Para o que lhes havia de dar
Ontem foi o José Manuel Fernandes, hoje é o Henrique Monteiro (Expresso). Depois de uma declaração de princípios onde se assume “no geral, contra qualquer discriminação” e, deste modo, se precaver contra possíveis futuras acusações da “ILGA, ou outro qualquer lóbi «gay»”, diz Henrique Monteiro no Expresso de hoje que defende “como absolutamente legítimo e inquestionável, a possibilidade de os casais homossexuais terem mais ou menos os mesmo direitos do que os outros casais”, justificando o uso do “mais ou menos” com o facto de haver um direito que, ele sabe, os ditos casais não têm: o de adoptar. Tudo porque, ele sabe, a entrega de uma criança que está para adopção “a um casal que não está dentro da norma” é uma forma de discriminação do petiz. Julgam que o enganam? Nããã! Julgam que ele não sabe que “a adopção é, na verdade, a agenda escondida por trás da insistência” nessa coisa do casamento gay? E ele sabe mais uma pipa de coisas. Sabe, por exemplo, que Manuela Ferreira Leite tem razão quando afirma que “o casamento se destina à procriação” porque isso “é da condição humana”, sabe que “a discriminação que sofreria uma criança entregue a um casal homossexual é (…) muito mais condenável do que não chamar ‘casamento’ à união que consagra os direitos de dois homossexuais” e sabe, ainda, que é protector essa coisa não existir porque o Estado não tem nada que saber se o cidadão é homossexual – já lhe basta saber quem é hetero, oras.
Estou cheia de curiosidade, que achará Henrique Monteiro da adopção por casais heterossexuais mistos, assim daqueles casais Benetton que saem da “norma, encarada do ponto de vista meramente estatístico”? E sabendo ele tanta coisa, não saberá que por esse mundo fora existem montanhas de crianças adoptadas por casais homossexuais? Terão, no seu entender, os heterossexuais casados não procriadores um defeito da sua “condição humana”? Confesso que também adoraria ouvi-lo discorrer sobre a necessidade que o Estado tem em saber quem é heterossexual, “aspecto que só ao próprio diz respeito”.
Usando as palavras do próprio, pergunto se não será um exemplo vivo de “estupidez imperdoável” este “Casamento ‘gay’, o debate e a estupidez”?