segunda-feira, 12 de abril de 2004

Júlio Pomar | João Lobo Antunes


Júlio Pomar e João Lobo Antunes falaram com Maria João Avilez na SIC.
Bonita entrevista. Lobo Antunes guardou o bisturi e falou de Arte com a visão de um cirurgião permanente. Não dos hospitais, mas da vida de todos os dias. Um arguto observador da obra do pintor.
A obra analisada foi o conjunto de desenhos feitos para "Guerra e Paz" de Tolstoi. Pomar encantou, como sempre, com o desfile de metáforas com que povoa o seu discurso.

Em tempos, numa conversa com Helena Vaz da Silva, Júlio Pomar respondeu acerca de como se explica um quadro, como acontece:
"Tropeço na palavra explicação. Gostaria de dizer que deixei de procurar explicações. Ou gostaria de ter deixado? O mais das vezes explicar uma coisa é fazê-la render a curto prazo, é fechá-la e deixá-la. Mais me apaixona ver o que passa por ela, o que com ela parece ter relação, do que estar a impor o fim que é a explicação. A levar a água ao meu moinho. Sou um sedentário e gostaria que o meu moinho fosse nómada".

Agora, passados mais de vinte anos, diz que o que mais lhe interessa é subir a escada do ateliê e pintar. Pinta várias peças em simultâneo. Diz que são elas, as telas, que o conduzem. Piscam-lhe o olho e ele limita-se a obedecer. Foi Pomar que disse um dia que "Um quadro já lá tem tudo, o pintor limita-se a descobrir essa verdade".

Foi bom conversar com eles.
JTD