IVO | ENTRE A SENSAÇÃO E A RAZÃO | Em Julho de 2017 Ivo pereira da Silva expôs pela primeira vez em Setúbal, na galeria da Casa da Cultura. Exposição que mostrou trabalho recente do artista e a que ele acrescentou uma justificação escrita a que chamou "Todos os Portos". Mas existem outras palavras no texto que poderiam dar um bom título para aquela surpreendente exposição: "Entre a sensação e a razão", por exemplo. Aqui percebe-se a busca permanente de Ivo. A anulação da facilidade. A procura das vísceras. O princípio dita as regras, mas não se anula a descoberta; mantém-se à tona. As camadas da pintura sobrevivem nos cascos. A curiosidade de Ivo pelo comportamento dos materiais está nele desde sempre. Começou a dar nas vistas (no bom sentido) quando se juntou ao grupo dos homeostéticos. Nunca mais parou. Surpreende, sempre. Mas deixemo-nos de lengalengas. Aqui vai a escrita do Ivo para a ocasião:
TODOS OS PORTOS | Todo o movimento encerra deslocamentos nas águas
oxidadas dos Portos.Ar enferrujado, águas ferruginosas, areias empestadas,
óleos viscosos, marés vivas esvaziam/preenchemos degraus formados por bancos arenosos. Há uma partitura oculta, mas audível, envolta em
neblinas/memórias. Marcas, salitre, odores são a imersão de destinos
improváveis na direcção do desconhecido. O casco do navio é um rizoma metálico, pegajoso que
une múltiplos pontos de diferentes territórios. Imagino uma secção vertical, um tampão aquífero – um
livro impermeável, onde as partidas e chegadas são um
sismógrafo temporal, equivalentes aos gestos que os pintores registam nas telas. Um navio desgovernado entra no Porto. Há uma batalha
entre energias inconciliáveis. Movimentos caóticos tentam
encontrar uma ordem. É uma luta entre a impossibilidade
de manter o presente e partir para o futuro. Entre a sensação e a razão, afirmam-se opções, a obra nasce,
a embarcação chega ao destino.
HOMEOSTÉTICOS: Wikipédia