sábado, 21 de março de 2020

PÚBLICAS VIRTUDES, VÍCIOS PRIVADOS | Houve um tempo em que era moda malhar no funcionalismo público. Insultos jorravam dos monitores dos computadores, e muitos teclados apresentavam provas evidentes, caso a caso. As provas diziam respeito a situações que aconteceram em presença do queixoso. Todos temos razões de queixa e casos para contar. Eu tenho. Mas também já desatinei com funcionários de organismos privados. Os comportamentos das pessoas são sempre resultado da educação e da falta dela. Claro que também existem casos de incompetência das chefias. Exactamente como no privado. Mas o público pagamos nós, e é uma grande despesa, dizem, cheios de direitos ao contraditório. La Palice. Eu prefiro fazer a defesa de um bom serviço público em todas as áreas. Dirão alguns: esquerdalho incorrigível. Não me ofendem.

Tempos houve em que um extracto político da sociedade — a direita e o seu extremo — desatou a pedir privatização de tudo o que existe. Nos privados é que estava a excelência de tudo: na saúde, na educação, na segurança das reformas, e por aí afora. Lembram-se do programa do partido do deputado fascista forjado nas fileiras do PPD/PSD e eleito pelo público da Cofina, que entretanto apagou o site para esconder as sugestões de atropelos à nossa vida em sociedade? Pois é, tudo isto foi há muito tempo. Quem nasceu depois de fevereiro de 2020 não se recorda de nada disto.


Agora a sério. Vivemos o tempo de apoiar a política que preza o serviço público. E preferimos que o sistema (democrático) funcione. Funcione bem, claro, mas que não deixe de existir e seja apoiado por todos, ao contrário do que defende o deputado fascista. O comportamento irresponsável que demonstrou indo visitar infectados a um hospital é atitude de tal maneira execrável que os seus eleitores — os que têm um pingo de vergonha na cara — deviam retirar-lhe o alvará já na próxima corrida. Um pulha do pior a quem nós pagamos o vício privado de exrecer a sua arrogância e má educação. Mas nós até pagamos isto, dirão. É verdade, a democracia não é perfeita, mas não há melhor solução.


Concluindo: vivemos dias de agradecimento aos serviços públicos. Os profissionais de saúde são aplaudidos nas varandas das casas onde muitos de nós estamos recolhidos e sem perceber o que vai acontecer. Mas confiamos nas pessoas que dirigem a encrenca. Assim de repente não temos outro remédio.


Graças ao sistema democrático, o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança Social, os organismos de cultura, de turismo, de educação, do ambiente e bem estar em sociedade fazem o que é possível num país que nunca foi rico, mas que está habituado a sobreviver a sucessivas crises.


Em 46 anos de democracia fez-se mais pelo bem estar das populações do que nos restantes 881 anos de história.


Ainda não sabemos como iremos comemorar o 25 de abril este ano, mas nem que seja às janelas, ou no teclado do computador: Vivamos o 25 de abril. Democracia, sempre! 

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