Nunca fiz isto na vida, nunca pensei fazê-lo, e nem voltarei a pôr essa hipótese. Atrevo-me a fazer uma sugestão ao primeiro-ministro do meu país.
O que está a acontecer a um governo eleito com maioria absoluta é excessivamente mau. Claro que quando aparece um caso — seja em que actividade for —, surgem logo os imensos casinhos, mas desta vez a coisa está a ficar exagerada. E ainda bem que assim é. Temos o direito de saber quem é que nos governa. Um secretário de Estado é um político. Quando é convidado alguém para exercer um cargo com responsabilidade política deve estar sempre presente a confiança política. Um político não é um funcionário público. Exerce funções públicas, mas não tem de responder a exigências do funcionalismo. As 36 perguntas aos possíveis ocupantes dos cargos não leva a nada. Alguém vai responder afirmativamente que se portou mal? Quem está para aí virado tem um problema que não é menor: adora os carros de cilindrada alta com motorista e mordomias, e não percebe que esses lugares não dão para aquecer o rabo no assento. Os mal formados que percebem que assim é tratam de resolver a sua vidinha. Chama-se a isso corrupção. O responsável pelos convites aos seus colaboradores é o ministro. Pedro Nuno Santos sabe disso, por isso se demitiu. É o responsável político que deve assumir os erros dos seus próximos. Ele é o responsável por tudo o que se passa por cima dos confortáveis tapetes e poltronas dos ministérios. Claro que de um governo de esquerda a coisa pia mais fino. Não faz sentido tanta palermice parola. Tanto deslumbramento. Sim, o deslumbramento com o poder é para os parolos sem mundo e sem trambelho. O exercício da política traz responsabilidade; não deslumbramento.
A minha proposta é esta, senhor primeiro-ministro: Remodelação total. Escolha gente que corresponda ao que quer fazer. Perceba que os seus ministros escolhem secretários de Estado e sub-secretários de Estado que não o envergonhem nem envergonhem a política. Assuma isto. Mudar é preciso. Às vezes é preciso mudar muito. Não dê argumentos aos escroques de extrema-direita que florescem como erva daninha. A maioria absoluta que permitiu ao Partido Socialista formar governo aconteceu porque os fascistas estão a crescer. É assustador. A malta reagiu assim. Chama-se voto útil. É a utilidade da vontade de combater os fascistas. Com eleições agora o crescimento da extrema-direita estaria muito perto do susto. Viu o grunho aos berros num palco em Santarém? Viu a peça de Tiago Rodrigues "Catarina e a beleza de matar fascistas"? Eu assustei-me. E revoltei-me. Mas fiquei com mais força para combater esses energúmenos que já dizem o até há pouco impensável contra a democracia e os direitos das pessoas. É por isso que me atrevo a vir para aqui dizer estas coisas. Sei que provocarei um esgar de riso em muita gente e em si também, se me lesse. Mas não pude deixar de o fazer. Estou preocupado como cidadão. É o meu combate. O fascismo não pode passar. E o fascismo não está só no partido fascista. Lembra-se de onde saiu o energúmeno do Chega? Veja lá isso. Coragem.
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