Nos primeiros dias de dezembro de 2015, Mariana Mortágua veio com Jorge Costa a uma sessão Muito Cá de Casa, na Casa da Cultura. Eles estavam a negociar com o governo de António Costa alguma razoabilidade para o futuro executivo. Vasco Pulido Valente chamou a esse entendimento "geringonça", designação que o pessoal adoptou trocando as voltas à ironia reaccionária e revelando sentido de humor.
O que aconteceu a seguir ainda está muito presente na memória de toda a gente. Um Presidente que ansiava colocar os seus no poder fez "trinta por um linha": absorveu, sorveu e absolveu como se o parlamento fosse uma coletividade inviável. Resultado: um empresário de negócios baixos é primeiro-ministro e a extrema-direita cresceu como erva daninha. Mariana Mortágua esteve sempre presente, nunca virando a cara às consequências. Foi politicamente exemplar no Caso que BES/Salgado, despertando até elogios internacionais insuspeitos. Recentemente embarcou com muita gente na famosa flotilha, em apoio ao povo palestiniano. Um bando de escroques — Governo e fascistas portugueses incluídos — tentaram humilhar a sua participação na acção solidária. Nunca o ataque a uma pessoa atingiu tanta indignidade. A misoginia atingiu o cume da indecência. Mariana Mortágua, depois de pensar bem no assunto, resolveu não se candidatar de novo à liderança do Bloco de Esquerda. Decisão pessoal. Penso que neste partido, essa ideia de que a liderança é culpada de todos os males, como se a política fosse um desafio de futebol, não é prática corrente. Os motivos para a decepção eleitoral são muitos, mas nunca de atribuição a uma única pessoa. Esses sucessos pessoais pertencem a outras áreas políticas, onde as carreiras pessoais são determinantes. Na esquerda os esforços são coletivos. E Mariana Mortágua não se vai embora, nem vai andar por aí, como o outro palonço da Figueira da Foz. Vai ficar aqui, com toda a gente que esteve com ela. A ameaça fascista está aí. O líder do partido que os reúne parece que disse ontem numa entrevista que "isto nem vai lá com 3 salazares". Já não é falta de vergonha, refresco que esta gente não bebe, é reconhecimento e admiração por um ditador criminoso. Esta gente é perigosa. Não se respeitam fascistas - combatem-se. Mariana Mortágua vai estar com todos nós, os que não queremos voltar ao passado. O futuro será de liberdade e democracia. É nossa obrigação garantir que assim seja. Força, Mariana. Como diz o Sérgio: "Ficar parado? Antes o poço da morte que tal sorte".