sábado, 7 de março de 2009

Deambulatório


Aos sábados, opiniões escolhidas entre as publicadas nas redondezas.
O espectro de Lippe - Numa reportagem da RTP1 pergunta-se a um «pupilo» do Colégio Militar: «Fizeste os exercícios porque te obrigaram ou foi para exceder os teus limites?» A infâmia da pergunta imbecil e a presunção da resposta condicionada não merecem sequer um comentário, mas o caso que motivou a peça deve ser olhado com alguma atenção. Ele veio relatado no Expresso deste sábado - 1 de Março - e conta-se em poucas palavras. Um aluno de 17 anos foi condenado a quatro meses de prisão por maus-tratos a um colega de nove, mas a pena foi depois anulada pelo Tribunal da Relação que considerou adequado o castigo aplicado ao menor: palmadas no pescoço, flexões, abdominais, saltos de cócoras e posição de Cristo (de pé com os braços abertos). A vítima, um aluno hiperactivo, acabou por sair do Colégio, tendo os pais apresentado a queixa que conduziu a situação a tribunal. A Relação acabou por acolher o argumento de um antigo director da instituição, segundo o qual «apesar de não estar inscrito no regulamento, é habitual as faltas menos graves serem sancionadas pelos graduados com exercícios físicos». «Graduados» podem ser aqui, assinale-se, simplesmente alunos mais velhos, que assim adquirem informalmente o direito de exerceram formas de violência física sobre os novatos. A notícia refere ainda inúmeros casos de agressões, algumas delas, as mais graves, apenas associadas a ligeiras sanções internas.(Continue a ler)
Rui Bebiano A TERCEIRA NOITE


Manipular - Qualquer trabalhador informado sabe que o nível médio das pensões de reforma da Segurança Social corresponde a 65% do último salário, mais vírgula menos vírgula. Isto é assim desde as alterações de Bagão Félix, reforçadas por Vieira da Silva. A excepção são os funcionários públicos — categoria onde, além dos funcionários propriamente ditos, se incluem os professores, médicos, magistrados, diplomatas, militares, polícias e outros —, cujas aposentações correspondem a 90% do último vencimento (acontece assim desde 2003, com Manuela Ferreira Leite nas Finanças; até 2002 correspondiam a 100%); e os trabalhadores das empresas que asseguram complementos de reforma: a EDP, a PT, a TAP, bancos, seguradoras, etc. Portanto, se as previsões da OCDE se cumprirem, em 2030 os trabalhadores portugueses que descontam para a Segurança Social arriscam-se a ver descer o valor das suas pensões de reforma dos actuais 65% (a maioria) para 54% do último salário. A parte engraçada é que os media dão a notícia como se fosse já para hoje. Voltando ao essencial: dou um rebuçado a quem provar que um reformado da indústria farmacêutica, metalúrgica, têxtil, do calçado, etc., do sector da construção civil, do turismo, da hotelaria e restauração, do comércio, da agricultura, da pesca, da comunicação social, dos serviços, dos transportes, etc., aufere pensões de reforma correspondentes a 90% do último salário. As previsões da OCDE são preocupantes? É evidente que sim. Porém, a perspectiva não é cair de 90% para 54%, mas de 65% para 54%. Sendo mau (muito mau), não é exactamente a mesma coisa. E é só daqui a 20 anos...
Eduardo Pitta DA LITERATURA