segunda-feira, 21 de maio de 2007
A matemática das emoções
"Há que conhecer bem a personagem para devidamente a compreender." Esta frase pertence a João Lisboa, cronista das artes musicais, que há anos acompanho, nas páginas do Expresso. É lá, em notável texto sobre o mais recente cd de Björk, Volta, que ele nos confidencia um desabafo da senhora: "Já nem sei quantas vezes fui salva por uma canção, alturas em que nada, nem os amigos, nem o sexo, nem a actividade política nos podem valer e só a empatia que uma canção proporciona tem algum significado. Uma sensação completamente abstracta em que a música não tem (nem deve ter) explicação, que interfere com a matemática das emoções e não pode ser decifrada pela linguagem."
Foi essa sensação prazenteiramente abstracta que senti ao ouvir este trabalho de Björk.
Talvez não exista uma interpretação viável da música desta islandesa surprendente. Exactamente por isso: cada original gravado é uma surpresa. A erudição musical está lá, mas a emoção é que nos anima. Em Björk dá-se o casamento perfeito entre o rigor científico e a descontraída interpretação artística.
É ouvir, ouvir, ouvir.