domingo, 22 de março de 2020

LOUVOR NOS TEMPOS DE CÓLERA | O trabalho que desempenham é duro e de enorme responsabilidade. Mas raramente nos lembramos destes homens e mulheres que limpam o chão por onde passamos todos os dias. Provavelmente não foi este o "emprego" que gostariam de ter. Foi o que apareceu e em muitos casos encarado como temporário. Nos dias de hoje, as autarquias põem ao seu dispor equipamento e tecnologia que os alivia de esforços desnecessários. Mas atenção: não deixa de ser trabalho duro e pouco recompensado. Há relatos e queixas: estão sujeitos a infecções, atropelamentos, agressões. 

Estamos num tempo em que o medo se instalou e deixou para trás outras preocupações e desfrutes. Não há literatura, nem música (por favor não nos impinjam webconcertos manhosos), nem artes visuais, nem gastronomia gourmet ou de qualidade pioneira, nem vinhos aromatizados e de castas exclusivas que nos valham. Alimento-me apenas. Não pego num livro. A música raramente me esclarece ou alegra. Nas televisōes ligo-me em permanência aos canais de informação. Nos passeios pelas chamadas redes sociais (às vezes parecem mais anti-sociais) excluo o ódio e o mau carácter. Quero perceber o que se passa. Tentar, pelo menos. Oiço com muita atenção os políticos que defendem políticas inclusivas. Os outros, os da auto-satisfação e do salve-se quem puder, exibem compreensão, mas percebe-se que as garras estão preparadas para atacar e gerir o que sobrar em seu proveito. São os vampiros. “Os mordomos do universo todo”. Parecem sem jeito. Ridículos. Há um que agora quer ir para a tropa. Mas percebe-se que querem encontrar um fio da meada, daquele novelo que insistem em enrolar.

Retomando o assunto que hoje me trouxe até aqui (sim, não me perdi: isto anda tudo ligado), reafirmo confiança nos profissionais de saúde (em janeiro do ano passado percebi na pele a sua dedicação e empenho), mas desta vez para trazer ao estrado principal a retaguarda deste combate. As pessoas que asseguram a limpeza em todas as frentes, estão sempre atrás de tudo. Lá muito atrás. Mas são eles que preparam tudo antes de nós sairmos à rua, ou entrarmos em hospitais e repartições. Ou põem de novo no lugar o que nós desarrumámos.

Neste tempo sem literatura e sem arte (em melhores dias a literatura e a arte serão o soar dos tempos), as urbes têm de estar limpas. Limpas mesmo, sem literatura e arte. Um inimigo ocupou territórios. Um inimigo sem rosto que as armas destes homens e mulheres combatem. Tenho por estas pessoas uma enorme simpatia. Sempre tive, e espero que os poderes políticos que aí vêm não os esqueçam. Nós não os esqueceremos. Somos todos proletários que aguardamos o regresso à fábrica. Bom trabalho, meus amigos. E obrigado.
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