sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Governamentais benzeduras

Assisti à cena, pelas televisões, causando-me perplexidade. Fernanda Câncio abordou a situação na sua habitual crónica no DN de hoje.
O primeiro-ministro compareceu à cerimónia de inauguração de uma escola pública, com direito a padre e consequentes rituais católicos. O cura debitou o discurso proselítico e alinhou as respectivas benzeduras. Qual a atitude a tomar por um alto representante de um Estado laico? Ficar de mãos atadas. Essa seria a melhor forma de respeitar a laicidade do Estado. José Sócrates, se calhar vítima de um abrupto embaraço, desatou as mãos e vá de desenhar a cruz no peito. Adianta Fernanda Câncio: "Quer releve de convicção quer de uma noção voluntarista de gentileza, o gesto ignora a distinção entre a esfera privada da vida de um chefe de Governo e a encenação pública da sua presença oficial, relegando a separação entre Igreja e Estado para as questões irrelevantes. É pena: cumprir assim a "tradição" é "limitar-se" a falhar a modernidade."
Perfeitamente de acordo. Mas acrescento mais estas interrogações: o que fazia o representante de uma confissão religiosa na cerimónia? Quem o solicitou? O Ministério da Educação? A direcção da escola? A autarquia? Quem encomendou o sermão?
JTD