segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Zeca em Moçambique - o acontecimento

A crónica de Vasco Pulido Valente que motivou o meu anterior "post", e um comentário anónimo ao meu texto "Zeca em Moçambique" aqui no blogue, fez-me reflectir sobre a sessão que assinalou a passagem de José Afonso por aquela terra de África, que decorreu na Biblioteca Municipal de Setúbal, no passado sábado.
Falou-se das dificuldades de comunicação que o regime impunha, ou seja, das faltas de liberdade, das andanças e manigâncias de Zeca para iludir os censores e repressores, da sua influência no panorama cultural de então e as repercussões que teve essa sua influência.
Falaram Mário Barradas e João Afonso dos Santos, tal como estava previsto, e Adrião Rodrigues, que ao tempo da estada de Zeca em Moçambique era presidente do cineclube local.
Falaram também alguns dos presentes, entre os quais eu. Falou-se da música, da cultura e do entretenimento, que para Mário Barradas são duas coisas absolutamente distintas. Compreendo. Barradas ainda deve defender aquela de que a Cultura é para sofrer - algo de sagrado. O entretenimento é outra coisa, para estúpidos ou simplesmente para passar o tempo. Pode portanto ser medíocre. Mas, enfim, foi simpático e eloquente.
Acho que a cultura não é para sofrer. Tenho preocupações de cidadania com o exercício do entretenimento. Como tal, a par de revelar a minha interpretação sobre a importância de José Afonso na Cultura Portuguesa, e por tudo o que foi dito antes, resolvi contribuir para colocar essa influência na actualidade. Como esta iniciativa teve lugar em Setúbal, expressei a minha opinião, acerca da falta de visão estratégica da política cultural do actual executivo camarário (aquilo a que antigamente se chamava: falta de ideias), o que leva a colocar o indescritível Toy como figura de proa da cultura sadina. Estando presentes o presidente da câmara e um vereador, mais vantagens vi nessa abordagem.
A minha intervenção não lhes agradou e não se manifestaram. O privilégio de os ter como amigos permitiu que no final da sessão se desse a inevitável discussão sobre o assunto. Ao que percebi, as palavras que proferi não foram do seu agrado por não terem sido colocadas no local apropriado.
Mas, meus caros, que local recomendam? Onde é que se fala de preocupações culturais, se não for nos encontros sobre cultura? A discussão provoca desconforto? Salazar pensava assim e Cavaco segue-lhe as pisadas. O mandatário para a candidatura do actual presidente da cãmara municipal de Setúbal, defendeu em manifesto impresso, na altura da campanha eleitoral, o silenciamento de quem discordava do seu mandatado. Querem o nosso silêncio? Acham a discordância inoportuna?
Lá volto eu àquela do Zeca: Há quem viva sem dar por nada, há quem morra sem tal saber".
Até à próxima.

JTD