terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Luiz Pacheco



Proponho recordar Luiz Pacheco no seu melhor.
Esta passagem de O Teodolito é obra.

Onde estão agora os que foram meninos comigo, meus companheiros de bibe e calção? Gostava de ir lá vê-los à nossa infância, de irmos todos, reconhecermos todos como nossa ainda a pureza antiga, os projectos que enterrámos, as ilusões, os actos falhados. E, com efeito, o mundo dos adultos está cada vez mais triste, mais crápula, mais ratazana. É uma bicharada que vai a correr prò buraco do coval, comprometida e lassa, sem alegria, sem carácter, sem sentimentos, sem dignidade nenhuma. Não são gente: são baratas medrosas, assustadas sempre, que andam de luto por eles-mesmos e se escondem quando pressentem uma luz, a ousadia dum gesto, a virtude duma palavra. Adultos, cadáveres jovens. Metem dó, metem nojo, tão velhinhos e tão resignados. Cagarolas. Gostaria de os tornar a ver como eram, na infância.