terça-feira, 2 de março de 2021

Ivo



IVO | ENTRE A SENSAÇÃO E A RAZÃO | Em Julho de 2017 Ivo pereira da Silva expôs pela primeira vez em Setúbal, na galeria da Casa da Cultura. Exposição que mostrou trabalho recente do artista e a que ele acrescentou uma justificação escrita a que chamou "Todos os Portos". Mas existem outras palavras no texto que poderiam dar um bom título para aquela surpreendente exposição: "
Entre a sensação e a razão", por exemplo. Aqui percebe-se a busca permanente de Ivo. A anulação da facilidade. A procura das vísceras. O princípio dita as regras, mas não se anula a descoberta; mantém-se à tona. As camadas da pintura sobrevivem nos cascos. A curiosidade de Ivo pelo comportamento dos materiais está nele desde sempre. Começou a dar nas vistas (no bom sentido) quando se juntou ao grupo dos homeostéticos. Nunca mais parou. Surpreende, sempre. Mas deixemo-nos de lengalengas. Aqui vai a escrita do Ivo para a ocasião:

TODOS OS PORTOS | Todo o movimento encerra deslocamentos nas águas oxidadas dos Portos.Ar enferrujado, águas ferruginosas, areias empestadas, óleos viscosos, marés vivas esvaziam/preenchemos degraus formados por bancos arenosos. Há uma partitura oculta, mas audível, envolta em neblinas/memórias. Marcas, salitre, odores são a imersão de destinos improváveis na direcção do desconhecido. O casco do navio é um rizoma metálico, pegajoso que une múltiplos pontos de diferentes territórios. Imagino uma secção vertical, um tampão aquífero – um livro impermeável, onde as partidas e chegadas são um sismógrafo temporal, equivalentes aos gestos que os pintores registam nas telas. Um navio desgovernado entra no Porto. Há uma batalha entre energias inconciliáveis. Movimentos caóticos tentam encontrar uma ordem. É uma luta entre a impossibilidade de manter o presente e partir para o futuro. Entre a sensação e a razão, afirmam-se opções, a obra nasce, a embarcação chega ao destino.

HOMEOSTÉTICOS: Wikipédia