A expressão pertence a Bocage e ilustra muito bem o que quero trazer para aqui. Quando Assad pai morreu, era suposto o seu filho varão assumir o poder. Um acidente de viação inviabilizou esse entronamento. O desaparecimento do filho mais velho levou Assad mais novo ao poder, resgatado da sua pacata profissão de oftalmologista exercida em Londres. Estas substituições alinhadas com uma certa ideia de corte monárquica são sempre lamentáveis.
Bashar al-Assad foi a cara de um endurecimento sem justificação razoável. Regime autocrático é ditadura. Ora, as ditaduras estimulam revoltas e as revoltas endurecem as decisões ditatoriais. É uma pescadinha de rabo na boca. Morreu muita gente inocente. Morre sempre. Com esses desentendimentos são sempre os mais vulneráveis que sofrem. Os líderes resolvem tudo a partir das poltronas dos palácios dos governos, e, as oposições, a partir das tendas do radical descontentamento. Mas sempre longe da eliminação física.
Claro que o regime foi tirânico. A tirania nunca é escolha. A democracia em liberdade é o único tipo de regime compatível com a luta pelos direitos humanos, pelos direitos sociais, pela liberdade, pela igualdade e pela possibilidade de felicidade. O novo poder a instalar-se na Síria é liderado por gente que já pertenceu às mais radicais organizações fundamentalistas. Vários grupos vão lutar pelo poder. A ideia de democracia por aquelas bandas não corresponde ao que nós entendemos sobre o assunto. A alegria que inunda as ruas de Damasco pode ser de pouca dura. Jovens mulheres saúdam o novo poder sem saberem muito bem o que aí vem. O que aí vem pode ser a anulação do seu futuro. Os fundamentalistas não prezam a democracia, nem a liberdade. O terrível regime de Bashar al-Assad instalou o terror e o despotismo. Mas agora, a guerra civil pode ser o futuro que se aproxima. A revolta bem sucedida de hoje pode cumprir a frase de Bocage. Sim, pode ser pior a emenda que o soneto. Oxalá eu esteja redondamente enganado.