segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Humor a quanto obrigas

Percebo que um profissional se esforce para que a sua tarefa seja concluída com sucesso. Profissionais do humor têm de ter graça. Mas tentarem chegar ao nível de as pessoas mais básicas se escangalharem a rir, pode provocar alguma azia nas pessoas que pedem mais do humor. Talvez um bocadinho mais de inteligência e menos apologia da simplicidade básica.

O programa ISTO É GOZAR COM QUEM TRABALHA cai frequentemente na piada populista para colher os dividendos que o termo compreende: justicialismo bacoco sem noção da razoabilidade e sem ponta de graça. Já passaram pelo programa gente com graça e gente sem ponta por onde se lhe pegue. Ricardo Araújo Pereira recusa-se a levar ao programa o líder do partido fascista — revelação de bom gosto — , mas já por lá se sentou Jaime Nogueira Pinto, fascista assumido e que ali mostrou o que é sempre: um fascista empedernido e sem gracinha nenhuma. Nem sempre vejo o programa, mas dos que vi não me lembro assim de repente de muitos que justifiquem menção. Destaco apenas um candidato que considerei admirável: Paulo Saragoça da Matta. Sentido de humor percebido no ripostar lúcido e inteligente.
No último programa transmitido foi convidado um rapazinho petulante e convencido que é uma promessa do outro partido de extrema-direita que se diz liberal. Ricardo começou por fazer piada com o desastre da governação do ultra liberal Milei, tão felicitado pela vitória eleitoral pelo rapazinho convencido. O rapaz assumiu o seu fascínio pelo infelizmente presidente da Argentina. Milei é um génio que está a livrar aquele país das esquerdas. Na resposta mentiu descaradamente ao dar brilho ao desastre instalado pelo seu correligionário de extrema-direita: a economia cresceu e os pobres também já não o são tanto. Ricardo tem as perguntas alinhadas, atira-as para o ar, como foguetes surpreendentes, mas depois não apanha as canas. Não reage às mentiras ou militâncias ideológicas evidentes. A mentira do rapazinho convencido passou como grande resposta. Vibrantes aplausos. O rapaz continuou com insinuações irritantes e malcriadas — o rapaz é também um malcriado insuportável — sobre organizações que não são ideologicamente — felizmente — como aquela a que pertence. Tanta gracinha politicamente devastadora é regalo dos povos assistentes. O humor ficou em alta. Humor a quanto obrigas. Isto não será gozar com quem trabalha?