos atacou a redacção do Charlie Hebdo, em Paris, assassinando doze pessoas e ferindo onze.
Seguiram-se os justificados lamentos mas também a tentativa de justificação do acto. Afirmámos: somos todos Charlie. Mas houve quem usasse a ironia para relativizar a barbaridade: puseram-se a jeito, defenderam. Ou seja: todos devemos ser respeitadores de tudo o que mexe, até da intolerância. Devemos andar penteadinhos e de bibe bem passado a ferro até à idade do colarinho branco e de gravata de nó bem direito ajustada ao pescoço. Não nos devemos pôr a jeito de quem não nos respeita. existe um nome para este comportamento: medo. Há quem tenha medo até da sua sombra. Os hipócritas da direita neoliberal avançaram logo com esse respeitinho que é muito bonito quando lhes dá jeito. Os cartoonistas do Charlie Hebdo há muito que despiram o bibe e alargaram o nó da gravata. Ou largaram-na, mesmo. Pelo mundo fora há artistas do desenho inteligente e humorado que sofrem ameaças. Há casos recentes de dispensas de colaborações em jornais e revistas de informação e análise política. Inqualificável.A Festa da Ilustração - Setúbal nasceu em solidariedade com esta gente corajosa que se recusa a respeitar o que não é respeitável. A intolerância não se respeita: combate-se. Em 2019 a Festa homenageou um dos assassinados: Tignous. Tivemos em Setúbal a sua mulher, Chloé Verlhac. Cristina Sampaio, que foi nesse ano a convidada nacional da Festa, era amiga do casal e permitiu esse encontro, que foi repetido em 2021, tornando-se Chloé uma amiga muito cá de casa.Os fascistas, sejam eles oriundos da politica dos comportamentos à direita, da religião intolerante ou da economia custe o que custar — não vai dar tudo ao mesmo? — não respeitam valores, nem comportamentos civilizados, e desprezam atitudes corajosas de artistas atentos, mas vencem eleições. Há um povo "respeitador" que prefere andar a toque de caixa. Um povo que prefere a "economia" ajustadora dessa gente sem jeito, ao conhecimento cultural e à indignação inteligente. Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski merecem e nosso respeito. Merecem ser recordados. Vamos lembrar-nos sempre do vosso trabalho insistente e valoroso. Fizeram-nos crescer intelectualmente. Foi muito bom termos vivido no vosso tempo. Ainda somos todos CHARLIE.
Foi no dia 7 de janeiro de 2015. Passam agora dez anos. Um par de energúmenos fundamentalistas religiosos atacou a redacção do Charlie Hebdo, em Paris, assassinando doze pessoas e ferindo onze.
Seguiram-se os justificados lamentos mas também a tentativa de justificação do acto. Afirmámos: somos todos Charlie. Mas houve quem usasse a ironia para relativizar a barbaridade: puseram-se a jeito, defenderam. Ou seja: todos devemos ser respeitadores de tudo o que mexe, até da intolerância. Devemos andar penteadinhos e de bibe bem passado a ferro até à idade do colarinho branco e de gravata de nó bem direito ajustada ao pescoço. Não nos devemos pôr a jeito de quem não nos respeita. existe um nome para este comportamento: medo. Há quem tenha medo até da sua sombra. Os hipócritas da direita neoliberal avançaram logo com esse respeitinho que é muito bonito quando lhes dá jeito.
Os cartoonistas do Charlie Hebdo há muito que despiram o bibe e alargaram o nó da gravata. Ou largaram-na, mesmo. Pelo mundo fora há artistas do desenho inteligente e humorado que sofrem ameaças. Há casos recentes de dispensas de colaborações em jornais e revistas de informação e análise política. Inqualificável.
A Festa da Ilustração - Setúbal nasceu em solidariedade com esta gente corajosa que se recusa a respeitar o que não é respeitável. A intolerância não se respeita: combate-se. Em 2019 a Festa homenageou um dos assassinados: Tignous. Tivemos em Setúbal a sua mulher, Chloé Verlhac. Cristina Sampaio, que foi nesse ano a convidada nacional da Festa, era amiga do casal e permitiu esse encontro, que foi repetido em 2021, tornando-se Chloé uma amiga muito cá de casa.
Os fascistas, sejam eles oriundos da politica dos comportamentos à direita, da religião intolerante ou da economia custe o que custar — não vai dar tudo ao mesmo? — não respeitam valores, nem comportamentos civilizados, e desprezam atitudes corajosas de artistas atentos, mas vencem eleições. Há um povo "respeitador" que prefere andar a toque de caixa. Um povo que prefere a "economia" ajustadora dessa gente sem jeito, ao conhecimento cultural e à indignação inteligente.
Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski merecem e nosso respeito. Merecem ser recordados. Vamos lembrar-nos sempre do vosso trabalho insistente e valoroso. Fizeram-nos crescer intelectualmente. Foi muito bom termos vivido no vosso tempo. Ainda somos todos CHARLIE.