domingo, 25 de julho de 2021

Otelo


Um grupo de militares acelerou a derrocada do fascismo. Ficámos ao lado desses soldados da democracia. Depois andámos com a democracia ao colo. Dia e noite. 

Era preciso ganhar tempo. O tempo perdido atrasou a nossa percepção do mundo e das coisas mais bonitas da vida. Salazar foi um empecilho indescritível. Um grunho/doutor que deliberadamente optava pelo analfabetismo e ocultação intelectual. "Ensiná-los a ler, para quê?". Uma noite sem fim à vista, que afinal teve um fim. Nem sempre concordei com Otelo. A democracia deu-nos a possibilidade de discordarmos de tudo. A obediência cega não estava inscrita na nossa caderneta acabadinha de encetar. A nossa opinião passou a contar. A minha memória de Otelo vem desse tempo em que era proibido proibir. Agora, na hora em que nos deixa, só temos que lhe agradecer. Devemos a estes homens muito do que hoje somos. Seres adultos que procuram o conhecimento e o prazer, Sem complexos. Sem peias. Sem empecilhos. Muito obrigado, senhor Otelo Saraiva de Carvalho.

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