segunda-feira, 26 de abril de 2004

(R)evolução

Parece apenas mais um texto para alimentar a polémica. Não é. É outra forma de abordar o tema, fazendo ligações com outros comportamentos humanos. Aqui fica a conclusão:

- Em relação há polémica revolução/evolução, o debate torna-se mais claro à luz desta problemática. É evidente que houve no início uma revolução a que se seguiu uma evolução. Neste ponto Morais Sarmento tem razão. Mas é também manifesto que existe uma dimensão performativa na palavra "revolução" que permite dizer "eu faço uma revolução na minha vida". A revolução é da ordem do fazer. Quanto à "evolução", ela é mais algo que se enuncia deste modo: "há uma evolução na minha vida" - é algo que se descreve, que se verifica, que se deixa acontecer, mas que pertence às estratégias fatais que nos envolvem. A revolução é sempre de uma visibilidade exuberante: descentra as existências, cria voragens e precipícios, acelera a história e o coração. A evolução é invisível (daí que seja preciso uma campanha publicitária para a tornar visível), passa numa espécie de sonambulismo criador mas retraído, fica antes do sujeito, empurra-o para a história que se faz inconscientemente nas suas próprias mãos.

Da revolução poder-se-á dizer o que Michel Leiris escreveu desdobrando a palavra por dentro: "Révolution: solution de tous rêves?". A palavra "revolução" sonha, a palavra "evolução" caminha sem energia nem imaginário. Falar na Revolução de Abril é procurar manter o performativo da paixão. Aragon escreveu: "a mulher é o futuro do homem".

Eduardo Prado Coelho Público