Eduardo Prado Coelho foi uma das perdas deste verão. Partiu cedo. Foi traído pelo corpo. Adorava viver e isso percebia-se à légua. Ía a todas. Escreveu sobre tudo o que lhe apeteceu. Sempre crítico, às vezes cruel mesmo, nunca perdeu a curiosidade pelo novo. Quando algo de recentemente produzido o surpreendia, a alegria inundava-lhe a existência. Não descansava enquanto a surpresa não passava a assunto partilhável. Divulgava militantemente essas surpresas. Encontrei-me com ele muitas vezes. Em lançamentos de livros, inaugurações de exposições, debates, festas no Lux. Recordo um inesquecível almoço no Primeiro de Maio, ainda no tempo em que o meu amigo Santos era o homem do leme desta famosa casa de pasto lisboeta. Comemos filetes de peixe-galo com açorda. Ele gostou muito. Nós, os que participámos no repasto, gostámos sobretudo da sua companhia. Vai não vai uma gargalhadinha maliciosa alegrava-lhe a face. Divertia-se com a vida. E teve uma vida divertida.
Recordo-o folheando páginas de "Tudo o Que Não Escrevi".
Nem parece ter morrido.