sexta-feira, 27 de março de 2020

TEATRO SEM PALCO | Hoje celebra-se mais um Dia Mundial do Teatro. Os habituais festejos ficam para mais tarde. Festejaremos de outras maneiras. Hoje não há marcações no estrado, nem risadas, nem choros, nada. A realidade tratou de ser mais dramática do que a sua representação. Já disse isto em publicação anterior mas repito: em melhores dias a literatura e a arte serão o soar dos tempos.
A peça em que estávamos a trabalhar fica assim em banho-maria. Atrevo-me a repetir o post que publiquei no passado dia 12, para que a esperança não morra. Viva o Teatro.
REGRESSO AO PASSADO | Voltei a fazer a cenografia e imagem gráfica para uma peça. O João (Duarte Victor) entende que eu sou capaz e eu juro que tento não desiludir. Apesar de os textos ditos em palco se inscreverem numa total intemporalidade, os objectos em cena acrescentam-lhes mais um raminho de actualidade. São caricaturas de um certo mobiliário contemporâneo. Amontoados em cena, com dois grandes muros em funções de pano de fundo e emolduramento, andam e desandam nas mãos dos actores numa estranha dança que ornamenta os diálogos e, na lógica do minimalismo que os concebe, acentuam o jogo de palavreado, resumidos que estão ao seu contorno e cromatismo simples. O trabalho de Rui Curto, com a sua acentuada competência carpinteira, descansa-nos. A perfeição não existe, mas para ele parece ser um limite. Estas são as soluções encontradas para que estas cenas de Karl Valentin, que Brecht considerava um mestre, brilhem neste estrado. Os textos foram passados para a língua dos portugueses por nomes grados da literatura e do teatro que aqui se faz. Almeida Faria, Jorge Silva Melo, Luiza Neto Jorge, Maria Adélia Silva Melo e Osório Mateus consagram Karl Valentin como o autor de excelência que vincadamente foi. A grande qualidade de um texto de outras paragens percebe-se quando a tradução é de grande qualidade. E pronto, foi o que se pôde arranjar. Espero que se divirtam como eu me diverti. Feliz dia do Teatro.
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