quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Álvaro Laborinho Lúcio

O Duarte Victor recorda na sua página aqui da geringonça um convívio que tivemos com Álvaro Laborinho Lúcio. Já aqui o disse, mas repito, agora a propósito da morte de Laborinho Lúcio: a peça O "Juiz da Beira", de Gil Vicente, foi a minha primeira incursão em teatro como autor de imagens. O Duarte encenou, eu desenhei a imagem geral, cenários e figurinos, e a dramaturgia foi assinada pelo Mariano da Palma Gonçalves. 

Na estreia da peça apareceu por lá Laborinho Lúcio, na altura responsável pelo Centro de Estudos Judiciários de que foi criador. E agora a história da noite que me impressionou. Mariano fez um texto de apresentação do seu trabalho incluído no catálogo/BD que concebi. Na estreia da peça houve debate. Mariano dá o mote lendo frases do seu texto. No título dizia: Grande é a semelhança entre o Juiz e o Actor. Estranha afirmação? Estavam na sala alguns formandos do citado Centro de Estudos Judiciários, movidos com certeza pela curiosidade de estar lá o seu mestre. Um deles salta de imediato em defesa do rigor, da inteligência, da capacidade de abstração e mais não sei o quê que tem que ter um juiz, ao contrário do actor, que basta decorar texto. Laborinho Lúcio, o mestre, naquele tom de voz que lhe conhecíamos, desmente o pupilo e entra em defesa de Mariano Gonçalves. Para ele o juiz e o actor são bons no que fazem se souberem captar as realidades em que se inserem como seres vivos e atentos. As semelhanças são evidentes. Uma lição aos rapazes fora dos muros da antiga prisão do Limoeiro, que era onde funcionava o Centro de Estudos Judiciários. Para nós foi uma lição de cultura da justiça, se assim lhe podemos chamar.
Encontrei Laborinho Lúcio mais tarde. Era amigo do João Paulo Cotrim e chegámos a dar ao badalo na saudosa "Mimosa do Camões". Um dia falei-lhe deste episódio. Recordava-se perfeitamente. Acrescente-se que mais tarde escreveu ficção de notável qualidade. Foi um homem da Justiça e da Cultura, não necessariamente por esta ordem. Foi um homem bom. Muito simpático e de trato afável e simples, como costumam ser os grande seres humanos. Muito obrigado, professor Álvaro Laborinho Lúcio. Foi bom viver no seu tempo.



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