Osmani Simanca é o ilustrador estrangeiro convidado da Festa da Ilustração - Setúbal 2020. O texto que se segue é a minha opinião sobre o seu trabalho. Está publicado no jornal da Festa, disponível em todos os espaços expositivos. Diz assim:
A década de setenta do século vinte foi decisiva. Havia uma sensação de evolução. Direitos com deveres. Fim de descriminações. Combate vigilante ao regresso do autoritarismo. Temos Canções, filmes, livros e performances visuais que documentam o debate e o avanço civilizacional. Nada parecia conquistado, mas o retorno às velhas políticas parecia impossível. Mais recentemente, um presidente de origem africana é eleito nos EUA. No Brasil, Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva inscreveram o país no mapa do mundo que avança. Tudo parecia estar a correr bem. De repente tudo muda. Um mundo incrédulo acorda um dia com Trump presidente do país mais influente. No Brasil foi o que foi. E está a ser. Pelo mundo anda uma onda de “correcção” assustadora. Steve Bannon, o fascista que delineou a estratégia de Trump, percorreu o mundo em apoio às mais sinistras políticas. Até Portugal, país que se orgulhava de não ter extrema-direita no parlamento, já experimenta a ousadia fascista. Percebemos então que as más políticas ficaram entranhadas nos políticos que sempre percorreram o tapete principal da política. Não podemos desistir. Temos mesmo que insistir. É que as ideias velhas estão a querer passar por novas. O combate às ideias velhas faz-se todos os dias. Osmani Simanca é um soldado nesta guerra. Vestiu a farda de guerrrilheiro/ilustrador, empunhou o bico-de-pena como arma, põs as tintas de colorir no burnal, e aí vem ele, armado de talento e coragem. O seu trabalho tem repercussão mundial. O mundo precisa de pessoas assim, que vêm nas pessoas e na subtração dos seus direitos e anulação de vontades, motivo para o combate. A imaginação é em Simanca um mapa esclarecedor. Denuncia os trilhos dos candidatos a ditadores. Ridiculariza-os com sucesso. Ficam rídiculos. Mas alerta para os males que provocam. Existe muita maldade na vontade política de muitos dos dirigentes actuais. Precisamos de gente como Osmani Simanca para percebermos melhor, com humor e inteligência, essas vontades “superiores” que tanto nos agridem. Os desenhos de Simanca são ferroadas nas canelas dessa gente sem livros, sem ideias, sem preocupações sociais, sem trambelho. Mas ele sabe que estes empecilhos fazem mossa. Não matam, mas moem. Perdão, não matam? O que é que eu estou para aqui a dizer? Pois é, tenho de ir ali rever os desenhos de Osmani Simanca. Ele sempre disse que Bolsonaro não passava de um bandido. Agora já todos o sabemos, mas ainda há quem não acredite. Bandidos tomam conta do mundo. Resistir é indispensável.