segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Livro do riso e do esquecimento


Os discursos de fim de noite de ontem dizem muito sobre o que os discursantes pretendem. Rui Rio, em fervoroso discurso de vitória, resolveu atribuir a derrota da noite ao PS, esquecendo-se de que foi António Costa que primeiro sugeriu — e na presença do futuro candidato — Marcelo Rebelo de Sousa à presidência. Francisco Rodrigues dos Santos, em discurso também vencedor, decreta a grande derrota da esquerda, esquecendo-se de que ele próprio deverá desaparecer do mapa político já no próximo sufrágio.

O chunga do Chega também ganhou, e que vitória ele teve. Foi felicitado por todos os líderes fascistas europeus. Não se calava. Berrava, a besta, esquecendo-se completamente dos objectivos a que se propôs: ficar em segundo lugar, para na segunda volta se travar de razões com Marcelo, e somar mais votos do que toda a esquerda junta. Nada disso aconteceu, mas ele berrou vitória na mesma. E este é o problema que vamos ter com os novos fascistas. Eles berram sempre. São os arautos ruidosos das novas políticas ajustadoras. Ganham sempre porque o que têm a perder não existe. Eles querem corrigir tudo e mais um par de botas, sem saberem muito bem como. Reprimir, tolher direitos, reprimir de novo. São mesmo os novos fascistas, que tenham paciência os comentadores e políticos que tornam tudo relativo. Podem chamar-lhes o que quiserem, mas são sem qualquer dúvida gente má, sem estrutura humanista, alarves sem vergonha, anunciadores inflamados do vazio de soluções.
Rui Rio é um político muito perigoso. Como anda a navegar no vazio desde que saiu da Câmara do Porto, onde os seus mandatos foram a apologia da ignorância e do gosto duvidoso, agarra-se ao que pensa ser a saída deste interregno. As contas de cabeça que fez são ridículas, esquecendo-se que muitos votos em Marcelo vão voltar à esquerda logo que a esquerda se apresente como tal. Marcelo não foi um candidato exclusivo da direita. Nem por sombras. Não é preciso fazer um desenho, certo?
A esquerda continua maioritária no país, tenha paciência a direita de serviço. Claro que tudo pode mudar, mas sugerir o Chega como partido apresentável não ajuda. Em países europeus onde tal sucedeu o resultado não foi animador para ninguém. A extrema-direita deverá sempre ser rejeitada e não assimilada. A direita democrática, com estes aconchegos, mais parece não o ser.

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