quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O amor nos tempos de pandemia


Num tempo em que os contágios são uma ameaça real, falar de encontros amorosos é uma afronta a quem combate a dita ameaça. Também o amor foi interrompido. Quem tem parceiro, ou parceira, pratica ou não, mas não há alterações à vida de todos os dias. Quem não tem parceiro, ou parceira, sonha com o fim desta desdita. 

Vamos percebendo que também o desamor salta para a tona. Os casos de violência doméstica são outra epidemia nacional. Confinados nos seus aposentos, os maléficos agressores soltam a sua imaginação agressiva. Imaginar qualquer coisinha que sirva para humilhar ou agredir é fácil para quem exerce a modalidade com raiva e prazer. Em tempos de pandemia o amor e o desamor domésticos não se alteram. Quem pratica uma coisa ou outra não muda por haver agora uma interrupção de todos os convívios.

O grupo do amor profissional causa-me muita apreensão. Penso regularmente no que será das mulheres que se dedicam à prática do amor pago. Mulheres com filhos que, por razões que davam infinitas séries da Netflix, foram parar às catacumbas da vida. Claro que o que se passa com proxenetas e outros negociantes do sector não me merece qualquer compaixão. Mas a vida de quem por ali anda à força merece a nossa solidariedade. Os apoios sociais não assistem a actividades consideradas ilegais, mas é de pessoas que falamos. Devem ser estimulados apoios alternativos à actividade para quem queira mudar de vida, porque é precisamente de vidas que falamos. Claro que os seguidores do chunga do Chega devem ser adeptos de castrações e outras práticas mutiladoras. Se pudessem até seriam eles a praticar essa justiça. Depois iam à missa e aquilo ficava tudo abençoado. A discussão deste assunto tem barbas e deve ser tratado com as pinças que o direito ao corpo e à vida merecem. Não sei se já há documentação jornalística ou estatísticas sobre o que se está a passar neste segmento, nem sei como se poderá ajudar quem precisa, mas é uma preocupação que deveria estar no rol dos responsáveis políticos e agentes sociais, associada às situações também dramáticas que já vive gente da cultura, da restauração, turismo, pequenas empresas, serviços, enfim, toda a gente que tem de fazer pela vida. Pela sua e pela dos seus. É a minha opinião e vale o que vale, ou seja muito, porque é a minha opinião. 

Imagem BBC News

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