quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Saramago e o bacalhau


José Saramago foi preterido na candidatura a um prémio europeu de literatura por causa de um tal Lara, então secretário de Estado da Cultura. Era primeiro-ministro Cavaco Silva. Também a Câmara de Mafra se tem recusado a reconhecer o escritor que tão longe levou o nome do monumento nacional que mais faz jus a esta classificação. Mais recentemente, Saramago zangou-se com a Ministra da Cultura de Portugal por esta não ter ido a uma exposição sobre a sua vida e obra, inaugurada em Espanha. Um dia destes, o hipotético rei de Portugal, bramou uns disparates sobre a obra do nobelizado escritor português. Parece-me que há excessos das várias partes. Lara é reconhecida e assumidamente reaccionário ao ponto de não permitir grandes ousadias culturais. É bom ver que já não pesca nada nas instituições. O “rei” Duarte é, ele próprio, uma ficção de má qualidade. Nada a dizer. Mas parece-me excessiva a recusa de Saramago em cumprimentar o agora Presidente da República. Assim como não me parece de muito bom tom a atitude do escritor e da sua mulher na acusação à ministra, sabendo-se que o Estado estava representado pelo embaixador em Espanha.
Agora, quanto ao recente recuo no caso do reconhecimento por parte do presidente do burgo de Mafra, a coisa tem a sua graça. O homem justifica a medalha de mérito da cidade devido à contribuição do livro Memorial do Convento para a divulgação do monumento. A arrogância e o pato-bravismo do autarca Ministro dos Santos conhecem-se. Esta justificação é redutora e parola. Mas para estes autarcas basta. Saramago foi reconduzido numa espécie de assessoria de turismo da Câmara de Mafra. O escritor vai receber a distinção. E se calhar até vai apertar a mão ao presidente. Devia rever a politica de distribuição de bacalhaus. No lugar dele, eu logo lhes dava o bacalhau.