sábado, 8 de novembro de 2025

A bem da noção

Não sou adepto do estar calado perante a ameaça. Não consigo ignorar o que nos agride. Mas tenho a impressão que a maneira de se reagir às mentiras e invenções dos novos fascistas tem que ser pensada. Já percebemos que a mentira funciona junto do povo que aplaude de pé o ódio e a desfaçatez racista. A apologia do "eu e o meu amigo é que sabemos", atitude definidora do egoísmo conservador que se instalou no Estado Novo, é recomendada pelos novos fascistas que agora até têm partido legal e com representação parlamentar. Uma tasca rasca que ali se estabeleceu.

Salazar instituiu a modalidade. Ventura quer regressar a esse estado. O domínio da "cunha" e da "palmadinha nas costas" que aprova a influência que decide. Salazar deixava que pedófilos praticassem as maiores atrocidades em coutadas secretas. O famoso "Ballet Rose" era motivo de regozijo entre os praticantes. Salazar mandava prender quem denunciasse. Dava ordens diretamente à PIDE. Denuncias só mesmo das atividades da resistência. Salazar permitia que os grandes negócios fossem dirigidos pelos amigos do regime. Tudo foi permitido aos senhores da indústria. Uma ditadura só medra na corrupção. Quando o novel fascista fala dos "três salazares" está a balbuciar o que desejam os saudosistas desse tempo em que andava tudo a toque de caixa. Não era a corrupção que era combatida, muito pelo contrário, a corrupção era estimulada, como convém em ditadura. Salazar mandava matar. Foi um criminoso. Um ditador é sempre um criminoso. Desprezava a cultura e as artes. Os artistas eram exilados. O novo líder dos fascistas portugueses também despreza artistas e a cultura em geral. Uma inutilidade que o povo dispensa. Desprezava os pobres. Desprezava os africanos. Havia um bilhete de identidade mais restritivo para "portugueses de segunda". Salazar disse um dia: "Ensiná-los a ler? Para quê?". A apologia da ignorância fica-lhes a matar.
O inefável "historiador" salazarista Hermano Saraiva dizia que Salazar era um antifascista, ilustrando essa ideia com as maiores alarvidades performativas que a ausência de noção do ridículo lhe permitiam. Não, tal como Salazar, os seus novos defensores são fascistas. Parece não terem ideologia, mas têm. Steve Bennon tratou de atualizar as premissas. Eles seguem a cartilha dos velhos nazi-fascistas com afinco animados pelos novos tempos que lhes parecem de feição. A coisa está a resultar em muitos pontos do planeta. Nova Iorque foi um atropelo que pôs Trump em desalinho e dá-nos esperança.
Não, a solução não é ignorá-los. A solução é combatê-los. Sempre. Havemos de encontrar as boas práticas de combate ao novo fascismo. Desistir, nunca. Os apoiantes seriam as primeiras vítimas. mas a ignorância cega-os. Salazar não faz cá falta nenhuma. Nunca fez. Abram os olhos e aproximem-se da decência. Ou vão vegetar para longe. O fascismo e os fascistas que se lixem. Democracia e liberdade, sempre!

Os cartoons são de João Abel Manta, que topou bem o "tiraninho", como lhe chamou Fernando Pessoa. Incluem-se num soberbo álbum — Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar — reeditado pelas Edições tinta-da-china.
 




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